quarta-feira, 27 de junho de 2018

DO AMOR AO ERRO


Sua realidade é pequena.
suas convicções e ambições são medíocres.
E sua presença é indiferente a tudo que existe.
Você é ninguém.
Apenas mais uma pessoa sem qualidades.
Mesmo assim,
Faz alguns anos,
Eu lhe falei sobre amor
Em uma noite quente.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

MELODIA

Enquanto a música toca
memórias acordam.
E há sempre um dizer que nos escapa,
Um silêncio que nos procura.
Mas não é o passado que a memória invoca,
É algum futuro que jamais será,
É um impossível que nos comove
Na melodia
Que diz o possível perdido,
Tudo aquilo que foi esquecido.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

A SINGULARIDADE DOS GATOS

Entre cães e gatos, prefiro os gatos. Eles se comportam como deuses sendo quase humanos. Cheios de vaidades, vontades e manias.
Mas os gatos superam o  humano. São espertos demais para sucumbir a ilusão do mundo verdade. Não vivem para a realidade, mas para o mais profundo da vida dentro de si que sempre acontece através do fora.

O SENTIDO DOS RELACIONAMENTOS

Tenho saudades do seu silêncio,
Do seu modo de nada dizer,
de ser apenas uma companhia.
O convívio não tem sentido.
É só necessidade de estar junto
Contra as dificuldades do mundo,
Contra nossas incertezas e angústias.
Relacionamentos são feitos de desesperos.
São a superação das ilusões do amor,
Dos beijos e dos segredos.

DEFINDO O DESEJO


DIZER A PRÓPRIA VERDADE

Dizer a própria verdade é um exercício esquecido de subjetivação. Já não há tempo para diários ou para qualquer forma de intimidade de si.
 
Estamos sempre voltados para a exterioridade dos outros e do mundo. Fazemos de nós mesmos exterioridade exibicionista. O narcisismo nos encanta como constante registro do efêmero da existência banal. 

Não dizer a própria verdade é estar sempre a margem do outro e das coisas. A sociabilidade contemporânea passa fortemente por este desencontro.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

SOBRE SUA ÍNTIMA REALIDADE

Não sei qual versão de você me encantou.
Pode ser que você nunca tenha existido como um dia eu lhe conheci.
Sua realidade sempre me escapou
E eu me sentia próximo do que em você é mais distante.
As vezes percebemos dentro de alguém
Uma outra pessoa que existe apenas como potência,
Como uma versão virtual desmentida pelo real.
Eis a essência de nosso tão íntimo desencontro.

INIMIGO ÍNTIMO

Conviver consigo mesmo é aprender a lidar com desejos, fantasias, caprichos e manias, que sempre exigem mais do que o possível. Aliás, é sempre difícil reconhecer o impossível.

Somos demasiadamente passionais, afetados por nossas convicções. Raramente nos damos conta da multiplicidade de coisas que definem nossa relação com o mundo e com os outros. Nossas multiplicidades íntimas obscurece o campo de visão.

Somos estranhos a nós mesmos.  Dentro de cada um de nós mora nosso mais cruel adversário. Mas raramente estamos dispostos a reconhece-lo.

sábado, 16 de junho de 2018

AMOR É NULIDADE

O amor funciona como a ilusão de que precisamos do outro, que alguém sempre nos  dirá a vida como uma força externa, como algo que vem de fora.

O maior risco do amor, enquanto forma de viver e perceber o mundo, é o perigo de se perder toda dimensão do dentro de nós mesmos diante da exterioridade da vida. Apaixonar-se é ser em alguma medida anulado pelo amor, pela sedução do exterior.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

ILUSÃO ROMÂNTICA

Transbordando do querer do outro afogou-se em seu próprio corpo.
Surpreendeu-se nada,
Um viciado no desejo de ser quem não era,
De viver o que não seria possível.
Queria ser perfeito para alguém,
Realizar fantasias.
Assim perdeu sua identidade
Sendo o par ideal  que jamais foi amado.
Sua vida não passava de uma confortável fantasia.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

DISTÃNCIAS


Compreendia o mínimo possível,
Embora escutasse mais do que o necessário.

Não havia qualquer diálogo entre nós,
apenas desencontros verbais.

Informações afogavam os fatos.
Cada um tomava por verdade
O unilateral de sua própria opinião.

As conclusões sempre estavam dadas de antemão.
Não havia possível solução para os nossos impasses.

Cultivávamos distancias em nosso convívio.


segunda-feira, 11 de junho de 2018

RAZÃO E SENTIMENTO

Sentir é uma escolha que nos acontece,
Uma eleição ou opção valorativa.
Não traduz qualquer emoção.
É pura razão.
Sentir é um laço cognitivo.
É o que faz sentido,
Um sentimento de alguma verdade
Que nos invade como ilusão
Contra o afetivo caos que sempre nos afeta.
Sentir é sedução.

domingo, 10 de junho de 2018

AMOR DE JARDIM

O amor não é o desejo do outro,
mas uma renuncia de si mesmo.
Amar é querer bem.
É prover....
Não é relacionamento,
É distância.
Amar é fazer viver
Aquilo que apenas existe.
É algo que acontece
Entre o eu e o mundo
E não entre as pessoas.
Apenas os jardineiros sabem do amor.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

IMATURIDADE ERÓTICA

Embora constitua uma dimensão importante  dos intercâmbios humanos, a sexualidade é cercada de pudores e silêncios. É algo que deve ser escondido e reservado ao campo do não dito.

Ao mesmo tempo, é também um tema sempre presente em nossas falas e imaginações.

Esta ambiguidade no trato do tema expressa o quanto não sabemos lidar com o sexo. Afinal, o ato sexual em nossa cultura é carregado de representações diversas que lhe extrapolam. É considerado inimigo de toda ordem e do bom senso. Pressupõe uma carga emocional, um investimento subjetivo, mesmo quando assumidamente praticado de modo casual entre pessoas que não pretendem construir laços afetivos.

Sexo é instrumentaIizar o outro servindo-lhe também de objeto. É uma desmedida que nos lança ao espaço aberto de uma subhetivação que não somos capazes de construir. Não somos educados para o sexo. Não sabemos viver nossos próprios corpos, nossos desejos. Apenas reproduzimos às formas normativas e representações socialmente estabelecidas na experimentação do desejo.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

DAS PALAVRAS AOS ATOS


Esquecerei tudo que lhe disse ontem.
As palavras passam
E o dito não muda a vida.

Os atos sempre falam mais
Do que qualquer palavra.
Eles não inventam verdades.
Não julgam.
Apenas nos afetam
No acontecer de suas consequências.

O dito, mesmo quando escrito,
Nunca possuirá a força de um gesto.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

APENAS UM DIA VAZIO

Hoje acordei do lado de fora dos meus afetos,
Totalmente vazio de sentimentos
E preenchido pelo tédio.
Habitava minha solidão
Como quem habita um castelo.
Não estava alegre.
Mas também não estava triste.
Apenas seguia minha rotina
Vazio de desejos
E contemplando o vento.
Nada queria fazer.
Nada tinha a dizer.
Apenas sentia o dia passando em branco.
Nem mesmo prestava atenção
Em meus próprios pensamentos.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

SOBRE ANIMA


Era o seu rosto que eu perseguia  através dos labirintos da imaginação, no encanto de cada namorada e amante que me enfeitava a madrugada.

Você que não tem nome ou  forma. Mas me assombra em devaneios e sonhos. 

Você que me ensina o impossível e a sabedoria dos tolos.

Sua ausência é a essência dos meus afetos. Meu corpo é seu doce fantasma.

TUDO É SEMPRE INCERTEZA

A existência é constante mudança. Nunca serão os mesmos lugares, as mesmas pessoas ou as mesmas circunstâncias. Nem mesmo o amor é sempre o mesmo e nada é digno de eternidade. Tudo que nos dá segurança ou significa certezas é frágil e perecível como a própria vida. 

sexta-feira, 1 de junho de 2018

O AMOR E O NADA

Entre o eu e os outros existe um nós. Ele é a indeterminação de um ninguém. Quem o conhece sabe em todos os rostos um mesmo anonimato. Somos todos para não ser. Eis o segredo sombrio do amor: o que conduz do um ao outro é a irrelevância.

Não somos mais do que um nada buscando afirmar-se através do nada dos outros. É nosso modo de conviver com o nada.