sábado, 31 de dezembro de 2022

DIA SEGUINTE

Nada será como costumava ser.
Seja para o bem ou para o mal,
tudo foi desfeito.

É outro dia.
O sol ilumina ruínas
e aquece silêncios
entre as sombras 

Alguns se perderam na noite
 e não amanheceram.
Mas o sol nasceu novamente
para os sobreviventes.

A realidade matou nossos sonhos,
mas ainda existe vida.
Mesmo em tempos de morte,
incertezas e agonias.

É outro dia.
E o fim ainda não se anuncia.




segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

OS AFETOS E A POTÊNCIA DA DESRAZÃO

A ingovernabilidade dos afetos é o melhor remédio contra a razão e suas disciplinas. 
Ela é o meio natural de desfazer juízos e opiniões, reinventar sempre de novo a vida, quando a obediência nos castra a existência e as certezas e necessidades nos escravizam.
A ousadia da expontaneidade é uma potência, um inconformismo que nos move contra a rotina. O novo, o imprevisto, é filho de nossas melhores loucuras.

domingo, 11 de dezembro de 2022

SONHO E MEMÓRIA


Há algo de sonho no eterno
que anima a memória
escapando ao tempo.

Algo que nos transcende
 como corpo perdido na prisão do espaço.

Sou pleno apenas onde não existo,
onde me ultrapasso no outro,
na casa ou mesmo no esquecimento
de uma vida que se apaga
em seu próprio vestígio.

Lembrar é um modo de sonhar,
de querer futuro o que foi perdido
contra tudo que resta pra ser vivido.













A VIDA QUE PASSA

O mundo me ensinou distâncias,
Fugas e errâncias.
Não pertenço a  lugar algum.
Não tenho lar ou memória.
Estou sempre de partida,
 Incerto no movimento da estrada.
Pois a vida é uma perpétua despedida,
um longo exercício de adeus,
silêncios e ausências.
Amanhã, pode não haver outro dia
e hoje pode já ser tarde demais.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O INCLASSIFICÁVEL

Sou o coletivo de um só,
Um múltiplo  singular,
na arte de estar
dentro e fora do mundo.

Não sou daqui,
nem de lá.
Sou um estranho
em qualquer lugar.


Meu nome é nunca.
Não me queiram por perto.
Minha existência é um perpétuo ato de protesto.





O GRITO QUE VEM

Estou farto da verdade,
da lei e da ordem.
Não suporto mais
os consagrados enunciados
que sustentam nosso vil cotidiano,
nossa estúpida banalidade diária.

Abomino todos os discursos
que ainda circulam  entre os entendidos.

Exijo outra coisa,
qualquer absurdo,
que perturbe todas as gramáticas
com a força selvagem de um grito.

Há algo sem nome entalado na garganta
dos mendigos.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A VIDA CONTRA O PENSAMENTO

Me diga o quanto
vale sua vida,
mesmo que esteja doente,
no limite do possível,
e desenganado pela medicina.

Do que vale seu viver
provisório, incerto,
e descartável,
entre o ermos dos dias
e das noites?

É possível saber a vida
além das ilusões de uma consciência,
ou a vida, afinal,
só nos parece possível
na ausência de qualquer pensamento?

Pensar sobre isso me conduz a enfados e tédios.



segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O FUTURO DA MORTE

Não existe mais um futuro
esperando por nós.
A grande noite caiu do céu
e cobriu o dia.

Vestimos sua escuridão 
e desistimos da eternidade,
Assumimos o efêmero instante
que nos devora como um silêncio
sepultado na paisagem.


Afinal, o futuro nunca precisou de nós,
e o passado inventa esquecimentos
entre as ruínas de nossos inúteis discursos.

Morreremos além da Cidade Estado
enterrados entre os vivos e suas enfermidades.
Seremos afogados por nossos próprios passados .




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

SENSO COMUM

Eu, que já não sei o que sinto,
o que quero, penso,
ou espero,
ainda considero perfeito
 meu juízo precário
e o brilho quase divino das autoridades.
 

Ainda sei que o mundo existe,
apesar da nossa pouca realidade.

Pouco importa o caos social,
a angústia existêncial,
 a vida segue normal
e cabe numa bolha de informação.

Não há verdade fora da civilização.
Mesmo que um dia ela nos leve a extinção.
Tenha fé no hoje e siga com outros,
morra sozinho amanhã.



terça-feira, 8 de novembro de 2022

ESPECULAÇÕES EXISTÊNCIAIS

Faz alguns anos que não vou ao cinema.
Aposentei os sonhos e a imaginação.

Deixei de viver também.
Mas ninguém o notou.
Acho que todos morreram comigo.

Talvez, seja por isso
que nada faça sentido.


DESPERSONALIZAÇÃO

Qualquer dia desses
ainda irei  acordar outro.
Não me reconhecerão meus amores,
companheiros, parentes,
ou pets.

Surpreenderei no espelho
um visitante de outro tempo,
de outro mundo,
ou fugitivo de algum delírio onírico.

Identidades, afinal, pouco importam.
Nascemos indigentes e morremos desconhecidos.

Ninguém neste mundo
é de fato alguém.

Apenas o mundo, 
em sua inconstância,
realmente existe
através de nós e de ninguém.

Qualquer dia desses
ainda acordarei morto
e mundo continuará sendo o mundo,
como sempre foi, 
antes da minha existência.



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

DEPOIS DO FIM

Hoje é quase depois do fim
no anti - tempo do abandono.

Tudo em nós já é solidão e
silêncio.

A vida ficou no passado
e nosso hoje antecipa o fim inevitável
de todas as coisas futuras.

Não há mais entre nós um mundo.
Desista do conforto inútil de um abraço.

Em alguma parte ausente de nós
o fim já aconteceu.
Mas a terra ainda gira ao redor do sol,
Só não há ninguém para contar
o que, afinal, se sucedeu
depois que a gente morreu.
É, finalmente, fim do mundo.
Toda humanidade é inútil.
Tudo que fomos se perdeu.









sexta-feira, 21 de outubro de 2022

HIPPIE

Tenho muitos silêncios acumulados,
medos guardados,
futuros perdidos,
e sonhos abandonados.

Desde de que me vestiram de adulto,
tenho desistido de quase tudo.

Dizem que eu deveria  ser útil a sociedade.
Justo eu que amo ser preguiçoso
e não quero ou espero nada dos outros.
Tudo que me importa é ser um ninguém,
não saber de nada,
e sofrer todos os limites da minha intensa liberdade de ser e não ser entre contos de fada.

domingo, 16 de outubro de 2022

DO DEVIR DE TODAS AS COISAS

Não sei como as coisas acontecem,
como a vida segue através de nós
conformada a ilusão dos hábitos
e ao simulacro das civilizações.

Só sei que tudo acaba, desaparece,
e pouco importa o que foi realizado,
ou sobrevive como narrativa e vestígio.

Nada faz sentido.
Não importa os valores vigentes,
a confusão das épocas,
ou os limites de nossa percepção.
Nada leva a nada
E o eterno retorno do caos
é tudo que persiste,
tudo que muda,
Tudo que dança,
que morre e que vive,
na mistura do ser e do não ser
na instável temperança que implode toda realidade.



sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A LIBERDADE COMO NÃO SER

Não sou meu passado,
Não serei meu futuro,
e hoje, é certo, sou um nada,
ou qualquer ninguém.

Ser é uma tendência incerta,
um quase, uma esperança,
e um talvez.
Depende de nossa memória,
de alguma sensibilidade,
e da capacidade 
Para mentir a si mesmo,
em nome da realidade.

Ser é negar-se como devir.
Toda liberdade é informe.








O RIDÍCULO DO HUMANO

O ser humano é um animal ridículo.
Carente dos outros.
Luta para pertencer a si mesmo,
tenta se abrigar do mundo desaparecendo no bando,
Fazendo-se escravo dos outros e das coisas.


Seja afirmando a fantasia de deuses, da razão, ou do Estado,
O que lhe importa é não ficar sozinho,
é ser sempre  amado,
acumular prestígio,
e morrer sonhando eternidades.

O ser humano é um animal vaidoso e fraco.





quinta-feira, 13 de outubro de 2022

BIOBAGUNÇA

A vida bagunça a gente.
Bagunça tanto e tanto
que a gente não vive
de tanto ficar pensando
no alvoroço
que quase acaba com a gente.

EU CONTRA OS OUTROS

Os outros são capazes de tudo.
Decoram com  absurdos e descalabros
nosso cotidiano comum
até o limite do insuportável.

Por isso fujo de todos.
Evito conversas e companhias.
Pois, diferente dos meus semelhantes,
 sou incapaz de tudo,
não me adoecem convicções e verdades
ou vontades de dominar o mundo.
Dos outros quero apenas distâncias
Pois não acredito em suas democracias.






domingo, 9 de outubro de 2022

ASSOMBRAÇÃO

O passado dói nos lugares,
como um vazio que apodrece o chão,
uma fome de antigamente 
que quase me deixa doente.

Já não sei, 
Já não sinto,
o sabor do sumo do mundo,
No intenso da minha carne.
Não sei mais o que sou.

Há um amargor de morte
ferindo a consciência
e distorcendo a percepção.

Em toda parte vejo fantasmas
dos dias em que eu vivia nas coisas
que através de mim existiam.


sexta-feira, 7 de outubro de 2022

O MAIS PROFUNDO DA VIDA

O mais profundo da vida
é como um sonho que nos visita.
É qualquer coisa lá fora,
escapando ao tempo, 
a geografia e ao momento.

É algo que dói no corpo,
no pensamento.

Uma saudade do que não foi,
de quem morreu,
Do que acabou.

O mais profundo da vida
é tudo aquilo que nos mata,
que produz o silêncio
que nos cala e escapa.


quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A MULHER SEM MUNDO

Cansada de si e dos outros,
abandonou-se ao silêncio,
a inércia e a descrença.
O mundo não vale uma frase,
Toda sabedoria é vã,
e a vida não faz sentido.
Portanto, não me venham
com verdades e engajamentos,
pois ela já não se importa,
nem se preocupa com nossas quimeras.
A mulher sem mundo não cultiva esperanças.


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

ANATOMIA DE UM DESESPERO

A  imanente metafísica do desespero
não é pessoal,
não tem por lastro uma história de vida,
frustrações e angústias.
Não tem nada de mal resolvido,
não engendra em nós subjetivações ou vontades declinantes.
O desespero é um devir,
um não lugar de si,
onde tudo transborda,
afoga, extrapola.
É a materialização do insuportável
como estética de vida em revolta.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

MEU ÚLTIMO ROSTO

Neste momento,
muitos de mim
estão mortos no tempo.
Mas outros ainda seguem moribundos,
amargando memórias,
vida adentro,
em busca da última
e mais solitária, niilista,
versão de mim mesmo.
Para ela, não importa o momento,
é e será sempre tarde demais.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

SOLIDÃO E SILÊNCIO

Viver é ser sozinho
estando sempre 
na boa companhia
de um silêncio.

É escutar seu próprio vazio,
apagar seu próprio segredo
e aprender-se invisível
através de um silêncio.



sábado, 17 de setembro de 2022

LÁ FORA

Lá fora mora o silêncio.
o vazio de todas as vozes,
a ausência do desejo,
a morte da vontade
E a mudez de um tempo deserto
onde não existe palavra ou memória.

Lá fora tudo é descartável
e o que importa é impossível...

Um dia, aqui dentro,
Será parte do que hoje é 
lá fora.

Melhor não pensar sobre isso.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

SEM CASA

A casa é um lugar que nos faz possível no mundo e, como tal, é uma extensão de nosso próprio corpo. 
Por está definição posso confessar que não tenho casa , do mesmo modo, que não tenho mundo. 
Não basta ter um teto para ser uma casa ou um chão para inventar um mundo.
Lugar algum hoje nutre afetivamente minha existência, minha consciência de lugar.

O DESERTO LINGUÍSTICO DE NOSSA REALIDADE DITA

Tudo hoje em dia foi reduzido
 a autonomia linguística.

A vida e a morte,
 o amor e o ódio,
a verdade e a mentira,
 o certo e o errado,
a liberdade e a escravidão,
tornaram-se expressões vazias
de uma realidade sem alma
circunscrita a partilha do dizivel
na agonia do sensível.

Os opostos nivelados no nada
não expressam mais o corpo,
não transbordam o universo.

Só há simulacros
onde antes existia o mundo,
o sentido e o mistério
do delírio do amor através dos conflitos.

Mas o mito abandonou o tempo
e agora tudo é finito,
visível e isolável
na confusão entre a palavra,
 o número, a multidão,
e o deserto.

Há tanta linguagem
que se tornou impossível o permissível 
de qualquer forma comunicação.












 

domingo, 11 de setembro de 2022

UM POUCO DE MORTE, NOSTALGIA E DELÍRIO

Sei o passado avizinhado do sonho
transmutando memória
em delírio
contra toda certeza do eu
e do outro.

O que é, afinal, um acontecimento,
Além de alucinação 
e imaginação,
visto que toda nostalgia é embriaguez?

Mas o passado é uma ferida aberta em  febre e saudade,
Um sentimento de morrer com o sol
Que se põe no horizonte
Quando a noite, enfim,  desaba sobre nossos corpos cansados.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

OUTONO

Seja para melhor
ou para pior,
as coisas mudam
 e nada perdura além do instante.

É sempre tarde demais
na festa das despedidas
e separações.

Estamos todos de partida.
Hoje é sempre
o último dia de nossas vidas
na eterna agonia do mundo.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

A SOLIDÃO DOS ENCONTROS

Só há solidão
onde existe saudade,
onde o outro
é uma parte nossa e ausente
que acorda um vazio,  tão presente,
que torna impossível um eu
existir em si mesmo.


A realidade é feita de encontros
que nos definem através dos outros
na intensidade das despedidas.

A solidão é um modo de ser ausente
de si mesmo
Nas separações que nos habitam.



domingo, 28 de agosto de 2022

SOBRE A INCERTEZA DE SER UM EU

Não passo do pálido reflexo
do meu eu perdido no tempo
fugindo da multidão.

Um eu sem abrigo ou
identidade,
Fluindo 
entre a consciência e a percepção.

Sempre entre os outros,
atravessado por signos e símbolos,
inventando o próprio corpo.

Um que se sabe morto,
descontinuado, mutilado,
Desfigurado
 pelo tempo de si e dos outros.

Um eu cuja realidade
é a incerteza do próprio reflexo.








O TEMPO, A SAUDADE E A MORTE

Sei que a saudade transforma o passado.
Que a memória é um artifício mágico
que muda a realidade e nos transborda.

Ontem há de ser outro dia,
em um amanhã de ausências e angústias,
onde a vida vai, mais uma vez,
 desabar sobre todos nós.
enquanto a morte sempre supera o tempo
Ignorando tudo que é humano.


sexta-feira, 26 de agosto de 2022

A MORTE DA REALIDADE

Sangrei a realidade
até a vida ficar longe,
mais distante do que a saudade,
do tempo de gente morta,
que grita no chão que ainda piso.

Agora, nada mais faz sentido.
Então, dança comigo um delírio,
antes que o nada
nos acorde pra morte,
apagando a estrada.

Foge comigo agora 
que a realidade jaz morta.
Dentro da noite
seremos mais do que amigos
nas profundezas do abismo
onde o sol inventa a luz da lua.

A VIDA CONTRA O MUNDO

O mundo já não me interessa.
Como eu, ele anda doente 
Não tem futuro, nem solução.

A vida, ao contrário,
 na contra mão de tudo,
exige novos amores,
Desejos, e ousadias.

Ela sempre depende do inédito,
do impensado,
do intempestivo
contra o tédio.

A vida é sempre selvagem,
urgente e incerta,
enquanto a gente definha
na falsa segurança dos dias.



quinta-feira, 25 de agosto de 2022

SAUDADE MATA

Quem tem somente memórias 
Para suportar a existência,
resistir ao cotidiano,
ao futuro e a sorte,
Já está morto e enterrado
em seu próprio passado.
A saudade é uma doença fatal e incurável.




MICRO POLÍTICA

Ninguém me dirá
o que querer, sentir,
ou buscar.
Ninguém me fará comprar
ilusões pelo aplicativo
ou morrer aos poucos
em um emprego de merda.
Conquistarei a liberdade
que me for possível
junto com os outros
que me acompanham.
Não seremos felizes,
mas seremos livres,
inventando outros modos de vida
na contramão de todas as certezas e normas.


sábado, 20 de agosto de 2022

META EPITÁFIO

Meu nascimento passou despercebido,
Meu progresso foi totalmente invisível.
Não surpreende, portanto, que minha morte
seja um ponto ilegível no tempo,
nem mesmo um vestígio,
passível de curiosidades e interpretações.

Depois do fim, 
lembranças não fazem sentido.
Há apenas o silêncio 
de um corpo sozinho e vestido de terra
que interroga em segredo o pó e o abismo.
Depois, 
nem mais isso.






quarta-feira, 17 de agosto de 2022

DESPERTAR

Acordei cansado demais
para morrer,
triste demais para viver.

Existir era quase insuportável.
O mundo era meu maior pesadelo.
Ninguém tinha realidade.
Pessoas não existiam.

Estávamos todos presos
no mesmo jogo.
Éramos prisioneiros de nós mesmos,
Habitando o mesmo pesadelo.

sábado, 13 de agosto de 2022

FELIZ

Feliz é quem sabe esquecer,
Negar o tempo que fere os dias,
e amar o deserto que semeia o futuro.

Feliz é quem não se importa,
quem está sempre sozinho,
e indiferente ao próprio silêncio.

Feliz é quem nunca se importou em viver,
que fez pouco caso de ser,
e, ao nascer, aprendeu a morrer.

Feliz, não sou eu
ou você....
é quem despreza
toda ilusão de eternidade.

sábado, 6 de agosto de 2022

CAOS & VIDA

A vida é uma coisa que acontece no mundo,
que o corpo sofre,
que transforma a matéria em
e acontece em múltiplas presenças
como singularidade e imanência.

A vida é devir, indeterminação.
Uma sucessão de cessações e descontinuidades
num jogo infinito de forças
em eterno retorno 

 Vida é caos em movimento.


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

CORPO LIVRE

A vida é meu corpo
à deriva no tempo
sofrendo o escapar do mundo
Em incertezas de consciência.

Nenhuma verdade ou autoridade
há de ditar meu pensamento ou conformar
minha sensibilidade.
Recuso todos os conceitos,
Abomino a disciplina e a Razão.
Pois o corpo que me define
é puro exercício de natureza e liberdade
e carece de fundamento ou propósito.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

SEM DESPEDIDAS

Sempre soube que hoje
é  tarde demais,
que há um um passado quase infinito,
faminto de ausências e silêncios,
Se expandindo através de nós.

Por isso, todos os dias,
digo adeus ao mundo
e me esvazio de mim mesmo
e dos outros
Imaginando o infinito.

É sempre tarde demais....





sábado, 30 de julho de 2022

A SOMA DAS SOLIDÕES

Nossas solidões somadas,
Mesmo despersas em suas inercias,
São resistência.

Formam um imenso cordão
De afecções nomades
Cuja gratuita presença
É em si mesmo um ato de protesto
E singularidade.

Um dia seremos sozinhos juntos,
Livres através das multidões de anônimos 
Que nos habitam o rosto
Desde o início dos tempos futuros.

Na chegança destes tempos 
Não saberemos mais
O eu que em nós
Inventou os outros.
Seremos todos múltiplos e incertos,
em um amplo esforço de desistências
E renúncias.













segunda-feira, 18 de julho de 2022

VERDADE E TOTALITARISMO

Seja com todos
Em um  grande discurso,
Sofra a verdade,
Viva a identidade,
 negue a si mesmo
E assuma um rosto,
Sua unidade,
Em nome de toda humanidade.

Aceite o encanto,
O grande chamado que reunirá a todos
Em um mundo acima dos mundos.

O Sumo bem anima o corpo,
Alimenta e conforma  o pensamento.

Não resista a verdade,
Não desafie a razão dos fatos
Ou a grande ciência
Que arquiteta o futuro.

Não há contradições,
Falhas, limites,
Ou impotências
Em nossas trincheiras.

Não nos critique.
Saia do caminho,
Ou enfrente seu trágico destino.

Nós somos a Verdade,
A palavra de todos os nomes.








sexta-feira, 15 de julho de 2022

DOS SERES E DAS COISAS


Apenas as coisas existem.
Pois só elas persistem
enquanto desaparecemos
Em cada incerto momento
Através do sem fim
Das próprias coisas.
No fundo
Somos apenas  coisas,
Pois não há no tempo
Qualquer distinção
Entre os seres e as coisas.
Há apenas nosso lado de fora
Dentro das coisas através da memória.

As coisas transcendem o ser,
Superam a ilusão
Do sujeito, do objeto,
E das almas.


sábado, 9 de julho de 2022

AR

O ar que me falta
é o mesmo que me afoga,
Que nos oprime,
Quando há quem se diga
Dono do ar.
Deste mesmo ar
Que todos respiram.

terça-feira, 5 de julho de 2022

MORTE & MEMÓRIA

Morte e memória
Vivem um caso de amor inusitado
nos jardins da eternidade.

Estão sempre enlutadas,
Pois existem distantes
Como o sol e a lua
Cultivando saudades e silêncios.

Morte e memória
Nunca tiveram filhos.
Bem cedo abortaram,
Muito tarde se amaram.
Mas sabem como ninguém
A profundidade de um vínculo.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

AMOR LIVRE

O amor não tem regra ou
receita.
Não cabe em cartilhas.

É pleno exercício 
de intimidade e respeito,
de alteridade,
além do bem e do mal.

O amor é essencialmente 
liberdade.




AMOR PROIBIDO

A afetividade objetivada,
teatralizada,
pelas convenções,
mascara as contradições
de nossos relacionamentos banais.
Reduz afeições ao teatro dos modelos morais,
as obrigações sociais,
que nos distanciam uns dos outros. 
O amor não existe
onde não há liberdade
de ser e sentir 
além do rebanho.

sábado, 25 de junho de 2022

A TRAGÉDIA DE UM BEIJO

Como é intenso
o vazio
que nos preenche
e suporta!
Vazio que nos faz nada,
que fecunda o possível 
da ilusão humana,
que inventa o outro,
diversidades e multiplicidades,
que desconstroem o mundo uno
na infinitude irracional do universo anti divino.
Como é maravilhoso o vazio
que nos conduz a agonia,
a embriaguez de um beijo.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

ESCONDE ESCONDE

Hoje em dia
todo mundo vive escondido.
Seja em  casa,
na família,
no trabalho,
no desejo,
na análise,
na nostalgia,
no parque,
na muda angustia de um pensamento morno e cotidiano,
nos discursos, mentiras,
e certezas,
todo mundo vive escondido.

Seja através da internet,
do mercado,
da ginástica,
da igreja
ou no inferninho,
nos escondemos
uns dos outros e todos do mundo
como se fosse ainda possivel
se abrigar em algum segredo.

Quanto mais nos escondemos
mais ficamos expostos,
a céu aberto no caos.




segunda-feira, 13 de junho de 2022

DEPOIS DO SOL

Nunca mais vivi dias azuis
onde nuvens de todos os tipos
brincavam em torno do sol.

Nunca mais a manhã teve gosto
de café e banho
e um jardim gritando na janela.

Nunca mais vi todos vivos
ou soube a casa gorda de vozes
ou um latido amigo no fundo do quintal.

Nunca mais me abrigou
um lugar no mundo,
nunca mais meus pés sentiram
um chão. 

Nunca mais o dia teve gosto de sol.


sábado, 11 de junho de 2022

AMOR BARATO

Ninguém ama o tempo todo. O amor abstrado e burguês, só seduz os fracos, as vítimas do amor barato , chato, possessivo e autoritário,  dos que nunca aprenderam a amar.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

PARADÓXO

Sou composto por paradoxos:
Quero mais do que o dia pode me dar
mas não espero nada de uma vida inteira.
Ser é para mim a experiência de saber que não  existo,
que persisto como hipótese. 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

A VIDA COMO QUASE SER



Viver é coisa que nunca se aprende.
É um saber inconcluso que nos transforma
através das mutações do corpo,
dos encontros que mudam lugares e tempos,
em meio a inconsciências e
as incerteza do próprio rosto.

Viver é coisa que nunca se aprende.
É um saber/fazer inconcluso que nos transforma
através das mutações do corpo,
dos encontros que mudam lugares e tempos,
em meio a inconsciências e
as incerteza do próprio rosto.

Viver é improviso e experimentação 
na nulidade da experiência. 
É aceitar-se como esboço e inacamento.

 É acontecer em devir inumano
entre a percepção e a imaginação
de quase Ser.

Afinal,  é a vida que nos vive e gasta.
 Não somos nós que vivemos a vida.
Pois tudo que somos é nada.


quinta-feira, 2 de junho de 2022

A INTIMIDADE DA PRISÃO

A prisão se torna a casa do prisioneiro.
Pois tudo aquilo que nos oprime
define nossas formas de expressão. 

Habitamos a prisão 
que nos abriga
com certa satisfação.

Através dela enxergamos o mundo
e nos conformamos aos muros
normalizando nossa auto degradação 

Afinal, o mundo é não passa de uma grande prisão. 





segunda-feira, 30 de maio de 2022

A SINGULARIDADE COMO IMPESSOALIDADE DO DEVIR MUNDO

nossa finita existência não se resume a um drama familiar condenado ao enquadramento psicanálitico ou ao totalitarismo estatístico/analítico.
Ele é impessoal labirinto no indeterminado do dentro e do fora do jogo de forças das fabulações da realidade.
Toda forma de experiência e percepção nos confronta com abismo do sem rosto do caos de todos os rostos que nos faz devir e multiplicidades do grande fogo que define o mundo.

O AMOR É SEMPRE FINITO

Ninguém ama o tempo todo.
Eros é sempre mais ausente
do que presente
e não suporta laços
que pesam como correntes.


Para ele
Nenhuma união é absoluta.
Tudo que busca é a semente
que fecunda o universo
multiplicando as formas.

Eros esta em todas as partes
e em nenhum lugar.
Segue por ai indiferente e errante
inventando encontros e despedidas.



domingo, 29 de maio de 2022

CONTRA O MUNDO ATUAL

Pouco me importa o mundo atual.
Não me edifico através de opiniões ou discursos de enciclopédias 
e muito menos defendo valores universais.

Nada tenho a dizer
e pouco quero escutar.

Não acredito em amor ao próximo,
ou no progresso da humanidade.
Tudo isso não  passa de uma grande balela.

Destesto as grandes cidades,
as autoridades, as artes,
e saberes que constituem o cânone da civilização ocidental.

A vida mora nos rios, desertos,
e florestas. 
E há mais alegria na solidão dos loucos
do que na comedida vida vazia dos sábios de ocasião.

Por isso deixem-me em paz e sem instrução,
alheiro a ridícula novidade
dos seus cárceres digitais,
de seus empregos de merda
e consumismo irracional.

Minha vida não cabe neste detestável mundo novo
onde ninguém é mais feito de carne e osso.






sábado, 28 de maio de 2022

FILOSOFIA DO SILÊNCIO

No silêncio escuto a mim mesmo
e a intimidade da presença das coisas.

Tudo se despe de sentido.
Tudo se torna indeterminação,
passagem e incerteza.

Pois a mudez estabele um estranho intercâmbio entre tudo que é manifesto,
tranacendendo a prisão do significado.

O silêncio é uma forma de ação, 
movimento, 
que transcende os conceitos
e as palavras.

O silêncio e a voz da imaginação,
da solidão,  
que nos transforma o olhar.



 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

O TEMPO DO MUNDO

O tempo do mundo
jamais será o tempo
dos meus dias.
Pois meu mínimo infinito
não cabe no sem rosto da eternidade 
ou nos destinos da humanidade.

Sei apenas o tempo mudo
de minhas infâncias,
os paraisos perdidos
que habitam minhas memórias, perdas e ausências. 

O nada do meu mínimo infinito é o saber deste momento incerto
onde nenhuma palavra traduz
a intensidade do instante
contra toda forma de eternidade.

O tempo  do mundo não é o tempo que me sonho vivo.
É o tempo da miséria dos séculos,
do inconcluso,
das destruições que regem
o futuro de Gaia
e a morte do homem

 



quinta-feira, 19 de maio de 2022

VIDA ENÍGMA

A vida não cabe no desejo,
no corpo, na verdade,
na fé, no progresso,
no silêncio,  no tormento,
no amor, no medo, nos livros,
no poder ou na autoridade.
A vida é amiga do sonho
e entre dias e noites
nos ensina apenas o sono.

terça-feira, 17 de maio de 2022

MINHA SOLIDÃO

Minha solidão é um silêncioso protesto
contra a multidão, 
contra as palavras de ordem,
contra o trabalho e o controle dos corpos.

Sozinho não faço sentido.
Não sou útil, necessário, 
ou produtivo.
Sou apenas  vadio,
inclassificável.

Minha solidão tem um sabor de desconstrução e um gosto de revolução
nos não  lugares do mundo.


quarta-feira, 11 de maio de 2022

ESPÍRITO TRÁGICO

A angustia é irmã mais nova do medo,
que é filho da incerteza
e braço direito do caos,
pai de todas as verdades e quimeras.
Todos são personagens de uma tragédia grega
escrita dentro de nós.



sexta-feira, 6 de maio de 2022

PASSADO PRESENTE

Sob o olhar da lua
me perdi do tempo
sentado na frente da casa,
esperando retornar o passado,
a imaginação e a vida,
em sua forma mais crua.

Queria saber agora no corpo
o tempo que me deu forma, 
o eterno presente de infâncias
que até hoje queimam
dentro da gente.

A INCERTEZA DA VIDA

A vida despedaçada no mosaico dos dias
extrapola a consciência. 
É um mosaico católico de percepções e lembranças
consumindo a si mesmo.
É bruta experiência do corpo,
necessidade transvestida em vontade,
na ilusão do eu e do outro.
A vida é um devir de saudades
na indeterminação da existência,
o abismo da experiência de si
através  da incerteza do mundo.
A vida é tudo aquilo que nos escapa.
 

quinta-feira, 5 de maio de 2022

ESPERANDO A NOITE

Espero sempre
que a noite me cure do dia,
 do mundo, dos outros,
e de mim mesmo.

Mas nunca durmo o suficiente
para escapar da realidade,
para esquecer a rotina.

Sempre amanheço cansado
na prisão de um novo dia
esperando ansioso pelo fim de semana.
A noite está sempre pendente.






sexta-feira, 22 de abril de 2022

NOTAS SOBRE O VAZIO QUE HÁ EM NÓS

O vazio que há em nós
não se confunde com a experiência  de qualquer ausência. 
Ele é antes de tudo uma presença,
um deserto que não para de crescer,
tomando conta de tudo que somos,
que seremos ou que fomos.

O vazio é um estar à deriva.
É a imensidão selvagem do oceano
depois do naufrágio.

O vazio é tão concreto,
tão familiar e evidente,
que não pode ser definido
como vazio.
Eis o paradoxo do seu segredo.

O vazio chama meu nome
em todos os lugares
como um velho amigo.


quarta-feira, 20 de abril de 2022

O EU FILÓSOFO

De tão incerto
meu eu duvida do mundo,
dos outros, da vida,
e da realidade da angustia.

Só tem certeza do corpo,
perecível e frágil,
que lhe sustenta a vontade.

Meu eu é sempre um saber dos outros
que se confundem com o nada
que lhe surpreende no espelho.

ANTI SOCIAL

Tenho hoje em dia
muito pouco a dizer.
Pois em quase nada acredito.
Por isso aprendi a gritar silêncios 
e explorar desertos
contra os que falam demais.

Na presença dos tagarelas
Prefiro poupar meus ouvidos
e ter um pouco de paz
permanecendo alheio aos debates de boteco
cultivando meu niilismo.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

O CAOS DO DIA

O dia explode lá fora
em todas as formas
e cores
do caos.

O dia grita,
apesar de todo conformismo
e do peso do tempo
que desaba sobre nós.

O dia corre, passa,
e morre.
Mas sempre é dia.
O sol anuncia
sempre de novo
o caos.



quinta-feira, 14 de abril de 2022

EGOCENTRISMO METAFÍSICO

Quero dormir, sonhar,
regressar ao passado,
aos que se foram;
poder fugir ao presente,
ao futuro do mundo.
Ser inteiramente 
dentro do meu próprio tempo
e no absoluto da minha vida
no desregramento de tudo.



terça-feira, 12 de abril de 2022

EROS COSMOGÔNICO

 

Oposto de Caos, vazio original do incriado, Eros é como força ordenadora e unificadora no quartenário  primordial do universo.

Assim, ele aparece em Hesíodo e em Empédocles como um princípio de relação ou união que antecede os próprios deuses. Eros é como a premissa fundamental do mundo organizado, da passagem do caos ao cosmos. Neste sentido, ele é uma  grandeza imanente, que se confunde com o jogo brutal de forças opostas que define o vir a ser da própria natureza entre o sagrado e o profano. Eros é, portanto, o pressuposto  de  tudo aquilo  que é manifesto. Ser é composição, arranjo, encontro, relação e, como tal, expressão de Eros que, por sua vez, é esteril.

No cenário primordial  além do tempo Eros e caos lembram, enquanto par de opostos cambiantes,  a máxima alquimica "solve et coagula" (dissolver e coagular) que traduz a dinâmica da composição e decomposição dos corpos em laboratório durante a opus.

Na Teogonia de Hesíodo tal par de opostos é complementado por Gaia e Tártaro que formam uma segunda polaridade dentro do quartenário primordial onde as quatro grandesas sagradas coincidem entre si e dão origem as gerações divinas.

Os versos em que o quartenário primordial é apresentado na Teogonia são os seguintes:

"Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também 

Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre, 

dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado, 

e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias, 

e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, 

solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos 

 ele doma no peito o espírito e a prudente vontade. "

Mas os versos da Teogonia não se demoram no falar sobre o incriado quartenário primordial já que o objetivo do poema é cantar a gloria de Zeus.

Mas o eros desta versão arcaica está muito longe do Eros do banquete de Platão; filho de afrodite e daimon que age entre os deuses e os homens. Ele surge aqui como grandeza cósmica inerente a constituição de toda possibilidade do Ser e do não  Ser.




domingo, 10 de abril de 2022

NOSTALGIA

Tenho saudades daqueles tempos em que eu era demasiadamente novo, inconsequênte, inconsciente, e capaz de dançar com o vento sem temer a profundidade dos abismos.
Sinto falta daquele eu composto por mil desejos que se dissolviam na vontade geral da natureza, que morria todos os dias, sem nunca desistir do mundo.
Tenho saudades daqueles tempos de encantamento do mundo onde tudo parecia possível. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

A VISTA DA MINHA JANELA

A vista da minha janela é feia.
Falta imaginação a paisagem
em uma cidade sem alma
onde ninguém se reconhece
em seu próprio chão. 

Todas  as janelas do prédio 
em frente estão fechadas.
O céu está fechado.

Tudo que vejo da minha janela
é solidão. 

terça-feira, 5 de abril de 2022

JUVENTUDE


Sou jovem demais
para morrer de tédio,
amor, ou ansiedade;
para sucumbir as dores do mundo,
aos conformismos cotidianos,
sem me alistar na causa
de qualquer organização da revolta
e me rebelar contra a história.

Ser jovem é lutar contra o mundo,
é embriagar-se com o intempestivo,
na reinvenção de nossa duvidosa humanidade.


domingo, 3 de abril de 2022

ENÍGMA MUNDO

ENÍGMA MUNDO

O mundo é a parte de mim que sempre permanece ausente. 
É minha consciência imperfeita
que inventa o corpo
do lado de fora de mim mesmo.
O mundo é o indeterminado
entre o eu e os outros,
é o que ultrapassa a todos.

sábado, 2 de abril de 2022

ANIMALIDADE

Sou mais animal
do que humano.
Pois prefiro o uivo
a palavra,
e meu corpo é mais intenso
do que qualquer pensamento.
Por isso sei sentir
e nunca aprendi a pensar.

quarta-feira, 30 de março de 2022

AMAR NÃO SALVA NINGUÉM

Amar não salva ninguém, 
não traz felicidade,
e, muito menos,
nos livra da solidão. 

Amar é apenas 
a mais realista 
dentre todas as ilusões. 

O amor não salva ninguém 
de si mesmo,
mas nos condena todos
aos outros.

terça-feira, 29 de março de 2022

SOBRE O QUE NUNCA SERÁ

Pode ser que um dia me mate a saudade de tantas coisas não vividas que me ocupam a memória. 
Sou em grande parte o resultado daquilo que nunca foi, mas permaneceu em mim latente, sobreviveu em mim como possibilidade perdida e insistente contra um futuro que se impõe aos meus dias. Sou o resultado de muitas contra  expectativas. 

JÁ FAZ MUITO TEMPO...

Já faz muito tempo que não faço novas amizades,
que não vejo velhos amigos,
que não visito os mortos,
e que sigo perdido
entre o que já foi
e o que jamais será.

Já faz muito tempo 
que quase não existo,
que vejo os anos passando em silêncio
na direção de um futuro impossível. 



segunda-feira, 28 de março de 2022

AMOR, CORPO, E MUNDO

O amor como consciência do corpo de si mesmo, é uma constante redescoberta do mundo.
É através do em si do corpo que nos  inventamos no para si do mundo como experiência da natureza.
Amar é criar vinculos, compor alianças, entre o eu e o outro, através dos quais o corpo estabelece estratégias de sobrevivência através do amor.
A sobrevivência do corpo depende de seus vínculos com o mundo e nisso se resume o amor como princípio material e biológico de nosso comportamento.

SOLIDÃO E MEMÓRIA

Solidão absoluta
é mergulhar no passado
como um futuro presente,
como simulacro de uma vida inteira,
até o ponto de desconhecer a si mesmo
na lembrança dos outros,
de todos aqueles que partiram,
mas ainda nos habitam 
na intensidade dos afetos.
A solidão absoluta é a nostalgia...

AUTO BIOGRAFIA

Tive a sorte de não ter filhos,
de não ser bem sucedido
entre os meus pares.

Não correspondi as expectativas,
contrariei estatisticas,
Nunca tive respostas certas
na ponta da lingua.

Provei uma brisa de liberdade
a margem de todos os caminhos
inventando a morte que me aguarda
em qualquer curva do tempo.

Fui, até as últimas consequências 
o melhor rascunho de mim mesmo,
apesar do mundo e dos outros.


quarta-feira, 23 de março de 2022

PASSIVIDADE

Habituados a sofrer a vida,
a nos conformar aos fatos,
aos limites de um eu massificado,
a aceitar os valores dominantes,
e as certezas e incertezas da  época vigente,
sucumbimos a silenciosa angustia
de ser ninguém,
de saber diariamente o nada
de uma existência nula.

Morremos, quase sempre,
ignorando as possibilidades
da experiência de um viver intenso e singularizado
contra tudo aquilo que esperam de nós dentro do rebanho.

Somos incapazes
de levar as últimas consequências 
nossa solidão,
nossa falta de chão. 




SONÂMBULO

Acordei sem rosto,
sentindo no corpo
o peso dos outros,
do mundo,
e do destino,
que me aprisiona
ao deserto de tantas rotinas.

Acordei sem expectativas,
conformado, previsível,
e invisível.

Acordei apenas para sonhar com a noite
que me aguarda na morte das horas de hoje.





zj 9v

terça-feira, 15 de março de 2022

SEGUIR EM FRENTE

Ninguém muda ninguém. 
Mas a vida muda tudo.
E seguimos em frente,
apenas por seguir em frente,
em grande parte inconscientes
de nossos tantos eus perdidos.

Melhor seguir sem rumo,
expectativas e certezas,
até o limite de ser outro,
entre a vida e o mundo.


sábado, 12 de março de 2022

NOITE ÍNTIMA

Pela manhã anoiteço.
É sempre triste acordar,
existir sem viver direito,
em um mundo 
onde a regra é a morte,
o poder e a vaidade de ser.

Mas no contra mundo noturno,
Brilha em mim uma escuridão 
sempre renovada
contra a certeza do sol
e a consciência insana dos homens despertos.




domingo, 6 de março de 2022

MORRER DE SAUDADE

A saudade é uma faca cravada no peito
que faz do tempo uma ferida aberta.
No fim de tudo,
cada um de nós morre pela intimidade com a chaga de alguma grande saudade.


TEMPOS DE GUERRA

Há uma guerra lá fora.
Há sempre uma guerra lá fora.
Por isso, nunca estaremos em paz aqui dentro,
nunca seremos felizes.
Pois se respira a morte e a peste no vento.
A humanidade é um estado de guerra e desastre.
O nada é o triste legado das civilizações.

DIALÉTICA DO SIM E DO NÃO

O sim não é o outro lado do não,
nem escapa ao jogo da verdadeiro e do falso.
Não é uma resposta,
mas o próprio enigma
em seu momento positivo
e complementar
ao trabalho do negativo.

sábado, 5 de março de 2022

VIDA E SONHO

A noite é pequena para vida que nos persegue nos sonhos.
Vida que despreza a realidade,
que é mais intensa que qualquer verdade.
E, entretanto, é frágil, ausente,
no desejo que inventa a imaginação.
Mas, talvez, dormir,  seja uma forma de viver mais profunda
a desrealidade intensa da ilusão 
que nos constitui como viventes.

A SABEDORIA DA SOLIDÃO

A solidão é uma fonte profunda
de esclarecimento e desencantamento.
Aprendemos com ela
o desvalor da existência 
e a fragilidade de todos os vínculos
desconstruindo nossa própria identidade.
O acaso da vida não merece qualquer entusiasmo
Pois é coisa sem qualquer sentido.


TEMPO DE ADEUS

Todo mundo vai embora.
Todo mundo é sozinho 
e escravo de um destino.

Dura pouco as mãos dadas,
mas longas são as despedidas.

Não importa se ainda é dia
ou se já caiu sobre nós a noite,
é sempre hora de partida.

quarta-feira, 2 de março de 2022

O LADO DE FORA DO MUNDO

Queria poder agora
de algum modo doido
saber o lado de fora
do mundo.

Não ter notícias de nada
desconhecer o preço do feijão
ou que horas são neste incerto instante
onde tudo é vão.

Talvez eu morra amanhã
pelo capricho de qualquer acaso.
Mas antes quero saber
como seria viver
do lado de fora do mundo.

E sei que qualquer parte da realidade
pode guardar em segredo
o lado de fora do mundo.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

ALTERIDADE

Diante de ti
serei sempre o outro.
O outro que vejo
fora de mim.
O outro,
que em todas as partes,
diz eu.
Mas já aprendi
que cada um de nós
é ninguém.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

LEGADOS

Não haverá futuro
fora de nossas dores,
de nossas derrotas,
erros,
e frustrações.
Nosso passado
será sempre presente
no amanhã das crianças de hoje
como uma herança maldita.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

ACONTECIMENTO

Não sei se é cedo ou tarde demais,
se é certo ou errado,
verdade ou mentira,
ou só a vontade de fugir de tudo.
Só sei que a vida me acontece
sem soluções
me levando a agir por impulsos.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

JUVENTUDE REBELDE

O que importa,
é que nada importa,
E ninguém conhece minha velha história.
Mas eu sei minha vontade de nada,
minha necessidade de ir embora,
Fugir de vez do banco da escola,
inventar meu mundo em outro tempo e lugar.

Quero qualquer coisa que ainda não existe,
qualquer verdade, sobre a qual,
não me atrevo a falar.

NÃO EXISTE VIDA PRIVADA

A janela é o lado de fora da casa.
Mas a porta é o que a impede de se tornar uma prisão.
Mesmo entre quatro paredes, a vida é uma ação social e coletiva.
Pois um lar, não é feito de solidão.

O AMOR COMO OBJETIFICAÇÃO

Ser amado é ser reduzido a objeto de alguém. É abdicar de uma parcela de sua própria subjetividade.
Que tipo estranho de narcisismo nos leva felizes a tal submissão?

sábado, 12 de fevereiro de 2022

INÉRCIA

Nenhum destino me inventará um caminho.
A vida é um labirinto cujo o fim é a saída.
Por isso deixem-me aqui,
não quero ir a parte alguma.
Talvez, com o tempo,
eu me transforme em árvore. 

CORAÇÃO ESTRANGEIRO

Nunca mais estarei em casa.
Nunca mais saberei meu lugar,
meu modo de ser no mundo,
de estar entre os outros,
enraizado numa existência rasa e banal.

Agora sou estrangeiro,
nômade, e incerto,
no fluxo da multidão que me percorre a ermo.

A casa é uma fotografia,
uma memória sem corpo,
uma quase lembrança de cemitério.

Nunca mais estarei em casa,
e pouco me interessa o mundo
na desconstrução do meu rosto.





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

META COMUNICAÇÃO

É preciso falar sobre o mundo
e cada vez menos sobre si mesmo, até que as palavras se façam desnecessárias na comunicação do instante, no compartilhar de um momento onde todos caibam no dizer do silêncio e na redescoberta do mundo.

PASSADO PRESENTE

Hoje amanheci para o passado,
acordei no tempo novo
de qualquer antigamente
onde inéditos futuros
reinventavam o devir das coisas.
Aprendi que o passado vive
intensamente do presente
que definha no instante.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

AMOR SUBSTANTIVO

 

Não existe amor perfeito,

eterno,

binário ou não binário,

tóxico e abusivo,

ou, até mesmo, necessário.

Existe, apenas,

o amor substantivo,

sem sentido,

arbitrário,

dispensável,

subjetivo e ambíguo.


domingo, 30 de janeiro de 2022

AMOR E MORTE

O amor nos mata prematuramente.
Pois amar é sofrer
as desrazões do eu
e do outro
até os limites da existência. 

FILOSOFIA DO LUTO

A morte dos outros é um aprendizado de solidão através dos labirintos do luto.
Imanência e finitude definem esta intensa experiência de desrncanto da vida.
Nossa própria  morte é parte da morte dos outros. 

A SABEDORIA NEGATIVA DO AMOR E DA AGONIA

O amor é o que sonha,
transforma,
e nos ultrapassa,
na entropia que finda
todo universo.

O amor é uma intuição de catastrofes,
na contramão da vida e da esperança. 
.

sábado, 29 de janeiro de 2022

VÍNCULOS


Ninguém define a si mesmo. Somos definidos pelos outros.
Vínculos e laços sustentam nossa existência em seu campo relacional de experiências. O que faz do outro  a medida de nós mesmos. Perder-se é estar sozinho, mas não  nos encontramos uns nos outros, dada a má qualidade de nossos vínculos.  

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

OBJETIVIDADE E PERDA DO MUNDO

A vida foi reduzida ao quase  viver de uma objetividade sem substância. O corpo e o sistema nervoso não conhecem mais harmonia na experiência da consciência e dos sentidos. 
Pois no congestionamento dos signos, reduzidos a um fluxo desmedido de Informações,  o mundo não é mais passível de representação. Ele foi substituído pela experiência do simulacro do seu duplo midiático, reduzido a centenas de imagens quase ilegíveis no labirinto de significações fragmentadas que desfilam pelas telas do virtual em frenétuco fluxo irracional. Desejo e consumo definem nossa precária posse do mundo vivido, nosso fragil equilibrio emocional e padrão de percepção.  O mundo e a vida, binário condicionante de nossa social condição de viventes, tornou-se fonte de angustia e opressão. Nossas subjetividades a deriva não se envolvem mais afetivamente  com a realidade, pois este é um privilégio reduzido a uma infância cada vez mais abreviada. A vida é um fardo ao qual nos confornamos na absoluta objetividade de uma realidade que não nos acolhe. Pelo contrário,  os artificialismos da vida em sociedade,  o jogo pela sobrevivência, torna a existência um campo hostil de experiências liquidas.



segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

FOME E SEDE

Há quem não se decida
entre a fome e a sede.
Nos dois casos,
a  falta
é a plenitude da ausência.
Algo mais do que uma carência
ou necessidade.
É um não  se bastar-se,
um ser mais no mundo
do que em si mesmo.
Isso define o corpo.
E nele não há diferença 
entre a fome e a sede.
Pois o que falta
está sempre presente
como premissa de si mesmo.
como necessidade.

ENCONTROS E ESTRANHAMENTOS

As vezes é preciso abandonar-se,
 compor encontros
nos quatro cantos do quarto.
saber um outro,
através do estranhamento de si mesmo
na incerteza do tempo e do espaço.
Surpreender no familiar o desconhecido,
até que o outro
se confunda com o rosto
diante do espelho.
.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

O TEMPO E A VIDA

Não julgo o tempo de uma vida pela quantidade de anos, mas pela  itensidade de alguns poucos momentos que personificaram o efêmero da eternidade, apesar do tédio das décadas.
No fundo, o que fica da gente são umas poucas lembranças que resumem nossa existência dentro dos outros. Depois, nem isso... Uma vida inteira pode caber na eternidade de um único segundo, de uma imagem, que resume o singular de uma existência. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A INCERTEZA DO EU E DA ALMA

Dentro e fora
de mim 
sigo desfeito
sobre o efeito dos outros
e na presença dos mortos.

Existo enterrado no cadaver
da infância, 
deformado por uma persona
na irrealidade do mundo vivido.

Sei o perder do mundo
oscilando entre a percepção e a consciência das coisas
nas intensidades do corpo e de um imanente infinito impreciso
que transcende a ilusão de alma.

sábado, 8 de janeiro de 2022

AMOR NIETZSCHEANO

Quem ama a si mesmo transborda,
sabe um desejo
maior do que a vida na plenitude de ser.
Transgride todos os limites
de uma existência passiva
e vai além do humano,
do demasiadamente humano,
movido por uma paixão dionisiaca,
sem nunca superar a solidão
e o confito
 que encadeiam todas as forças de vida.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

MIDIA,MERCADO E MEDIOCRIDADE

Dexei de lado o telemóvel,
a biomentira midiática 
de um mundo pré moldado
pelo espetáculo patético da vida cotidiana.

Não tenho mais opinião sobre nada,
muito menos a ilusão de amor ao próximo. 
Ninguém  será meu destino
e palavras não mudam a existência.

Desliguei a TV e fui beber,
lamentar nosso futuro coletivo, 
nossa falta de dignidade,
nossa mediocridade mais íntima e secreta
de frequentadores de supermercados.










terça-feira, 4 de janeiro de 2022

FUTURO PASSADO JUVENIL

Desencantado com o hoje
aprendi a sonhar passados futuros,
novidades de antigamente
nascidas de infâncias
enterradas no meio de mim.

domingo, 2 de janeiro de 2022

A FELICIDADE DE UM INSTANTE

Queria poder congelar o instante.
Parar a vida, a morte, 
e A eternidade,
ver teu sorriso durar para sempre
na banalidade de uma alegria gratuita.
Afinal,
quem precisa de felicidade
quando o mundo cabe
no universo de um segundo?

AFORISMO SOBRE O PARADÓXO DOS SOLITÁRIOS

Sou o único  passageiro do meu micro desastre existencial. Isso é, ao mesmo tempo, um problema e uma solução. Afinal, eu só existo onde não estou....