O declínio do amor romântico no
mundo contemporâneo não passa apenas pela desmitificação da afetivididade,da
decadência da projeção e idealização vazia do outro como objeto de simbiose e
segurança emocional. Nossas sensibilidades mudaram. Somos mais autônomos do
ponto de vista da consciência singularizada do complexo de um eu pessoal.
Assim, ao mesmo tempo em que temos necessidade do outro, também temos cada vez
mais necessidade de não depender dele, de não pressupô-lo como centro de nossa
experiência subjetiva e vida privada.
Esta ambiguidade do desejo do
outro, que é, mais do que nunca, o desmascaramento do “amar ao outro” como uma
afirmação de si mesmo, nos torna inaptos as vazias representações tradicionais
do amor eletivo. Hoje em dia somos conscientes de que o outro é um instrumento
de auto erotismo, um artifício para realização de nossas fantasias e busca de
prestigio social e pessoal.
A emancipação econômica e identidária
da mulher na sociedade, que se radicalizou no Ocidente depois da segunda grande
guerra, foi um dos fatores que mais contribuiu para desconstrução do amor e do
casamento como quase uma obrigação
social.
A autonomia cada vez mais intensa
do individuo e da consciência individual, a implosão dos velhos papéis sociais,
norteiam os relacionamentos afetivos contemporâneos estabelecendo um dilema
básico: Se por um lado, em sua formula mais generosa, tais relacionamentos tem
por horizonte a construção de vínculos afetivos de longa duração, ao mesmo
tempo, pressupõem a salvaguarda da autonomia individual como uma condição
destes vínculos. Tais diferentes perspectivas raramente são compatíveis, o que
faz com que os relacionamentos tendam a perenidade, uma perenidade que se
confunde com o deslocamento de nossa condição de artífices de nosso destino.
Afinal, já não estamos mais tão certos de nossas certezas e opções,
principalmente no campo afetivo. Somos, de um modo geral, vitimas das
circunstâncias e escravos dos fatos. Relacionamentos já não cabem em qualquer
projeto biográfico sem uma boa dose de ingenuidade.

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