segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O DECLÍNIO DOS RELACIONAMENTOS DE LONGO PLAZO

O declínio do amor romântico no mundo contemporâneo não passa apenas pela desmitificação da afetivididade,da decadência da projeção e idealização vazia do outro como objeto de simbiose e segurança emocional. Nossas sensibilidades mudaram. Somos mais autônomos do ponto de vista da consciência singularizada do complexo de um eu pessoal. Assim, ao mesmo tempo em que temos necessidade do outro, também temos cada vez mais necessidade de não depender dele, de não pressupô-lo como centro de nossa experiência subjetiva e vida privada.

Esta ambiguidade do desejo do outro, que é, mais do que nunca, o desmascaramento do “amar ao outro” como uma afirmação de si mesmo, nos torna inaptos as vazias representações tradicionais do amor eletivo. Hoje em dia somos conscientes de que o outro é um instrumento de auto erotismo, um artifício para realização de nossas fantasias e busca de prestigio social e pessoal.
A emancipação econômica e identidária da mulher na sociedade, que se radicalizou no Ocidente depois da segunda grande guerra, foi um dos fatores que mais contribuiu para desconstrução do amor e do casamento como  quase uma obrigação social.

A autonomia cada vez mais intensa do individuo e da consciência individual, a implosão dos velhos papéis sociais, norteiam os relacionamentos afetivos contemporâneos estabelecendo um dilema básico: Se por um lado, em sua formula mais generosa, tais relacionamentos tem por horizonte a construção de vínculos afetivos de longa duração, ao mesmo tempo, pressupõem a salvaguarda da autonomia individual como uma condição destes vínculos. Tais diferentes perspectivas raramente são compatíveis, o que faz com que os relacionamentos tendam a perenidade, uma perenidade que se confunde com o deslocamento de nossa condição de artífices de nosso destino. Afinal, já não estamos mais tão certos de nossas certezas e opções, principalmente no campo afetivo. Somos, de um modo geral, vitimas das circunstâncias e escravos dos fatos. Relacionamentos já não cabem em qualquer projeto biográfico sem uma boa dose de ingenuidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário