sexta-feira, 21 de abril de 2023

QUASE NOSTALGIA


Não posso
 fugir do presente,
visitar meus passados,
buscar uma melhor compreensão de mim mesmo,
Porque o passado não existe.
Ele se perdeu para sempre,
entre muitas versões de nós,
em absoluto silêncio,
em meio a absurda inconstância 
de todas as coisas.

Quanto ao meu eu antigo,
nem mesmo deixou vestígios.
Desapareceu do mundo
como se nunca houvesse existido.
Já o eu que atualmente me define,
apresenta-se como indecifrável enigma
figurando além de mim e do mundo
como um inesperiente e relutante ator
adivinhando um tempo perdido
onde a vida era mais simples
e no qual todos estavam vivos.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

SOBRE A DOR QUE NOS DEFINE


A existência
é um estado de luto
inaugurado pelo trauma do nascimento
e apenas a morte nos redime de tal sofrimento.

Ninguém pode medir, 
julgar ou saber 
a dor dos outros
sem saber sua própria dor
como o paradoxo de estar 
intimamente fora de si
e desfeito em mundo
ou perdido na insólita aventura
de viver como um outro .










sábado, 15 de abril de 2023

O TEMPO QUE NOS FALTA

Não temos tempo para ter tempo.
Nosso tempo é das coisas,
dos verbos, da ordem e do caos.

É o tempo morto do trabalho,
do lazer pré moldado, massificado,
que nos custa caro.

É o tempo do ego, dos outros,
da casa, etc. etc. etc.
É sempre um tempo
que rouba o tempo,
que nos adoece e nos mata.

Afinal, o que é o tempo,
o momento, 
o lixo acumulado como memória
que não nos diz os anos?

Não temos tempo para pensar nisso,
para viver a gente,
para escapar ao tempo
que passa na contramão da existência.




quarta-feira, 12 de abril de 2023

MATURIDADE EMOCIONAL

Nunca mais cantarolei comovido
 antigas canções de radio
 em frente ao portão de alguém, 
ou sonhei acordado 
com beijos doces e apaixonados.

 Superei todo comportamento
 romântico obsessivo, 
amores de verão, 
e namoricos de ocasião.

 Meu coração agora 
 é um musculo duro e monótono.
 Que bate em ritmo de tédio.
Não cultivo mais qualquer ilusão.


domingo, 9 de abril de 2023

MEDO

Há um medo vivendo em segredo
no fundo oco de mim.
 Um medo de morrer,
de continuar vivo,
de ganhar, de perder,
de tudo fazer sentido,
de seguir sem motivo
ou, simplesmente, desaparecer.

Um medo do que será,
do que não será,
e do que poderia ser.

Um medo de ter medo,
de ter coragem,
de ser e de não ser.

Um medo do mundo,
da sociedade,
de mim mesmo,
e do que não me atrevo
a escrever.



sábado, 1 de abril de 2023

A DOR

Aquilo que dói
sem remédio,
que apequena
e imudece,
é quase tudo
o que sou.

 É tempo
tatuado no corpo
em imagens de inércia e de dor.

Aquilo que dói
e em mim permanece 
é o que me acontece,
é quase tudo que sou,
na medida em que me torno
cada vez mais 
minha própria dor.

FRACASSO

Não existe um futuro
esperando por nós,
nenhum passado que justifique
a mediocridade do nosso tempo presente.

Somos o fracasso de nossas melhores apostas,
o pesadelo de nossos dias felizes,
em um mundo que nunca deu certo.

Não haverá redenção.