quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A FALÊNCIA DO AMOR

Sinto muito
Se erramos de amor
E afirmamos o querer torto
De um dentro do outro.
O mundo nos az tão pequenos
Que já não sabemos gostar.
Amar se tornou
Um modo de desabrigo
Contra o desejo do outro.

Sinto muito
De todas as formas
Que o querer permite

Não te buscar jamais.

UMA MULHER QUALQUER

Ela não era bonita
E nada tinha de especial.
Era uma mulher banal
E sem grandes qualidades.
Possuía, entretanto,
A rara habilidade
De transformar suas limitações
Em virtude.
Isso a tornava rara
No seu modo de nada ser.
Não era vaidosa
Nem buscava felicidades.
Queria apenas ser uma mulher

Em toda a sua intensidade.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DECADÊNCIA

Eram dias sem gloria
De um tempo vazio
De novidades.
Era uma vida vazia,
Opaca e provisória,
Onde o sono era mais forte
Do que o sol a pino.
Tudo dizia o deserto,
A espera
E a falta de perspectiva.
Todos os erros já haviam sido
Cometidos,
Todas as verdades já haviam sido
Ditas.
Todos haviam perdido.
E já não éramos os mesmos
Na antiga casa.


domingo, 27 de dezembro de 2015

INTIMIDADE E SEPARAÇÃO

Seu rosto já não era o mesmo de antigamente,
Nem sua presença me causava mais
Qualquer bem estar.
As distancias agora falavam mais fortes
Do que nossa prosa de surdos.
Desfeitos os equívocos do coração
Nos sabíamos como somos,
Sem qualquer ilusão.
Conhecíamos tão profundamente
Nossos defeitos,
Que já não podíamos mais  conviver.
O amor só se realiza plenamente
Quando  afasta.

Eis a lição que demoramos para aprender..

sábado, 26 de dezembro de 2015

A RECUSA DOS OUTROS

Dos afetos soube cedo à inconstância,
Os vazios dos sentimentos
E a precariedade dos laços humanos.
Cresceu sem ter grandes esperanças.
Aprendeu a ficar sozinho
Em sua mais intima segurança.
Não lhe bastavam abraços e beijos.
Queria  viver mais do eu de palavras
De carinho e encanto.
Queria saber as pessoas em tal profundidade
Que tornava impossível conviver com elas.
Seu mundo era feito de desencontros.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

SEPARADOS

Esqueça tudo aquilo que eu disse ontem.
Hoje sou outro relendo os fatos
e estou certo dos nossos erros.

Inventamos nossos equívocos
quando nos buscamos
no mais demasiado do humano.

Nosso passado está perdido
e nos separamos de tudo aquilo
que abraçamos um dia
como certeza de vida.

hoje estamos finalmente livres

um do outro.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A MENINA DEPOIS DO MUNDO


A menina seguia sua vida
Em seus  passos determinados.
Meu olhar colheu o seu rosto,
Sua vontade nos olhos.
Alguma boa nova
Ela levava consigo.
Não tinha dúvida.
Era uma imagem de esperança ,
Determinação e sonho,
Contra os lugares comuns do mundo.

Não precisava saber o seu nome,
Nem adivinhar seu destino.
Me bastava a certeza
De que havia alguma coisa nela
Maior do que toda a minha vida.
A menina seguia em frente,
Indiferente a tudo.
Carregava dentro de si
Uma incomum vontade de ser

O viver da vida.

domingo, 20 de dezembro de 2015

A MISÉRIA DO CASAMENTO

Era uma tarde mansa de domingo onde acordamos preguiçosos e entregues ao ócio e ao grande nada da simples e imediata existência.

Trocávamos palavras vazias e cronometrávamos nossos gestos cotidianos e mecânicos compartilhando o superficial do tempo.
Estávamos juntos, mas isso não queria dizer grande coisa. Muita coisa era mais importante do que estar juntos, do que ouvir a voz um do outro e administrar a intimidade e o tédio das coisas.

Estávamos presos a um relacionamento enfadonho e corriqueiro.  Mas não esperávamos nada da vida alem daquilo. Éramos pobres de imaginação e desejo.


No fundo o mundo é em sua esmagadora maioria feito de pessoas resignadas, conformadas ao pouco do dia a dia. Tratava-se disso: Não esperávamos grande coisa da vida e por isso suportávamos um ao outro sem grandes questionamentos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

MASTURBAÇÃO A DOIS

Não me diga o que sente
Se teu corpo não falar,
Alem do sexo,
O que o gozo dos afetos
E do provisório do teu desejo
Ensinam ao teu momento
Apesar do vento.

Não me diga  a superfície
De um beijo.
Apenas admita medíocre
Que você não tem nada a dizer

Em nossa masturbação a dois.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

QUANDO JULIETA ABANDONOU ROMEU

Eu e Julieta estávamos juntos a alguns anos. Mas nos últimos tempos enfrentamos um período de crise. Acho que todo casal passa por isso. Afinal, não é fácil dividir o teto com outra pessoa sem viver desacordos e pequenos impasses cotidianos. Chega sempre uma hora em que o relacionamento desanda. Mas o pior já tinha passado e estávamos nos reaproximando e tentando superar aquele  momento difícil. Foi neste contexto que saímos para jantar e depois tomar uma cerveja.
Julieta comeu pouco. Apenas beliscou  o frango com fritas e se pôs a beber. Lá pelo quinto copo de cerveja, após falarmos apenas amenidades ficamos em silêncio por algum tempo e evitando olhar diretamente um para o outro. Havia chegado o momento de colocar as cartas na mesa. Eu sabia disso, mas tentava fugir da situação. Julieta, ao contrário, estava disposta a ir as últimas consequências daquele delicado jantar de conciliação. Logo quebrou o silêncio e começamos um diálogo espinhoso:
- Bom, Romeu, uma coisa que me ocorreu agora. Você acha  que algum dia viveremos algo próximo da felicidade?
Eu fi uma pausa antes de responder aquela pergunta que me parecia totalmente fora da realidade:
- Olha. Eu não sei. Acho que felicidade não existe. A gente vive os momentos. Alguns bons e outros ruins.
- Pode ser. Mas a vida também é feita de períodos. Cada um deles tem um significado pra gente. Os momentos não são despidos de sensações. Quero saber se as sensações que compõe nossos momentos hoje em dia ainda te causam bem estar e significam alguma coisa boa.
-Bem. Você fala de um modo como se já tivesse uma resposta pra isso. Eu só acho que vivemos um período ruim. Mas isso não significa que não podemos concertar as coisas e seguir em frente juntos.
- Você fala como se tudo fosse fácil. Como se bastasse esquecer o passado e viver o futuro. Mas o passado determina nosso futuro.  O futuro que podemos ter depende do passado que acumulamos.
-Nosso passado foi assim ao ruim para você?
- Nós fiemos algumas escolhas. A questão agora é se elas continuam valendo a pena.
- Acho que cometi alguns erros. Você também...
- Pera ai! Não se trata aqui de certo ou errado. A questão é outra. Tive que sacrificar algumas coisas na vida pra ficar com você. Eu não sei se por acaso não é o momento de viver mais pra mim e não para os seus problemas.
- Olha só Julieta, acho que eu também fiz meus sacrifícios.
- Você? Você não passa de um homem que só sabe esperar da mulher. Você nunca se preocupou realmente com o que eu quero ou deixo de querer.
-Mas do que você esta falando?
- eu estou falando de uma vida em comum que caiba dentro de nós dois.
- Você me cobra e me culpa por coisas sem sentido.
-Talvez eu não seja exatamente o tipo de mulher que você pensou...
 Romeu é definitivamente um pulha narcisista como a maior parte dos homens. Fico me perguntando como pude viver tantos anos ao lado dele. E este  jantar idiota para o qual ele me convidou em um boteco  qualquer querendo acertar as coisas quando é mais do que óbvio que a gente não tem mais jeito.
Aceitei vir aqui porque queria ouvi-lo. Ter certeza de que não estava enganada sobre ele. Mas no fundo ele não tem nada a dizer. Só quer que as coisas continuem como estão. Nenhuma autocrítica, nenhum questionamento. Para ele tudo não passa de um mal entendido que precisamos esquecer. Mas o verdadeiro mal entendido é nosso relacionamento. Claro que isso é demais pra cabecinha dele. Definitivamente chegamos ao fim. Isso não tem futuro!
Romeu ficou olhando para mim sem saber o que dizer. Depois cuspiu qualquer resposta tentando dominar a situação:
-Olha Julieta, a gente é um casal como qualquer outro. Temos nossos altos e baixos. Se você esperava viver um conto de fadas, sinto muito. Contos de fadas não existem.
-E quem falou em contos de fada?! É você quem não se entende muito bem com a realidade, quem não consegue enxergar nada além do próprio umbigo.
 Não havia futuro naquele diálogo. Tanto Romeu  quanto Julieta já tinham percebido isso.
 Julieta foi ficando cada vez mais exaltada diante das respostas e argumentações evasivas de Romeu. Chegou uma hora  em que a discussão chamou a atenção das pessoas das outras mesas do restaurante. Uma senhora passou a olhar fixamente para o casal. Queria tomar partido de Julieta. Havia vivido a vida toda para o seu homem e, faz alguns poucos anos, quando içou viúva, percebeu o quanto tinha deixado de lado sua própria vida. A pensão que recebia não pagava seu sacrifício.
Enquanto isso um jovem que jantava com a namorada já pensando em leva-la para o motel depois dali, tinha pena de Romeu. Não entendia como uma mulher podia tratar um cara tão mal. Aquilo não lhe parecia certo. Ai de sua namorada se  algum dia fizesse coisa parecida com ele.
O garçom que servia Romeu e Julieta, um senhorzinho careca e sem muitas imaginações queria mais ver o circo pegar fogo. Para ele importava o espetáculo. Não torcia para nenhum dos dois.
Roubarei do leitor o prazer de uma conclusão. Não direi como terminou esta briga e qual foram suas consequências. Cabe a cada um imaginar aquilo  que lhe parecer mais provável. Afinal temos aqui um cenário mais ou menos previsível....
Afinal, não acho que seja possível  um ponto final. Na verdade estamos lidando com o inicio de  uma situação, com um novo momento para Romeu e Julieta. Não faz diferença se juntos ou separados. Nada mais seria como antes em suas vidas.
Já era quase véspera de ano novo . .. Mas se querem saber minha posição, sinceramente torço por Julieta. Imagino que neste exato momento muitas Julietas estão por ai brigando com seus Romeus. Talvez em condições mais dramáticas e absurdas.  Gostaria de poder ter aqui o depoimento de cada uma delas...



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

SOBRE AQUELES VERSOS DE AMOR

Aqueles versos de amor,
Quando escritos,
Eram realmente de amor.
Hoje não passam de letra morta,
Como é próprio da natureza do amor.
Aqueles versos de amor
Eram eternos.
Mas a eternidade não existe.
Nem para quem viveu um dia

Um grande amor.

O QUE AINDA SIGNIFICA UM BEIJO?

O que ainda significa um beijo
Em um mundo onde nos desencontramos
De nós mesmos?
Eis a mais humana de todas as perguntas contemporâneas.
Nossos corpos se fazem urgentes na dissolução das coisas
Em uma virtualidade qualquer.
Nos fechamos em vaidades e narcisismos
Contra a maré da incerteza.
Mas isso não nos livra do medo,
Isso não nos torna perfeitos
Ou acima das contradições e desfuncionalidades

Que agora definem tudo que nos é concebível.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

ANATOMIA DE UMA SEPARAÇÃO


1-A SEPARAÇÃO DO PONTO DE VISA DE JACK

Não sabia o que fazer depois que a Jozy resolveu me deixar. Morávamos juntos a quase dez anos. Éramos como um casal como outro qualquer. Cada um vivendo sua rotina, independente um do outro. Ela tinha seu emprego, eu tinha o meu e só nos víamos a noite. Cada um tinha seus sonhos e projetos próprios de vida. Tivemos o bom senso de não ter filhos para nos atrapalhar. Isso facilitava muito as coisas entre a gente. Tínhamos total liberdade para planejar nossas vidas dentro do permitido pelo modesto orçamento doméstico. Não tínhamos bons empregos. Ela era secretaria e eu  um simples funcionário de repartição pública.
Não me perguntem por que ela resolveu ir embora. Nunca brigávamos ou discutíamos por qualquer coisa. Era uma vida tranquila e sem surpresas. Mas um dia ela  ficou meio distante e uma semana depois me chamou para conversar e me notificou de sua  decisão de me deixar. Não ofereceu qualquer bom motivo para isso. Apenas disse que não queria mais continuar dividindo o mesmo teto comigo. Queria começar um momento novo em sua vida. Quando lhe perguntei se havia outro cara, ela sorriu e disse que não se tratava disso.  Eu acreditei.
Nosso relacionamento havia caído em uma rotina vazia. Eu não me dei conta da gravidade disso. Mas estávamos vivendo como dois estranhos. Cada um levando a própria vida, apesar de dividir o mesmo teto. Uma hora ela se deu conta que não precisava mais de mim, que eu não fazia qualquer diferença para ela. O que era uma verdade. Estávamos vivendo como dois dementes e um apenas alimentava a demência do outro. Era uma vidinha sem sal, estragada pela rotina vazia e pela absoluta falta de perspectiva.
Cabe esclarecer que não éramos do tipo romântico. Não levávamos muito a sério as ilusões do amor. Nem trepávamos direito, se permitem a franqueza. Mas isso nunca tinha sido um problema. Apenas não tínhamos um relacionamento dos mais quentes, mas estávamos bem acomodados a ele. Nós gostávamos um do outro. Mas de um modo bem peculiar.
Não posso negar que me senti mal quando ela me disse que estava indo embora. Mas não tinha muito o que argumentar. Não fui capaz de persuadi-la do contrário, pois não tinha um único argumento que pudesse ser convincente. Então ela se foi e o apartamento que me parecia pequeno nunca se revelou tão grande.
Não faz muito sentido para mim ficar lamentando o fato. A questão é o que vou fazer da minha vida agora. Jozy garantia a rotina doméstica. Apesar de trabalhar fora, cuidava da casa e mantinha as finanças sobre controle. Eu, ao contrário dela, não tenho o mínimo talento para isso. Desde que ela foi embora o apartamento deixou de ser um lar e passou a lembrar mais alguma espécie de acampamento onde tudo é feito meio de improviso.
Pensando sobre isso agora, me ocorreu que, talvez, minha completa omissão nos rumos da economia domestica podem ter contribuído para decisão dela. Afinal, não devia ser fácil trabalhar fora e ainda manter a casa em ordem. Mas eu não sou do tipo que cuida da casa. Ela sabia disso e não parecia se importar.
Eu devia era procurar outra mulher para botar no lugar dela. Mas já tinha passado dos cinquenta e não tinha mais a mínima paciência para sair flertando por aí tipo um adolescente. Isso me parecia fútil e , possivelmente, inútil. Não tinha muito dinheiro, não era bonito.... Que tipo de mulher ia acabar comigo a esta altura da vida?
Além disso, havia outro problema. Uma parte de mim tendia a não aceitar o fim do relacionamento. Sentia que Jozy ainda era minha, apesar de sua decisão de ter indo embora. Minha vontade era trazê-la de volta ou, simplesmente, esperar que em algum momento ela caísse em si e voltasse para mim. È engraçado admitir isso. Mas nutria este tipo de fantasia. Quando voltava para casa a noite e encontrava o apartamento vazio eu pensava e sentia essas coisas. Eu era um completo idiota como a grande maioria dos outros homens. Pensava que uma mulher deveria viver para mim, cuidar de mim. Tenho certeza que ela não vai encontrar nenhum cara diferente de mim por ai.
Não gostava da ideia de não vê-la de novo. Mas ela não me disse exatamente para onde ia. Apenas arrumou suas coisas enchendo três grandes malas e disse que ficaria um tempo na casa de uma amiga. Eu nem sabia que ela tinha amigas. Aliais, sabia muito pouco de sua vida fora de casa. 
Jozy foi a única mulher com a qual morei junto. Antes dela tinha tido apenas alguns casos e muitas aventuras. Nada sério. Namoramos por um ano antes de decidirmos morar sobre o mesmo teto. A decisão foi meio pragmática. A vida ia ficar mais barata para os dois com a divisão das despesas. Mas eu gostei da coisa, me habituei a ela.  Não estava preparado para voltar a estar sozinho depois de tanto tempo. Acho que terei que arrumar um cachorro....

2- A SEPARAÇÃO DO PONTO DE VISTA DE JOZY

Creio que Jack foi uma das piores coisas que aconteceram na minha vida. Quando o conheci eu estava um pouco fragilizada. Meu pai havia morrido e queria um pouco de companhia. No inicio ele era carinhoso e atencioso. Era o que eu precisava naquele momento. Namoramos e  chegou uma hora em que conversamos sobre morar juntos. Parecia conveniente dividir as contas e a vida com ele. Nossa situação financeira nunca foi das melhores.
Mas ao longo dos anos morando juntos descobri nele uma pessoa distante e vazia. Não tinha exatamente um companheiro dentro de casa.  Ele estava sempre mais disponível para o amigos dele do que pra mim.  Ele nunca lembrava da data do meu aniversário, nunca saiamos juntos para jantar ou ir ao cinema. Ele me tratava mais como uma empregada cjua função era manter a casa em ordem.
Apesar das poucas oportunidades que tive na vida eu ainda cultivava alguns sonhos. Pensava em fazer uma faculdade, conseguir um emprego melhor. Queria crescer. Ele, ao contrário, era profundamente acomodado com tudo e sua única ambição era encher a cara de cerveja todo fim de semana.
Não sei como conseguir aguentar tudo isso durante dez anos. Engraçado como eu evitava reclamar de tudo. Tendia a naturalizar aquela constante falta de atenção, aquele descaso como sendo apenas um modo dele ser. Afinal, os homens não são todos assim? Não adiantaria reclamar. Era o que eu pensava. Mas não me sentia melhor  por isso. Muitas vezes chegava em casa querendo que ele não estivesse lá, que eu não tivesse que dividir a mesma cama com ele.
Nós nunca nos amamos. Mas durante algum tempo fomo bons amigos. Nos últimos anos, entretanto, a amizade foi se degenerando em indiferença e, no meu caso, se convertendo em uma espécie de aversão. Eu o culpava pelo  homem que ele não era.  Chegou um ponto em que eu não podia mais conviver mais com aquela situação.
Não foi fácil sair de casa. Contei com a ajuda de uma amiga minha do trabalho, a Magy. Sem ela não teria tido coragem. Hoje moro com ela temporariamente. Tenho algumas economias e estou tentando conseguir  outro emprego.
Eu espero não velo novamente e continuar minha vida. No dia em que fui embora ele me pareceu um pouco diferente, meio sombrio. Tive medo dele. Achei que podia ficar violento. Acho que ele não aceitou muito bem a ideia de separação. Talvez por ter tido o orgulho ferido e se sentido rejeitado. Em alguns momentos da nossa despedia disse palavras duras pra ele tentando expressar o quanto estava infeliz.
Mas não quero perder meu tempo falando sobrei isso. Quero esquecer o passado. Já passei dos cinquenta e não tenho tempo para lamentar aquilo que foi. Meu futuro é feito de urgências.

3-A SEPARAÇÃO DO PONTO DE VISTA DO APARTAMENTO DO EX CASAL

Não sou a voz de qualquer ente mítico ou entidade fantástica. Sou  apenas um discurso sem voz, um ato de imaginação que personifica os fatos em sua impessoalidade e sem o crivo das interpretações subjetivas de seus próprios atores. Sou exatamente aquilo que eles ignoram. Por tanto não tenho existência. Mas seria um erro me ignorar.
Nenhum dos discursos produzidos pelo casal aqui em questão corresponde realmente aos fatos. Eles levavam uma vida rotineira e tediante. Mas mantinham uma relação de auto dependência psicológica muito interessante.
Jozy era uma garota ambiciosa que viu em Jack alguém suficientemente submisso a ela para fazer todas as suas vontades. Foi dela a ideia de morarem juntos e, durante algum tempo,  ela manteve esperanças na possibilidade de Jack melhorar de vida e lhe garantir uma situação materialmente mais confortável na vida. Jack, por sua vez, era apenas um sujeito medíocre e sem ambições . Bastava aquela vidinha que levava certa e segura.
Havia, portanto, desde o inicio uma incompatibilidade entre os dois.  O que os levou a um envolvimento mais intimo foi a ocasional trepada propiciada em uma noite de bebedeira na qual se conheceram na celebração do aniversário de um amigo comum. Havia uma química sexual entre eles se perdurou por muito tempo e sustentou o envolvimento.
A verdade é que ambos nunca foram capazes de lidar de modo muito consequente com a vida e projetaram um no outro as fantasias mais oportunistas daquilo que consideravam um relacionamento porcamente feliz. Era natural que tudo  chegasse ao fim um dia.
A lição que podemos tirar da história dos dois é o quanto as pessoas tendem a ser ingênuas em suas escolhas afetivas e optam sempre movidas por cálculos subjetivos que transcendem o simples envolvimento afetivo.
Mas esta é a avaliação de uma voz que não existe, mas que encontra-se muda nas entrelinhas de ambos os discursos anteriormente apresentados.


domingo, 6 de dezembro de 2015

NÃO CONFIEM EM AMANTES

O amor pode ser considerado uma espécie de doença, um estado singular de entorpecimento da consciência.
Trata-se da forma mais complexa de narcisismo, pois pressupõe o outro como espelho de si mesmo, como objeto de fantasia e desejo.

Através do amor buscamos ser mais do que nossa elementar finitude , viver mais do que a concretude dos fatos e, nos casos mais radicais, fazer do outro a meta de nossa própria existência.

Amantes nunca são razoáveis, fecham-se em sua fantasia infantil e através dela reinventam o mundo dominados por uma passionalidade que flerta com o absurdo e o irrazoável.

Jamais confie nas considerações de um amante.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O ABISMO DO DIÁLOGO

Dentro de todo diálogo
Há sempre qualquer coisa ilegível,
Algo que escapa ao dizer
E no fundo do outro se inventa
No acontecer subjetivo do eco
Daquilo que foi dito

No se perder das intenções
Do pensamento
Os motivos  se inventam
Através do crivo das interpretações.

Então não me cobrem coerência.
As opiniões transcendem os discursos.
Tudo que digo sempre ganha um outro sentido
Na luz do teu ouvido.


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A IGNORÂNCIA DO OUTRO

Em nossas perdidas horas de afetos,
Nudez e carências
Escrevemos em nós mesmos
A marca de um engano,
De uma ilusão cujo futuro
Só poderia ser  a transgressão.
Pois só se ama aquilo que se supera,
O que  tornamos tão  familiar
Que desconhecemos em si mesmo.
Eis o grande segredo do amor:

A ignorância do outro.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

AS MENTIRAS DO AMOR

Não espero encontrar no além do seu rosto
qualquer outra coisa que meus olhos
não dizem.
Talvez você seja perfeita para minhas imperfeições,
para os meus delírios e incertezas.
Ou se faça apenas parte
dos meus maiores enganos.
De um modo ou de outro,
viveremos em fantasia
qualquer realidade que se perdeu
do mundo.
Nenhuma verdade cabe

na perpetua ilusão de um encontro. 

domingo, 29 de novembro de 2015

BANALIDADE URBANA


Passava as horas esperando mais horas
Naquela tarde morta e ensolarada
Onde vertigens adivinham a rua,
Os carros e as pessoas,
Vindo e indo de todas as partes
No lugar nenhum de suas vidas.

Havia algo de indeterminado,
De ilegível, em todo aquele banal espetáculo.
Percebia em tudo ausências, lapsos,
Algum lugar comum de tédio,
Que me inspirava evasões,
Me levava a não esperar por nada,
E me render a uma absoluta falta de imaginação.

A tarde me transpassava,
Tão profunda e misteriosa como um enigma

Sem solução.

sábado, 28 de novembro de 2015

EROTISMO CONTEMPLATIVO

Não sei se as pernas decoram a saia
Ou se a saia diz algo mais do que as pernas.
Sei apenas que meus olhos não evitam
A visão suprema do teu andar firme
Sobre minhas imaginações mais intimas.

Mas meu desejo não diz um coito.
É contemplativo e inofensivo.
Tem por meta apenas a poesia
De saber seu corpo
Como um objeto trágico,
Como um efêmero  momento de vida,
Em alguma forma filosófica
De contemplativo erotismo.

Não sou destes realistas
Que da beleza só sabem a casca

E evitam os abismos.

SABEDORIA DA DECEPÇÃO

Algum dia deixei de lado
As certezas antigas
E me pus ao seu lado
Para redescobrir a vida.
Nos perdemos juntos.
Nunca mais nos encontramos.
Mas me tornei mais realista,
Desconfiado e comedido.
Aprendi, finalmente,

A lidar com o mundo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O OUTRO COMO ABISMO

A fantasia e o desejo se enroscam em uma estranha dança.
Dão forma ao egoísmo projetado
no desconhecido território do seu rosto.
Já não cabe estar certo ou errado.
Nada precisa fazer sentido.
Estamos condenados a nossas imaginações,
a imperiosa vontade de descobrir
um no outro
o mais intimo de todos os abismos.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

VIVA SUA SOMBRA CONTRA SI MESMO

Tenho medo dos meus desejos,
Das carências que desconheço
Mas me corroem por dentro
Em orgias de irracionalismos mudos.
Não sei o que esperar dos meus gritos ocultos,
Das dores abstratas que não conhecem
O meu rosto.

Tenho medo do lado avesso
De mim mesmo,
Daquele outro que me espreita raivoso
No fundo  da noite além do sono.

Tenho medo do que sou
No solitário universo paralelo

Dos meus monólogos invisíveis.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

DIVORCIADOS

Um encontro fortuito,
Um beijo e uma despedida.
Assim definiria os anos
De nossas vidas combinadas
E em agonia.
Fomos feitos um contra o outro.
Íamos para cama sem ter motivo.
Apenas nos rendíamos a um jogo
No qual ambos perdiam.
Não éramos felizes
E , muito menos, inteligentes.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ESTAMOS CONDENADOS A SOLIDÃO

Pouco importa os beijos apaixonados,
As juras de amor eterno,
Os filhos e as contas conjuntas.
Estamos todos sozinhos,
Somos prisioneiros de uma solidão qualquer.
Talvez apenas de nossos sonhos
Que transcendem o amor e o vivido.
Qualquer fantasia,
Qualquer vontade que nos desafie
O cotidiano é suficiente
Para nos dizer sozinhos.
Entre o eu e o outro

Existe sempre um limite.

METAFÍSICA DO AMOR

O incomunicável é o que  nos faz dialogar.
Ousamos ir além da palavra,
buscamos dizer o indizível,
sentir até o limite
tudo aquilo que poderíamos  ser
um no outro.
somamos nossas respirações,
nossos limites,
angustias e carências
até que o amor explodisse
que surgisse entre nós
algo mais do que o tédio

de nossa banal realidade.

domingo, 22 de novembro de 2015

O AMOR COMO UMA FORMA DE DELÍRIO E MORTE

Gostávamos de tomar banho juntos. Viver a intimidade mais lúdica de nossos corpos, de nossos eus desnudos e em estado de quase selvageria.

O mundo nos era impossível quando estávamos juntos. Éramos nada e estávamos em tudo que a nossa volta existia.

Aos poucos perdemos as palavras. Já não tínhamos nada a dizer um ao outro. Apenas observávamos juntos tudo acontecer. Um dentro do outro.  Um através do outro.

Éramos nossos passados, objetos de  nossas infâncias transmutadas em desejo e delírio no absurdo de ser no aqui e agora do fluxo aleatório dos momentos.

Sabíamos que estávamos doentes um pelo outro. Que não podíamos viver daquela maneira.


Mas tudo que pensávamos era consumar nossa morte para a realidade do mundo.

sábado, 21 de novembro de 2015

SOLTEIROS

Você não acreditava
Em nada daquilo que dizia.
Eu não te ouvia por não acreditar
Em algo tão banal.
Mesmo assim nos beijamos,
Nos desencontramos
E o mundo seguiu em frente.
Sempre a mesma esperança,
Sempre a mesma solidão.
Nunca  hipocrisia suficiente
Para sustentar por anos

Uma falsa relação.

PARA UMA FILOSOFIA DA CONVIVÊNCIA


O amor não passa de uma fantasia vazia ou, na melhor das hipóteses, de uma ilusão delicada. O que é essencial nos intercâmbios intersubjetivos é o cultivo da convivência como alteridade, como dialética concreta do eu e do outro.

Esta não é uma questão que envolve afetividade ou qualquer outro tipo de passionalidade, trata-se da construção de um conhecimento mútuo de quem somos em nosso agir cotidiano. A premissa da convivência é a insignificância, a precariedade da existência. Nada é realmente importante...

Isso nos leva a “querer” menos, a esperar menos, na medida em que nos tornamos conscientes da precariedade de nossas compartilhadas realidades.


A convivência é filha do mais pragmático pessimismo. 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

DECLARAÇÃO DE AMOR

Tenho cultivado você
Dentro de mim mesmo.
Inventado em segredo meu desejo.
Tenho sido egoísta.
Tentado te roubar de sua vida
Para fazer parte da minha.
Tenho sido egoísta em delírios
De uma união perfeita
Entre o beijo e a cama.
Tenho sentido através de você
Todos os limites da vaidade

E o desespero do meu narcisismo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

AMOR ROMÂNTICO E VIOLÊNCIA

O amor romântico pressupõe a violência simbólica ou real como estratégia de construção do poder constituído pela ideia de uma vinculação eterna, de uma predestinação. Nesta perspectiva, o amor romântico, dado seu caráter necessariamente obsessivo, é essencialmente coercitivo.

O objeto amado, precisa ser amado, sempre e cada vez mais.  Ele deve realizar o amor. Assim pensa o amante. Sua satisfação, sua segurança, está na experiência do amor. Se o objeto amado não corresponde a experiência romântica, ele deve ser persuadido a fazê-lo.

Alguns podem considerar tais considerações sobre a dinâmica romântica um pouco exageradas. Mas o fato de  casos amorosos acabarem com frequência nas páginas policiais, evidenciam o quanto situações de tensão e violência não são estranhas a relações amorosas. O numero de assassinatos e agressões que mulheres sofrem nas mãos dos seus parceiros em países como o Brasil não nos deixam mentir.


Mesmo aqueles que fazem apologia do amor romântico não podem negar que o amor é  fonte de muitos litígios e desentendimento entre as pessoas.

SEXO

Quando o gozo se torna a meta,
o relacionamento se reduz
a uma quimera.

Quando as bocas se encontram
não há diálogo,
se quer sentimentos.

Todas as divergências,
diferenças e impasses são esquecidos.

O desejo transcende o humano,
consome consciências

no absoluto do corpo.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

DEBATE

Não havia qualquer coerência
em nossos atos,
nenhuma medida
ou propósito que justificasse
qualquer coisa.
Tudo era uma questão de estilo,
de opinião vazia,
Que banalizava a palavra
que a todo custo
tentávamos inutilmente
tornar significativa.
Mas a vida contradizia
toda versão da realidade,
todas as possibilidades

e verdades.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

NUNCA MAIS DIGA QUE ME AMA

As palavras estão gastas.
Seus significados oscilam
E a gente tenta se agarrar
A uma penca de conceitos
E a algumas ideias tortas
Apenas para não enlouquecer.
O resto é berita, tédio e cigarros.
Já sabemos que o mundo não vale a pena.
Que não vamos chegar a lugar nenhum
Através do amor.
Só precisamos ver TV e nos embriagar
Com muita tecnologia para disfarçar
O profundo silêncio em que vivemos.
Apague a luz ao sair.

Preciso dormir um pouco.
Não diga mais que me ama.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

CASO PENSE QUE ENCONTROU O AMOR: NÃO CASE!!!!!

Caso tenhas tido a rara sorte de conquistar uma boa relação amorosa com alguém, a primeira coisa que deve evitar é a ilusão de que este bom intercâmbio humano possa desdobrar-se em um casamento feliz.

Para que serve um casamento a não ser para transformar uma boa rotina e cumplicidade em um inferno de obrigações, rotinas e desentendimento que só vale manter por razões econômicas?
Se o amor ainda vale a pena como fantasia compartilhada, o mesmo não pode se dizer do bom destino esperado pela aventura furada de um casamento.

Nenhum bom sentimento pode ter por símbolos coleiras, cadeados ou alianças como símbolo de uma falsa garantia de eternidade. No fundo, não há prova maior do que o casamento do quanto o amor não é confiável e deve ser encarcerado a hipocrisia de uma instituição vazia.


O casamento sempre testemunhou contra o amor romântico denunciando sua hipocrisia.

UMA GAROTA QUALQUER

Ela era apenas uma garota qualquer
Que em sua banalidade se julgava especial.
Ela era apenas uma garota
Que esperava conseguir o melhor do mundo
Sem qualquer esforço.
Nutria-se da superficialidade de suas quimeras.
Vivia de alguns vazios e muitas esperas.
Toda sua realidade cabia em um sonho.
O triste é que um dia
Ela não seria mais uma garota,
Não sobraria nada dos seus caprichos
E seus espelhos já não lhe diriam alegrias
Estampadas no rosto.
Ela ainda não conhecia o tempo

E pouco sabia de si.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

FILOSOFIA DA SEPARAÇÃO

Aos poucos me perdi
de tudo que fomos nós,
aprendi o irrazoável
de suas solicitações,
do seu carinho mal resolvido
e das falsas necessidades de atenção.
Aos poucos reaprendi minhas duvidas,
minhas distancias e questionamentos de mundo.
Descobri que entre nós não havia o obtuso
de qualquer provisória solução.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O AMOR SEMPRE ACABA


Não me venham falar dos amores que tive.
O tempo matou todos eles
E segui em frente
Sempre esperando o próximo engano,
o próximo beijo,
como se a vida fosse
a imagem e semelhança  do meu desejo.
O amor é breve, efêmero e superficial
Em suas rotinas,
Quase não cabe na arte de viver.
Prefiro a realidade de saber de mim,
De estar tão profundamente em mim mesmo
Que o outro seja apenas uma visita distante,
Uma eventual companhia
Que não me estrague as vontades.
Bem sei que o amor sempre termina
Antes que a gente desista dele.  

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A VERTIGEM DE SENTIR

Eu tenho sonhos que morrem
Na manhã em que  você grita.
Eu vivo dos teus olhos,
Em ressaca e poesia.

Guarda pra mim um pedaço
Do teu sono
E um resto de poesia.

Vamos viver nos telhados,
Reinventando sombras
E melancolias
enquanto apodrece o dia.

domingo, 1 de novembro de 2015

AS PESSOAS NÃO SE AMAM MAIS

As pessoas não se amam mais.
Não porque se tornaram frias.
Mas porque o amor se revelou
Uma fórmula vazia.

O eu, o outro
E a chama,
Já não aquecem esperanças
E se consomem em falsas promessas.

Precisamos de coisa melhor do que o amor.
Talvez, precisemos ser mais do que somos
E menos aquilo a que supostamente
Estamos dispostos.

Que cada um se torne livre

Através um do outro....

sábado, 31 de outubro de 2015

A DECADÊNCIA DA ARTE DA CONVERSAÇÃO

Conversar tornou-se algo enfadonho e tedioso para mim. Pois é difícil encontrar interlocutores aptos ao exercício de um bom diálogo. A maioria já não tem muita coisa a dizer e reproduz os lugares comuns do dizer social cotidiano.  Quanto mais adaptadas ao mundo menos capazes de uma experiência autêntica nos tornamos; menos temos o que realmente dizer uns aos outros.

A amabilidade entre dois interlocutores já não significa que compartilham qualquer experiência autêntica, mas que falam de interesses comuns, que dominam  um mesmo discurso e co habitam uma  mesma visão de mundo e nisso se rendem a impessoalidade de um dialogo onde as coisas dominam a consciência.

Um bom dialogo é aquele em que o outro nos confronta com o desconhecido das possibilidades de nossa própria condição humana. É a diferença e o estranhamento que sustenta um bom diálogo, não a identidade.

O AMOR COMO AUTO PIEDADE


A conjunção psicológica entre dois indivíduos já se despiu hoje em dia de qualquer idealismo vazio. O intercambio entre duas pessoas se reduz a sexo e pragmatismo. Um não é o destino do outro e não há virtude que os mantenha unidos por longo tempo.

Quando se compartilha o dia a dia com alguém se tenta fugir de si mesmo e obter através da aceitação profunda do outro a  redenção das próprias limitações e defeitos.


O amor não serve para outra coisa além de um ato de auto piedade segundo as exigências conservadoras do modelo de passionalidade e subjetividade que ainda nos é ensinado.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

POR FAVOR, NÃO GOSTE DE MIM

A extrojeção narcisistica é o que define nossa relação com as pessoas e o mundo.
Estamos sempre buscando o outro como medida de nós mesmos,
Tentando fugir ao fato de que somos movidos por uma vontade,
Por um impulso desesperado de sentir o outro como parte de  quem somos.
Mas isso só é possível quando não reconhecemos o outro como o distante,
O ausente,  aquele que não é parte da gente.
Quanto mais próximas duas pessoas se tornam, mais se distanciam uma da outra.
Então não tente me dizer coisa alguma, não tente entrar na minha vida.
Você jamais será especial para mim.
Não vamos unir nossos egoísmos.  Não vale a pena.
Melhor não usarmos um ao outro contra a solidão.
Ela sempre vence no final.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

NOTA SOBRE O SENTIMENTO DO EU E DO OUTRO

Quando se conhece alguém profundamente nos vemos diante de nossas misérias, de nossa patética necessidade do outro, e nos aceitamos como “eus” condenados a busca incessante do oposto, da diferença como critério de tudo aquilo que somos.
Mas o outro é também um “eu” que nos espera como  interlocutor do vazio dialético entre o que somos e o que buscamos ser contra os lugares comuns de nossos arremedos ontológicos.


Não há abrigo contra as contradições de nossa solitária existência mergulhada em incertezas e duvidas sobre a própria natureza do "eu"....

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O DECLÍNIO DOS RELACIONAMENTOS DE LONGO PLAZO

O declínio do amor romântico no mundo contemporâneo não passa apenas pela desmitificação da afetivididade,da decadência da projeção e idealização vazia do outro como objeto de simbiose e segurança emocional. Nossas sensibilidades mudaram. Somos mais autônomos do ponto de vista da consciência singularizada do complexo de um eu pessoal. Assim, ao mesmo tempo em que temos necessidade do outro, também temos cada vez mais necessidade de não depender dele, de não pressupô-lo como centro de nossa experiência subjetiva e vida privada.

Esta ambiguidade do desejo do outro, que é, mais do que nunca, o desmascaramento do “amar ao outro” como uma afirmação de si mesmo, nos torna inaptos as vazias representações tradicionais do amor eletivo. Hoje em dia somos conscientes de que o outro é um instrumento de auto erotismo, um artifício para realização de nossas fantasias e busca de prestigio social e pessoal.
A emancipação econômica e identidária da mulher na sociedade, que se radicalizou no Ocidente depois da segunda grande guerra, foi um dos fatores que mais contribuiu para desconstrução do amor e do casamento como  quase uma obrigação social.

A autonomia cada vez mais intensa do individuo e da consciência individual, a implosão dos velhos papéis sociais, norteiam os relacionamentos afetivos contemporâneos estabelecendo um dilema básico: Se por um lado, em sua formula mais generosa, tais relacionamentos tem por horizonte a construção de vínculos afetivos de longa duração, ao mesmo tempo, pressupõem a salvaguarda da autonomia individual como uma condição destes vínculos. Tais diferentes perspectivas raramente são compatíveis, o que faz com que os relacionamentos tendam a perenidade, uma perenidade que se confunde com o deslocamento de nossa condição de artífices de nosso destino. Afinal, já não estamos mais tão certos de nossas certezas e opções, principalmente no campo afetivo. Somos, de um modo geral, vitimas das circunstâncias e escravos dos fatos. Relacionamentos já não cabem em qualquer projeto biográfico sem uma boa dose de ingenuidade.