sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

DERIVA

Não há esperança, 
 lutas, buscas, 
ou respostas.

 Existe apenas a solidão
 Que cresce e nos devora
 até o limite do pensamento,
 da palavra e do gesto 
 imaginado 
no fundo escuro do quarto
 onde um corpo doente e impotente
 naufraga isolado na madrugada.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

SOBRE ESTAR VIVO

O desassossego de viver
não tem solução.
Estamos condenados a sofrer a existência,
saber a banalidade do prazer que embriaga os sentidos,
sentir a brutalidade da vertigem de nosso gradual desaparecimento,
e a indeterminação de ser um através dos outros.

Tudo acontece através do mais superficial  da pele,
do grito, do medo e do oco de qualquer certeza.

Viver é um permanente estado de tensão,
uma explosão contida.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A MALDIÇÃO DO PROGRESSO

Todas as coisas
do nosso pequeno e íntimo passado
estão irremediavelmente perdidas.
Foram apagadas pelo mudar natural das coisas.

Esqueça de vez aqueles dias.
Não guarde  memórias de quem fomos.
Hoje é o futuro que importa contra o passado que nos falta.

Precisamos seguir em frente,
sem tempo de morte,
condenados a maldição do progresso.

Os vivos sustentam o mundo.
Não pense na doença ou nos mortos.





domingo, 5 de fevereiro de 2023

IMPESSOALIDADE E AFINIDADE

Nossos passados contam os mesmos afetos,
rotinas e comunhão com os lugares e  objetos de nossa intimidade.
Não há originalidade em nossas infâncias,
ou no sentir de nós mesmos como viventes. No fundo, embora destintas, nossas memórias se entrelaçam na banalidade de um sentimento de época. 
Por isso não me sinto muito a vontade para reivindicar uma identidade. 
Somos todos cópias de cópias de qualquer simulacro.
É justamente está ausência de autenticidade que nos aproxima, que cria empatia, amor ou amizade.
O eu equivale ao outro. Eis a assombrosa premissa de qualquer estratégia de subjetivação.


sábado, 4 de fevereiro de 2023

POR UM MUNDO SEM LEIS

Nossa vontade não governa o mundo.
A realidade  sempre nos extrapola.
Então, não queira,
por mera vaidade,
que qualquer dever-ser
determine as coisas.

A vida não é moral
e, muito menos,
obedece leis.

O acaso sempre
nos desgoverna
contra todo narcisismo
e mania de poder.