quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

ENCONTRO

No caminho  me aguarda um encontro.
Tenho fugido dele inventando atalhos, 
Acampando a um passo do inevitável,
Enganando o momento,
Evitando o futuro,
Nunca chegando.
Estou sempre negando.
Quanto mais perto
Me surpreendo distante.
Sem perceber que já  sou o produto
Deste sempre adiado encontro.



quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A TRANSFIGURAÇÃO DO MERO DIZER

O DIZER que beija,
Que abraça  e afaga
É domínio da poesia,
Desde acontecer da linguagem
Que comungando o corpo
Traduz afetos, 
Silêncios,
Encontros e comunhões 
Através da fala que não  cabe
No som da palavra,
Que é  sopro
Que transcende seu ato
Transfigurando significados.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

VIDA DE CASAL

Nada tinhamos de especial.
Nossa vida era banal e cotidiana,
Medíocre no seu jeito de ser bem sucedida.

Mas era tudo que tínhamos,
Tudo que nos definia
No trabalho inútil da existência. 

Éramos felizes.
Pateticamente felizes.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

LAÇOS VIRTUAIS

As pessoas  mais impactantes em nossas vidas são  aquelas com as quais dialogamos sem a necessidade de muitas palavras.

Mantemos com elas uma cumplicidade feita de muitas distâncias e potencialidades virtuais.

Afinidades interrompidas tecem, assim, uma modalidade muda de relacionamento que se assemelha a uma pedagogia pelo exemplo. 

Algo no modo de ser dessas pessoas complementa o nosso.

domingo, 22 de dezembro de 2019

AMOR ABSOLUTO

Os amores vividos e perdidos
Não  deixaram marca.
São  equívocos desfeitos no tempo.
Fatos de um outro de mim
Que deixou de existir
Sem pesar na memória.

O amor passa,
Eu passo,
E o sentimento é sempre outro
Em qualquer ponto zero de ser amoroso.

O amor não  tem rosto.
Não  carrega passados.
Ele é  sempre inédito,
Novo e imprevisível.
Posto que é  possível,
Apenas, como único, 
Absoluto.



sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

CONVIVÊNCIA

Estar entre os outros deveria ser um prazer  e não  uma fonte de conflitos e desconfortos no diário exercício de comover e ser comovido. Mas o outro é sempre o distante, o imprevisível, onde não  nos reconhecemos e, por instinto, tendemos a eliminar o desconhecido. 

sábado, 14 de dezembro de 2019

A SOLIDÃO COMO DESTINO

Os afetos são  instáveis.  
Um dia amamos,
Outro não. 

Sempre tendemos a indiferença,
A distância. 
Todo encontro realiza um adeus.

Só há  paz onde impera o silêncio 
E governa a solidão. 

SOBRE AS PESSOAS QUE NOS HABITAM

Algumas pessoas essenciais a quem nos tornamos ao longo da vida habitam para sempre dentro de nós. 

Tal vínculo nos define. Diz quem somos no tempo e no espaço. 
A solidão,  no fundo, é um ideal impossível.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A MENTIRA DO AMOR

Tentei acordar de você 
Para viver a realidade
De nossa fantasia.

Mas o amor é adversário da realidade.
É um equívoco que não se rende aos fatos.
É como um sonho dentro de outro sonho,
Um estranho estado de poesia.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A BANALIDADE DO AMOR

O amor só existe onde cala o poema.
Onde a poesia é silenciosa,
Banal e cotidiana,
Como um pedaço de pão velho.

O amor é aquilo que nos acontece
Quando compartilhamos a existência ,
Seus conflitos e dilemas.

O amor existe quando é  ausente
Mas acontece na agonia doce de um dialogo perpétuo.



domingo, 1 de dezembro de 2019

COMPARTILHAR O VAZIO

Tenho vontade de ser livre,
Quase indigente no querer das estrelas.

Quero o prazer barato do puro ócio, 
Estar com você em mar aberto,
Ou em qualquer deserto,
Onde o mundo não saiba de nós ,
Onde tudo seja impossível.

Tenho vontade de estar junto 
Sem saber palavras,
Inventar diálogos, justificativas, 
No desbotado silêncio de um instante.

As vezes só  importa estar junto
Sem querer nada.



sábado, 30 de novembro de 2019

SURDEZ E CULTURA



De tão  habituados ao som de palavras,
Os ouvidos já  não  escutavam o mundo,
Não sabiam o sabor da dança  da copa das árvores,
A voz das ondas do mar,
Ou as conversações  dos cães  e gatos.

Os ouvidos eram surdos para sinfonia muda do mundo.
Pois o coração  já não  escutava.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

ALQUIMIA


A harmonia é  a melancolia dos contrários,
À coincidentia  oppositorum,
O paradoxo, 
Que através do símbolo 
Reinventa o pensamento
Desinventando dualismos
E desfazendo o Uno.

A arte é o múltiplo transfigurado
Em forma de vida
No trabalho da natureza.

Tudo que há em nós ,
Tudo que nos atravessa,
Amplia potências, 
Realiza a alquimia
Na sabedoria do fogo.



quarta-feira, 27 de novembro de 2019

QUASE AMANTES

Compartilhamos a loucura,
O desespero e a vontade de ser
Contra a angústia e o nada 
Que nos acolhe e esclarece. 

Não  somos amigos,
Não  somos amantes.
Somos apenas dois corpos
Dançando qualquer alegria
No topo do inferno.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A REALIDADE DAS ILUSÕES


Toda ilusão equivale a verdade de alguma emoção.
Neste sentido, a ilusão é qualquer coisa  mais
do que uma simples falsificação.

Uma ilusão sempre diz um sonho,
uma necessidade,
que desafia a realidade
através da potencia de um afeto.

Das ilusões depende a força de nossa vontade,
nossa determinação.


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

SOMOS TODOS LOUCOS




Todas as coisas tolas
que um dia me pareceram certas e sensatas
faria de novo.
Pois  é bobagem  julgar-se sábio,
irrepreensível,
a ponto de não ser seduzido
por nenhuma tolice.

Passamos a vida inteira
cometendo atos tolos,
arrotando maturidade e sabedoria
quando apenas nos comportamos como loucos.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

AMOR E PRAGMATISMO

Amor não  é  beijar-se ,
Prometer eternidades
Ou fidelidade
Em uma fria noite de inverno.

Não  é  noivado,
Filhos ou casamentos.

Amor é aprender a ser sozinho
Ao lado de outra pessoa
Em harmônico exercício 
De coexistência. 

A DECADÊNCIA DA INOCÊNCIA

O amor romântico não  frequenta mais os sonhos dos ingênuos como ideal asséptico em um mundo podre. Agora lhes basta um pouco de empatia e alteridade e meio o deserto onde vagueiam mortos vivos.

Como podemos culpa-los? Pena que a ingenuidade não dure para sempre. A indiferença é contagiosa...

FELICIDADE

A felicidade não é  um dado da realidade.
Não é uma conquista 
Ou um estado de euforia ou satisfação. 
Ela é,  ao contrário, uma ausência,
Um vazio de si mesmo
No indeterminado da solidão. 

A felicidade é  quando nada mais importa.
É quando superamos o eu e os outros
No devir da existência. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O ESTADO BRUTO DO DESEJO

O desejo que não  deseja,
Que não  é vontade de saber,
Controle ou posse
De qualquer coisa,
Expressa uma experiência arcaica
Já quase perdida.

Uma unidade primordial com o mundo 
Que não nos é  hoje possível

O DESAFIO DA SOLIDÃO

É  impossível ficar realmente sozinho. Há sempre alguém habitando nosso pensamento.

Carregamos muitas pessoas dentro de nós. Elas nos tornam quem somos. Isso pode ser uma riqueza ou uma terrível maldição. 
Como saber?

O que importa é que só conquista sua solidão  aquele que é  capaz de se despir de si mesmo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

BIO UTOPIA


Nossa utopia é a vida.
Não esta existência sem substância
a qual fomos condenados
por um mundo de limites e normas,
de razão de Estado e misérias humanas.

Queremos a vida que queima como desejo,
como instinto e intuição.

Queremos a vida que pulsa,
que respira e cria mais vida
na ilimitada potência dos afetos alegres.

Queremos a vida que habita,
que inventa um povo,
semeia futuros
e realiza o eterno retorno
de si mesma
na intensa presença da natureza.


PÓS ORGIA



Ainda ontem a vida dançou conosco um momento sublime. Saboreamos  a eternidade do efêmero e desejamos ardentemente o impossível de um tempo novo quase eterno.  A alegria corria no sangue e o coração sorria ao instante. Mas hoje acordamos vazios daquela inusitada plenitude que nos preenchia e nos reinventava em diálogos e simulacros. Acordamos no deserto da velha rotina e o ontem tem gosto amargo de ilusão e sonho.

Seguimos vivendo sem qualquer brilho rubro  de amor no branco dos olhos.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

DISTOPIA


É um mundo feio,
triste,
onde até mesmo a imaginação
esta degradada
e os pensamentos não tem alma.

É um mundo de verdade e autoridades
onde a vida é quase impossível.


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

UM LUGAR


É preciso ter algum lugar de sombra
para repousar,
Algum canto perdido
de bem estar
onde não nos alcance
as incertezas cotidianas,
onde seja possível
viver outra história,
outros caminhos,
a margem das obrigações comuns.

Todos merecem um pouco de paz,
um tanto de inércia de pedra
dentro do fundo do tempo
onde tudo parece simples e bom.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

QUANDO O DIA TERMINA


Só quero que o dia termine.
Que a noite me abrace firme
E um sonho me cubra  o rosto.

Preciso esquecer de mim,
Me perder do mundo
No abstrato refúgio 
De imaginações de infância. 

As vezes o mais importante
É deixar de ser gente
Quando o dia quase termina com a vida
Na ditadura do urgente.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A DOR



O tempo não passa
quando a gente  sofre.
Ele nem mesmo existe.

A dor tem gosto de eterno.
É desmedida,
desnorteamento,
e, ao mesmo tempo,
movimento,
morte e renascimento.

Ela nos leva além
do tempo presente.
inventa o futuro
como urgência
e desespero
na intensa hora do absoluto.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

AMOR LIVRE


O desejo é movimento
Que não se prende
A prisão de qualquer objeto.
Ele é um indeterminado 
exercício de imaginação.

É dialogo e  criação,
que escapa ao amor
através de jogos de sedução
que transcendem o sujeito.


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A IDEIA


Uma ideia selvagem perturbou meu juízo,
sacudiu as grades, as portas, e janelas
da velha prisão da normalidade.

Por ela inventei ventos,
semiei tempestades.
Cuspi na moral e nos bons costumes.

Estava alucinado por aquela ideia
que anunciava alterações
nas orbitas dos planetas.

Era uma ideia linda
de corpo esbelta
e sorriso de meio dia.  

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

SOBRE ATRITOS BANAIS

Há sempre emoções clandestinas
Perturbando o juízo,
Precipitando conclusões ,
Julgamentos e decisões. 

Há sempre algo que irrita,
Antipatias gratuitas
E mal entendidos.

O outro está sempre errado.
Mas quase nunca nos damos conta
Do quanto somos cúmplices
Dos erros do outro.

Raramente discórdias são motivadas 
Por  qualquer virtudes.
Geralmente elas nascem
De equívocos e precipitações, 
De uma infantil necessidade de auto afirmação. 

OBSESSÃO AMOROSA


Seu cheiro na minha pele.
atesta a impossibilidade
da sua ausência,
a fragilidade da minha existência,
e a potência dessa paranoia obsessiva
que muitos chamam de amor.
Não surpreende que tantas vezes
relacionamentos frequentam
o noticiário policial.


terça-feira, 29 de outubro de 2019

O VAZIO DO AMOR

É  na sua ausência 
Que descubro quem somos
Na composição da delicadeza
De nossos afetos.

Um relacionamento é sempre
Rascunho 
De algum futuro perdido
Dentro de algum resto de infância. 

Amar é buscar ausências
Para preencher vazios
E semear o impossível
No pragmatismo
Da banalidade cotidiana.

O amor é uma revolução menor. 




quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ATRITOS COTIDIANOS


Entre uma palavra e outra
deixo escapar um riso,
uma reclamação,
uma raiva,
um medo e uma angustia.
Revelo uma critica ou antipatia,
Mas na transparência do feito
deixo o dito pelo não dito
e faço de conta
que nada aconteceu.

DO EU E DOS OUTROS


Cada um de nós é efeito
e não substância
do animal humano
que coletivamente
nos define.

Cada um de nós
é uma vastidão fechada 
contida no infinito
que define o  universo
de tudo que existe.

Somos o dentro e o fora
de nós mesmos através dos outros
e das coisas que nos definem o mundo.


domingo, 20 de outubro de 2019

NOVO EROTISMO


O mundo não  é  tão  grande.
Ele é  menor que a soma dos nossos desejos.
Mas dentro dele  cabe
O sem nome de um existir profundo,
A potência dos atos,
As paredes de um ethos,
Inspirado na incompreensível natureza
De Eros.

QUASE DESPEDIDA

Há  dias de amor,
Noites de solidão,
E despedidas
Que sempre selam um encontro.
Há nesse exato instante
Um adeus crescendo entre nós.

AMOR E DESEJO

O amor é perecível
Pois se pretende único.
Só o desejo é eterno,
Posto que é  múltiplo,
Que sempre inventa um outro
De si mesmo,
E Nunca se esgota no gozo.

sábado, 19 de outubro de 2019

SEMPRE PRECISAMOS DE COMPANHIA

A intensidade da vida é  uma produção  social. Ela pressupõe  o eu e o outro, Qualquer diálogo ou comunicação  real. Viver é compartilhar, criar um mundo comum, através da banalidade do cotidiano . Uma boa companhia torna qualquer experiência significativa.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

VIDA PERDIDA


Das coisas que fiz
não ficou vestígio.
tudo foi perdido,
esquecido.
principalmente o amor
que parecia eterno,
definitivo.

sábado, 12 de outubro de 2019

AMOR E SOLIDÃO

Há  em toda forma de amar a intuição de uma solidão universal e insuperável. Ter alguém para amar é  poder compartilhar tal solidão e fugir ao insuportável de si mesmo. Mas isso só  é possível quando aceitamos o inevitável desta mesma solidão como condição elementar da existência.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

LINHAS PARALELAS

A desavença que nos subtrai
É sempre a mesma.
Está entre nós desde o início,
Tendo se estabelecido com o primeiro.

Ela grita em segredo
Nossas diferenças,
Anunciando distâncias e dissidências.

Somos como linhas paralelas
Entre as quais não  cabe
Qualquer convergência

e ninguém compreende
como aconteceu um beijo.

sábado, 5 de outubro de 2019

O AMOR COMO FALTA

O vazio da ausência define o amor como falta, como busca, que jamais será superada por qualquer encontro. 

O amor exige solidão. Sua matéria prima é  a fantasia que sustenta o desejo, jamais a realidade do que se deseja.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

SOLIDÃO E SILÊNCIO

A solidão  e o  silêncio formam um casal imperfeito.
Abrigam juntos nossas angústias, incertezas e devaneios,
Mas nunca se entendem um com o outro.

A solidão  sempre trai o silêncio.,
Procura diálogo, enfeitar o vazio com um dizer qualquer.
Já  o silêncio,  não se conforma a nenhuma companhia.


Mas como saber a solidão sem o silêncio?

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

SER NINGUÉM


Não sou senhor dos meus atos,
Palavras e sentimentos.
Eles acontecem em mim
Na impessoalidade das reações.

Sou absolutamente  banal,
Assustaduramente comum.
E,  mesmo assim,
Não  sou como os outros.

Sou alguém
No meu modo de ser nada,
De sucumbir à multidão .

Existir não é importante,
Contrariando tudo que sei e sinto.

Sou o instante único de um vazio
Comum a todos,
E disso não posso fugir.

FORA DE SI


Desaparecer de mim
É um impulso absurdo
Que habita meus gestos.


Não  suporto ser um
Em  um mundo de tantos,
Estar preso a este corpo,
Inventando modos de amar,
De não  ser,
Através  do querer do outro.


Afinal, existir é paradoxo,
É  se perder de si,
Para saber da vida

através dos outros.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

VIOLÊNCIA, ENCONTRO E ATITUDE


A clara delicadeza de uma violência necessária.
Assim póde ser definida a meta de nossa determinação,  ânsia de vida, contra todas as circunstâncias, contra nossa impotência pessoal.

É sempre necessária alguma estratégia de agressão, seja para estabelecer limites entre o eu e o mundo, seja para não ser cúmplice dos absurdos da sociedade ou dos absolutos da razão.

Não somos definidos pela autonomia de um eu, de uma personalidade, mas moldados pela experiência das coisas em sua diversidade e vertigem. É o choque, o confronto, que nos define qualquer modalidade frágil de ser. A violência do encontro configura nossa realidade. Mas não se trata de reação, mas de interação. A interação, a mútua influência, é o que define aqui a violência como a experiencia de encontros, contatos e composições. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

AMOR E ÓDIO


Do amor e do ódio
Cada um de nós
Sabe um pouco
Na aversão e atração
Pelos loucos, tolos
E fanáticos mal esclarecidos.

Todos eles ensinam
Que uma grande dose de amor,
paradoxalmente,
Nos embriaga de ódio.

SER ALGUÉM

Abdicar da solidão  por alguém
É um sacrifio necessário,
Uma concessão a própria  sobrevivência.
Pois o eu é  o outro,
É  o que nos impede da felicidade
De ser ninguém
E nos obriga a um estado de dualidade com o mundo,
Abrindo mão  da indiferenciada experiência do nada
Para ser alguém.

domingo, 15 de setembro de 2019

MULTITUDO


Não  somos iguais,
Nem diferentes,
Somos absurdos
Uns para os outros.

Somos muitos
E , ao mesmo tempo,
Ninguém.

Mas entre nós
Cabem todos os mundos,
Inventa-se o caos e o múltiplo.

As partes transcendem o todo
Nos modos de vida que nos compõem.
Existimos,
Mas quase não  somos.
Vivemos uns através  dos o
utros
Em instáveis e infinitas  composições.

A vida é obra da multidão.

A MISÉRIA DO CASAMENTO

Na cultura partriacal um relacionamento não  passa de um contrato entre dois indivíduos dotados de direitos e obrigações .
Algo a ser sacramentado e controlado pela sociedade.

O casamento não  é  propriamente um arranjo livre inspirado pela caduca fórmula de amor romântico, mas um dispositivo de controle que assegura a transmissão  de um patrimônio. Pouco envolve sentimento. É  só  uma forma de perpetuar o clã e reproduzir velhos papéis sociais. Tal premissa continua vigente até  mesmo em uniões  homoafetivas.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

CONVIVÊNCIA

O AMOR não passa de um conceito abstrato. O que realmente importa é  a alegria de participar da vida de outra pessoa e isso definir nossa própria existência.

Esta pequena alegria  é  tudo que importa. Ela é  a única forma de superar a solidão. Habitar a vida de outra pessoa amplia nosso próprio mundo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

SOBRE O CERTO E O JUSTO


As convicções sobre o justo e o certo,
O peso da verdade,
Anima o juízo de todos.

Somos sempre perfeitos contra os outros.
Sempre temos justificativas,
Bons argumentos,
Ao contrário daqueles que divergem
Daquilo que  apresentamos como certo.

No fundo não se trata propriamente
De convicções,
Mas de conveniências,
Oportunismos e hipocrisias.
Aderimos sempre aquilo que nos delega poder.
nem que seja proveniente 
de uma inútil autoridade moral. 

domingo, 8 de setembro de 2019

FELIZES PARA SEMPRE

Faz meses que não  te vejo
E anos que não te beijo.
Morreu o amor
Para viver a amizade.
Mas só  assim
Fomos felizes
Para sempre.
Nunca será tarde
Para um reencontro
Banal e cotidiano.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

AQUELA MENINA QUE NUNCA MAIS VI DE NOVO

Ninguém escutava seus passos
Naquela rua poluída por gente.
Ninguém notava sua solidão,
Sua presença  indigente.
Havia muita fome em seus olhos
E palavras quebradas em seus gestos.
Mas o mundo não  lhe intimidada.
Pegava qualquer esperança no chão
E seguia sempre em frente
Na contramão  dos fatos.
Seu futuro era incerto,
Mas seu presente era intenso.
O mundo não  lhe intimidava.
Apesar de tudo,
Mergulhada em sua solidão,
Ela sonhava.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O AMOR COMO TERAPIA

Há algo de terapêutico  no amor quando ele se torna uma estratégia de invenção de si mesmo. Assim abandonamos a experiencia do outro como parte de um jogo de poder e controle, como uma disputa narcisista que se confunde com a dinâmica de um relacionamento. 

O amor é um grande trabalho sobre si mesmo que consiste em atingir certa disciplina e sensibilidade da experiencia de afetos.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

CONFISSÃO FILOSÓFICA


Confessar aquilo que não tem nome,
Admitir o inadmissível de mim mesmo,
É meu maior desafio.
Afinal, não sou apenas esta ficção humana e cotidiana.
Meu corpo habita todos os reinos da substância,
Os quatro elementos e o imaterial da imaginação.
Não há em mim sentimento mais intenso
Do que a perplexidade de existir,
De estar diante do outro
E nele me reconhecer como algo estranho.
Sou presença, aparência.
Mas também sou éter e matéria ,
Sou em tudo aquilo que me escapa.
Sou este diálogo,
O silêncio e o nada.
Não  me diga quem é  você.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

RELACIONAMENTO ANIMAL


Eu e minha pequena gata de estimação existimos em mundos distintos. Mesmo assim, compartilhamos o mesmo espaço e fazemos parte da rotina um do outro. Ela mia eu falo e assim nos entendemos sobre tudo.
Qualquer relacionamento possui zonas de incompreensão. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

TELEFONEMA


Sua voz ao telefone me fez ter saudades do seu corpo,
Da sua presença no fundo da minha existência,
Quando não  cabia qualquer palavra,
E tudo era explícito. 


Não  havia entre nós
Nenhum mal entendido
Nas pequenas alegrias de fundo do poço.


Agora, entretanto,
Sua voz ao telefone,
Não  lhe traduz.
Tenho saudades do seu corpo...

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A TRANSPARÊNCIA DA DOR

Onde a dor é maior que o silêncio,
Tudo pode ser comunicado
Sem a ilusão de palavras.
Pois há transparência de afetos
Na urgência de um sofrimento
Que  esclarece
Tudo aquilo que nos devora.
A dor é clara
Quando compartilhada
Entre aqueles que a sofrem.
Nada une mais as pessoas
Do que o sofrimento

A AGONIA DE UM BEIJO

Não existe beijo perfeito
Ou definitivo.
Qualquer beijo é uma busca,
E tem gosto de utopia.
O beijo escapa no ato de beijar
Através do fato de ser beijado
Na suspensão do diálogo.
O beijo é mudo,
Vontade e angústia.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

EQUILÍBRIO



Equilíbrio é sempre diálogo.
Exige dois ou mais.
É no exercício do outro
Que se inventa a sintonia do ajuste.

Mesmo que narciso diga o contrário,
Ninguém é em si equilibrado
Alguém escuta narciso.

Equilíbrio é sempre diálogo. 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

HORA MORTA

Talvez um dia
Eu finalmente acorde
E saiba por intuição minha sorte.

Então  será  hora de viver,
De saber minha morte.
Neste dia
Sei que não  estarei sozinho,
Mesmo que desacompanhado.

Haverá dentro de mim
A presença  de um outro.
Serei ultrapassado por mim mesmo.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

SOBRE SEXO


Entre o mais e o menos
Não  há limite fixo.
Não  há lei que previna o excesso.


O intenso é  o mais,
A indiferença o menos.
Qual a medida, afinal,
Do sentimento?
Não há sujeito ou objeto,
Apenas processo,
Indistinsão entre o dentro e o fora. 
Como ainda posso saber quem sou?

Tudo transborda,
Tudo é mudança.
Existo em você
E quase fora de mim.


Seu corpo diz o meu corpo
No sentir que nos transforma
E nos faz outros.

domingo, 11 de agosto de 2019

NOSSO INSTANTE

A eternidade do momento  no qual nos conhecemos reacontece  todos os dias. Esta é a magia do tempo. Um momento contém toda a eternidade de nossas vidas. E isso só  faz sentido porque somos finitos. Precisamos aproveitar o máximo possível a singularidade deste instante, levar as últimas consequências o profano milagre do nosso encontro.

sábado, 10 de agosto de 2019

ATRAÇÃO E INTUIÇÃO

Atração  é  expressão do corpo entre intuição  e desejo. A paixão exige o outro pelo simples fato de que o eu se inventa neste ato. Pensar é antes de tudo desejo, relação e gozo. Mas como é difícil realizar está tríade!

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

SEUS OUVIDOS E MINHA BOCA




Seus ouvidos tem fome de palavras gordas.
Gostam de discursos obesos de significados.
Nada mata mais o apetite dos ouvidos do que conclusãos,
Respostas univocas e pontos finais.

Já minha boca, não sabe ficar fechada.
Vomita replicas e trepicas,
sem profundidade.
Quer apenas estender ao infinito nossa  discussão.

Seu ouvido e minha boca se completam
Mas nunca se entendem...
Nunca encontram o ponto certo da comunicação. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O LUGAR DO OUTRO

Não  é fácil conquistar um lugar diante do outro que não  seja o de escravo de projeções. Para  tanto é  necessário abrir mão de si mesmo e arrancar do outro a ilusão  de qualquer identidade.

Apenas na deriva compartilhada o amor é possível com a intensidade de um naufrágio. Aquele que ama está perdido em si mesmo afogando-se no outro.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

QUANDO O AMOR CANSA


Há dias em que não se ama,
Que acordamos vazios
Ou com o mundo dentro do peito.

Cansar faz parte do amor,
Pois o amor  transborda,
E o esforço amoroso desgasta,
Fere sentimentos, vontades e egos.

Ninguém esta realmente
A altura do amor.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

CONVIVÊNCIA



Conviver é existir conjuntamente,
É ser um organismo composto,
Varias existências em um único corpo social.

Conviver é transcender a banalidade de  existir
É ser multiplamente único,
Acontecendo  em sintonia
Através da harmonia 
Da busca do bem comum.


INUTIL LEMBRANÇA

O  amor passa,
Mas sempre deixa uma marca.

Não  há nada mais natural
Do que lembrar um amor perdido,
Mesmo sem ter motivo.

Afinal, amores não  voltam
Porque são lembrados.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A SABEDORIA DA SOLIDÃO


Solidão não é desamparo.
É o encontro do eu com o mundo.
É descoberta de si através do múltiplo que estrutura o real.

Estar sozinho é um modo de saber a vida em sua complexidade
Sem, entretanto, identificar-se com qualquer um de seus aspectos.

Solidão é consciência de si e dos outros
Sem a mediação de uma persona.

A DIMENSÃO SOCIAL DOS RELACIONAMENTOS


O amor reduz o múltiplo a dualidade do eu e do tu. Mas este é apenas  seu próprio modo de inventar um “nós”  no limite do social e do individual. Se o afeto compõe um vinculo dual, ao qual todas as demais relações ficam subordinadas, nem por isso ele deixa de ser expressão de uma pratica social/ coletiva, pois a dualidade dos amantes não existe sem a multiplicidade do nós. A busca de reconhecimento das relações  homo afetivas no plano coletivo é um bom exemplo deste condicionamento.   

Não há relacionamento possível fora das condicionantes de um meio social que define a própria possibilidade e formas de expressão ou protocolos  de um relacionamento possível. Deste modo, os  amantes gozam de autonomia relativa  em seus protocolos amorosos. A interseção entre o publico e o privado definem as praticas amorosas. Mas, em contra partida, é através do amor, da busca por uma autonomia cada vez maior na escolha das possibilidades de relacionamentos possíveis, que o eu e o tu redefine o nós.