quarta-feira, 4 de julho de 2018

ALGUMAS INÚTEIS PONDERAÇÕES SOBRE A DINÂMICA DOS AFETOS



Ser afetado por alguém, lugar ou coisa, é um estado emocional bastante diverso.   Pode ser positivo ou negativo. Mas, invariavelmente, o afeto nos coloca no polo passivo. Mesmo quando somos afetados pelo afeto de alguém.

Definitivamente, em todas as situações da vida, estamos sujeitos a afetos. Eles nos surpreendem em todas as partes variando de intensidade e importância. Pode-se ser afetado por um programa de televisão, por uma mosca ou por um crime. O café da manhã, pura e simplesmente, já nos afeta enquanto experiência.

O que importa é como em cada um de nós acontecem e se entrelaçam estes múltiplos afetos. Isso faz deles agentes definidores de padrões comportamentais que norteiam nossa vida emocional.

Mas se o relacionamento direto entre afeto e emoção é mais do que óbvio, não é fácil definir onde termina o afeto e onde começa uma emoção. Afinal, a emoção não é apenas o efeito de uma afetação. É o resultado de uma equação complexa que envolve representações, objetivos e associações diversas, que definem a valoração de uma situação concreta. Por isso as pessoas podem ser afetadas de modo bastante diferenciado diante da experiência compartilhada de uma mesma situação.

O afeto é o encontro de um dentro e de um fora de nós mesmos. Ele é uma coincidência objetiva entre o eu e o mundo. Mas, ao invés de afirmar nossa subjetividade, ele afirma justamente o oposto. O afeto funciona como um deslocamento do eu, pois pressupõe sua captura. Ninguém pode “produzir” artificialmente um afeto por simples decisão racional. Pode-se apenas sofre-lo.

Por isso me parece tão ridículo como usamos a expressão “vida afetiva” para nomear nossas relações pessoais e privadas. É como se a experiência afetiva fosse uma escolha, algo domesticável,  quando ela é exatamente o contrário de qualquer cultivo.

Somos prisioneiros de nossas afetações e não são raros os problemas e transtornos que as afetações nos trazem todos os dias.



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