sexta-feira, 9 de outubro de 2015

FLERTANDO COM A FELICIDADE

Aquela mulher tinha algo mais valioso do que a banalidade de um belo corpo. Tinha um rosto selvagem, um olhar firme e uma voz forte. Parecia o tipo certo de mulher.  Realista, determinada e independente. Nenhum traço de passionalidade. Era inteligente de modo assustador e sabia manipular as pessoas como ninguém.

Era impossível não ser franco com ela. Não nos deixava a vontade. Inibia qualquer tentativa de intimidade. Era como se estivesse sempre esperando o pior de seu interlocutor. Alguns podem considerar isso ruim. Mas era o que a tornava especial. Ela não me ameaçava com  o peso da afetividade exagerada. Não me pedia nada e nem esperava nada de mim. Com ela podia conversar de igual para igual, sem ter pudores.

Suas falas me encantavam e, de algum modo, eu queria entrar dentro dos olhos dela, saber tudo que precisava saber sobre sua vida e seus pensamentos. Percebia que tínhamos muito a dizer um ao outro. Mas não estávamos dispostos. O encanto dura pouco. Cedo ou tarde a gente voltaria a se sentir sozinhos e presos dentro de nós mesmos. Não iríamos nos salvar do tédio com sexo. Depois de algumas deliciosas horas de intensa prosa, nos despedimos. Nunca mais soubemos um do outro.
 

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