segunda-feira, 30 de setembro de 2019

SER NINGUÉM


Não sou senhor dos meus atos,
Palavras e sentimentos.
Eles acontecem em mim
Na impessoalidade das reações.

Sou absolutamente  banal,
Assustaduramente comum.
E,  mesmo assim,
Não  sou como os outros.

Sou alguém
No meu modo de ser nada,
De sucumbir à multidão .

Existir não é importante,
Contrariando tudo que sei e sinto.

Sou o instante único de um vazio
Comum a todos,
E disso não posso fugir.

FORA DE SI


Desaparecer de mim
É um impulso absurdo
Que habita meus gestos.


Não  suporto ser um
Em  um mundo de tantos,
Estar preso a este corpo,
Inventando modos de amar,
De não  ser,
Através  do querer do outro.


Afinal, existir é paradoxo,
É  se perder de si,
Para saber da vida

através dos outros.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

VIOLÊNCIA, ENCONTRO E ATITUDE


A clara delicadeza de uma violência necessária.
Assim póde ser definida a meta de nossa determinação,  ânsia de vida, contra todas as circunstâncias, contra nossa impotência pessoal.

É sempre necessária alguma estratégia de agressão, seja para estabelecer limites entre o eu e o mundo, seja para não ser cúmplice dos absurdos da sociedade ou dos absolutos da razão.

Não somos definidos pela autonomia de um eu, de uma personalidade, mas moldados pela experiência das coisas em sua diversidade e vertigem. É o choque, o confronto, que nos define qualquer modalidade frágil de ser. A violência do encontro configura nossa realidade. Mas não se trata de reação, mas de interação. A interação, a mútua influência, é o que define aqui a violência como a experiencia de encontros, contatos e composições. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

AMOR E ÓDIO


Do amor e do ódio
Cada um de nós
Sabe um pouco
Na aversão e atração
Pelos loucos, tolos
E fanáticos mal esclarecidos.

Todos eles ensinam
Que uma grande dose de amor,
paradoxalmente,
Nos embriaga de ódio.

SER ALGUÉM

Abdicar da solidão  por alguém
É um sacrifio necessário,
Uma concessão a própria  sobrevivência.
Pois o eu é  o outro,
É  o que nos impede da felicidade
De ser ninguém
E nos obriga a um estado de dualidade com o mundo,
Abrindo mão  da indiferenciada experiência do nada
Para ser alguém.

domingo, 15 de setembro de 2019

MULTITUDO


Não  somos iguais,
Nem diferentes,
Somos absurdos
Uns para os outros.

Somos muitos
E , ao mesmo tempo,
Ninguém.

Mas entre nós
Cabem todos os mundos,
Inventa-se o caos e o múltiplo.

As partes transcendem o todo
Nos modos de vida que nos compõem.
Existimos,
Mas quase não  somos.
Vivemos uns através  dos o
utros
Em instáveis e infinitas  composições.

A vida é obra da multidão.

A MISÉRIA DO CASAMENTO

Na cultura partriacal um relacionamento não  passa de um contrato entre dois indivíduos dotados de direitos e obrigações .
Algo a ser sacramentado e controlado pela sociedade.

O casamento não  é  propriamente um arranjo livre inspirado pela caduca fórmula de amor romântico, mas um dispositivo de controle que assegura a transmissão  de um patrimônio. Pouco envolve sentimento. É  só  uma forma de perpetuar o clã e reproduzir velhos papéis sociais. Tal premissa continua vigente até  mesmo em uniões  homoafetivas.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

CONVIVÊNCIA

O AMOR não passa de um conceito abstrato. O que realmente importa é  a alegria de participar da vida de outra pessoa e isso definir nossa própria existência.

Esta pequena alegria  é  tudo que importa. Ela é  a única forma de superar a solidão. Habitar a vida de outra pessoa amplia nosso próprio mundo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

SOBRE O CERTO E O JUSTO


As convicções sobre o justo e o certo,
O peso da verdade,
Anima o juízo de todos.

Somos sempre perfeitos contra os outros.
Sempre temos justificativas,
Bons argumentos,
Ao contrário daqueles que divergem
Daquilo que  apresentamos como certo.

No fundo não se trata propriamente
De convicções,
Mas de conveniências,
Oportunismos e hipocrisias.
Aderimos sempre aquilo que nos delega poder.
nem que seja proveniente 
de uma inútil autoridade moral. 

domingo, 8 de setembro de 2019

FELIZES PARA SEMPRE

Faz meses que não  te vejo
E anos que não te beijo.
Morreu o amor
Para viver a amizade.
Mas só  assim
Fomos felizes
Para sempre.
Nunca será tarde
Para um reencontro
Banal e cotidiano.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

AQUELA MENINA QUE NUNCA MAIS VI DE NOVO

Ninguém escutava seus passos
Naquela rua poluída por gente.
Ninguém notava sua solidão,
Sua presença  indigente.
Havia muita fome em seus olhos
E palavras quebradas em seus gestos.
Mas o mundo não  lhe intimidada.
Pegava qualquer esperança no chão
E seguia sempre em frente
Na contramão  dos fatos.
Seu futuro era incerto,
Mas seu presente era intenso.
O mundo não  lhe intimidava.
Apesar de tudo,
Mergulhada em sua solidão,
Ela sonhava.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O AMOR COMO TERAPIA

Há algo de terapêutico  no amor quando ele se torna uma estratégia de invenção de si mesmo. Assim abandonamos a experiencia do outro como parte de um jogo de poder e controle, como uma disputa narcisista que se confunde com a dinâmica de um relacionamento. 

O amor é um grande trabalho sobre si mesmo que consiste em atingir certa disciplina e sensibilidade da experiencia de afetos.