sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A VIDA, A MORTE E O AMOR

A vida, a morte e o amor. Eis os três grandes e constantes temas de nossa condição humana. Em torno deles desenvolvem-se todos os nossos enredos e dilemas.

Estamos fadados a enfrenta-los sempre sem o vislumbre de qualquer solução que não seja relativa e provisória. A ilusão da razão não domestica nossa inquietude diante do ilegível   da vida, a morte e o amor como horizonte do mais imediato e banal  da existência.

GEOGRAFIA FELINA

A curiosidade dos gatos, seu interesse por tudo aquilo que ocorre a sua volta, traduz a forma como se adequam a um ambiente.

Não se trata propriamente de uma atenção às coisas como estratégia de controle ou o exercício de algum poder sobre elas. 
É mais adequado falar de jogo, de um modo lúdico de lidar com tudo aquilo que o circunda. Gatos possuem uma relação peculiar com os espaços que transcende a lógica de um território.

O comportamento felino segue os ritmos do ambiente.  Hora procura privar-se dele entocando-se. Hora se deixa a céu aberto a espera de distração.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

NOTA SOBRE A METAFÍSICA DO AMOR

A economia afetiva de uma vida inteira não cabe na intencionalidade do dizer o Amor. Pois tal economia é intensamente descontinuidade, subtração, devir cego e incerto que não se dobra a ordem das palavras forjadas por qualquer trovador.

O objeto do amor é sempre o próprio amor na indiferenciada presença do sujeito e do objeto. Não há como representa-lo, defini-lo através de qualquer norma. Toda representação do amor é uma negação do amor. O amor é um ideal impossível que confundimos com a febre da vontade. Ele só é real diante de si mesmo e jamais entre seres humanos.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

MUITO ALÉM DA SOLIDÃO

Afetos devoram sentimentos
Abortando novas emoções.
afetos que apagam afetos
inventando distanciamentos e razões.

Frio como o gelo
Contemplo relacionamentos
Que revelam formas coletivas de solidão.
Há coisas piores do que a solidão.

Talvez, este seja o segredo da solitude
Como opção e caminho.



SEPARAÇÃO

Nunca acreditei em você.
Mas aceitava suas mentiras,
Tolerava seus defeitos
E me iludia com sua companhia.

Não sei se por conveniência
Ou por ingenuidade.
Só sei que chegou a hora
De acreditar mais em mim mesmo
E abandonar suas mentiras.

Nenhum relacionamento dá conta da vida,
Dos sentimentos e do desejo
Que nos definem como indivíduos.



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

AMOR ETERNO

O amor eterno é aquele que engana o tempo virando amizade,
O que sobrevive aos relacionamentos,
Perpetuando-se sem interesses ou intimidades.

O amor eterno é aquele que conserva próximo
o que foi separado.

É um privilégio daqueles que domesticam suas emoções,
que aceitam que nada é para sempre, 
Tanto quanto reconhecem que o afeto é mutável,
que as pessoas mudam,  as rotinas matam
e o coração é duro.




segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

APARTADOS

Não suporto a ideia de um reencontro.
Não por que me incomodo com sua presença.
Mas por que agora conheço sua má vontade,
 Incompreensão e equívocos.

Não posso lidar com sua imperfeição.
Polis ainda me lembro
De quem você nunca foi.


O AMOR COMO CRICHÊ

O casal da mesa ao lado
Comia a mesma comida que a gente.
Bebia da mesma cerveja
E tinha os mesmos assuntos chatos.
Éramos quase o outro casal
Compartilhando rotinas afetivas e banais.

Afinal, a vida é mesmo cheia de histórias de amor,
Quase todas iguais.

O amor é um pathos sem solução
Que segue sempre o mesmo enredo.

Amar não torna ninguém especial.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

DO EU E DOS OUTROS

Um eu é a soma dos outros que dentro de nós habitam.
Por isso é sempre melindroso,
As vezes confuso,
E quase sempre incoerente,
Quando confrontado por nossas convicções
Ou questionado por nossos próprios discursos.

O eu é quase um criminoso
Buscando sempre a si mesmo nos outros.
Valendo-se de qualquer artifício
Para justificar-se diante do espelho.
E sempre no espelho é diverso o rosto.
Nunca o mesmo, jamais conclusivo.
O eu responde apenas ao momento.

É simples aparência.

DIÁLOGO


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A LÓGICA DAS DECEPÇÕES


POR AMOR AO MEU GATO....

Sou responsável pelo bem estar de um gato.
Isso é tudo que penso quando volto para casa,
Depois do trabalho, engasgado com o dia
E sujo de cotidiano.

Tenho um compromisso com a existência do meu gato.
Por isso não posso desistir deste existir artificial
E do fardo da civilização.

Preciso garantir a alegria do meu gato.
Este é todo o proposito que move agora
Meu mundo.
Tudo que faço é pelo meu gato....


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

FULANA

Gosto da companhia de fulana.
Mas não o tempo todo
Ou em todo lugar.
Mesmo assim, 
É certo que amo fulana.
Só preciso de um descanso 
Já que fulana, as vezes,
Fica insuportável.

Preciso de Fulana.
Embora não consiga conviver bem com ela.


As vezes tenho vontade de matar fulana...
Mas o que seria da minha vida sem fulana?


PESSOAS E GATOS

Algumas pessoas realmente gostam de seus gatos, mas os tratam como um adorno de sala de estar. Já outros amam seus gatos, precisam deles como de si mesmos. Seus gatos os permitem saber melhor de si mesmo como gente. São quase gatos se fingindo de gente, para quem conhece a psicologia dos gatos com um pouco de profundidade. Habitam o animal com o qual convivem em uma relação totêmica. 

UMA NOITE QUALQUER

Esta noite me deitarei no seu abraço
Para sonhar de novo
Aquele velho sonho
De ser feliz para sempre.

Depois amanhece
E a gente segue em frente.
Esquece a noite
No desencanto do dia
E tudo parece diferente.

Mas por enquanto
Ainda é noite
E alguma verdade chora
No labirinto da sua face.

Vamos, então,
Fazer de conta que somos felizes.
Apenas porque ainda é noite

E está muito vazio lá fora.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

DESENCONTRADOS

Estávamos tão longe da palavra certa,
Da proximidade correta
Que comunica ao outro
O mais essencial de si mesmo,
Que se quer nos tornamos amigos.
Permanecemos despercebidos um ao outro,
Ignorando todas as afinidades que nos comunicavam
Como um par de vasos.
Nem sempre os encontros entrelaçam as pessoas.
Mesmo quando isso parece tão certo
Quanto um dia de sol.
Mas, o fato, é que bastava uma palavra,
Um pequeno gesto...



segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

ESCOLHAS

Entre eu e você
Escolho a incerteza
Que tanto nos define.
Minha opção foge a vontade da pele
E escreve fatos contra os sentimentos.
Não serei escravo do meu diálogo
Ou da urgência de nossos corpos.
Serei amigo de nossas distâncias,
Companheiro de nossos silêncios,
Angustias e decepções.



quarta-feira, 29 de novembro de 2017

DERROTADOS

Nada foi como eu esperava.
Tudo deu em nada.
Mas era assim que tinha que ser.
Não havia outra conclusão possível.
No fundo eu sabia...
Você sabia...
Apenas não podíamos aceitar.
Tínhamos de tentar.

O final feliz não veio
Mas precisamos seguir em frente
Já que não tivemos ferimentos fatais.

Foi apenas mais uma derrota.
Não foi a primeira
E muito menos a última.

Vamos seguir em frente...
Não pense mais sobre isso.


MUDAR O PASSADO

Não se pode mudar o passado. Mas se tal feito fosse possível, levaria as ultimas consequências nossa vocação para o erro. Com as melhores das intenções, tentaríamos mudar as coisas até o limite da perda de sentido. Quando as coisas, seja lá em que versão delas mesmas, sempre são como são, sempre realizam nosso “destino”, nossa mais intima fatalidade biográfica existencial.


Cabe ponderar, ainda, que caso fosse possível mudar o passado, continuaria sendo impossível mudar os outros. Jamais teríamos pleno domínio dos fatos. Passaríamos uma eternidade voltando no tempo tentando arrumar tudo aquilo que não tem jeito. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

BEIJO

Me envolvi tanto com aquele beijo
Que esqueci que você era parte dele,
Mesmo não se importando comigo.

Nos anulamos no encontro dos nossos lábios
Em um escandaloso ato de amor.
Ele tinha mais valor
Do que nossas próprias vidas.
Pois fomos apenas duas coisas
Dentro daquele beijo.


Sinto saudades daquele beijo...

CASAL


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

AMOR DEMAIS

Muitas pessoas são incapazes de amar porque não controlam suas emoções. Sucumbem de tal forma a passionalidade, que o gostar delas revela-se  patológico, reduz o outro a objeto mudo de afeto, negando-o como co-sujeito de um relacionamento. A capacidade de gostar, nestes casos, torna-se um defeito, um fardo, que realiza o mais cruel narcisismo. Amor demais sempre faz mal.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

UM POUCO DE SOLIDÃO, POR FAVOR...

Procurava um canto
Para permanecer em paz,
Não saber dos outros
Ou sobre as confusões
Que definem o mundo.

Precisava de um pouco de paz,
De uma boa dose de solidão
E um bocado grande de silêncio.

Afinal, carregava dentro de mim
Todas as angustias e ansiedades
Desta condição abstrata e duvidosa
Que chamam de humanidade.



COMPANHIA

Gosto de tê-la por perto,
Sempre precariamente,
Distraída e vazia
Empurrando a própria vida.

Nem mesmo sei mais
Quem é você.
Já que pouco tem a dizer,
Sempre desfeita
Em seus cacos de pensamento.

Mas gosto da sua presença.
Do tempo em que nos perdemos
Mergulhados em nossos silêncios.


ROSTO BONITO

É coisa banal perder o olhar na paisagem de um rosto bonito.
Mas um rosto bonito não diz outra coisa além do superficial
de um rosto bonito,
Traduz um encanto instantâneo e inútil.

Não se pode, portanto, esperar grande coisa de um rosto bonito.
Entretanto,por outro lado,  não podemos evitar a admiração
que nos desperta um rosto bonito.

Mesmo que seja apenas uma experiência inútil,
um exercício estético e vazio de imaginação.

Mas que paradoxo é esta paisagem de carne
configurada pela ilusão de  um rosto bonito!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O VAZIO DAS RECORDAÇÕES

O peso dos nossos erros
Vivem a margem das nossas culpas.
Mas graças a eles
Tudo que foi feito
Agora jaz desfeito.
As memorias dos dias felizes
Não mais existem,
Mesmo que o passado
Nunca tenha sido enterrado.
Simplesmente,
Já não somos mais os mesmos.



segunda-feira, 13 de novembro de 2017

AFETOS PERPÉTUOS

Por onde andam os afetos desfeitos? As vezes penso  se desapareceram desfeitos em equívocos ou se, simplesmente, se perderam do objeto e ainda vagam por ai em busca de passado. Nunca saberei a resposta. Tudo que sei que fatos não se apagam. Seguimos em frente acumulando silêncios que nos definem, sustentando opções, decisões e um esforço constante para cultivar afetos perpétuos.




A DECADÊNCIA DO AFETO

Nossos vínculos afetivos são insuficientes e precários. Pois não fazemos do afeto nossa prioridade. Subordinamos o querer e o gostar ao egocentrismo a ponto de lhe privar da generosidade e do auto sacrifício indispensáveis a convivência afetiva.
Amar alguém é diminuir a si mesmo é descobrir-se alienado no outro da própria vontade. Mas quem ainda é capaz de se rebaixar a este ponto?



quinta-feira, 9 de novembro de 2017

VIDA DE CASAL


É estranho como muitos casais passam ao maior parte do tempo de seu relacionamento em desentendimento. Pequenos e cotidianos confrontos definem a relação, mas nem por isso deixam de ser um casal. Pelo contrário, é justamente isso que os define como um casal. Aprendemos a naturalizar os desentendimentos. Isso tem algo de positivo na medida que nos obriga a ser menos egocêntricos. Mas, por outro lado, expõe nossa incapacidade para lidar com o outro. Torna um relacionamento um jogo, uma disputa constante e um pouco sem sentido. Simplesmente não nos relacionamos através de afinidades e cumplicidades, mas pela necessidade do outro como um apêndice de nós mesmos. As pessoas cumprem uma função em nossas vidas. Este se tornou o espírito de um relacionamento sustentável.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

EROS E CONHECIMENTO

O desejo anseia pelo discurso tanto quanto o discurso anseia pelo desejo. Um enunciado é por isso como um beijo entre  o sentimento de uma verdade verbal e a certeza de um significado abstrato. Através dele o desejo se faz verbo revelando o conhecimento como uma espécie de afeto. Saber é um ato erótico, um ato de amor através das palavras. Ama-se aquilo que se sabe sob a forma de verdade.

DA SUPERIORIDADE DA AMIZADE EM RELAÇÃO AO AMOR

A confiança é a medida do amor. Mas nem sempre o amor é a medida da confiança. Sentimentos e emoções são medidos pela inconstância e pela incerteza. Onde há instabilidade não pode haver confiança, o que torna o amor inferior a amizade.


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

DESPEDIDA

Sei hoje todos os seus defeitos,
Seus limites, fraquezas e carências
E não posso dizer que lhe aceito
Deste teu jeito estranho
E tão imperfeito de ser você.
Só posso dizer com certeza
Que gosto muito de mim

Para gostar de você.

domingo, 5 de novembro de 2017

O AMOR COMO COMPAIXÃO

O amor paixão contém uma boa dose de egoísmo e idealização ,  por isso está fadado a frustração. Em sua forma fecunda o amor é compaixão, é uma paixão com o outro, onde abre-se mão de si mesmo pela construção de um estar junto. Raramente o amor é vivido nesta forma, que longe de conduzir a felicidade, leva apenas a mansa agonia do estar lado a lado  através da vida. Não existe convivência que não nos tire a liberdade e o interesse próprio em alguma medida.

A SOLIDÃO DO PENSAMENTO

Pensar é uma forma de estar sozinho. É preciso estar distante dos outros e até de si mesmo para dar voz aos pensamentos. Por isso a maioria das pessoas não se entendem. Elas tropeçam no pensamento umas das outras até o limite da reflexão.

CRIE GATOS

Alguns dizem que é melhor viver um amor do que ter gatos. O que essas pessoas não percebem é que os gatos são a única opção; Posto que apenas eles são reais. O amor é uma ilusão que nos destrai enquanto não criamos gatos.

A VIDA COMO ELA É

Depois de algum tempo
Você percebe que o amor
Não passa de um problema
E que a vida não tem solução.
Então, você aprende a seguir em frente.
É assim que amadurecemos
Neste grande deserto que é o mundo.
É assim que descobrimos a vida
Na sua mais trágica simplicidade de ser.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

SINESTESIA

O cheiro das cores me fascina
Em pura sinestesia do devir das coisas.
A textura do som reinventa a música
e posso escutar seu rosto
Como se fosse uma doce canção.
Sua presença me alucina
Dentro do corpo da imensidão
De um segundo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

SENTIR

Invente uma frase de amor.
Certamente ela será
Como qualquer outra
Que já foi dita.
Pois o amor é mero lugar comum.
O sentir não ama.
O sentir sente
Sem se deixar levar
Pela ilusão do desejo.
O sentir ´um querer manso

Que se basta a si mesmo.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

AMIZADE

A vida nunca foi para mim o mesmo que foi para você. Entretanto, de muitas formas, somos parecidos na diversidade de nosso existir comum. Por isso, apreciando nossas distâncias, nos tornamos amigos no aleatório movimento de ser. Mas nunca seremos próximos, nem compreensíveis um ao outro o tempo todo. Sabemos que a amizade guarda em si um pouco de solidão. A amizade também tem seus silêncios.

sábado, 21 de outubro de 2017

O GATO E SEUS CAPRICHOS

Aprender a conviver com os caprichos e manias de um gato domestico torna a vida mais divertida. Talvez porque acabamos nos dando conta dos nossos próprios caprichos.

 Um gato nos ensina muito sobre nos mesmos no que temos de singular, de propriamente individual.  Leva-se algum tempo até perceber que um gato doméstico não é um animal de estimação qualquer, mas uma espécie de duplo de nós mesmo naquele campo sutil que define uma personalidade.

 Obviamente nada disso tem respaldo cientifico ou psicológico. É um saber irracional, mas demasiadamente obvio para quem desfruta da companhia de um gato.


SEJA COMO UM GATO!

Seja como um gato.
Cultive a indiferença elegante
Em sua relação com o mundo,
Seja curioso e cuidadoso
No lidar com tudo,
E, principalmente,
Seja independente

Em relação aos outros.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

NOITES DE FRIO

As noites de frio
nos obrigam ao abrigo,
a segurança e ao repouso
ou a um simples canto
de silêncio e solidão.
Noites de frio inspiram inercias,
silêncios...
por isso guardam a paz
como um aconxego
em um espaço intimo e vazio.

AMOR VIRTUAL

Seu amor era um pedido de socorro,
quase um grito
indiferente aos seus próprios motivos.
Para ela,
amar era um ato ilegível,
impulsivo e estéril
despido de todo sentido.
Era impossível corresponder
aquele amor
tão a si contrário.
Ela apenas amava
onde o amor não estava.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

DECEPÇÃO AMOROSA

Esperava que você me levasse a sério,
Que não fosse como os outros.
Tinha a expectativa que seriamos felizes
Compreendendo um ao outro
E não vivendo, como sempre,
Da ilusão dos outros.
Mas você era feita de mundo
Quase não existia em si mesma.
Logo entre nós se fizeram muitas barreiras
E inventamos distâncias.
Vivemos sobre o mesmo teto
Mas nunca nos conhecemos.

Nada tínhamos a nos oferecer.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

CASAMENTO

Casamento é quando duas pessoas condenam uma a outra  ao compartilhamento diário de suas misérias, de suas fraquezas e pequenas insanidades.  É quando a rotina entre quatro paredes se torna um prolongamento do nosso permanente estado de inaptidão a uma sociedade disfuncional. Mas pode-se ter filhos e levar este circo privado de horrores as ultimas consequências. É o que a grande maioria acaba fazendo. Depois disso, não tem mais jeito. É tarde demais para voltar atrás.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

CUIDADO COM OS PARTIDÁRIOS DO AMOR

O amor eleva a vontade a condição de absoluto.
Por isso não tem limites, regras ou ponderações.
O amor assusta.
Não é nobre ou sensato.
Mas selvagem e bárbaro.
O amor é típico dos animais,
Dos lobos da estepe
Que caçam comida e tempestades.

Tenham cuidado com os partidários do amor.

MIADOS

A sonoridade de um miado dentro do apartamento acorda minha sensibilidade. Posso escutar meu gato com todos os meus sentidos. Tenho um prazer estranho ao ouvi-lo. Seu miado me comunica qualquer coisa a mais do que linguagem. É como uma musica ecoando encantos simples de mera existência.


O miado define a presença do gato de forma magica. Nenhum outro animal é capaz de se comunicar de forma tão delicada e encantadora.

A INSIGNIFICÂNCIA DO EU

Transferências, translações e dependências definem nossas empatias para o bem e para o mal. Somos dependentes uns dos outros e, ao mesmo tempo, demasiadamente egoístas para admitir a centralidade do problema  relacional para definição da singularidade humana.

A codificação simbólica do real une o exterior e o interio em nós mesmos como um único momento da consciência das coisas. Isso torna irrelevante o problema do eu como centro da consciência, pois ele é , na verdade, a menor parte dela e só tem efeito na medida em que lida com grandezas impessoais como a linguagem, as emoções e a própria percepção.


Por tudo isso faz pouco sentido perguntar quem eu sou....

REENCONTRO

Depois de tantos anos ausente
Você voltou diferente.
Era outra,
Indiferente ao tempo da gente.
O que lhe dizer agora
Que o passado quebrou?
Somos apenas dois estranhos
Que se reconhecem,
Nativos de vidas bem diferentes.

Mas nossa distancia se fez reencontro.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017



HISTÓRIA DE AMOR

Nossos sentimentos emagreciam
Enquanto o amor morria de anorexia.
Não haveria, definitivamente,
Qualquer final feliz
Naquele deserto de nós dois.

Entretanto, tudo era alegria,
Descartável e efêmera fantasia,
Que nos brindava ao por do sol.

GATOS E ALIMENTAÇÃO

Gatos sabem que uma vasilha sempre cheia de comida é mais importante do que todo carinho do mundo. Por isso medem a relação com seus humanos pela qualidade de suas refeições. A ração deve ser constantemente renovada, como a atenção dedicada ao outro. É mais do que uma questão de alimentação, é uma forma de relacionamento. Cada um deve ser julgado pelas suas ações.



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

A ONIPOTÊNCIA DO DESEJO

Já diziam os dadaístas que a vida é uma farsa de má qualidade. Afinal, toda realidade não passa de uma quimera e a verdade é uma necessária ilusão, é apenas um estupido artificio humano a estabelecer falsas resposta ao abstrato problema sem solução que é o mundo.

Somos o irracional onipotente da vontade. Viver é compulsão, convulsão, sensação, apetite, desejo. Estamos condenados a esta falta de existência que nos leva ao fora de nós mesmos. Mas não existe o exterior tanto quando inexiste o interior. Tudo é indeterminação, movimento de um desejo absoluto que não me diz  o rosto, mas que me faz seu espelho opaco.
  


CORPO

As exigências diárias do corpo
Ditam o ritmo da vida.
Um corpo que pensa
Na medida que sente,
Em que desconjuntadamente acontece
Em diversos órgãos e processos.
Corpo limitado pelo pensamento,
Que se faz coisa que define o mundo.
Corpo percepção e representação,
Corpo que é
Mais do que o eu

Que através dele acontece.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017


GATOS CASEIROS

A companhia discreta de um gato preenche de vida a casa vazia.
Talvez esta seja a melhor maneira de não se sentir sozinho.
Gatos espreitam seus companheiros humanos.
São movidos por uma refinada  curiosidade.
Uma curiosidade que precisamos inventar em nós mesmos.
Afinal, quantas vezes não nos reconhecemos em nossos próprios atos?