segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

ATRAVÉS DO ABISMO

Preciso ser digno das minhas demências,
 e impotências.
Estar a haltura  dos meus limites e desistências.

Preciso ter a coragem de não dar certo,
de escolher o errado.
Preciso ter orgulho dos meus fracassos,
abandonar de vez toda esperança,
 romper com o mundo,
viver, até às últimas consequências,
 a vertigem e a coragem da experiência do abismo.




O CHEIRO DO TEMPO

O gosto antigo de coisas novas me ensurdece.
Quase não escuto o futuro na porta da frente. 
 O passado tem sabor de urgência e avança contra o tempo presente.
 Grita memórias, esquecimentos e desaparecimentos, enquanto nos ignora. 
 As coisas antigas fedem a um  futuro sem esperança...

DESENCANTO

Despida de toda esperança e alegria
segui perdida pela vida
sem me buscar no âmago dos fatos,
sem me importar com a realidade,
com os outros ou a sociedade
e sujeita a toda forma de crueldade.

Segui como quem já está morta,
como quem não se importa,
como quem não existe.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

MELANCOLIA E ROTINA

Todo mês e todos os  dias,
é preciso pagar o aluguel,
comprar comida
e administrar  melancolias.

É preciso sobreviver
contra um mundo que nós faz morrer.
Trabalhar e perecer
todos os dias.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

DO LADO ERRADO DO MUNDO


Nosso futuro morreu prematuro.
Mas a terra ainda gira
e o amanhecer é certo 
do outro lado do mundo.

Ainda estamos vivos,
apesar de tudo.
Respiramos e temos pulso.

Mas amanhã não será outro dia
do nosso lado do mundo.








quinta-feira, 28 de novembro de 2024

VAZIO

Nada é sagrado
ou importa mais
do que o vazio
que me define a vida.
Absolutamente nada 
Pois este vazio
é tudo que me faz ser.

É o que sangra,
o que dói, 
 o que definha,
o que morre,
o que busca.

Ele é nossa banalidade absurda, quase absoluta,
onde nada é imaculado ou divino.

Ele é a falta que me devora,
que será sempre urgente,
incompreensível e impossível.




terça-feira, 26 de novembro de 2024

INÚTIL REGISTRO

Gravei sua voz
em uma fita BASF
querendo guarda-la para todo sempre.

Para todo sempre, entretanto,
 durou menos que um ano.

A fita, despida de eternidade,
nunca foi ouvida.
Depois foi perdida.
e hoje nem lembro 
do tom da sua voz.
Só sei que nos afastamos sem despedida.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

DEPOIS DO FUTURO

Ouça sem fazer escândalo:
Descobri, com dó no peito,
que não há, hoje em dia,
mais nada lá fora.

Não há esperança,
não há um segredo,
não há surpresas,
nem mesmo um medo.
Só há um inabalável silêncio 
e um vazio de morte.

É mais do que certo.
Não há mais nada
esperando lá fora.
Nada ...
Todos os futuros foram embora
descartando, de vez, qualquer idéia de História.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

EM BREVE...

Em breve o mundo será
qualquer coisa quase morta 
inerte entre os corpos
obstruindo todos os caminhos da vida.

Em breve estaremos tão sozinhos,
tão despidos de nós mesmos,
dos outros e do mundo,
que estar em sociedade
 será apenas um grande desastre
na intuição do cada vez mais soturno.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

DIALÉTICA DO SENHOR E DO ESCRAVO

Escravo da minha própria vontade
construí com amor minha íntima prisão.
Assim me fiz feliz prisioneiro do meu desejo
no cativeiro da minha paixão.

Nada disso foi para mim uma escolha.
Pois a vontade se impôs como absoluta necessidade
de realizar dentro se mim
tanto o senhor, quanto o escravo,
no empreendimento da minha prisão.






 


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

ESPERANÇA

Estamos sempre esperando
 pelo dia seguinte, 
pelo depois da hora, 
pelo próximo trem, 
pelo ano que vem e, 
 talvez, por qualquer coisa torta 
que nos leve de alguma forma além.

Estamos sempre 
ansiosamente aguardando
 pelo que não virá, 
pelo que não será,
 pelo que não volta, 
 pelo que não tem.

A vida passa, nos escapa,
enquanto esperamos inutilmente 
por algo ou por alguém.



A VIDA SEGUE SOZINHA



A vida segue sozinha,
introspectiva.

Segue vazia,
meio em agonia,
um pouco doente,
sem tempo pra gente
e sempre distraída.

A vida segue,
sempre em direção ao passado,
fugindo da sombra do próximo dia.
Segue contra toda esperança
na contramão das rotinas.

A vida morre,dia após dia,
seguindo sozinha e introspectiva.



terça-feira, 29 de outubro de 2024

ENTRE CONFORMADOS E DESAJUSTADOS

Há quem se conforme 
a uma vida morna,
previsível e comportada,
onde  tudo é fútil e descartável rotina.

Há também 
o mal estar, a fúria dos desajustados. 
Para eles tudo é profundo,
a vida importa mais do que os fatos,
e a realidade precisa ser transformada.

Entre conformados e desajustados,
é preciso que seja indagado:
O que fizemos do mundo?
O que fez de nós a realidade?








domingo, 6 de outubro de 2024

TUDO É DESCARTÁVEL

Tudo  é descartável.
Seja a dor, a verdade,
a identidade, o poder,
o amor ou a própria vida.

Tudo se arruína,
tudo se acaba,
pouco a pouco,
através do vazio
de tanta obrigação e rotina.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

A INSIGNIFICÂNCIA DA EXISTÊNCIA


Para a maior parte dos meus conhecidos
eu quase não existo.
Para os mais íntimos
sou apenas aquilo que imaginam.
Para mim mesmo sou um desconhecido.
Para a eternidade,
minha existência é silêncio.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

PESSOAS COMUNS

Pessoas comuns estão por todas as partes
levando vidas que ninguém sabe,
enquanto fazem acontecer a cidade.

O Estado as reduz a população,
o patrão as considera  mão de obra barata.
Para o sistema  não  passam de consumidores, quase nada.

Pessoas comuns não cabem
nos números que definem a cidade.
Apenas dominam anonimamente a paisagem.
Pessoas comuns são quase nada.











domingo, 15 de setembro de 2024

MÓRBIDA NOSTALGIA

Queria poder fugir
para o meu passado
mais distante do instante de agora.

Deixar de ser hoje,
desacontecer com o passado,
confundindo a vida e a morte
na incerteza da memória.

sábado, 14 de setembro de 2024

RELACIONAMENTOS

Relacionamentos
não passam de um jogo 
entre o amor e o luto,
 o encontro e a despedida,
ou, simplesmente ,
entre o efêmero instante
de um beijo
e a eternidade da solidão.

Cada um de nós  está sempre de partida,
buscando qualquer estado de separação.
Seja de si, dos outros ou da vida.

 


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

LIBERDADE É NÃO SE IMPORTAR

Nada é  sagrado.
Nenhuma fé,
afeto, dependência,
divindade ou seita,
há de me reduzir
a um escravo.

Não sou preso a nada.
Não serei leal
nem a mim mesmo.

Tudo em mim é inconstância.
Sigo por aí,
entrelaçando acasos
e inventando laços
entre um infinito de despedidas.

Tudo passa,
nada importa.
Liberdade é poder ir sempre embora.
Lembrar, esquecer,
e não dar importância.








 



domingo, 8 de setembro de 2024

SAUDADE

A melhor parte de mim
morreu gritando seu nome
quando você já não existia.

O amor é a dor da vida
que dói forte como uma funda ferida.

REBELDIA & MELANCOLIA

Não sou movido por convicções,
certezas, sonhos e ambições.

Sou impelido por minhas renúncias,
frustrações e descrenças.

Não sou individualista,
e muito menos coletivista.

Detesto bandeiras,
palavras de ordem,
rebanhos e ideologias.

Uma profunda angústia
e uma raiva selvagem
Inspiram  minha tenaz rebeldia
contra uma vida
que não vale a pena ser vivida.

sábado, 7 de setembro de 2024

TENHA UM CHÃO

Tenha um um chão 
para dormir,
plantar feijão,
 criar animais
e cultivar sua solidão.

Tenha um chão
enquanto a vida passa 
sem solução.

O resto pouco importa.
Apenas tenha um chão,
um lugar pra morrer
e viver de ilusão.

APRENDA A NÃO SE IMPORTAR

Cada um tem um passado pra lembrar
e pouca razão pra se importar
com o futuro do mundo.

O tempo passa,
tudo acaba.
Cada um de nós
é menos que nada.

Aprenda a não se importar.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

FOME DE MIM MESMO

Não sei
quantas noites
cabem no meu silêncio 
ou quantos segredos
comportam meus vazios,
vertigens e empalidecimentos.

Há  uma parte de mim
que falta, 
que foge,
e me reduz a uma fome
que me consome.

Esta parte de mim ausente
é aquela que nega meu nascimento,
que pertence a morte
e se realizará plenamente , um dia, através do meu desaparecimento.

TEMPO E VELHICE

Tenho me perdido
na lembrança 
dos mortos da minha vida.

Pois moro agora em meus passados,
infâncias e décadas perdidas,
contemplando o que foi,
saudoso do que poderia ter sido.

O hoje ou o amanhã 
já não me importam.
Pois o que agora me resta
Inventa distâncias
e tem gosto de despedida.






terça-feira, 27 de agosto de 2024

PARA SEMPRE

O futuro parece próximo
 quando estamos 
distantes de tudo.

 É como se o tempo 
envolvesse o corpo
 em eternidades
 e a vida fosse, 
por um instante,
 além da vida
 e da morte.

É como se a gente
se embriagasse de tempo
entre a vontade, a ilusão  e o sonho
de um futuro que durasse pra sempre
transcendendo o fugaz do momento.


domingo, 25 de agosto de 2024

TALVEZ CHEGUE UM DIA...

Talvez chegue um dia
em que o céu 
não seja mais azul
nem o sol visível 
a olho nú.

Talvez chegue um dia
em que respirar
seja quase impossível.

Talvez chegue um dia
em que a razão e a civilização,
torne definitivamente insuportável 
o fardo de nossa condição humana.



quarta-feira, 21 de agosto de 2024

O OUTRO

É sempre um outro,
que me surpreende 
intimamente
no mais profundo do inconsciente.

É sempre um estrangeiro
que veste o meu  rosto,
que inventa meus atos,
atualiza o passado,
e desaparece aos poucos.

Há sempre uma sombra
onde meu ausente 
sepultou despedidas.


segunda-feira, 22 de julho de 2024

INDIFERENÇA

Não me importam os outros,
a sociedade, deus e o mundo.
Não me interessa a vida, a morte
ou o futuro da humanidade.

Quero saber apenas do meu sono,
da minha preguiça 
e  da minha demasiada má vontade com a realidade.
Pois, para mim, é sempre tarde,
é sempre nunca.
É sempre nada....





NO MUNDO DAS TELAS

No mundo paralelo das telas,
monetariza-se tudo.
Seja a fala, os afetos, 
a fome, o sexo, a política,
a saúde, a dor, a alegria,
 o conhecimento, 
a mentira, a verdade,
a fé e a humanidade.

Tudo tem preço,
 nada  tem valor
e todos falam de amor
como sobre qualquer outra mercadoria.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

ENVELHECIMENTO CONTEMPORÂNEO

Enquanto envelheço 
as crianças crescem
e se perdem em um mundo
que lhes devora.

O futuro,
envenenado pelo passado,
reinventa antigos absurdos
ressuscitando fascismos.

Talvez um fim do mundo
seja mais desejável 
do que uma morte solitária
para que a velhice não seja apenas
a feiúra revelada
de uma existência fútil, inútil
e quase desesperada.

Nunca foi tão necessário morrer
a morte do mundo.


quarta-feira, 17 de julho de 2024

REALIDADE, MUNDO E SAUDADE

A realidade de hoje
será superada amanhã.
Seja como mentira,
seja como verdade.
Pois toda percepção 
é questão de imaginação
e o mundo não é humano,
não tem deus ou razão.

O mundo é apenas o mundo,
algo além de nossa interpretação.
A realidade é sempre o que morre
e vira saudade.
Ela é o corpo que sabe
enquanto bate o coração.

A realidade é nossa necessária ilusão,
sempre oscilando 
entre esquecimento e saudade.

sábado, 6 de julho de 2024

PÁGINA DE DIÁRIO

Hoje tudo amanheceu
 distante,
triste e inverossímil.

Talvez, eu tenha alcançado
o fundo do poço da realidade
e perdido o último e maldito traço 
de humanidade.

Talvez, mais uma vez,
o mundo tenha acabado lá fora
e ninguém percebeu que aqui dentro
ele nunca existiu.

Seguiremos semi mortos,
embriagados de novidades,
até que tudo finalmente apodreça
em meio a tantas atualidades.

O mundo, afinal, é um imenso cadáver.

DETERMINAÇÃO

Acostuma-te a querer
o que jamais poderá ser.
Habitua-se ao impossível,
a jamais se render.


Recusa seu  cotidiano de merda,
o inevitável e o horrível.
Se insurja contra a normalidade.

Faça da sua vontade
uma força mais forte
que o mundo,
mesmo que ela
não caiba nesta vida
que te mata um pouco
todo dia.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

DO LUGAR DO ENDEREÇO

O endereço ainda é o mesmo.
Mas não é o mesmo lugar
que um dia me fez sonhar.

Com certeza, eu também não sou mais o mesmo.
É um outro que agora não se reconhece
no que se tornou o lugar.

Afinal, o passado é somente uma sombra morta.
Não está em parte alguma.
É algo que não se pode visitar.
Ele nem mesmo está ali vagamente 
na lembrança que habita
dentro da gente.

O passado é o que nunca mais será.
É o que não é, o que não mais acontece naquele lugar.
É esta vontade de reencontrar o que foi perdido e esquecido,
de desaparecer em busca do outro lugar daquele velho endereço.




quarta-feira, 26 de junho de 2024

TEMPO E REALIDADE

A medonha e cotidiana 
realidade que nos oprime 
parece mais forte que o tempo.

Tudo nela demora
e sempre é tarde,
onde nunca é para sempre.

É quase insuportável 
nossa maldita realidade.
Nela somos parte daquilo
que odiamos
e todos os absurdos seguen
transvestidos de normalidade.

Nada é mais insano e vil
do que a nossa maldita e cotidiana realidade
que insiste em enganar o tempo,
em sobreviver na gente,
como se o tempo presente,
de tão estendido, fosse infinito.

Talvez, nosso amanhã nunca cheguei
e o passado nos mate antes do dia seguinte.








domingo, 16 de junho de 2024

O EU COMO ACONTECIMENTO

O eu acontece acima e dentro da pele
como fronteira entre o corpo e o mundo.

Ele quase não existe.
Mas mesmo assim define
nosso modo de estar 
entre as coisas.

O eu é essencialmente memória.
Mas viver é esquecer e ser esquecido.

O eu acontece entre o corpo e o mundo
na coincidência da vida e da morte.

Ele é, essencialmente, relacionamentos,
um devir coletivo,
um simulacro
e delírio instintivo.




sábado, 15 de junho de 2024

SER MARGINAL É SER NIILISTA

Cansado de ter dúvidas,
de formular perguntas,
de questionar respostas,
abandonei de vez
a busca pela verdade
e a ilusão de uma razão redentora.
Fugi a companhia dos rebanhos
e do abrigo dos luxuosos castelos do conhecimento.

Desisti de todos os artifícios de fé,
artimanhas da linguagem,
e da sagrado direito
do exercício da autoridade.

Destruí todos os ídolos da humanidade.
Abracei o radical niilismo dos cínicos e delinquentes.
Descobri que ser marginal
é, antes de tudo,
 ser niilista e individualista.


sexta-feira, 14 de junho de 2024

MATURIDADE

Não sei que fim levou a alegria,
 aquela vontade de vida,
 que nos movia 
 nos bons dias de infância.

 Não sei como,
 e muito menos quando,
 se desfez o antigo encanto. 

 Só sei que dentro de nós
 Morreu a criança, 
cresceu um adulto 
pesado de desesperanças.

Carregamos, agora, 
o fardo de um mundo injusto
 e a melancolia dos antigos cativos. 

 Nada é mais triste do que o desencanto da vida adulta
em um mundo de mortos vivos.

terça-feira, 11 de junho de 2024

ABSURDA ROTINA

ABSURDA ROTINA 

Passa a hora de acordar,
 dormir, comer, 
 trabalhar, comprar, 
ser, amar, 
 obedecer e crer.

 Passa o tempo, 
passa a gente. 
 Passa a vida, 
passa a morte. 

Fica um silêncio. 
Resta o esquecimento. 
 O mundo sempre segue em frente. 
Tudo é sempre efêmero, urgente 
e completamente inútil
como a rotina que nos esclarece.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

A REINVENÇÃO DOS CORPOS

Reivindicamos a lúdica nudez
que nos faz sonhar,
que liberta o corpo da prisão moral,
da ilusão da alma,
e ensina os prazeres como prática de liberdade.

Sucumbiremos as exigências de nossos próprios corpos
conectados na experiência de descobrir e reinventar o mundo.

Tudo que somos é natureza.

domingo, 9 de junho de 2024

A BOA IGNORÂNCIA

Onde tudo é informação,
artifício, técnica e ilusão, 
próspera a mais culta ignorância,
os jogos de retórica 
e simulacros da propaganda.

Onde a sabedoria está a venda
e os sábios só sabem sobre dinheiro e hierarquias,
não esperem nada dos livros e academias.

Melhor render-se a boa ignorância 
dos descrentes, desiludidos e niilistas,
que não se curvam a autoridade
das religiões, ciências e mídias.

A vida é uma aula de liberdade
onde todos aprendem sempre
o que ninguém nunca ensina
contra os códigos de massificação e disciplina.






sexta-feira, 7 de junho de 2024

VIVER É SOLITÁRIO

Não importa se você tem dinheiro,
família, amigos, religião,
ou, ainda, se goza de boa aparência 
 saúde ou ótima reputação.

Viver é solitário...
Todo mundo morre sozinho,
sem futuro, esperança
ou brilho.

Viver é solitário...
Cada um está preso
a triste ilusão de si mesmo, 
dos outros e do mundo
enquanto o tempo passa
e nada tem volta.

Viver é solitário....






quarta-feira, 29 de maio de 2024

O OUTRO COMO MIRAGEM

Jamais existiremos plenamente uns para os outros.
Em nossos intercâmbios, laços e contatos, não passamos de pálidas sombras que se avistam, comunicam e se distanciam.

O outro é sempre e apenas a medida do si mesmo.
Somos incomunicáveis nulidades no devir coletivo da espécie onde quase ninguém se reconhece.

O outro é sempre o espelho do eu.

VÍNCULOS

Viver é saber
de algumas poucas pessoas
que me frequentam,
que me viram crescer, envelhecer
e que, talvez, eu veja morrer.

Tais pessoas me importam tanto
que são partem de quem eu sou.
Mesmo que eu seja ninguém 
e minha existência menos que nada.

Não imagino um mundo onde estas pessoas não existam,
onde eu precise saber quem eu sou
além do número do documento de identidade
e da ilusão coletiva da sociabilidade.

A melhor parte de mim
sempre será aquela
que vive nos outros
que intimamente me frequentam e habitam em comunhão e conflito.



 







segunda-feira, 13 de maio de 2024

O JOGO DA EXISTÊNCIA

Não tive filhos e
netos.
Não impus a terceiros
o fardo de uma existência.

Tenho contra o tempo,
apenas a solidão e o passado
como trincheiras de resistência.

Mas a vida passa,
o tempo fica,
no jogo sem regras
da imanência
onde tudo termina
em esquecimento.







sábado, 20 de abril de 2024

FATALISMO

Segui perdido
em um misto
de arrependimento e silêncio.

Mas tudo foi
como deveria ser
e nada havia a fazer.

As coisas são como são 
e ignoram os caprichos 
do nosso querer.
Chamo isso de viver....





sexta-feira, 19 de abril de 2024

O ESTRANGEIRO

Quero partir,
saber ausências e lonjuras.
Ser de nenhum lugar.
Não pertencer mais
a este tempo,
casa, família
ou cidade.

Quero em toda parte
ser um estrangeiro,
estar sempre de passagem.

Livre de identidades,
amizades,
convicções,
 bandeiras e verdades.

Quero estar sempre longe,
distante e além.
Nunca esperar por ninguém.

Livre de tudo e de todos
e sem o peso de um destino
Vou fazer e refazer meu caminho.


Quero só  partir,
ir por ali ou por aqui,
seguir Independente e sozinho,
até me perder da vida
Em meu próprio abismo
 desaparecendo sem cerimônia 
 através do silêncio da minha própria e incerta existência.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

QUASE NARCISIMO

Tenho cá meus defeitos, 
ansiedades e medos, 
como todo mundo. 

 Carrego rasas certezas,
 identidades capengas 
e um franco desprezo 
 por todo aquele
 que de mim é diferente. 

Como todo mundo,
 existo inteiramente 
para minha intima insignificância
e para minhas falsas urgências.

Paradoxalmente,
isso me faz único
como todo mundo.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

VIVER É VERBO

O que importa é fazer,
agir, acontecer
e, depois de tudo, anoitecer.

Viver é  não saber,
é querer, tentar,
 esquecer
e tentar de novo.

É nunca se arrepender
e sempre recomeçar.


É estar disposto 
a perder, não ser,
sonhar, imaginar
e, talvez,
até mesmo amar.

Viver é verbo,
ato, movimento.
Nunca será silêncio
ou o vazio de uma convicção ou o nada de um pensamento.

Viver é o subversivo movimento 
de constantemente vir a ser,
nascer de novo,
cada vez mais velho e inacabado.







quinta-feira, 11 de abril de 2024

INDIFERENÇA

Simplesmente, não me interessa,
aquilo que para você 
demasiadamente importa.

Não comungo do teus valores, amores e certezas.

Também não me afeta
o que você sabe, pensa e ignora,
ou os rumos da sua existência.

Nada que te aconteceu ou acontece tem para mim qualquer relevância. 

Moramos na mesma rua,
mas não vivemos no mesmo mundo
e nunca comeremos na mesma mesa.

Não temos um para o outro
a menor importância.
Jamais seremos amigos,
companheiros 
ou mesmo conhecidos.

Nunca serei seu próximo.
Sempre seremos definidos,
um para o outro,
pela insignificância.

Sou totalmente indiferente ao fato
de um dia você ter nascido.

Estamos condenados
a solidão e ilusão de nossa própria existência.