quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

DA CONTRA IDÉIA DO BELO

O belo não é bem,
não é bom.
Não é equilíbrio
ou perfeição
Acessível pela contemplação.

É só ilusão,
transição,
des-razão.

As vezes,
ele é 
até transgressão,
agressão,
paixão e revolução.

O fato é  que o belo não é bem,
não é bom.
É  ilusão
e falta de imaginação.

Pode ser relação,
possessão.

Há quem diga que o belo
só existe nos olhos de quem o vê,
não passando do curioso efeito
de algum tipo espontâneo de embriaguez
na mente de quem nele crê.

O fato é  que o belo
 não é nada daquilo
que defendia Platão.
O belo é uma mera invenção moral.
Uma convenção.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

O CORPO

O corpo é meu íntimo outro
e a melhor parte de mim .
Ele é vida, morte, discurso e segredo.

Movimento, palavra,
 silêncio, objeto
e sujeito.

As vezes quase não o percebo,
desperso em meus devaneios.

Mas o corpo é  a medida daquilo que sou.
Ele é o que me faz igual aos outros
através da singularidade que me distingue entre todos.

O corpo é o tudo e o nada
de ser um lugar dentro do tempo
além da ilusão de qualquer identidade na ilusão de uma  auto consciência.






MORTE E SAUDADE

Estamos todos condenados
a morrer de saudades.
Não importa se dos outros,
de um tempo, um lugar,
ou, simplesmente,
de nós mesmos.

Morreremos incompletos,
exilados e saudosos
de algum idealizado passado.

Morremos enterrados
em nossa auto consciência,
adivinhando ausências,
reinventando lutos e perdas
enquanto o tempo nos mata.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

ACIMA DE TUDO, ANTI FASCISTA






Sei que há momentos de ser solidário,
e outros de ser solitário e egoísta.

Há sempre de prevalecer,
entre eu e o outro,
todas as contradições do nosso bem querer
e o impulso mais anarquista.

Sozinho serei coletivista
e entre os outros 
individualista.

Mas isso não importa .
Pois, em ambos os casos,
serei ,acima de tudo, 
sempre anti fascista.







ENTRE PROMESSA E ILUSÃO



Há algo de carnavalesco,
de subversão, 
fantasia, sonho e delírio,
no enredo de nossos dias.

Algo de ilusão ...
um sentimento estranho
misturando  desgosto,
 esperança e tédio,
no labirinto de cada  existência
marginal e periférica.

Há  sempre, entre nós , alguma angústia vagando sem solução,
um desejo dessociado do gozo,
de qualquer ideal de redenção.

A vida, afinal,  é uma promessa
que nunca é cumprida,
uma eterna expectativa,
uma latência,
uma potência,
engasgada em nossa insignificância,
enterrada na solidão,
nos  silêncios e sonhos,
que dão cor e gosto ao permanente espetáculo de nossa  coletiva agonia. 

Não cabemos naquilo que vivemos,
no vagão do metrô e no ponto de ônibus,
e exigimos a liberdade de um eterno carnaval,
uma permanente promessa de fuga,
a liberdade da possibilidade 
de um quase possível amanhã sem dia.

A vida é a frustração desta promessa
que se sempre se renova.
Ela é uma grande decepção.
Mas ninguém vive
sem um generoso gole
de fantasia e ilusão.

Há algo de carnavalesco em nossas feridas expostas,
nas dívidas acumuladas
nas faturas do cartão
e falas vomitadas fora de qualquer contexto.




sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

ANTI EGO

Não me entendo com meus pensamentos,
nem me rendo aos meus sentimentos.

Sou incerto, volúvel,
e sigo impreciso ao sabor do momento.

O amanhã ninguém sabe.
Mas tudo que eu quero
jamais há de se tornar realidade.


Por isso, não vivo preso a desejos ou a falacia das identidades.
Sei que meu futuro é o silêncio
de um absoluto esquecimento.
Por isso me rendo ao sono,
a preguiça e a inércia
de uma renuncia infinita
de umvprofunda e permanente
Estado de torpor e evasão.




quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

EVASÃO E DESEJO

As urgências das coisas perdidas
 ultrapassam o tempo, 
o desejo e as necessidades. 
São um afeto que nos transbordam,
 que nos transportam para as paisagens mortas 
de um sonho antigo, 
onde tudo que hoje é morto ainda persiste, 
onde brilha o impossível
 e nos ofusca o inverossímel.

A realidade não existe onde pulsa o desejo
pois a vontade é mais potente do que a realidade.
Ela é um acontecimento além da vida  da morte e do tempo.


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

TEMPOS DIFÍCEIS

Todos nós carregamos saudades
que remetem a dias melhores
em tempos difíceis.

Afinal, a vida nunca foi ou será fácil.
Sempre teremos tempos difíceis
e dias impossíveis
enquanto o mundo gira.

Mas o insuportável é a saudade
dos mortos, dos vivos e desaparecidos
que, em tempos difíceis, 
nos enfeitaram a vida
e depois partiram
escrevendo na gente um grande vazio.