sábado, 31 de outubro de 2015

A DECADÊNCIA DA ARTE DA CONVERSAÇÃO

Conversar tornou-se algo enfadonho e tedioso para mim. Pois é difícil encontrar interlocutores aptos ao exercício de um bom diálogo. A maioria já não tem muita coisa a dizer e reproduz os lugares comuns do dizer social cotidiano.  Quanto mais adaptadas ao mundo menos capazes de uma experiência autêntica nos tornamos; menos temos o que realmente dizer uns aos outros.

A amabilidade entre dois interlocutores já não significa que compartilham qualquer experiência autêntica, mas que falam de interesses comuns, que dominam  um mesmo discurso e co habitam uma  mesma visão de mundo e nisso se rendem a impessoalidade de um dialogo onde as coisas dominam a consciência.

Um bom dialogo é aquele em que o outro nos confronta com o desconhecido das possibilidades de nossa própria condição humana. É a diferença e o estranhamento que sustenta um bom diálogo, não a identidade.

O AMOR COMO AUTO PIEDADE


A conjunção psicológica entre dois indivíduos já se despiu hoje em dia de qualquer idealismo vazio. O intercambio entre duas pessoas se reduz a sexo e pragmatismo. Um não é o destino do outro e não há virtude que os mantenha unidos por longo tempo.

Quando se compartilha o dia a dia com alguém se tenta fugir de si mesmo e obter através da aceitação profunda do outro a  redenção das próprias limitações e defeitos.


O amor não serve para outra coisa além de um ato de auto piedade segundo as exigências conservadoras do modelo de passionalidade e subjetividade que ainda nos é ensinado.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

POR FAVOR, NÃO GOSTE DE MIM

A extrojeção narcisistica é o que define nossa relação com as pessoas e o mundo.
Estamos sempre buscando o outro como medida de nós mesmos,
Tentando fugir ao fato de que somos movidos por uma vontade,
Por um impulso desesperado de sentir o outro como parte de  quem somos.
Mas isso só é possível quando não reconhecemos o outro como o distante,
O ausente,  aquele que não é parte da gente.
Quanto mais próximas duas pessoas se tornam, mais se distanciam uma da outra.
Então não tente me dizer coisa alguma, não tente entrar na minha vida.
Você jamais será especial para mim.
Não vamos unir nossos egoísmos.  Não vale a pena.
Melhor não usarmos um ao outro contra a solidão.
Ela sempre vence no final.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

NOTA SOBRE O SENTIMENTO DO EU E DO OUTRO

Quando se conhece alguém profundamente nos vemos diante de nossas misérias, de nossa patética necessidade do outro, e nos aceitamos como “eus” condenados a busca incessante do oposto, da diferença como critério de tudo aquilo que somos.
Mas o outro é também um “eu” que nos espera como  interlocutor do vazio dialético entre o que somos e o que buscamos ser contra os lugares comuns de nossos arremedos ontológicos.


Não há abrigo contra as contradições de nossa solitária existência mergulhada em incertezas e duvidas sobre a própria natureza do "eu"....

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O DECLÍNIO DOS RELACIONAMENTOS DE LONGO PLAZO

O declínio do amor romântico no mundo contemporâneo não passa apenas pela desmitificação da afetivididade,da decadência da projeção e idealização vazia do outro como objeto de simbiose e segurança emocional. Nossas sensibilidades mudaram. Somos mais autônomos do ponto de vista da consciência singularizada do complexo de um eu pessoal. Assim, ao mesmo tempo em que temos necessidade do outro, também temos cada vez mais necessidade de não depender dele, de não pressupô-lo como centro de nossa experiência subjetiva e vida privada.

Esta ambiguidade do desejo do outro, que é, mais do que nunca, o desmascaramento do “amar ao outro” como uma afirmação de si mesmo, nos torna inaptos as vazias representações tradicionais do amor eletivo. Hoje em dia somos conscientes de que o outro é um instrumento de auto erotismo, um artifício para realização de nossas fantasias e busca de prestigio social e pessoal.
A emancipação econômica e identidária da mulher na sociedade, que se radicalizou no Ocidente depois da segunda grande guerra, foi um dos fatores que mais contribuiu para desconstrução do amor e do casamento como  quase uma obrigação social.

A autonomia cada vez mais intensa do individuo e da consciência individual, a implosão dos velhos papéis sociais, norteiam os relacionamentos afetivos contemporâneos estabelecendo um dilema básico: Se por um lado, em sua formula mais generosa, tais relacionamentos tem por horizonte a construção de vínculos afetivos de longa duração, ao mesmo tempo, pressupõem a salvaguarda da autonomia individual como uma condição destes vínculos. Tais diferentes perspectivas raramente são compatíveis, o que faz com que os relacionamentos tendam a perenidade, uma perenidade que se confunde com o deslocamento de nossa condição de artífices de nosso destino. Afinal, já não estamos mais tão certos de nossas certezas e opções, principalmente no campo afetivo. Somos, de um modo geral, vitimas das circunstâncias e escravos dos fatos. Relacionamentos já não cabem em qualquer projeto biográfico sem uma boa dose de ingenuidade.


AMOR INÚTIL

Lamento muito as horas encalhadas
sobre a cama
buscando com você um pouco de amor.
Sempre soube que nada iria acontecer,
que o amor seria deficiente,
insuficiente para responder a ressaca
de nós mesmos.
Estávamos perdidos
procurando abrigo um no outro.
Sabíamos apenas
que ninguém ama ninguém
e que nada termina bem.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

AMOR E AGONIA

O amor sempre estará naquilo onde você falhou.
Pois ele é a ausência, embriaguez da vontade
e um profundo descaso por si mesmo.
O amor é onde você se perdeu.

Amar era perder a noção das coisas,
encontrar respostas para perguntas
que não foram se quer formuladas.

Quem ama vive como um viciado.
Busca constantemente o impossível
como simples cotidiano.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

CASAL DE FOTOGRAFIAS

Consigo me lembrar do  vestido que você usava naquela noite  hoje distante na qual nos conhecemos. Mas não me recordo de um único traço do teu rosto na ocasião. Tudo entre nós começou com um vestido.

Até hoje me importo mais com suas roupas, com seus perfumes, do que propriamente com qualquer coisa que você possa dizer. Por isso sempre nos escondemos do silêncio, sempre tínhamos um pano de fundo musical.

Somos o típico casal de fotografias, daqueles que existem na medida em que se exibem para os outros e vivem para o bom trato social. Nossa união é uma coleção de eventos e boas fotos de recordação e ostentação.

Não nos importamos com a felicidade conjugal. Nem levamos a sério nosso casamento. O que importa são as aparências. Somos um belo e respeitável casal.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O FUTURO MORRE NO FINAL

Lembro-me tão bem daquele dia
onde, já faz muito tempo,
o futuro desabou sobre nós...
Tudo depois de então seria perfeito.
- Assim  pensamos.
E talvez tenha mesmo sido.
O problema é que  nós mudamos
e não queríamos mais aquele futuro
que de tanto acontecer
ganhou gosto de passado

e perdeu  as cores vivas da eternidade.

PRAGMATISMO AMOROSO

O quanto vai durar este para sempre que inventamos? De todas as formas tento antecipar o fim. Desvelar precocemente os teleológicos rumos de nossa história. Talvez assim o significado de nosso convívio se torne obvio antes que a convivência termine e nos seja possível enxergar a nós mesmos através do encontro.

Não me condene por tal engenho filosófico. Mas aprendi muito com o passar do tempo e o constante findar das coisas que caracterizam a aventura de uma existência humana. Pode ser interessante começar pelo fim. O inicio é sempre ingênuo e decepcionante em suas promessas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O AMOR COMO PRISÃO

O eco da sua voz nunca me permitiu escutar aquilo que eu mesmo dizia.
Vivi sempre pela metade no inteiro das suas vontades e caprichos.
Aprendi a ler o mundo através dos teus olhos.
O amor sempre me foi uma subtração,
O  estar prisioneiro em uma  gaiola dourada.
Não me fale, por tanto, da sinceridade dos teus sentimentos.
Fui eu apenas uma passiva vitima do teu amor.
Fui meus  silêncios, minhas agonias.
Normal>Sou teu mais sincero oponente. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A QUEDA DOS BONS AMANTES

Amantes caídos ao relento
lamentam a ruína do seu enlace.
Afinal, perderam-se um no outro
com tamanha  gana e vontade,
que afundaram a vida na  fantasia
do beijo consumado,
Inspirado pelo sagrado.

Esqueceram que todo desejo é profano,
que todo amor é vicio e delírio
e o casamento uma falácia.

Agora lúcidos,  choravam
o sonho divino que apodrecido
lhes atormentava metamorfoseado
em delicado inferno.


sábado, 17 de outubro de 2015

A SUPERFICIALIDADE DO AMOR

O  amor é sempre distante e superficial.
Não cria vínculos autênticos ,
Pois as pessoas se prendem umas as outras
Acima de tudo
Por suas imperfeições.

Os afetos não sustentam qualquer convivência.
Somos capazes de co habitar apenas
Com quem de nós mantém em prudência  saudável distancia.
Infelizmente, raramente encontramos alguém
Que  vale apena suportar.


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

SEPARAÇÃO

Aquela conversa já havia acabado. Nada mais cabia ser dito. Ambos sabíamos que cada um ao seu modo estava errado em alguma medida. Mas ninguém estava disposto a ceder e permitir a vitória injusta do adversário.

Foi quando Matilde olhou fixamente em meus olhos e começou a manipular seus vastos par de seios que a blusa de laica e vermelha cobria com dificuldade. Era seu último recurso. Ganhar a discussão de modo sujo e envergonhando todas as mulheres da face da terra.

Eu sabia como acabaria aquilo. A proposta era clara: favores sexuais pela minha renuncia incondicional ao ponto de vista que fervorosamente defendia. Um lado meu queria rendição. Mas o outro sabia as consequências. Não era a primeira vez que as coisas desembocavam neste tipo de dilema.
Consegui permanecer indiferente aos seus apelos. Isso despertou uma raiva profunda nela. Quando viu que eu não iria  ceder, se pôs a chorar. Como isso também não funcionou explodiu em um acesso de raiva, me xingou de todos os palavrões possíveis e jogou objetos contra mim.

Não era uma situação razoável. Eu não a reconhecia. Aquela não era a mulher com a qual me deitei nas ultimas noites trocando juras de amor eterno. E ela dizia aos berros o quanto eu não prestava para ela, o quanto eu não lhe fazia as vontades.
No fundo era essa a questão. Não estávamos juntos para satisfazer plenamente as vontades um do outro. Tal coisa não acontece no mais perfeito dos relacionamentos. Mas, aparentemente, ela não estava preparada, como a maioria dos homens e mulheres,  para suportar o peso afetivo de um relacionamento.

Depois daquele dia nos separamos consumando a desunião que já tinha  se estabelecido na intimidade daquelas quatro paredes que nos sustentavam o recíproco engano de um beijo banal.


VAZIO A DOIS

Eu me iludia com suas pequenas mentiras,
sem perceber o dissenso de nossas verdades,
de nossos sentimentos e pretensões
mais elementares.
Tudo em nós era distância e desencontro,
um barulhento silêncio a decorar os dias,
a desconstruir expectativas.
Era inútil tentar explicar,
buscar entender
tudo aquilo que nos deixou de acontecer.
Nossos tempos eram distintos
como distintas e estancadas
permaneciam nossas vidas.
a ambiguidade dos afetos
nos conduziam ao sem rumo
de um destino vazio.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ENTRE O AMOR E O TRÁGICO

Éramos  desertores de nós mesmos.
Refugiados do mundo dos sonhos e sentimentos.
Por isso estávamos juntos
Compartilhando nossas esperanças perdidas.
Contávamos apenas com o entardecer e a noite.
O dia seguinte nunca chegava
E só nos restava a briga eterna
Contra a realidade
Como ofício diário.
Um pouco de vinho e sexo
E evasão.
Isto era tudo que buscávamos
Enquanto a vida

Passava cega ao lado.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

AMANTES PÓS MODERNOS

A noite abrigava nossos sentimentos,
nossa vontade compartilhada de viver
além das coisas do dia a dia.

Não tínhamos passado
e não teríamos futuro.
Apenas o momento
 para nos inventar fora do mundo.
Éramos livres,
inclusive um do outro.

Mas não nos definia a escravidão
de nenhum desejo um pelo outro.
Nossos mundos nos enlaçavam
no compartilhamento de qualquer delírio
de realidade,
De qualquer vazio ou necessidade
que transcendia o corpo
e não dizia a alma
ou qualquer outra ilusão

de metafísica amorosa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

CRÔNICA DE UM DIA RUIM

Havia sido um daqueles dias descabidos no final do qual tudo que você bebida é de cigarros e bebida para se recuperar e esquecer.

Nada de especial havia realmente acontecido. Apenas me pesava nos ombros mais acentuadamente as obrigações diárias e os pequenos desafios de nosso heroísmo medíocre de vida em sociedade.

O pior de tudo era que Sophia queria conversar. Mas eu não tinha nada a dizer. Queria apenas parar de pensar. Para ela era difícil entender. Afinal, nos víamos tão pouco... Mas o que eu podia fazer? Não estava disposto a conversar.

Infelizmente ela tentou. E como tentou. Estar ali com ela entre as quatro paredes do velho apartamento era como uma  seção de tortura para mim. Queria desesperadamente ficar sozinho. Mas nela não estava disposta a entender isso.

Em pouco tempo estávamos discutindo por conta de idiotices.  Já que não conseguia conversar comigo, ela optou por se queixar. Falava mais rápido do que eu conseguia responder e até mesmo entender.  Eu queria apeas fugir dali. Mas ela não ia deixar. Nos agredimos verbalmente até a exaustão. Então fui embora me sentindo ainda mais sozinho e precisando mais ainda de cigarros e bebida. Aquele era mesmo um dos meus piores dias...

Nada mais banal do que uma briguinha de casal. Sempre as mesmas cobranças, as mesmas ofensas, as mesmas raivas e aquela sensação de que algo vai se partindo aos poucos e não há nada a se fazer sobre isso a não ser continuar seguindo em frente.


O grande problema é que as pessoas não entendem a infelicidade uns dos outros porque andam esgotas e ocupadas no lidar com suas próprias mágoas.

DIÁLOGO ÍNTIMO

Gostava da forma como ela se rasgava, cortava a própria pele, em cada verso ou frase ali vomitada  sem qualquer pudor. Ela sabia da arte de se destruir um pouco para continuar de pé.O melhor da vida sempre está naquilo que a gente escreve nos outros com palavras cortantes e desesperadas. Por isso era quase uma cópula aquela conversa. Havia sinceridade naquele desespero, naquele ódio com o qual ela usava as palavras contra o interlocutor.


A agressão é sempre um bom artifício. Cria tensão, faz com que sejamos mais verdadeiros um com o outro sem a mediação do artificialismo polido das prosas cotidianas. É preciso falar como quem rosna se quer ser ouvido.

domingo, 11 de outubro de 2015

VAIDADE

E tudo que você queria agora era estar protagonizando alguma cena de filme de aço para chamar a atenção daquela garota. Claro que qualquer atração é uma fantasia e você pensa no absurdo que lhe traria melhor resultado. Todos vestem fantasias para se tornarem atraentes, pois a realidade nunca ajuda muito. É assim que as coisas são.As pessoas são estúpidas, preferem sempre o sonho a realidade. Você só precisa corresponder um pouco a fantasia delas e as coisas acontecem.


Ironicamente, aquela menina também queria chamar atenção. Mas não a sua. Talvez de ninguém especificamente. Ela só queria que lhe descem atenção. Nada mais fútil e sem propósito. Mas era assim que as coisas funcionavam hoje em dia. Tudo era uma questão de pura vaidade.

RELACIONAMENTOS CUSTAM CARO

Tudo que sei é que o amor não passa de uma falsa premissa para principiantes e ingênuos . Um relacionamento é sinônimo de muitas coisas, mas entre elas não esta a felicidade. Você tem que suportar o outro muitas vezes, pagar um preço pelo vinculo. Não é agradável. Algo do seu amor próprio e do compromisso com você mesmo se perde no processo. Não importa o quão egoísta você se sinta ali barganhado afeto, o fato é que você estará agindo como um viciado. Relacionamentos nunca são a melhor parte de nossas vidas.

A gente só dá importância a relacionamentos quando está sozinho. Mas é preciso superar isso antes que você acabe se perdendo nos labirintos de alguém.  A solidão, afinal, não é a pior coisa do mundo.


sábado, 10 de outubro de 2015

SEM FANTASIA


A margem dos sentimentos,
Vou destilando o  saber de mim mesmo,
Vou me fazendo e refazendo
Na dialética das orgias dos meus afetos.
Quem disse que o querer seria perfeito?
Quem disse que o mundo me faria ecos?
Sou destes que não se quebram
Quando a realidade contraria desejos.
Sou daqueles que superam infâncias
E sobrevivem

Ao pior dos mundos.

APAIXONAR-SE

Não existem limites para a quantidade de vezes que você pode se apaixonar por alguém na vida. Mas sempre vais ser o mesmo roteiro, o mesmo sentimento, só mudando a vítima. Por isso não leve demasiadamente a serio seus sentimentos. Eles não dizem nada sobre você ou sobre  quem você gosta. O amor não é nada de espacial. Só uma espécie de gripe que afrige os afetos.

O amor só ilude os tolos de coração mole. Não os que naufragaram na vida e aprenderam o quanto a convivência humana, com o passar dos séculos,  domesticou a selvageria, mas não nos libertou dela. Somos um bando de animais enterrados em necessidades e desejos.


Apenas tente não seguir o roteiro prescrito por qualquer emoção. Não se faça através de impulsos. Apaixonar-se é tão pueril como a ilusão de qualquer boa companhia.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

FLERTANDO COM A FELICIDADE

Aquela mulher tinha algo mais valioso do que a banalidade de um belo corpo. Tinha um rosto selvagem, um olhar firme e uma voz forte. Parecia o tipo certo de mulher.  Realista, determinada e independente. Nenhum traço de passionalidade. Era inteligente de modo assustador e sabia manipular as pessoas como ninguém.

Era impossível não ser franco com ela. Não nos deixava a vontade. Inibia qualquer tentativa de intimidade. Era como se estivesse sempre esperando o pior de seu interlocutor. Alguns podem considerar isso ruim. Mas era o que a tornava especial. Ela não me ameaçava com  o peso da afetividade exagerada. Não me pedia nada e nem esperava nada de mim. Com ela podia conversar de igual para igual, sem ter pudores.

Suas falas me encantavam e, de algum modo, eu queria entrar dentro dos olhos dela, saber tudo que precisava saber sobre sua vida e seus pensamentos. Percebia que tínhamos muito a dizer um ao outro. Mas não estávamos dispostos. O encanto dura pouco. Cedo ou tarde a gente voltaria a se sentir sozinhos e presos dentro de nós mesmos. Não iríamos nos salvar do tédio com sexo. Depois de algumas deliciosas horas de intensa prosa, nos despedimos. Nunca mais soubemos um do outro.
 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

UM RELACIONAMENTO RUIM

Era uma noite quente e abafada.
Tão insuportável como um dia de verão.
O calor me roubava o sono
E me deixava inquieto.
Tentava distrair a mente
Pensando na gente,
No quanto éramos imperfeitos
Um para o outro.
Mas estávamos demasiadamente
Acostumados um ao outro.
Cada insulto equivalia a um beijo mal dado,
Um modo de expiar nossas culpas mais intimas.
Não queríamos felicidade.
Não acreditávamos neste engodo
Que ainda ilude boa parte da humanidade.
Éramos adultos. E adultos discordam um do outro
Sempre.
Mas aquela noite eu estava inquieto.
Desejava esquece-la,
Abandonar o sexo ruim,
As promessas inúteis de dias melhores
E as migalhas de carinho.
O que me assustava, entretanto,
Era perceber que eu não conseguia
Querer isso.

O que havia de errado comigo afinal?

terça-feira, 6 de outubro de 2015

DESAFIANDO A SI MESMO

Não quero ser lembrado por aquilo que vivemos, mas pelo que não conseguimos viver, por tudo aquilo que não nos foi possível. Jamais  se atinge um ponto final em um bom relacionamento. Quando ele chega ao fim, não lamentamos o que perdemos, a interrupção da convivência , mas tudo aquilo que ela deixou de ainda realizar.


É isto que torna tão compulsivo um envolvimento afetivo, sempre estamos tentando fazer ele ir mais longe, ser melhor a cada dia. Mas nem sempre isso é possível.  Todo mundo tem seus limites, seus defeitos e egoísmos. Relacionamentos são de modo geral muito desgastantes, pois exigem que busquemos ser melhores do que realmente somos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

APENAS MAIS UM ENCONTRO

Não era nada daquilo que eu esperava.
Apenas mais um beijo,
lugar comum de gestos
e palavras,
para chegar ao mesmo adeus
de sempre.
Era apenas outro encontro,
mais uma despedida,
a reforçar a certeza
de que estamos todos sozinhos
e desde o inicio condenados

a solidão.

A SUPERAÇÃO DO OUTRO

Os que decantavam seus sentimentos e amores, já não o fazem mais com a mesma ingenuidade de um século atrás.  Já não nos deixamos levar pelo pueril dos sentimentos e afetos, as dores de amor e vazios de mundo. Já não temos mais tempo para isso.

Estamos finalmente atingindo a idade da pós razão, onde impera o pragmatismo, as urgências efêmeras do mero dia a dia, evasões e indiferenças.  Sentimentos andam fora de moda. Todos sabem disso.


Mas ainda não atingimos ainda o saudável distanciamento do outro na realização da mais abissal alteridade.  Precisamos ainda superar a nossa necessidade infantil do outro como premissa de nós mesmos.

domingo, 4 de outubro de 2015

INTERDITO


Havia uma incomum tristeza
Nos olhos daquela mulher,
Algo que parecia dizer
O mais profundo da mansa insanidade
De uma biografia humana.
Mas não éramos íntimos.
Quem era eu para interroga-la?
Mas aquela tristeza muda me parecia familiar.
Fazia parte de mim também.
Queria que ela soubesse.
Mas hoje em dia
As pessoas não escutam mais
Umas as outras.
Tudo aquilo que realmente importa
Tornou-se incomunicável,

Invisível as sensibilidades.

sábado, 3 de outubro de 2015

DIÁLOGO SOBRE O AMOR ARRANCADO DE QUALQUER MADRUGADA EM UM CHAT DE INTERNET

-Oi. Você disse que queria me azer uma pergunta.
- sim. Queria saber o que você pensa sobre o amor. Estava aqui a pensar o tema e na minha vida inteira.
-Bom. O amor é uma questão de auto engano, uma projeção.
- Como assim? Amar não é bom? Uma coisa nobre?
-O amor não passa de querer o outro para realizar nosso egoísmo no plano emocional.
-Não sei se concordo com sua definição de amor. Acho que amar é querer bem a alguém.
- Amar é instrumentalizar o outro para realizar certas fantasias afetivas.
-Não é tão simples assim. E mesmo se fosse, se duas pessoas se amam dois egoísmos se encontram e se realizam.
- Talvez isso possa acontecer durante um tempo. Mas não para sempre.
-Você já amou alguém?
- Sim. Ninguém é perfeito.
  - Talvez sua opinião seja definida por suas decepções amorosas, por sua experiência concreta . Não pelo amor em si.
-Ou talvez minhas experiências concretas tenham me permetido entender melhor a natureza do amor do que você.
-também já vivi decepções amorosas. Mas ainda acredito no amor e procuro encontrar a pessoa certa.
- Não existe a pessoa certa. A pessoa certa é aquela que te ilude em um determinado momento ou circunstância. Se o amor é algo tão absoluto e intenso, porque ele acaba e aquela pessoa que significava tanto de repente passa a significar nada? Ai você ama novamente e acontece de novo...
-Tá. Você pode estar certo. O amor é uma experiência interna, algo que acontece dentro da gente e encontra eco no outro. Não acho isso ruim. Mesmo que não dure pra sempre. O mais importante é aproveitar o momento.
- O mais importante é perder tempo. É assim que interpreto suas palavras.
- Não seja assim tão radical.
- E porque não?!
- Amar pode trazer coisas boas, te ajudar a crescer.
- Amar é ilusão. Eu não preciso de ilusões para crescer .
-Você deve ter sofrido uma grande decepção.
-Não se trata de decepção propriamente. Estou falando de verdade, da realidade, sobre os vazios e abismos que separam as pessoas.
-Não. Você esta apenas falando sobre suas fragilidades emocionais.
-Não. É você quem esta falando sobre suas carências emocionais.
- Acho que o amor é irracional e não existem verdades neste campo. Estamos falando de sentimentos e afetos... Isso não  cabe em nenhuma equação ou formula cientifica.
-Bom. Parece que concordamos em alguma coisa.
- Então você não pode afirmar nada sobre a natureza do amor sem ser passional, sem  ele está presente, mesmo enquanto uma ausência. Sempre estamos buscando amor.
-Estamos sempre buscando segurança emocional e afirmar a nós mesmos. Somosnhumanos, demasiadamente egocêntricos.
-Não é tão simples assim.
-É sim!
-Precisamos ter alguém em nossas vidas....
-Precisamos aprender a viver para nós mesmos e sermos sozinhos.
-Ninguém fica bem sozinho.
-A felicidade não existe e o amor é um conto de fadas vazio.
- Talvez você exija muito do amor. Por isso o considere tão impossível.
-Talvez você  se satisfaça com pouco. Ou entende que relaciionamentos não se baseiam em amor. Envolvem outras coisas, como dinheiro, status social, auto estima...
-O sentimento esta acima de tudo.
- O sentimento é sempre incerto e não sustenta um relacionamento. Ninguém vive de sentimentos.
-Mas pessoas vivem de pessoas. Este é o ponto.
-Talvez o amor fosse possível entre pessoas equilibradas e muito bem resolvidas. Mas este plano ideal não existe e jamais vai existir.
-Esta conversa acaba aqui. Prefiro acreditar no amor e ponto final!

-Todo mundo tem o direito de escolher viver de mentiras. Sem elas a sociedade seria impossível.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

HISTÓRIAS DE AMOR SÃO TRISTES

A grande maioria das histórias de amor são tristes.
 Em parte porque o amor  finda,
em parte porque ele nunca existiu de verdade.

Se  há amor,
espere sempre um desvio no meio do caminho.
Pois amantes sempre se desencontram.

Não existe amor que dê conta da vida,
Nem vida que dê conta do  amor.