sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A CORRUPÇÃO DOS AFETOS

A corrupção dos afetos muitas vezes acontece através do amor.
Não é incomum a perversão do gostar, a instrumentalização do outro.

Há algo de não natural no desejo humano, algo de egoísta
e dissimuladamente sombrio.

Desconfio de quem ama,
pois sei o quanto o amor torna as pessoas estranhas...

VIDA DE CASAL

Podia ser diferente caso não fossemos tão iguais.
Mas a vida era aquilo...
um ato constante de improvisação .
Buscávamos as respostas certas
para as perguntas erradas
e evitávamos conclusões forçadas.
Éramos, em suma, um casal banal.
Duas pessoas perdidas em um labirinto
afetivo/existencial.
Não dávamos certo.

Mas era este o jogo...

ALÉM DO AMOR

Tudo de que preciso
é do teu rosto,
do teu sim ao meu lado,
enquanto me desfaço
na sua parte que me impõe um não.

Sempre estaremos juntos
pela metade,
pois o amor não nos basta,
não cabe se quer

no banal de um beijo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O ESPELHO DA PÓS IDENTIDADE

Ainda me lembro do espelho
onde você desaparecia
enquanto a realidade sangrava
abandonada nas ruas.

As ilusões do paraíso do amor
não lhe interessavam.
Bastava o espelho
onde buscava sua imagem
sem encontrar  nada
além de uma  pálida miragem.

Afinal, que rosto lhe definia?
quem era você sem o peso
de todos aqueles dias
vazios e descompensados?

eu lhe oferecia respostas.
Mas não era um espelho.

Você nem me notava.

POEMA EREMITA

Não serei o primeiro amor de ninguém.
Muito menos o ultimo.
Nem mesmo o melhor amante.
Prefiro minha própria companhia,
meus silêncios, meus  fatos,
contra a ilusão de que seremos felizes.

Já não tenho idade para sonhar
e devorar o céu com os olhos.
Não espere que eu me abrigue
em sua vida

nem mesmo por uma noite.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

ENCONTRO LÍQUIDO

Não havia amor naquele sorriso
nem sentimentos dentro daquele abraço.
Apenas um querer pequeno e banal,
o acontecer involuntário e contra o tédio
de um precário vinculo emocional,
algo ilegível e sem consequências.
Nunca fomos de compromissos.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

SAUDADE

Guarda pra mim um afago,
um afeto.
Quero seu abrigo
quando eu voltar,
reinventar o passado
em teus braços.
Não me esqueça.
Preciso saber tua saudade
onde quer que eu esteja.
Não me deixe sozinho

com meus silêncios.

DIALÉTICA E SUBJETIVIDADE

Menos é sempre mais quando se trata de intersubjetividade.
O outro pressupõe o abandono de si mesmo,
não como uma escolha, mas como uma necessidade.
Isso é o que nos limita, nos transforma.
Precisamos constantemente ser confrontados
com nossos impasses e impossibilidades.
De outra forma, jamais nos saberemos como atores do mundo,
nunca transcenderemos a fronteira do agora.
O outro é uma meta que nos condena a nos mesmos.

Não somos quem imaginamos...

O PRAZER DA AGONIA

Lá fora a chuva
e as formas cotidianas
do viver coletivo
desfilam inúteis.
Aqui dentro inventamos
artifícios,
sofro o peso da tua pele
arranhando meu desejo,
enquanto o prazer se revela
mais uma vez

como uma doce agonia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

UM POUCO DE SONHO


Enfeita o meu dia
com sua presença
deslocada do cenário diário
como se fosse um recorte
de sonho.
Algumas coisas precisam
ser ditas através do silêncio,
das exigências irracionais
de um abraço,
de uma vontade que nos transforme
na mais intensa imaginação
dos fatos.
durma comigo
enquanto a vida passa...


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A UTOPIA DA FUGA EXISTENCIAL

A verdade é que já sentia falta de muitas coisas que ainda viviam em minhas rotinas e não cabiam dentro de mim. Toda relação afetiva com pessoas, experiências e fatos cotidianos é ambígua, um misto de amor e ódio, prazer e desprazer. Estamos sempre querendo fugir do mais elementar de nossas confusas existências perdidas no tempo. Mas isso até agora se mostrou impossível...
;


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A FEMINISTA

Ela era apenas uma menina,
cansada de ser notada,
assediada e questionada.
queria passar despercebida,
livrar-se das segundas intensões
masculinas
e ser reconhecida pelas verdades
que carregava no peito.
Ela queria apenas ser uma mulher
contra todos os lugares oferecidos
pela atual sociedade...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ENCONTRO DESENCONTRADO

Tentamos conversar por meia hora,
mas nossas palavras não se encontravam.
Queríamos ficar juntos
e não apenas fisicamente próximos.
Não entendíamos toda aquela distância,
o silêncio que nos dominava.
Constatamos que vivíamos
em diferentes mundos,
que palavra alguma nos aproximava.
Apesar disso,
não desistimos daquela conversa
morna e sem sentido

por pura e irracional teimosia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

NIILISMO AFETIVO

Apenas durma comigo esta noite.
Não pense no dia seguinte.
Não busque futuros nestes beijos,
não acredite em coisa alguma.
Apenas compartilhamos nosso intimo degredo,
o absurdo de viver.
Vamos nos esquecer de tudo,
misturar nossas agonias.
Não espere que valha apena.

Não espere coisa alguma.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A SOMBRA DO DESEJO

A mais profunda realidade do amor é a perversão do desejo pela falsificação do querer. Somos todos conformistas do deleitável e do prazer pequeno. Tudo que buscamos no outro é o agradável de um afago contra toda miséria da realidade.


Me dirijo aqui exatamente aqueles que não querem me ouvir e consideram positivamente os laços  de afeto. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

MUDANÇA

Sentimentos mudam,
momentos passam,
e a vida segue,
apesar de tudo.
Por isso,
nada me prende a nada
e avanço sozinho no escuro
sabendo que a eternidade

pode durar apenas um segundo.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

AMOR PRÓPRIO

Durante alguns anos
meus dias estiveram perdidos
nos teus,
de modo que sei hoje
mais sobre os seus problemas
do que propriamente dos meus.

Não sei porque
tanto me abandonei entre seus braços.
Fui além de todas as necessidades
de um coração sincero e encantado.
Mas já é hora de me reencontrar,
recuperar tempos e sonhos.

Nunca é tarde para dizer adeus
e reinventar meu próprio caminho
buscando tudo aquilo que nunca

encontrarei com  você.

AFORISMAS SOBRE AMOR E DIALÉTICA

A diferença é essencial a  individualidade, é aquilo que a torna possível enquanto processo dialético. Não existe um “eu” que não tenha por objeto um “tu”. Isso é o mesmo que dizer que o “eu” não tem lugar em si mesmo, mas através do outro. O que o faz instável. Pois não existe um “tu” que não seja também plural e conduza o “eu” a sua pretensa unidade ao estranhamento constante de si mesmo.

@

O outro é nosso ponto de chegada e de partida.
Nunca se está realmente sozinho...

@


Amar é estar em agonia.

SEDUÇÃO

Eu poderia perder uma noite inteira com você.
Não pelo sexo, mas pelo jogo de poder.
Alguma coisa em sua postura me desafia
ao prazer de uma esgrima .
Preciso explorar seu mundo
me perdendo do meu
por um tempo.

Tínhamos tudo para não dar certo.
E isso me excitava.
O desejo é realmente uma coisa

muito louca... 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

EQUIVOCOS

Sei que fui ingênuo e desatento
a ponto de merecer
provar das ilusões do desejo. 
Inventei mentiras
para sustentar sentimentos.
Reconheço meus erros,
meus absurdos e minha miséria.
Apesar disso, não me julgo.
Sei que o mundo 
é feito de equívocos
e erros que deram certo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

SIMULAÇÕES

Muitos atos de carinho
não são inspirados no amor
ou em qualquer forma de afeto.
São mecânicas e automáticas reproduções
de uma necessidade de simular sentimentos
que não existem
como forma de socialização.
Nada mais natural do que abraçar
um desconhecido,
do que chorar com uma musica boba
ou uma comédia romântica.
Sentimentos não precisam fazer sentido,
nem se relacionar com a realidade.


ELEIÇÕES AFETIVAS E O DEVIR DA VIDA

As palavras certas sempre estão erradas, pois não passam de lugares comuns oportunamente reproduzidos a partir de nossa leitura parcial de determinadas circunstancias. Infelizmente só nos damos conta da relatividade da sua eficácia quando os contextos mudam, quando o encantamento de certas situações e vivencias se quebra.

Posso desdizer tudo aquilo que lhe disse um dia. Não porque mudamos, mas porque não nos sabemos mais da mesma maneira que antes e tudo aquilo que em determinado momento parecia adequado hoje revela-se um ocasional e sincero  equivoco.

Ao longo da vida, com raras exceções, nunca contamos com os mesmos interlocutores . Mudamos na medida em que as coisas mudam....


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

AUTONOMIA AFETIVA

Ultrapassei sentimentos
através de afetos vazios
e provei da redentora indiferença
de não saber mais dos outros,
de erguer minha cabeça
fora da multidão
e obedecer exclusivamente
aos meus próprios instintos.
Assim me tornei

mais digno de mim mesmo.

SALOMÉ

Salomé era uma garota comum,
banal e ingênua
no seu modo próprio de saber o mundo.
Ocupava-se apenas do superficial encanto
de cada momento.
Sonhava felicidades e chorava desilusões.

Salomé era pequena,
poucos a percebiam.
Não era bonita,
nem feia.
Apenas fútil e corriqueira.

Salomé certo dia
foi encontrada morta
nos fundos de uma boate

em uma madrugada fria.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

FIM DO AMOR

Acho que todo amor nasce sobre o peso do fim. Os amantes sempre se separam... Em ultimo caso pela morte de uma das partes. Mas é Sempre inevitável  a dissolução do laço. Amar pressupõe uma tensão e uma atenção permanente que cedo ou tarde não conseguimos mais manter ou que simplesmente se desfaz no desgaste inevitável do afeto.