quarta-feira, 25 de julho de 2018

NECESSÁRIA SOLIDÃO


Minha existência guarda muitos lugares desertos.
Neles não cabe o amor ou ego.

Há apenas uma solidão ontológica,
Um inacabamento existencial.

Grande parte de mim é feita de uma solidão essencial.

domingo, 22 de julho de 2018

SIMPLESMENTE PREGUIÇA


Quero a vida simples e nua,
Sem tempo para pensamentos,
Planos ou resoluções.
Apenas o momento aberto
Em rasa imensidão.
Nenhuma urgência ou febre de opiniões.

Sei que tudo pode ser simples e banal,
Quase infantil, como um bolo de chocolate,
Quando o prazer e a preguiça
Enfeitam a alegria de um por do sol.

sábado, 21 de julho de 2018

O AMOR COMO ESTADO DE CONSCIÊNCIA

Preciso substituir a asquerosa necessidade de ser amado pelo ato de amar, de experimentar o outro, as coisas, como parte de mim mesmo através do mundo. 

Preciso ser este mundo através dos tantos eus que me acordam o desejo. A indeterminação no espaço e no tempo é o próprio movimento de amar, de saber a natureza que me faz ser matéria viva, abstrata e concreta.

O amor é estar dentro das coisas através de si mesmo. É um estado de consciência.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O QUE É UM OUTRO INDIVÍDUO?





Não se pode explicar o que define o modo de ser de um indivíduo. O que é sua presença, sua atmosfera? Falo daquela soma de todos os detalhes que definem alguém. A voz, o rosto, o tipo físico, questões, gostos... São muitas variáveis juntas. Não é possível nem mesmo tomar isso como uma definição. 

Um indivíduo é simplesmente uma presença onde não cabem rótulos ou explicações. As pessoas são como são. E o que elas são é feito de muitos detalhes. 

Raramente percebemos com alguma precisão quem é aquele outro que se apresenta diante de nós. Nem mesmo sabemos quem somos e julgamos o outro a partir de nós mesmos, daquilo que de algum modo tomamos como familiar.  

O preconceito e outros males sociais nasce deste narcisismo  tão elementar que nos limita a percepção do outro como alguém distinto de nossas expectativas. 

EQUILÍBRIO FELINO



Ao mesmo tempo extrovertidos e introvertidos, gatos conseguem alcançar o perfeito equilíbrio entre curiosidade e desconfiança. Talvez por isso tenham a fama de criaturas difíceis de cativar.

Mas a verdade é que não são diferentes da maioria dos humanos: Medrosos, detestam situações imprevisíveis, gostam de estar no controle. Mesmo quando este controle não existe. De modo geral são adaptáveis a qualquer situação, seja para o bem ou para o mal. O comportamento de um gato é sempre reativo. Gatos não sofrem desarranjos emocionais. Na verdade, eles detestam.

INVENTE A SI MESMO

Cada um inventa sua própria história.
Não importa a simpatia ou afinidade que às vezes nos aproxima.
Cada um estará sempre preso a sua própria história.

Eu te escuto,
Você me escuta.
Depois esquecemos
E seguimos vazios pelos nossos próprios caminhos.

É preciso saber o próprio destino,
Evitar afogar no encontros

Que nos reduzem ao coletivo.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

MEMÓRIAS

Vivo na companhia de antigas lembranças,
Sempre passeando pelo passado,
Tentando descobrir algum resto de futuro abandonado.

Para mim os anos não passam.
A vida segue perdida no tempo
ausente do ontem e do hoje.

Frequentam meus dias muitos fantasmas,
Muitas  saudades de amor e amizade,
De partidas sem despedidas,
das quais poucos ainda  lembram
e menos ainda sabem.

Tudo sempre está por acontecer
e nunca mais será....

TEMPOS BÉLICOS




Vivemos tempos de divergências. Sejam elas afetivas,  privadas, ideológicas, estéticas ou até mesmo higiênicas. Agora, mesmo tudo que converte conduz a conflitos. Nada é mais tão simples. Nos relacionamos sob o signo das antipatias.  Mesmo os amigos mais chegados as vezes irritam, exigem distância. Como nunca antes a solidão se tornou um refugio  e uma necessidade, apesar de nossas tantas dissociações internas.


terça-feira, 17 de julho de 2018

A AGONIA DE AMAR

O amor é sempre o que será.
Guarda uma urgência de eternidade,
Uma vontade de impossível,
Que contraria a felicidade.
O amor se alimenta do futuro,
É um vir a ser constante
Que luta inutilmente contra o tempo.
Amar nos ultrapassa e nos ensina agonias.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

DA AMIZADE


Como são raras as grandes amizades!
Elas dependem de uma certa indiferença à si mesmo,
De uma consideração cuidadosa do outro.

Pressupõem uma certa dependência suave,
Bem diferente de um vício.

A amizade é um modo de se acostumar a alguém,
de confundir-se com o outro na construção das diferenças.

AFETIVIDADE


terça-feira, 10 de julho de 2018

CONVERSA DE SURDOS



Em amistosas conversas de surdos,
Todos falam ninguém se escuta.
Elas ocorrem todos os dias,
Em todos os lugares.

Há quem diga,
Com muita maldade,
Que elas movem o mundo....

Eu acredito nisso.

RELAÇÃO VIRTUAL



Não me interpretem,
Não me interpelem,
Não me conheçam,
Não inventem intimidades comigo!

Não gosto de sintonias e proximidades.
Afinal, ninguém sabe o outro
E muito menos sobre si mesmo.

Apenas me compreendo em solidão,
Na precariedade de alguns poucos diálogos,
Quero estar sempre a margem.

Sei que sempre sou visto,
mas nunca compreendido.

SOLIDÃO


segunda-feira, 9 de julho de 2018

QUASE DESEJO


Desejar o desejo não me faz desejante.
Vale mais o sentimento de impossível
Que se impõe a vontade e a imaginação.
Assim, o desejo não gera qualquer acontecimento.
Pode-se mesmo dizê-lo interditado,
Ausente... embora formulado.

Ainda que eu queira,
Mesmo que eu possa,
Não é o que me cabe,
Do que preciso
E, muito menos,
Aquilo que dá sentido a este momento.




quinta-feira, 5 de julho de 2018

DESENCONTRO


Uma única frase errada pôs toda conversa a perder.
De repente já não era mais possível esconder:
Nosso diálogo era feito de convenientes mentiras,
Descarada vaidade e demasiada banalidade.

Era uma perda de tempo,
Um autêntico jogo vazio de pseudo subjetivação.

Como todo mundo,
Nada tínhamos a dizer.
E isso era um bom motivo para uma conversa.


quarta-feira, 4 de julho de 2018

ALGUMAS INÚTEIS PONDERAÇÕES SOBRE A DINÂMICA DOS AFETOS



Ser afetado por alguém, lugar ou coisa, é um estado emocional bastante diverso.   Pode ser positivo ou negativo. Mas, invariavelmente, o afeto nos coloca no polo passivo. Mesmo quando somos afetados pelo afeto de alguém.

Definitivamente, em todas as situações da vida, estamos sujeitos a afetos. Eles nos surpreendem em todas as partes variando de intensidade e importância. Pode-se ser afetado por um programa de televisão, por uma mosca ou por um crime. O café da manhã, pura e simplesmente, já nos afeta enquanto experiência.

O que importa é como em cada um de nós acontecem e se entrelaçam estes múltiplos afetos. Isso faz deles agentes definidores de padrões comportamentais que norteiam nossa vida emocional.

Mas se o relacionamento direto entre afeto e emoção é mais do que óbvio, não é fácil definir onde termina o afeto e onde começa uma emoção. Afinal, a emoção não é apenas o efeito de uma afetação. É o resultado de uma equação complexa que envolve representações, objetivos e associações diversas, que definem a valoração de uma situação concreta. Por isso as pessoas podem ser afetadas de modo bastante diferenciado diante da experiência compartilhada de uma mesma situação.

O afeto é o encontro de um dentro e de um fora de nós mesmos. Ele é uma coincidência objetiva entre o eu e o mundo. Mas, ao invés de afirmar nossa subjetividade, ele afirma justamente o oposto. O afeto funciona como um deslocamento do eu, pois pressupõe sua captura. Ninguém pode “produzir” artificialmente um afeto por simples decisão racional. Pode-se apenas sofre-lo.

Por isso me parece tão ridículo como usamos a expressão “vida afetiva” para nomear nossas relações pessoais e privadas. É como se a experiência afetiva fosse uma escolha, algo domesticável,  quando ela é exatamente o contrário de qualquer cultivo.

Somos prisioneiros de nossas afetações e não são raros os problemas e transtornos que as afetações nos trazem todos os dias.



terça-feira, 3 de julho de 2018

AMAR É SOFRER


Apenas aquele que sofre a existência de alguém pode falar sobre amor. Pois o amor é falta, um saber ausências. 

O amante guarda uma recusa de si mesmo através da afirmação do outro como ideal de alteridade. 

Insuficiente ver nisso simples idealização e projeção. Há algo de uma secreta e voluntária auto recusa no ato de amar.

 Por isso o amor não realiza  uma meta ou atinge um objetivo. Não há gozo que o satisfaça.  Ele exige sempre o impossível. 

O amor é em seu movimento sem tempo e espaço, sem alcançar realização concreta, pois vive de sua própria e infinita fome. Por isso quem ama padece. 

O amor é uma doença para espíritos jovens e ingênuos. É sempre o querer do outro como auto engano.