A moça naquela janela parece sozinha e pensativa. No mínimo entediada,
fechada em seu mundo intimo distante milhas e milhas de imaginação do meu.
Nossos olhos se encontraram e mediram em silencio a distancia que nos
separava.
Nenhum dialogo, entretanto, me pareceu possível entre nossos mundos. Mas,
mesmo que intuitivamente, sabíamos que
compartilhávamos um mesmo sentimento
triste do acontecer das coisas em volta. Ela do alto de sua janela e eu aqui de
baixo perdido no caos da rua. vivemos em silencio o compartilhamento da
vertigem da lucidez ululante que define as consciências mais afiadas.
Talvez tudo isso não passe de um de devaneio meu. Talvez o olhar
daquela mulher debruçada e entediada em sua janela de apartamento não
signifique coisa alguma e ela estivesse ali só matando o tempo sem qualquer
pressentimento de mim. Como saber? Nunca se pode deduzir certezas de um golpe
de olhar.
Porem, as cumplicidades mais profundas entre os seres humanos são
mudas. Não frequentam palavras. Não passam de uma estranha intuição. Por isso os relacionamentos são
como um sonho breve que se apagam com o despertar do sol.

Nenhum comentário:
Postar um comentário