terça-feira, 28 de dezembro de 2021

PREVISÃO

O futuro será uma noite fria.
Apenas uma noite fria
e solitária
onde nos encontraremos ansiosos
para esperar o amanhecer
em torno de uma fogueira e
desencontrados do mundo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

ALÉM DO FIM DO ANO

Pouco importa se hoje é natal,
depois fim do ano,
ou, tavez, fim do mundo.

Sei que o passado
não passa,
que o tempo é uno,
e que carrego dentro de mim
todas as marcas de ser
em um devir absoluto.

Sou ainda a criança 
que morreu em meu corpo
para parir o adulto,
o velho, e a morte.
Sou a lembrança do amanhã
que arde dentro de mim
como um futuro impossível
no definitivo esquecimento do passar dos anos.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

SEM ILUSÕES

Trago as marcas do impossível, 
as cicatrizes de amores perdidos,
e de todos os silêncios que me disseram a mudez do mundo.

Sou feito de interdições,
impotências, limites,
e desistências.

Mas nunca me iludi,
nunca esperei ser feliz.
Meus caminhos não carecem de destinos,
nem minha vida de vitórias ou soluções. 
Vencer é a ilusão  dos fracos.



segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

O JOVEM NA FOTOGRAFIA

Tenho saudades de quem eu era,
ou pensava ser,
nos dias intempestivos de juventude.
Mesmo que haja um desencontro
entre o eu e a fotografia,
entre o passado, a memória,
e a nostalgia. 
.

EXÍLIO ÍNTIMO

Saudades me calam o tempo.
Muitas ausências habitam a casa
onde me tranco em silêncio,
indiferente ao imediato e o agora
que decora as ruas.

Cada canto canta memórias,
afetos, e sonhos,
de uma época perdida
que mora em meus pensamentos
como um país  estrangeiro
onde meus pés se perderam.
Mas o passado é sempre outro
na imaginação de um impossível e antigo futuro
que não  cabe em qualquer amanhã. 


sábado, 11 de dezembro de 2021

MEU LUGAR

Meu lugar na vida
é o infinito de um grão de areia.
Pois o mundo é do tamanho do meu sentimento
e não  cabe no pensamento,
do mesmo modo que o mar
não  cabe em um grão de areia.




quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

SOBREVIVÊNCIA E CETICISMO

Não  guardo vestigios
dos meus antigos sonhos
de felicidade.
Aprendi a ser pragmático,
a viver, pura e simplesmente,
de realidade.

Há algo de feliz em ser triste,
embalado pelo mais transparente ceticismo.

Reconheço os limites do meu existir banal,
todas as minhas impossibilidades,
e me conformo aos meus silêncios,
sem esperar reviravoltas ou milagres.

Sobreviver a mim mesmo
é meu único  objetivo
contra o tempo que me ensina
a morrer sem motivo.




segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

LUTO E MUDANÇA

A vida não  é mais a mesma.
Alguma coisa quebrada decora  agora
os meus dias.

Já não sinto,
nem quero,
como antigamente. 

Nem mesmo espero futuros.
Tudo em mim é passado,
nostalgia de ser,
 pois a vida não é a mesma
e eu não  sei mais quem sou.

Só sei que alguma coisa mudou,
quebrou, morreu,
ou me enterrou.
O que importa?

sou apenas aquele rosto solitário 
que ainda vive além das fotografias
do antigo álbum de familia.

A vida mudou e a casa está vazia.