terça-feira, 27 de outubro de 2020

UM BILHETE

 

Deixe-me um bilhete antes de sair,

qualquer recado de afeto

ou palavra que me abrace.

Deixe um pouco da sua vida,

do melhor do seu mundo

e dos nossos dias.

Deixe um bilhete

que nos comunique futuros.



terça-feira, 20 de outubro de 2020

SENSATA ESTUPIDEZ

 


 

Que o bom senso nunca me impeça de ser ridículo,

de me dedicar a atos inúteis,

ou ser sensível a impertinência das coisas simples.


Que ninguém me impeça de me ocupar do que não tem valor

ou propósito,

de ser lúdico e até mesmo irracional.


Quero ser muitas vezes tolo,

incrivelmente bobo,

deixando-me levar pela gratuidade do fato de meramente existir.


segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O FIM DO AMOR ROMÂNTICO

Entre o eu e o outro
Cresce o abismo do mundo,
A solidão  do corpo,
O passar dos anos,
No inutil  tempo de uma vida. 

Nada nos comunica
Uns aos outros.
Nada anuncia um abraço, 
Um laço,
Um beijo dentro da eternidade.
 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

AMOR E CONDIÇÃO HUMANA

Todo vazio de si , não  passa no fundo  de um silêncio  dos outros, de uma busca de mundo, através da incerteza de si mesmo.
O eu não  passa de um ponto cego entre o nós e o tu.
Se o amor só  é  possível como uma condição  ética da subjetividade que  faz de cada um de nós  um ensaio  particular da condição  humana.

SOMOS TODOS MORTOS VIVOS

No fundo do fundo
Há  um silêncio 
Dentro da minha voz,
Que tenta dizer a vida
No vazio do mundo através dos restos profundos dos outros.

Todo ser humano
É  um morto vivo
No não  lugar de si mesmo
Como ser falante e ativo.
Há algo de incompreensível 
No exercício diário do dizivel
Que tem um gosto vago de morte. 



sexta-feira, 9 de outubro de 2020

ENCONTRO

 


 

Dentro de mim há uma ausência que me completa,

que me preenche do seu vazio

até o transbordamento de mim mesmo.


Nesta ausência sei a urgência do corpo

como ponto de encontro do eu e do tu

através de nós.


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A TELA E A VIDA

A tela nos roubou da vida
No tempo utópico da  informação, 
Da invenção dos fatos
E da transcendência do real.

O que sei é  o que sinto,
O que intorpece o olhar
Na cegueira de ver, saber e crer.

Não  há mais amor possível
No artifício do dizer.
Há apenas a superfície da tela,
A vida como simulacro e utopia.


sábado, 3 de outubro de 2020

VIDA E RIZOMA



Viver é  transbordar a consciência de si no inumano das coisas,
Transcender o próximo como espelho de si mesmo.

Viver é saber a terra como o lado de fora do corpo. 
Viver é não  ser humano,
Mas potência e pulsão 
No ininteligivel da experimentação .

Viver é  ser rizoma,
Meta consciência ,
Música,
Incerto movimento
Do que não se move
E se faz movente...




SINGULAR MULTIPLICIDADE

Estou cansado de dizer, 
De fazer, acontecer e ser
Dentro do perene tempo
Dos meus territorios de imanência.
Onde sou um nada,
Quero sentir tudo,
No mais profundo da ilusão  do tempo que me mata.

Quero ser múltiplo e inumano,
Obra de arte abandonada
Ao vento dos outros
Contra as certezas e verdades
De um liquido instante de mesmice coletiva e egoica representação de um eu absurdo.

Quero ser vago e profundo
No afeto da natureza pura,
Indiferente ao humano
Na mais radical intensidade dos afetos,
Que me transmutam em corpo e ambiência,
Em estética da existência dentro do espelho da multiplicidade de si como caos e não  ser.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

OPRESSÃO PERMANENTE

É  sempre longe demais,
Tarde demais.
Há  sempre um interdito,
Um impossível,
Roubando a vida da gente. 

Há  sempre uma precariedade, 
Dizendo o tempo presente,
Os absurdos da sociedade
E as misérias do Estado.

É  sempre minha existência
Vazia dos outros,
Sem rumo,
Sem futuro,
Enquando queima em mim
Em segredo
Um atemporal  desejo profundo
De mudar radicalmente o mundo
Na alegria e festa das grandes e inumanas angústias. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

SER E QUERER

Minha existência Tem sido um dramatico desencontro entre o querer  e o viver. 
Quase tudo que quero não me é  necessário e me conduz ao tédio, ao silêncio do meu viver.
Não  sei dizer em meu dia por onde anda a vitalidade do verdadeiro desejo.