terça-feira, 29 de dezembro de 2020

SENTIMENTO DE MUNDO

Ontem o mundo me parecia triste porque eu não me sentia feliz.
Hoje amanheci alegre e uma melancolia desfila silenciosamente nas ruas.
Definitivamente, não há razão de ser que explique meu sentimento do mundo.
Não há verdade nem mesmo em minhas mais autênticas angústias.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

RECORDAÇÃO

 

Os dias passam.

A vida segue,

e nada mais acontece.


Meu passado faz brilhar o futuro

contra todo vazio do tempo presente.

O peso do tempo torna tudo impossível

na lembrança de coisas perdidas

que me devoram no tempo.

sábado, 19 de dezembro de 2020

VIDA VAZIA

Na rotina simples e previsível
Da vida contemporânea
Não cabe muita existência.
Só um tempo que morre
Através de nós
Enquanto contemplamos o abismo
De nossas mais profundas emoções.
Quase nada é desejo
Ou vontade de vida.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

AMOR & GUERRA

 

Amor é jogo,

ilusão e arte.

Não diz respeito a sentimentos,

mas a fantasia do outro

contra a realidade de alguém.

É uma experiencia bélica,

agressiva e premeditada

cujo o objetivo é a sedução

e a conquista.

Amor é um estado permanente de guerra.


DESAPEGO

 


Não falarei do amor,

dos encontros,

ou sobre a coincidência de alguns destinos.


Também nada direi sobre a solidão,

sobre a saudade e a desilusão

que moram nos corações partidos.


Falarei apenas sobre as horas vazias

que decoram a tarde

enquanto me abraça no vento

uma profunda preguiça de mim mesmo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

SOLIDÃO E DIÁLOGO

 

Lamento por tudo aquilo

que entre nós

inventou distâncias.

Mas todo dialogo,

sempre acaba em silêncio.

No fundo, estamos todos mudos

e sozinhos

entre o tédio dos telefonemas

e as mensagens descartáveis

de rede social.

No fundo,

Ninguém sabe de ninguém

no compartilhar provisório

da experiencia das coisas.



domingo, 13 de dezembro de 2020

O PESO DAS MINHAS LEMBRANÇAS

A lembrança é a parte dos outros
Que dói dentro de nós.
Não bastamos a nos mesmos,
Como o tempo não basta pra gente.
Assim  o passado se torna uma doença
Quê nos define a vida.

sábado, 12 de dezembro de 2020

SUPORTAR O PRESENTE

Faz muito tempo que tenho inventado passados para suportar o presente. Acho que esta é a pior maneira de se sentir sozinho, pois nos faz achar que a vida inteira já aconteceu.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DA SOLIDÃO

 


O que falta em nós

nunca é o outro.

Mas uma parte exilada

do si que nos fugiu

na vida.

Toda forma de solidão

é uma busca do íntimo

que nos transborda

e nos desvela um fora.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

LUA CLARA DO RIO DO TEMPO

 

A lua que brilha no rio do tempo

é eterna menina

caída de algum céu antigo

em noite de pleno infinito.


Sabe o mundo como um brinquedo

contra as àguas fundas do medo

que querem roubar o seu brilho

da face do céu e do rio.

O INFINITO DO DIÁLOGO

 

Onde for meu dizer finito

me demoro

E finjo eternidades.

Muito do que digo

fica latente no não dito,

esperando sua resposta,

sua palavra feita de carne,

sem traço de alma,

assignificante.



A PLENITUDE DO VAZIO

 


 

 

O que me preenche é a ausência.

O vazio que dentro de mim se dilata,

geme, grita,

range.

Inverte o limite do ser e do viver,

todo dizer do querer.


Sou plenamente o nada

que dentro de mim inventa o tudo,

o absurdo,

o sem nome de viver.


domingo, 6 de dezembro de 2020

A NECESSIDADE DO OUTRO

Seria feliz caso gritasse desesperado no escuro e escutasse um sorriso me abraçando contra a concretude de todos os meus limites.
Amor não define minha  fantasia do outro como necessidade é delírio. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

CAMINHANTE NOTURNO

 

A vontade de estar de mãos dadas

não acompanha a vontade de caminhar.


Prefiro ter minhas mão solitárias

e os pés provando o chão

sem a certeza de qualquer direção.


Para qualquer parte que eu for,

sei que lá chegarei sozinho.

Não importa quantos beijos

e juras

enfeitaram o caminho

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O ERRO DE AMAR

 

O amor é só um jeito certo de estar errado.

Quem ama sacrifica a realidade do outro

em nome da fantasia do querer bem.

Todos os amantes estão equivocados.

Mas errar é, definitivamente,

demasiadamente humano.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

PAZ MUNDIAL

 

Gosto de estar sozinho,

de não ter que fazer o que esperam de mim.

Também gosto de não esperar por nada das pessoas,

gosto de vê-las sozinhas,

indiferentes umas as outras.

Sei que somente de tal forma

a humanidade

será capaz algum dia

de alcançar a paz mundial.


Os solidários conduzem a guerra,

enquanto os solitários inventam a paz.



quarta-feira, 25 de novembro de 2020

CONVITE

 

Quando for mais tarde,

me convide para uma bebida.

Não tenho hora pra voltar pra casa.

Ninguém me espera no fim do dia.

Minha vida inteira é menor que a madrugada.

E minha sede é quase infinita.

Então, apenas beba comigo.

Vamos dançar a beira de abismos.

AMORES CONTEMPORÂNEOS

 


O amor possível tem gosto de desespero,

de desencontro de si no saber do outro

em coletivo vazio e intoxicação da emoção da vida.


O amor possível tem pouco de amor.

Guarda algo de grito,

de não sentido,

onde a busca escapa ao destino

que leva do eu ao outro.


terça-feira, 24 de novembro de 2020

RELACIONAMENTOS

 

Seja binário, não binário

ou plural,

todo relacionamento

é banal, descartável,

e predestinado a não durar para sempre.

Nunca duvide disso,

não finja sentir

aquilo que pensa que sente.


sábado, 14 de novembro de 2020

O CORPO E O VERSO

No fundo raso de mim,
Sei apenas o corpo
Dentro do mundo
E da palavra aberta em universo.
Sou onde não  penso
A natureza em arranjos e movimentos
De caos e afetos!

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DIVÓRCIO


Quando já  não  há mais diálogo
E tudo foi dito e esgotado,
Há sempre um traço  de passado
Impondo interdições ao futuro
De uma conversa infinita.
Cada um segue seu caminho
A sombra de um único destino.
Mas nunca mais haverá silêncio. 





quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A MORTE DO REAL

 


 

Há algo de fatal no mundo atual,

Uma experiência mortal,
Através da qual o virtual
Substituiu o real.

Trata-se de um crime perfeito.
Sem suspeitos ou cadáveres. 
Um crime sem solução. 

A vida agora é uma tecnologia de ser,
Uma sombra caída no mundo
Através do espelho da tela,
Do simulacro,
Onde materializamos a ilusão 
De nossa mais profunda verdade:
A morte constante e diária 
No insano  espetáculo de existir e querer.

O desejo acontece livre
Onde  nada mais significa,
Onde a vida se apresenta impossível,
Onde os corpos mutilados 
Pelo poder e pela tecnologias,
Dançam despidos das almas.






segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O PARADOXO DO EU E DOS OUTROS

Quem sou eu entre os outros,
Quando não me basta ser um alguém 
No desatino do querer fugir de todos?

O mundo possível não cabe mais em meu universo.

A vida escapa ao eu, não cabe nos pensamentos,
Segue sozinha  em busca
De qualquer coisa pequena
Muito maior que o céu. 

Lá fora há janelas abertas.
Mas dentro de mim,
Todas as portas estão  fechadas.

Desfeito de um si
Me perco em um suspiro
De embriaguez e provisório infinito,
Enquanto a morte me contempla
Como esfinge.

VAZIO COLETIVO

Cada um de nós é vazio de si 
E cheio dos outros
Nos  hábitos
De nosso ser social.
Até mesmo nossas diferenças 
São  tendências  comuns,
Cópia da cópia de sentimentos e verdades pré fabricadas,
Difundidas e assimiladas.
Somos asfixiados pelo Espírito coletivo
Até o fundo do poço  do mais caricato individualismo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

POR UMA POLITICA DO CUIDADO

O amor elitista,
Egoísta,
Narcisista
E dependente,
Que nos ensinam como virtude,
Não  resiste ao cuidado de si
Através do cuidado do outro,
Como ato político de alteridade
No exercício das afeições,
No encanto dos encontros,
Dos laços e mutuas transformações. 

REDE SOCIAL

Não ame.
Curta. 
Comunique -se,
Mas não  diga nada.
Apenas seja visível, 
Descartável e presente.
A vida não  tem mais importância.
Tenha um perfil fake.
Jure amor eterno ao vazio.
Você  não  passa de um conjunto de dados.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

TRANSBORDAMENTO

Sempre estarei sozinho.
Não importa os braços dados,
Os beijos e abraços,
Seguirei em mim  abandonado.

Há  no viver que segue algo incomunicável,
Indecifrável e ilegível.

Este algo é  o que somos
No transbordar de nós mesmos.
Juntos, seguimos isolados.



terça-feira, 27 de outubro de 2020

UM BILHETE

 

Deixe-me um bilhete antes de sair,

qualquer recado de afeto

ou palavra que me abrace.

Deixe um pouco da sua vida,

do melhor do seu mundo

e dos nossos dias.

Deixe um bilhete

que nos comunique futuros.



terça-feira, 20 de outubro de 2020

SENSATA ESTUPIDEZ

 


 

Que o bom senso nunca me impeça de ser ridículo,

de me dedicar a atos inúteis,

ou ser sensível a impertinência das coisas simples.


Que ninguém me impeça de me ocupar do que não tem valor

ou propósito,

de ser lúdico e até mesmo irracional.


Quero ser muitas vezes tolo,

incrivelmente bobo,

deixando-me levar pela gratuidade do fato de meramente existir.


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O FIM DO AMOR ROMÂNTICO

Entre o eu e o outro
Cresce o abismo do mundo,
A solidão  do corpo,
O passar dos anos,
No inutil  tempo de uma vida. 

Nada nos comunica
Uns aos outros.
Nada anuncia um abraço, 
Um laço,
Um beijo dentro da eternidade.
 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

AMOR E CONDIÇÃO HUMANA

Todo vazio de si , não  passa no fundo  de um silêncio  dos outros, de uma busca de mundo, através da incerteza de si mesmo.
O eu não  passa de um ponto cego entre o nós e o tu.
Se o amor só  é  possível como uma condição  ética da subjetividade que  faz de cada um de nós  um ensaio  particular da condição  humana.

SOMOS TODOS MORTOS VIVOS

No fundo do fundo
Há  um silêncio 
Dentro da minha voz,
Que tenta dizer a vida
No vazio do mundo através dos restos profundos dos outros.

Todo ser humano
É  um morto vivo
No não  lugar de si mesmo
Como ser falante e ativo.
Há algo de incompreensível 
No exercício diário do dizivel
Que tem um gosto vago de morte. 



sexta-feira, 9 de outubro de 2020

ENCONTRO

 


 

Dentro de mim há uma ausência que me completa,

que me preenche do seu vazio

até o transbordamento de mim mesmo.


Nesta ausência sei a urgência do corpo

como ponto de encontro do eu e do tu

através de nós.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A TELA E A VIDA

A tela nos roubou da vida
No tempo utópico da  informação, 
Da invenção dos fatos
E da transcendência do real.

O que sei é  o que sinto,
O que intorpece o olhar
Na cegueira de ver, saber e crer.

Não  há mais amor possível
No artifício do dizer.
Há apenas a superfície da tela,
A vida como simulacro e utopia.


sábado, 3 de outubro de 2020

VIDA E RIZOMA



Viver é  transbordar a consciência de si no inumano das coisas,
Transcender o próximo como espelho de si mesmo.

Viver é saber a terra como o lado de fora do corpo. 
Viver é não  ser humano,
Mas potência e pulsão 
No ininteligivel da experimentação .

Viver é  ser rizoma,
Meta consciência ,
Música,
Incerto movimento
Do que não se move
E se faz movente...




SINGULAR MULTIPLICIDADE

Estou cansado de dizer, 
De fazer, acontecer e ser
Dentro do perene tempo
Dos meus territorios de imanência.
Onde sou um nada,
Quero sentir tudo,
No mais profundo da ilusão  do tempo que me mata.

Quero ser múltiplo e inumano,
Obra de arte abandonada
Ao vento dos outros
Contra as certezas e verdades
De um liquido instante de mesmice coletiva e egoica representação de um eu absurdo.

Quero ser vago e profundo
No afeto da natureza pura,
Indiferente ao humano
Na mais radical intensidade dos afetos,
Que me transmutam em corpo e ambiência,
Em estética da existência dentro do espelho da multiplicidade de si como caos e não  ser.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

OPRESSÃO PERMANENTE

É  sempre longe demais,
Tarde demais.
Há  sempre um interdito,
Um impossível,
Roubando a vida da gente. 

Há  sempre uma precariedade, 
Dizendo o tempo presente,
Os absurdos da sociedade
E as misérias do Estado.

É  sempre minha existência
Vazia dos outros,
Sem rumo,
Sem futuro,
Enquando queima em mim
Em segredo
Um atemporal  desejo profundo
De mudar radicalmente o mundo
Na alegria e festa das grandes e inumanas angústias. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

SER E QUERER

Minha existência Tem sido um dramatico desencontro entre o querer  e o viver. 
Quase tudo que quero não me é  necessário e me conduz ao tédio, ao silêncio do meu viver.
Não  sei dizer em meu dia por onde anda a vitalidade do verdadeiro desejo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

INSPIRAÇÃO

Não  sou movido 
Pelo amor ou pela esperança.
Não  me embriago  de utopias.
Não  espero reconhecimento,
Não  busco vitórias.

Sou inspirado pela raiva
De estar vivo
E saber a ilusão de ser e existir.

Sou movido por um grito,
Preenchido por uma pluralidade de vazios,
Entre a imanência e a finitude,
Que me definem vivente e terrestre.

Luto contra toda palavra
E idéia  abstrata
Quê me impõe a ficção do humano
Contra a concretude do caos e do nada.

Tudo em mim é solidão
E pequeno viver
Em um mundo sem solução. 







quarta-feira, 23 de setembro de 2020

ANONIMATO E INVISIBILIDADE

O anonimato e a invisibidade é  um status banal da vida em sociedade.
Existimos sob o olhar do outro.
Mas somos visíveis para poucos..seja no metro, no elevador oi no trabalho, ou nas redes sociais,
Passamos a maior parte do tempo ignorando uns aos outros.
Isso é  o que torna a vida humana possível. Nenhum de nós  é  especial, como nenhuma formiga é  importante em um formigueiro. O valor e importância que atribuimos ao amor e a amizade nasce de um negacionismo de nossa insignificância.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

PRESENÇA

A presença é  gesto
Que se faz na voz,
No rosto, 
No olhar,
No calor do eu
Diante do outro
Na arte de ser e estar
Translucidamente em nós. 

domingo, 20 de setembro de 2020

NOTA SOBRE O LUTO

A dor não  cabe na palavra,
Muito menos na exterioridade
Dos acontecimentos.
Ela é  um outro dentro da gente,
Que nos fere como uma parte ausente
De nós mesmos.

A dor é a existência internamente 
Reduzida a falta do outro
Como exterior de si e do mundo.

NOSTALGIA

Levo dentro de mim
Tudo que perdi.
Sou feito de lembranças,
De ausências 
Que me transformam
Contra o dia.

Sou a memória viva
Do passado dos outros
Que tão  intensamente
Povoaram minha vida.

Sou a memória dos mortos,
De épocas perdidas.

O futuro, portanto, pouco me importa.
Pois pouco sei sobre minha própria vida
Na lúcida agonia de nunca mais voltar a ser
Imerso em tamanha melancolia.



sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ESCAPISMO

Distante de si e dos outros
Abrigou- se em uma nuvem,
Trocou o céu pela terra
Em sua imaginação.
Inventou asas 
Quando lhe faltava o chão.  

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

EXISTIR É UM LADO DE FORA

Existo em estado de total dependência do eu, dos outros e do mundo.
A existência não  cabe em mim ,
Se espalha, me dissipa entre as coisas,
Na exterioridade da consciência,
No indeterminado efeito do exterior.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

MORADAS AFETIVAS

 

Moro dentro dos meus outros,

daqueles que me frequentam diariamente,

que fazem de mim quem eu sou.

Moro também dentro dos meus mortos,

dos que se foram,

mas ainda me frequentam

nas horas mortas da saudade

que me rasga o futuro

e desbota o mais íntimos presente.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

AFETO E CETICISMO

 

Nada será como o esperado.

É inútil apostar em suas expectativas.

Seu ego não sabe da vida

e muito menos do mundo.

Não sonha,

não sinta.

Apenas viva o momento

sem pensar no futuro.


quinta-feira, 3 de setembro de 2020

PRAZER E RELACIONAMENTO

Seria adequado substituir palavras degradadas e gastas como sexo, amor e desejo, por uma palavra livre e potente como prazer, para dizer nosso íntimo viver do outro.
A maioridade do prazer de si e do outro no fundo é  a grande meta de qualquer relacionamento saudável não  premiado por uma lógica de disputa e poder.

AMIZADE

A amizade é o antitudo do amor, a melhor forma de encontro entre duas pessoas que inventam entre si o mais radical da intimidade.
Poder estar a vontade com alguém, não  ter limites, é  o que define uma grande amizade....

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O EU E OS OUTROS

O eu é a soma dos outros que me frequentam.
Ser  eu é  saber convívencias,
Co-existências ,
No cotidiano e lúcido  delírio 
De um mundo comum
Desfeito na multiplicidade
Da experiência da minha simples presença.

SER É NÃO SER

Ser é  não  ser.
Acontecemos através dos outros
Anoitecendo no tempo,
Existindo do lado de fora de nós mesmos,
Até o dia em que sucumbimos 
Dentro de qualquer silêncio. 


sábado, 29 de agosto de 2020

ALGO SEM NOME

Há algo doendo, 
Doente,
Que escapa, 
Que grita,
Que treme,
Que alucina, 
E povoa novos silêncios. 

Há algo que morre
Sem saber a morte, 
Sem saber de mim
Ou da sorte.

Há algo que não tem nome,
Que foge, que busca,
E que me encontra
Num eu ausente 
Que me define 
No caos da existência
Impertinente. 

SAUDADE

Ainda ontem senti sua ausência
Em mim presente
Como a consistência 
De um viver impossível e latente.

Senti sua ausência 
Como o interdito
Da minha própria existência,
Como uma voz muda que me calava
Para sempre.


domingo, 16 de agosto de 2020

O AMOR É UM ADEUS

O amor nunca é  para sempre.
Ele é  sempre no momento do adeus,
Que nos liberta de um querer narcisista e inútil.
Amor é  aquilo que aprendemos
E nos preenche 
Na experiência do adeus.

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

MUITO ALÉM DO AMOR

Amor é  apenas uma palavra triste que diz o pior de nós,
Que nos fala sobre falta, poder e erotismo,
Encanto doentio e narcisismo.
No fundo, o amor é  expressão da precariedade dos nossos vínculos.
O que eu busco é  muito mais profundo do que qualquer expressão  de amor,
É  encontro vivo de mundos 
Além do eu e do tu,
É  composição dual de vida
Que faz da natureza em nós 
Uma embriaguez radical do impessoal do vivente.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

DIA TRISTE

Quantos infinitos cabem na melancolia e limites da simplicidade de um dia triste?
Quanta liberdade existe no deslocar de si mesmo dentro do abismo da vida? 
Tudo é  redescoberta e incerteza na permanência e perseverança do encadeamento de instantes . 
Nossos corpos, no perecível de ser, se reinventam através  do devir natureza, na constante incerteza de si mesmo.
Mas há  sempre muita beleza oculta no latente impensado que povoa a superfície  de abismo da alegria mansa de um dia triste...

FILOSOFIA DA PANDEMIA E CONSERVADORISMO LATENTE

A vida hoje já  não  é  a mesma.
Mas vivemos ainda no tempo
De nossa existência antiga.
Sentimos como antigamente,
Pensamos contra o imediato presente,
Negando a perda do antigo possível.
Nossa vaidade nos afasta,
Como sempre,
Das mudanças que sempre
Definem o fluir da existência
NA aventura do improvável e do criativo
Que sempre transcende o pensamento.


domingo, 2 de agosto de 2020

A PELE

A pele informa, 
Define o corpo 
Na profundidade de sua superfície.

A pele sente, 
Entende, 
Pensa,
Desenha o rosto,
Os contornos de nossa presença. 
Talvez a existência 
Seja apenas
Uma questão  de pele.

PAIXÃO E TRISTEZA

A tristeza que corre em minhas veias mantém meu coração  batendo.
Afinal, a felicidade é  uma mera ilusão e a paixão  sempre dói  quando intensa.
Em outras palavras,tristeza é sinal de uma  vida plena.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

DESEJO

Queria muito
Saber seus olhos
No meu futuro,
Descobrir um mundo
No teu corpo,
Até  o limite do infinito.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

SOBRE A VIDA

Não  temos a vida.
A vida nos tem
No devir de todas as coisas.
Ela é  como a palavra
Um acontecimento
Que nos realiza e supera
Nas multidões  que nos povoam
No íntimo absurdo da natureza
Que nos sustenta o ser,
A presença,
Como um permanente desaparecimento.


sexta-feira, 10 de julho de 2020

SIMULACRO

Dentro de mim
Dói  uma vida,
Uma tristeza,
Que transborda o mundo.

Dentro de mim 
Habita uma solidão  povoada 
Que me alucina,
Que desatina,
Que me abraça,
E não  me mata,
Mas me ensina 
Que eu não  existo.



quinta-feira, 2 de julho de 2020

SOBRE O PROBLEMA DA SOLIDÃO

A solidão é um processo coletivo. Ela não é um sentimento pessoal de isolamento, mas sempre uma experiência do eu e do outro. Quanto mais envolvidos e dependentes dos outros,  do Estado , coletivos e instituições, mais somos acomodados ao individualismo e confrontados com a solidão do todo. 
Fugir a solidão é  fugir a si mesmo e ao uno de um eu coletivo que nos adequa ao rebanho. Pois a solidão  é  o inferno de nunca estar sozinho e, entretanto, ser incapaz de criar laços e subjetividades que escapam à formas coletivas e convencionais de ser. É preciso suicidar a sociedade dentro se si para superar a solidão  aprendendo multidões em si mesmo.
A solidão,  afinal, é feita dos outros.
Ela nos desafia a arte de ser sem rosto, singularidade,  Um maldito.

COMUNICAÇÃO



A comunicação  falha
 Na palavra que escapa
No formal da fala.

O dizer se atrapalha,
Afasta os corpos,
Desarticula afetos,
No discurso pré  feito.

Onde o eu impera
Silencia o indizível. 
O amor é  impossível
Na gramática que serve ao poder,
Na falácia do sujeito contra o objeto dentro do dito.


 

SOLIDÃO

Solidão  é  um estado coletivo,
Uma opressão  dos outros
Na prisão  do eu.
É preciso fugir,
Escapar a si mesmo,
Desfazer-se do mundo,
Para escapar da solidão,
Do peso dos outros.

domingo, 28 de junho de 2020

PEDAGOGIA DA CRUELDADE

A dor conduz ao inumano.
Ela é a professora do caos,
A redentora.
É preciso morrer para viver,
É preciso doer.
Doer tão  profundamente
Que não haja corpo.
Apenas dor,
Superfície e incerteza.
Nenhuma profundidade.
Apenas a dor que não  é sofrer.

sábado, 27 de junho de 2020

DESEJO

Não  espero nada da vida,
Do mundo,
Dos outros ou de mim.
Meu desejo não é falta,
É transbordamento, 
Delírio, 
Agenciamento.
É linha de fuga,
Aberrante movimento.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

DESENRAIZAMENTO

É impossível estar em casa,
Ficar sozinho,
Abraçar  o nada
De uma vida privada.

É  difícil fugir do mundo,
Encontrar a si mesmo,
Quando somos vazios
De nós mesmos,
De qualquer fundamento ontológico.

Existir é   um grito surdo no deserto,
Um acontecer mudo, 
Uma estranha modalidade  de silêncio.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

VIDA E DOR

A vida é uma coisa que dói sempre .
Onde não há dor
Não há  desejo, 
Sonho, fome ou invenção. 

A dor é a essência do ser,
Da revolta.
É o que nos transforma,
O que inspira a alegria da luta,
É o que transborda.

MINHA DOR

Dentro de mim
mora uma dor
Uma dor banal e comum
Igual a de qualquer um
que  sofre o mundo
doente de vida
no desejo de algo
ainda sem nome.

Dentro de mim 
mora uma dor.



terça-feira, 16 de junho de 2020

A VIDA SEGUE

Sei que o tempo passa
E a vida segue,
Mesmo sem sentido,
Sem esperança  de um beijo.

A vida segue
Na irrelevância de abraços 
Até  o limite da solidão. 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O AMOR VERDADEIRO

O amor mais perfeito
Não passa de um sonho impossível,
Uma fantasia, uma loucura
E um protesto da imaginação. 

O amor perfeito é delírio, 
Subversão, 
Que não  cabe nas convenções 
Do amor possível.

terça-feira, 9 de junho de 2020

UM OUTRO

Um outro dentro mim
Vaga na contramão  do eu.
Ele sabe que a vida é silêncio,
Precariedade e falta.

Um outro dentro de mim
Tem o seu rosto
E me reduz a ausência, 
A qualquer limbo existencial
Onde não é  mais possível ser eu.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

ABANDONO

Estamos todos sozinhos,
Perdidos entre os outros,
Uns nos outros,
Compartilhando incertezas
E socializando angústias. 
Somos diferentes, diversos,
Mas estamos igualmente perplexos.
O futuro se foi com o passado
E o hoje é  sem tempo,
Sem esperança.
A vida virou outra coisa.
Já não somos mais quem somos.
Vivemos em completo abandono,
Sem saber quem seremos 
Depois de amanhã. 

TEMPOS PÓS HISTÓRICOS

Diante do mundo presente 
Não tenho muito a dizer.
Melhor fazer um minuto de silêncio. 
Por mim, por você, 
Por todos nós,
Que sobrevivemos
Feridos pelo tempo vazio,
Pela triste soma de todas as épocas,
Em dias de pós história e desertos.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

NOVOS TEMPOS

Os abraços e os beijos
Nunca mais serão os mesmos
Na aceptologia da nova vida cotidiana.

Nunca mais serão os mesmos os encontros,
As passeatas e atos de revolta,
As ruas, os bares e as noites .

Nada será como antes
No ocaso da civilização urbana
Pós industrial.

domingo, 31 de maio de 2020

OUTRO MUNDO

Eu quero um mundo
Que me proteja dos outros,
Que salve a todos
Do pesadelo de nossa humanidade.

Eu quero ultrapassar a verdade, 
As confissões da alma
Que aprisiona o corpo.

Eu quero um tempo
Que nos permita o cuidado
De fazer da vida a arte
De praticar liberdade.

MELANCOLIA E ALIENAÇÃO

Eu me invento no tempo incerto dos meus  silêncios,
Hiatos, abismos e afetos.

Eu me rendo ao vazio,
Ao sentimento de nada,
De falta de mim mesmo,
Que me define diante do mundo
Em estado de desabrigo.

Eu me invento na ausência do rosto,
No descartável existir que me consome
E me reduz a impotência de ser como os outros.
Eu me rendo,
E neste ato escapo de tudo.

sábado, 23 de maio de 2020

APRENDIZADO DAS COISAS

Tenho aprendido o silêncio das coisas,
O vazio do pensamento e imperativos da vontade.

Tenho aprendido a nulidade das minhas palavras,
O desespero dos meus desejos,
Em um mundo que não  é  meu,
Que me usa e esquece,
Sob a Razão na História. 

Tenho aprendido minha precariedade,
Minha finitude e fome,
No desespero de ser coisa.

CORPO & MUNDO

O susto de ser cérebro, mão,  pernas e boca,
No ato de inventar o mundo,
Define o corpo,
Seus afetos e capacidade de criar,
De produzir sentido  no dizer mudo das coisas.

A natureza nos ensina o Ser
Através  da didática do assombro,
Da  pedagogia  do desejo,
Que nos faz linguagem, intercâmbio e movimento,
No espanto de viver
Na contramão da falácia do sujeito e do objeto.

O Homem é  uma ideia morta.
.

sábado, 16 de maio de 2020

NOITE ABSOLUTA

A noite foi intensa,
De um silêncio profundo,
Na quase morte do mundo. 

Foi uma noite definitiva,
Absoluta,
Onde, simplesmente,
Nada aconteceu,
Mas foi possível saber  as distâncias 
Que dizem as estrelas no céu. 

A SOLIDÃO DA PALAVRA

Qual o tamanho de nossas distâncias?
Dentro de cada encontro
Dorme uma ausência
Um limite que diz a vida
Através da palavra.
Toda comunicação é  um ato de solidão
Que nos aproxima.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

SEGUIR EM FRENTE

A gente segue em frente.
Mesmo morrendo por dentro,
A gente segue em frente.
Não por vontade de viver,
Mas pelo imperativo da sobrevivência, 
De querer ver quem a gente ama
Também seguir em frente
Como quem sonha qualquer lugar distante.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

DESENCONTRADOS

Em todas as partes
A gente se encontra,
Se toca,
Se fala,
Se beija,
Se abraça,
E, entretanto,
Nunca sabemos uns dos outros.

Cada um prossegue em seu próprio mundo,
Persegue sua íntima ilusão da intimidade,
Até  o limite da solidão e do vazio de si mesmo.
Seguimos todos  desencontrados.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

ENTRE JANELAS

Da minha a tua janela 
Existe uma ponte
Onde os olhos  passeiam tímidos
Por uma intimidade que nos esconde.

Que segredo nos comunica 
Em nossa falta de horizonte?
O que fazer com a cumplicidade tímida
Que tão  bem denuncia a fragilidade da privacidade,
O inconveniente de nossa agonia doméstica?


domingo, 19 de abril de 2020

MATURIDADE

Quando jovem
Sabia a vida
Como uma vontade de mundo, 
Como uma necessidade dos outros.
Eu não  cabia em mim mesmo,
Em meu próprio desejo.

Hoje,
Não sou mais jovem. 
Não sou mais escravo
De qualquer vontade.
Pouco me importo com o mundo
E quase não me vejo.
Tenho aprendido 
A existir em segredo.

sábado, 18 de abril de 2020

COLONIZAR O OUTRO

Reduzir o outro a um reflexo de nossas próprias  necessidades é  a condição  de qualquer relacionamento afetivo. Por isso o amor é  tão  confundido com um sentimento de posse, com um modo de domínio e poder sobre o outro. Ninguém é  mais autoritário do que um amante empenhado a cultivar e provar seu amor.  

quarta-feira, 15 de abril de 2020

DOS OUTROS QUE NOS POVOAM COMO UM MITO ANTIGO

Quando seremos salvos de nós  mesmos pelo futuro dos outros que nos povoam em segredo? 
Quando será realidade aquele novo dia de qualquer outro mundo, de um outro povo, que crandestinamente nos habita a casa e o corpo? 
Por onde anda o duplo que nos espreita  no avesso do presente, no limite do agora?
Somam -se em nós, em nossa inconsciência,   subterrâneas insurgências,  pluralidades de caos e potências, contra tudo aquilo que nos faz verdade, que nos apodrece em angústias, entre o prazer e o desejo das coisas mudas, entre a fantasia da dicotomia entre sujeito é objeto.
Há algo de insano, de intempestivo e obsceno em nossa imanência, há algo que nos impede de seguir em frente, de continuar inerte no pesadelo do nosso desastroso progresso e agir consciente em caduca razão. 
Somos povoados pelos fantasmas e sombras de  imaginações   selvagens, assombrados pelas siluetas do sem nome que crescem a margem das gramaticas e representações, das ordens, das normas, e das instituições de nossa falida civilização moderna e suas vis  ambições !!
Há uma pluralidade de outros dentro de cada um de nós, um eu impossivelmente absoluto no avesso dos rostos que desaparecem na face etérea  das multidões.
Há uma esperança,  um dizer selvagem que escapa a linguagem, as disciplinas e verdades de Estado e a fantasia de um pacto social nefasto.
Estes outros que nos povoam e nos salvarão  um dia, são os filhos bastardos do nosso prometido amanhã racional,  aqueles que nos arrancarão o chão, a memória, e a tradição,  através de alguma virtual catástrofe global. São  eles os invisíveis semeadores de abismo, os agentes da desmedida e do caos,  cuja relativa  proximidade íntuimos em sonhos, presságios e arte como uma horda de selvagens e marginais. Eles já estão  a caminho do amanhã  no fundo de nós inspirados por Eros e Hades. 




CONTRADITORIO ABRAÇO

Calado busquei seu abraço. 
Não  sentia nada.
Mas meus braços pediam
O alívio de um desabafo.

Em nosso deserto humano e cotidiano 
Buscar companhia
Era a melhor maneira
De se estar sozinho.

terça-feira, 14 de abril de 2020

RECUO

O amor saiu pela porta dos fundos
Envergonhado de si mesmo.
Nada tinha mais a dizer
A vaidade, ao poder,
Ao querer e ao sofrer,
Naquele estranho debate
Entre as coisas que nos faziam viver
Em quase insuportável diálogo.


quinta-feira, 9 de abril de 2020

O ABSOLUTO DEVIR DA SOLIDÃO

Nos falta a capacidade de alcançar  a solidão, 
Este radical estado de vazio e evasão, 
De despenalização do eu pelo mundo,
De liberdade de si e do outro, 
Que nos desfaz em natureza,
Que nos refaz na beleza de simplesmente sentir,
Transcender pensamentos,
E quase inexistir  no fluir e orgia de todas as coisas.
Solidão , afinal, é  escapar a si mesmo.



UM MOMENTO

Entre o desalento e o esquecimento,
Inventei desertos,
Semiei ventos 
E colhi meu lamento
Na brevidade do eterno
Deste cruel momento.

Mas não julguem o sentimento
Que apodrece aqui dentro
Negando a vida em seu movimento.
Não queiram que eu tome tento.

CIDADE DE CARNE E OSSO

CIDADES DE CARNE E OSSO

Talvez os olhos
Sejam as janelas do corpo.
A boca, os ouvidos,
Suas portas;

Assim como a  pele, as paredes,
Do pequeno edifício de nós  mesmos
Na cidade humana....

Talvez, seja impossível,
Estar do lado de fora
E não exista um lado de dentro.

Somos cidades de carne e osso
Plantadas no rosto da natureza,
Em incessante movimento de vida
Em uma paisagem inerte e imperfeita.

Nenhuma cidade é  feita de prédios. 

QUARENTENA

Dentro de casa,
Buscava solidão 
Ainda preso a agonia,
A  melancolia,
De   ser em nós
E depender da sua companhia
Para saber de mim.


sábado, 4 de abril de 2020

INÚTIL ARREPENDIMENTO

Saudades daquele dia perdido , já faz vinte anos, onde algo importante deixou de acontecer, e uma outra vida dobrou a esquina, seguiu sem mim seu destino.

Há muita coisa boa que ficou perdida pelo caminho enquanto eu me ocupava em sobreviver. 

Tem muita coisa importante que eu deixei de viver, que não  pode ser, e alimentou meu vazio, minhas ausências....


quarta-feira, 1 de abril de 2020

O SEGREDO DA VIDA

A vida nunca será perfeita.
Jamais seremos felizes.
Nunca iremos entender o outro,
O mundo, o universo
Ou a nós  mesmos.

Mas nada disso importa.
Eis o grande segredo:
Viver não é  questão  de valor
Ou de conhecimento,
Mas de imaginação, invenção, 
 amor e desprendimento ...

terça-feira, 31 de março de 2020

UM POUCO DE SEXO

Um pouco de sexo
Para enganar o vazio.
Depois sono e silêncio
Sem querer outro dia.

O prazer é efêmero, 
Banal e mecânico. 
Mas afasta o tédio, 
Relaxa o corpo
Sem poesia.

Um pouco de sexo.
Depois um cigarro.
Nenhum diálogo
E um suspiro de melancolia.



segunda-feira, 30 de março de 2020

ENTRE O EU E O OUTRO

Se é  através  do diálogo com os outros que nos tornamos quem somos, não  se deve precitadamente deduzir daí  uma proximidade. O outro é  sempre o fora de nós,  uma ausência e um mistério, disfarçada de semelhança e irmandade.
O que o outro nos ensina é  a insuficiência, a precariedade do eu, que torna possível qualquer relacionamento. Estamos condenados ao viver em rebanho, a dependência mútua e, entretanto, somos uns para os outros, apenas estranhos. 
Ninguém vive isolado, mas, ao mesmo tempo, estamos todos sozinhos. Entretanto, a fantasia e idealização do outro nos domina e faz dele nosso caminho.

QUE ESPELHO DE MUNDO É VOCÊ?

Qual o rosto da sua vida neste momento em que o silêncio nos despe a alma? 
Qual é a imagem de mundo que lhe transforma em espelho?
Qual é o outro que define você nas indeterminação do mundo através do múltiplo que nos acontece além  de toda identidade?

DESCOBRINDO A VIDA

Em virtual estado de quarentena , minha existência comunicou muda,  aos ouvidos das paredes surdas , todo existir possível no mundo. 
Descobri em total estado de isolamento que a vida era algo que não me pertencia, que não cabia em mim e se perdia por aí em uma multiplicidade absurda de manifestações e variações de si.

sábado, 28 de março de 2020

A ANGUSTIA DE AMAR

O amor existe onde a solidão  persiste.
Ele é  expressão de nosso isolamento ontológico,
De nosso condicionamento ao outro
Na experiência do ser.

Amar é  ter consciência do vazio
Que pulsa no ato de viver.

Apenas quem sabe sua angústia
É  digno da condição de amante.

domingo, 22 de março de 2020

TEMPOS DE CRISE

Hoje já não somos como ontem.
A vida mudou.
São outros os tempos,
Novas circunstâncias. 
O mundo desabou sobre nossas cabeças. 
Roubou de nós toda inocência,
Toda tolerância. 

Já não nos basta o futuro,
Queremos outra realidade
Onde não  caibam estes dias 
Perdidos de calendário
Onde qualquer beijo é impossível.

REINVENTANDO A SOLIDÃO

Aprendi a povoar solidões, 
Escutar meu corpo,
Saber a festa das paredes
E a vida secreta dos objetos.

Descobri mundos em meus pensamentos 
Contra os desertos de sociedades
E absurdos da humanidade.

Escutei a natureza com os ouvidos da imaginação, 
Até me ver desfeito no chão.