quarta-feira, 30 de maio de 2018

O INCOMPREENSÍVEL DE AMAR

Posso não gostar de quem me ama e amar quem me odeia. O amor nunca faz sentido. Ele é o absurdo elevado a condição de necessidade. 

Amar é o cúmulo da dependência daquilo que está além de nós. O outro nos nega, o  que  o torna indispensável a afirmação de nós mesmos.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

UM CASAL COMO OUTRO QUALQUER

Fazemos poucas coisas juntos.
No fundo falamos muito,
Mas nós comunicamos precariamente.
Compartilhamos apenas banalidades.
Somos como qualquer outro casal,
Nada nos faz especial.
Seguimos a vida juntos.
Tiramos fotografias,
Viajamos , jantamos,
Fazemos sexo,
Mas nada disso realmente nos define.
Não somos um casal o tempo todo.

sábado, 26 de maio de 2018

O SIMPLES INSTANTE DE UMA PAIXÃO

O instante instável de uma paixão gera intensidades,
Inventa momentos que oscilam entre a indiferença e a idolatria,
Mas é sempre a mesma agonia,
Aquela vontade de ir além,
De quebrar o momento,
O possível é o imaginado,
Em uma orgia cognitiva
Que nos embriaga a alma.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A AMIZADE COMO CARINHO

A amizade é um conforto quando se torna uma forma de amor, um cuidar do outro.

Bem querer alguém é a única forma de não estar sozinho dentro da solidão que sempre nos define como indivíduos.

Mas é raro um vínculo que transcenda o encontro, que se torne comunhão através de gestos.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

MAU QUERER


Ainda  que fosse possível,
Que não parecesse ridículo,
Eu não faria o que quero.
Não me renderia à vontade
Ou a potência do ato.

Mas não se trata de uma interdição.
É apenas  um tédio,
Uma falta de envolvimento
Com meu próprio querer.

Admito que não quero o suficiente.
Acho, mesmo, que nem me gosto o suficiente.

sábado, 19 de maio de 2018

AMIZADE E ESTOICISMO

O cultivo de si é um exercício árduo e solitário, mas povoado por misteriosos afetos, sentimentos e emoções que não cabem em qualquer relacionamento.

  O cultivo de si, entretanto,  também é uma forma de estar entre os outros, de cultivar amizades fundadas em prazeres rasos e  gozos profundos.

O mais essencial sempre escapa ao tempo concreto e quase não se percebe quando acontece.

A DIALÉTICA DO AMOR

O amor a si mesmo é um desejo do outro, não um amor ao outro. O outro é sempre um espelho com o qual dialogamos em nosso narcisismo ontológico.

Dentro de cada um existem muitas vozes que não se escutam, mas que ecoam na voz do outro. Por isso desejamos o outro para afirmar o desmedido amor por nós mesmos.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

O EU, O TU E O ABSURDO DA EXISTÊNCIA

A vida não é algo que temos, mas que compartilhamos com os outros. É isso que para mim define a existência como o acontecer de uma multiplicidade e simultaneidade de coisas e pessoas. 

A vida é algo que nos contém e ultrapassa. Mas é o encontro sempre renovado e reinventado do eu e do outro que faz o mundo existir. Há muita irracionalidade nisso. Mas o que é, afinal, mais absurdo do que a existência em sua mais brutal concretude?

quarta-feira, 16 de maio de 2018

RIVALIDADES



Tenho algumas mágoas como todo mundo.
Quem poderia me condenar?
Impossível estar de bem com todos.
Sempre carregamos antipatias e inimizades.

Os que tem mais amigos do que inimigos
Ou são fracos ou demasiadamente hipócritas.

Não nego e nem me importo com meus antagonismos.
Mas quando alguém de nossa eleição se passa para um lado adversário,
Fere o orgulho e a confiança.


terça-feira, 15 de maio de 2018

O OUTRO

O outro é sempre uma incerteza.
Pois nos julga como é julgado
E nos aprecia como lhe apreciamos
Embriagados de vaidades.
O outro nivela o eu e o tu.
Está em todos e em ninguém.
Sua realidade é o anonimato,
A banalidade do humano
Onde nos reconhecemos como espécie.
O outro é um barulhento silêncio,
Onde o insuperavel de nossas distâncias
inventam proximidades.

sábado, 12 de maio de 2018

PONTOS

Um rosto,
um corpo,
É sempre um ponto
Através de um plano.
Coordenadas,
Localização.
Viver é mover-se.
Os pontos se juntam
Contra o plano
Até formar um borrão.
Somos pontos,
Um simples exercício de geografia.

O EU E O OUTRO

O amor ensina a intimidade da solidão. 

Quanto mais nos relacionamos com alguém  aprendemos que somos únicos, que ninguém existe para nós.

 O outro sempre será o outro. E todo intercâmbio humano estabelece  uma distância do tu é do nós que define o eu . Um eu que em ser em tantas coisas é vários e não é ninguém, que pouco sabe do outro perdido em seus tantos duplos.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

CARÊNCIA

Existem pessoas que são tão vazias de autenticidade, que dependem do cultivo do afeto alheio para gostar de si mesmas.

A dependência do amor dos outros é uma fraqueza é uma fraqueza estranha. Não vale uma gota de solidão.

Um pouco de narcisismo não faz mal a ninguém.

AFETAÇÕES



Dos afetos poucos sabemos.
Apenas os sofremos
Em suas múltiplas intensidades
E objetivações.

Afetos que não são sentimentos,
Mas traduzem emoções.

Afetos que são através da gente,
Que perpassam experiências,
Que comovem,
Que agem,
Dentro de nossas próprias ações,
Inventando o eu e o outro
Como processo,
Como materialização de sentidos
E mundos.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

AMOR PLATÔNICO


Ela tinha um semblante triste,
Pouco poder de comunicação
Ou, simplesmente, não gostava de conversar.

Procurava sempre querer estar em outro lugar,
Não fazia questão de atenção.
Tinha o conforto de sua existência própria.

Era inadequada em ocasiões festivas.
Não gostava mesmo de socializar.
Mas apesar de tudo isso,
Cada gesto seu era elegante e encantador.


Havia um charme em seu modo de ser distante.

terça-feira, 8 de maio de 2018

ILUSÃO AMOROSA


ENCANTO E RELACIONAMENTOS


Pode-se descartar um relacionamento quando o vinculo se quebra. Jamais o afeto. Ele apenas perde o objeto e fica perdido dentro da gente em busca de outra sintonia. Por isso sobrevivemos a todas as decepções. A emoção investida a um relacionamento é a mesma que funda todos os encontros.



segunda-feira, 7 de maio de 2018

POR UMA ÉTICA DA SOLIDÃO E DA IGNORÂNCIA

Tão egoísta é aquele que busca a felicidade, que faz da virtude um artificio e da vaidade um caminho!

O mesmo pode ser dito sobre aqueles que tomam o amor como um objetivo de realização pessoal e social.

Os verdadeiros justos são os indiferentes, os que não comungam de qualquer crença ou ideal de virtude.

Apenas os que se deixam levar pela existência banal, pelas coisas pequenas e efêmeras, colhem o máximo da experiência de sua finitude.

Sabem que a solidão é liberdade e o amor uma prisão. E que não há nada mais tolo do que um sábio.
Apenas o riso deve ser a medida de todas as coisas.

SOBRE O DESEJO E O QUERER





O querer é a materialização fisiológica do acontecimento de um desejo que em sua essência é uma fantasia, um ato livre e autônomo de imaginação. Esta premissa psicanalítica vale a pena ser sempre repetida e apreendida de forma heterodoxa. Pois o contrário também é verdadeiro. O desejo sempre diz outra coisa diversa do querer e por isso o gozo e o prazer são sua interdição e frustração.

Não nascemos para a felicidade....


O ENCANTO DE UMA AMIZADE



Era um amor pequeno e discreto.
Um sentimento pouco levado a sério
Que se fortaleceu com o tempo.

Nunca virou casamento
Ou se fechou em cobranças e normas,
Nunca seria aprovado pela Igreja
Ou pela moral dominante.

Era apenas um encontro entre duas pessoas,
Um momento que se duplicava ao longo dos anos,
Inventando um outro de si mesmo.

Era um relacionamento que sempre se reinventava
Como uma profunda amizade.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

PRAZER E DESEJO



O prazer não se relaciona com o desejo de forma positiva, mas de modo destrutivo. Pode-se mesmo dizer que o prazer é o oposto do desejo e seu impiedoso carrasco. Afinal, o gozo é uma margem da morte e o desejo a afirmação virtual da vida em toda a sua plenitude.

Aquele que deseja sonha, elabora, inventa mundos.
Aquele que goza se desfaz no instante efêmero do gozo, se despersonifica.

O prazer é um vício pior do que heroína. Já o desejo é libertador.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

GATOS , CASA E SOLIDÃO

Voltar para casa depois de uma curta viagem e reencontrar minha gata é uma lúdica experiência de vínculo e afeto. Ela não expressa o quanto sentiu minha ausência com a desmedida euforia de um cão. Me recebe com miados que mais se assemelham a uma queixa do que uma saudação.

Me parece, de algum modo evidente, que eu fui para ela apenas uma ausência no pequeno território do apartamento. Uma peça perdida no tabuleiro da vida. Meu retorno faz a paisagem voltar ao normal, reequilibra nosso pequeno e concreto universo existencial.

AGENCIAMENTO

O afeto inventa seu objeto.
Ou, talvez, o objeto invente o afeto.
Só não se trata de desejo.
É mais preciso falar de um encanto
Onde é impossível distinguir
O objeto do sujeito
Na abstrata dualidade de um agenciamento.

MORADAS ABSTRATAS

Aprendemos a morar na vida um do outro. Nem sei explicar direito como aconteceu. Apenas os anos passaram e, contra todas as possibilidades, continuamos juntos.

Acho mesmo,  que por pura inércia. Embora você diga e repita, que tenha sido por determinação e teimosia.

A vedada é que, felizes ou não, ainda estamos juntos e não vislumbro outra possibilidade. Habitamos um no outro. Teu corpo é meu abrigo.