Tudo é tão transitório e instável no acontecer de uma existência
humana, que me parece inútil a doce ilusão de um amor que perdure o suficiente
para edificar uma vida inteira a dois.
É pouco provável que duas pessoas, entrelaçadas em subjetivo vínculo,
sejam capazes de estabelecer, ainda nos dias de hoje, laços mais forte que as
dispersões e dissonâncias que nos impõem o cotidiano e o mundo.
Não importa a pré disposição e boa vontade que tenham para suportar uma
a outra por tempo maior do que a
vigência da chama que provisoriamente aquece os corações que batem num
só compasso.
Sentimentos não perduram, pois o amor ama demasiadamente o próprio
reflexo e não se demora em qualquer peito.
Entretanto, como resistir ao embriagante perfume de um sonho?
Como não nos lançar, como felizes suicidas, nos sorridentes abismos das
ilusões do enamoramento?
O segredo é que a “lei do amor” não passa de uma codificação
linguística, de um jogo de linguagem onde a gramática que define o sentimento
empenhado desencontra-se dos atores que o realizam como superficial diálogo.