terça-feira, 30 de outubro de 2018

SOLIDÃO


Ninguém mais atravessou a porta.
Não recebi visitas.
Não soube notícias.
Todos sabem que o mundo anda horrível,
Cultivam silêncios,
Administram a própria vida.
Ninguém tem tempo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

ESTOU SEMPRE ESPÉRANDO

Estou sempre  esperando qualquer surpresa.

Qualquer hora espero que a vida me surpreenda.

Não falo de grandes e redentores acontecimentos.

Espero coisa pequena.

Apenas um encontro, um abraço, um beijo,


E uma tarde intensa de outono....

terça-feira, 23 de outubro de 2018

ESCOLHAS AMOROSAS

Como sei que de modo geral as pessoas nunca se realizam com sua primeira opção, sempre tive medo de ser a última opção de alguém.

Para muitos o  amor não é uma escolha, mas uma necessidade. Isso explica a enorme quantidade de casamento cujo arranjo realiza o mais improvável do possível. Tendemos a optar pelo possível é não pelo que realmente queremos.

Pessoas exigentes, correntes e críticas demais acabam sozinhas. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

SOBRE PRESENTES E VINCULOS

A prática social da troca de presentes, tão cara às sociedades arcaicas, como vastamente documentado por etnólogos, em nossa sociedade já não fortalece os vínculos sociais, uma vez que foi demasiadamente mercantilizada, reduzida a um comportamento massificado e banal. 

Presentear alguém para afirmar nosso vínculo afetivo hoje em dia é rito degradado. Se quer somos capazes de conceber o que é um presente. Somos incapazes de surpreender o outro com uma prenda que lhe afete e comova como uma espécie de encantamento ou sedução. É preciso conhecer muito bem uma pessoa para presentea-la. Mas muito raramente penetramos tão intensamente na intimidade de alguém a ponto de surpreender com um presente, oferecendo algo que realmente lhe sensibilize. O valor de uso deve ser sempre superior ao valor de troca.

sábado, 20 de outubro de 2018

SOBRE A NATUREZA DO AMOR

Se o amor é o ato de querer ele é uma mera relação de poder. Mas se o amor é falta e distância, ele é uma espécie de questionamento de si mesmo.


Em ambos os casos trata-se de uma experiência de impessoalidade. Eis a razão do amor ser um grande problema para a maioria das pessoas.

Amar é um estranhamento de si mesmo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O AMOR COMO AFINIDADE E ELEIÇÃO


Amar é algo que nos é ensinado e não um dado natural. Cada cultura desenha seus estilos de relacionamento. Mas todos envolvem comprometimento e intimidade. Amor é invariavelmente relação entre corpos, é presença.

Recuso aqui as sublimações metafisicas, as definições de amor inspiradas na tradição judaico cristã, na abstração vazia do principio do amor ao próximo. Afinal, não existe este “próximo” sem que se cultive intimidade.  Empatia é um fenômeno  que não nos ocorre gratuitamente como um irracional  imperativo. É mais adequado falar em empatia. Mas a empatia é algo cultivado, trabalhado e seletivo.

Amar é a outra face da afinidade. Não é um sentimento universal e impessoal. Amamos apenas aqueles que em alguma medida elegemos para o amor ou, simplesmente, aprendemos a amar.

O INCONVENIENTE DE AMAR


Sábios são aqueles que amam com pudor, que não sucumbem a seus afetos e não transformam a pessoa amada em uma espécie de ídolo.

Afinal, amar exige sempre prudência visto que o amor pressupõe alguma ilusão ou subestimação daqueles que amamos. Nunca sabemos a pessoa amada de forma objetiva. O amor a reduz a encanto, a um objeto de projeções e idealizações.

Não estão errados aqueles que consideram o amor um inconveniente infantil, uma expressão de nossa inconveniente dependência do outro.  

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

AMOR E MACHISMO


As mulheres são as maiores vítimas do amor, do afeto doentio e envenenado por relações de poder. Ciúme e dominação masculina definem ainda hoje muitos relacionamentos tóxicos.

O amor tem lugar cativo nas páginas policiais. Esta é a mais cruel realidade. O amor é uma das causas mais banais de violência.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

ILUSÃO DE CÉU


Seu rosto foi meu céu matinal,
Minha paisagem mais habitual.
Mesmo quando adivinhava a noite
Acordando em seus olhos.
Tudo parecia possível...

Como eu era enganado
Pela embriaguez do desejo mais profundo!

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A LIBERDADE DA SOLIDÃO

O anonimato é uma benção. Ser invisível entre os outros nos garante privacidade e serenidade.  A popularidade, ao contrário, nos faz alvo de julgamentos, cobranças e limitações. Poda nossa espontaneidade e inventa o outro como um limite, uma condição de assujeitamento ou redução de si a expressão de uma persona.


Ser insignificante tem suas vantagens. A solidão é libertadora.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

MONÓLOGOS X DIÁLOGOS


O encontro de vozes nas falas de um diálogo, dão o tom das divergências, das pluralidades. Mas é necessário que haja um consenso mínimo que a todos conforme a norma. Todo dialogo pressupõe que cada um reconheça seus limites de fala, pois é objetivo da ação dialógica a produção de um discurso que transcenda todas as vozes em sua singularidade.

Dialogar pressupõe alguma disposição para abdicar de certa parcela de certeza, ir além do próprio ponto de vista. Por isso os monólogos são mais ricos e profundos do que o mais bem sucedido de todos os diálogos. Dentro de uma única voz, já existem muitos pontos de vista inconformados.

PASSIONAL



Meus sentimentos são incertos e imprevisíveis.
No fundo são eles que me possuem.

Mas tento considera-los com cuidado,
Desconfiar sempre das emoções que eles acordam.
Nem sempre é possível.

Ás vezes, sem qualquer motivo,
Sou tragado pelos meus próprios atos,
Pelas vontades que me invadem.

Não me reconheço naquele que sou.
Sei de mim apenas quando embriagado.

CONFIANÇA E DECEPÇÃO

A confiança é uma construção da empatia. Ela depende muito mais do modo como representamos e consideramos o outro do que de suas qualidades inatas. É basicamente uma aposta, um risco, sempre renovado.


Por isso o conceito de confiança faz par com o conceito de decepção. Não há quem sempre corresponda a nossas expectativas. Não somos muito realistas em nossas relações afetivas. 

terça-feira, 2 de outubro de 2018

A DECADÊNCIA DO AMOR PAIXÃO

O amor se tornou uma palavra muito banal. Quase um recurso retórico e circunstancial. Nem mesmo funciona mais como tema para letras de música popular. 

Aprendemos com a vida contemporânea que o amor não redime e muito menos conduz a qualquer ideal de felicidade. Sofremos mais a urgência de nós mesmos do que a ausência do outro. O que torna substantivo apenas o amor próprio. Finalmente reduzimos o amor a questão de sobrevivência e auto preservação. O  querer do outro já não nos seduz...

SOBRE O PLATONISMO DOS SENTIMENTOS


O amor é tão incompatível com a beleza quanto o bem é incompatível com o belo. Mas somos dados a fantasia oca e idealizações vazias. É o que aprendemos com filmes Melosos destinados ao cultivo de um desejo infantil por felicidades perfeitas, por um mundo sem contradições.

O platonismo dos  afetos é a mais perceba expressão da degradação de nossa sensibilidade afetiva.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O DESEJO É O OBJETIVO DO DESEJO


Perdido no aleatório percurso de um desejo já não busco qualquer objetivo. Sei que o  desejo é como um rio que corre em seu leito indiferente às suas próprias margens.  Nada lhe é mais essencial do que seu próprio movimento.

Ele existe em si mesmo e não se reconhece no porto seguro de nenhum prazer.

O desejo é uma inspiração meta física que define o corpo em sua mais crua concretude. Ele é a vontade que se faz incessante movimento. 

O desejo busca apenas o desejo.