terça-feira, 27 de março de 2018

SORRISOS


Nada mais breve e inconstante do que um sorriso.
Dura quase nada, não deixa vestígios
E suas razões são quase sempre pueris.
Mas nem sempre ele é bonito ou nos faz elegantes.
As vezes é falso tal como a pose para foto.
Pode dizer simpatia,  desprezo,
Ou guardar qualquer coisa de loucura.

segunda-feira, 26 de março de 2018

O IMPERATIVO DO DESEJO


Ainda que seja tarde,
Que não tenha jeito,
Que não exista alternativa,
A vontade se volta contra os fatos
E exige o impossível.
Assim acontece quando não pensamos,
Quando queremos sem ter razão.


O VAZIO DAS OPINIÕES


Não me entendo com minhas próprias frases.
Muito menos com o dizer dos outros.
Diálogos são utópicos.
Desdizemos constantemente a nós mesmos,
Perdidos entre o eu e o mundo.
Hoje em dia,
Palavras de ordem e frases de efeito
Falam mais alto do que qualquer pergunta.


quinta-feira, 22 de março de 2018

SENTIR É DEVIR


Ainda que eu sinta,
Que eu sofra,
Que eu grite,
Que eu morra,
Nada vai mudar,
Nada irá nos fazer mudar...
Este transformar constante
De nós mesmos.

quarta-feira, 21 de março de 2018

NÃO PRECISAMOS DE AMOR


O amor não passa de um ideal inalcançável,
De uma forma de domesticação de nossos afetos.
Não precisamos de amor,
Apenas de sentimentos que nos conduzam ao mistério do outro,
Sem máscaras ou expectativas.


terça-feira, 13 de março de 2018

TEORIA DA DEPENDÊNCIA


Não me lembro de quando nos conhecemos.
O dia já se perdeu no tempo.
Nem mesmo temos o mesmo relacionamento.
O tempo mudou tudo.
Mas ainda estamos juntos.
Seja por inércia ou respeito ao passado.
O fato é que ainda estamos juntos.
A dependência mutua sustenta bons relacionamentos.



HORAS PERIGOSAS


Quanto mais tarde mais era a hora perfeita.
Silenciava-se a prudência,
O bom senso e as formalidades.

Tínhamos apetite para correr riscos,
Brincar a beira de precipícios,
E nada nos parecia impossível.


SER E CORPO


Sou este corpo que acontece
Dentro e fora da linguagem,
Através da fome,
Do desejo.

Sou este corpo
Que precisa de outro...
Para o qual existir
É dialogo,
Exteriorização,
Contra este grande silêncio
Que define a vida.

sexta-feira, 9 de março de 2018

IDEIA DO AMOR



“Viver  na intimidade de um ser estranho, não para nos aproximarmos dele, para o dar a conhecer, mas para o manter estranho, distante, e mesmo inaparente- tão inaparente que o seu nome o possa conter inteiro. E depois, mesmo no meio do mal estar, dia após dia, não ser mais que o lugar sempre aberto, a luz inesgotável na qual esse ser único, essa coisa, permanece para sempre exporta e murada.”

Giorgio Agamben in Ideia da Prosa

quarta-feira, 7 de março de 2018

CONTRA IDENTIDADE


Existo em um movimento inconstante entre o eu e um outro, entre a voz e o silêncio, que inventa ruídos, rangidos onde risos superam este ridículo dualismo mediante o não sentido.

Mas tudo retorna sempre ao vazio entre o eu e um outro que juntos criam ausências, que recusam um dizer-verdade e jamais se reconhecem ou desvelam em si mesmo identidades no espelho.


PARTÍCULAS


Somos corpos que afetam,
Que são afetados
E inventam juntos
Afogados em afeto
O próprio desaparecimento.
Somos o vazio de um diálogo
A produzir ruidosos silêncios.
O que mais poderíamos ser?...

O IRRACIONAL DA EMOÇÃO


Emoção é tudo aquilo que nos arrebata. É algo que existe por meio de um “através de alguma coisa inesperada”, que nos comunica uns aos outros através da transcendência de nossos limites contra nossas fraquezas.

Emoções  não se confundem com amor, é carência anônima e não entendimento ontológico que revela o simulacro passional que inconscientemente nos define.

terça-feira, 6 de março de 2018

O DIZER DO AMOR


Diga meu nome novamente no tom emotivo do afeto.
Diga palavras pequenas e intimas,
Invente diálogos de madrugadas,
Colecione frases ingênuas,
Até o ponto de eu saber todo o recheio da sua voz.
O amor só existe quando é dito.  

sexta-feira, 2 de março de 2018

A MEDIOCRIDADE DA SEDUÇÃO

A maioria das pessoas pelas quais alguém se interessa ou elege como possibilidade de relacionamento, não passa de uma idealização estética condicionada ao vazio de garantia do status do prazer erótico.  Somos muito medíocres em nossas eleições, frívolos e superficiais até o limite da crise de nossas lógicas afetivas.

Queremos sempre  o prazer do belo contra a realidade de nossas misérias biológicas  disfarçadas de dilemas existenciais.