terça-feira, 30 de novembro de 2021

DEFINIÇÃO DE AMOR

O amor é tudo aquilo que dói. 
É tudo aquilo que nos faz sofrer,
que nos arranca de nós mesmos
na aventura do outro.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

SOCIALIZANDO A SOLIDÃO

Frequentar redes sociais é aprender a falar sozinho,
construir monólogos, ser invisível pela exposição, e gritar o silêncios. 
No mundo virtual  escutamos apenas aquilo que tomamos como eco de nossa própria voz.

SOLIDÃO VIRTUAL

Diante da tela estamos todos sozinhos e vazios de nós mesmos.
Nos tornamos nosso próprio artifício,
nosso maior simulacro,
nossa mais potente ficção.

domingo, 21 de novembro de 2021

METAFÍSICA DIGITAL

A doce burrice dos smatphones
mobiliza corações & mentes
reduzindo a vida a propaganda.
Tudo agora é artificial,
através das inteligências das coisas.
Toda opinião ou sentimento é banal no mercado das emoções.
Nossa humanidade desfila na tela de um comércio virtual
onde nossos rostos estão a venda.
Os dados falam nossos silêncios.
Ninguém mais tem razão 
e a verdade não passa de um raciocínio binário 
onde não  importa a conclusão. 
O mundo é  fluxo e incerteza,
uma equação sem solução. 
Melhore sua performance,
tenha um melhor desempenho.
Morra de forma saudável.



quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ROTINA E ESQUECIMENTO

Esquecer o dia de hoje,
todos os rostos sem nome avistados na rua,
o café da manhã,
as escolhas do almoço, 
o vazio da tarde morna,
os diálogos inúteis
onde ninguém diz nada,
e o abraço forte da noite
que nos silência.

Esquecer o lixo deixado na calçada,
as pratileiras do supermercado,
e as mensagens no telemóvel. 

Simplesmente esquecer,
ser apagado pelas próprias pegadas,
como se não tivesse existido
ou, simplesmente, desistido,
afogando-se no vazio
do sem sentido de um dia mais banal que um sorriso  de fotografia.



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho
havia uma flor semi morta
oferecendo ao pé um espinho.

Talvez, fosse o fim do caminho,
um convite a um jardim,
ou um sinal de deserto.

Talvez, fosse apenas um silêncio,
uma dor, um vazio
que se confunde com o caminho.







DESENCONTRO VIRTUAL

O imaterial contato virtual tem se tornado a mais perversa expressão da ausência. Pois faz do outro um fantasma, uma caricatura de si mesmo, na simulação de um encontro.
Nunca foi tão difícil estar realmente com alguém em um mundo onde os espelhos já não  refletem o rosto, mas o inventam como avatar.

sábado, 13 de novembro de 2021

CONTRA EXISTÊNCIA

Minha existência não atende pelo nome de vida
e nem se quer se conforma a consciência de um rosto. 

Ela tem sido qualquer outra coisa
além do consenso da multidão. 
Algo sem nome, assignificante,
sem verbete nos dicionários.

Ela é uma espécie  de queda perpétua de um corpo que nunca superou o parto
e busca o mar por instinto.

Minha existência é um estado falsamente infinito
 de medo e de espanto.





TEMPO MORTO

Meu tempo é ontem.
É sempre o distante,
da velha casa
que sobrevive na fotografia.

É a dor do instante
da presença fria das cinzas
onde antes um fogo ardia.

Meu tempo é o silêncio,
o esquecimento,
a inércia do que jaz desfeito.


MORRER DE PASSADO

Tudo que foi vivido
está perdido,
mas ressurge como ferida
através da nostalgia,
já que envelhecer é adoecer de tempo,
é morrer aos poucos
 através da saudade
que nos transborda,
nos transporta,
a intimidade dos dias antigos.

 
 


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

AMOR LIVRE

Amor não tem gênero,
O corpo não tem rótulos,
e a vida não  exige
comprovante de identidade.
Toda forma de amar 
é um ato de liberdade,
de busca pela felicidade
irredutível a qualquer binarismo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

MUITO ALÉM DA FELICIDADE

Tenho sonhado amores perfeitos,
finais felizes de sessão da tarde,
que não  cabem na realidade. 

Imagino o tédio da felicidade,
o quanto o ideal
contraria a mais profunda lei do desejo:
Não  te contente com a felicidade,
busque sempre o além do horizonte.


ÚLTIMO DESEJO

Espero antes do fim dos meus dias
reencontrar a inocência da infância, 
a ignorância mais sublime,
que os animais nos ensinam
e o mundo nos obriga a esquecer.

Não esperar nada do futuro,
viver de acasos
cultivando preguiças.

Ser livre, leve e solto,
sem saber de obrigações ou destinos.

Espero antes do meu último dia
aprender a vida além de todos os adjetivos
e ser feliz contra o tempo e as misérias do mundo.









VELHOS AMIGOS

Levo comigo algumas ausências.
Memórias de sobrevivência,
de encontros e de resistências.

Lembro velhos amigos
que partiram da vida 
e habitam agora o infinito
da minha saudade.

Parte de mim se perdeu com eles.
Outra segue em homenagem.




domingo, 7 de novembro de 2021

A FRAGILIDADE DO ENCONTRO

É preciso ter tempo
para estar junto do outro
contra a solidão e o tédio 
antes que o tempo,
a morte ou o mundo,
nos separe para sempre.
Tudo que importa é estar junto,
antes que seja tarde demais.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

O CORPO E A LINGUAGEM DO SILÊNCIO

O silêncio nos fala mais do que a voz humana. Aprender a escuta-lo é desconstruir todos os discursos, saber o inaudito do inverossímel, a realidade como ficção e solidão, na composição do gestos.
O corpo fala mais que as palavras que trocamos uns com os outros na confusão dos sentidos atravessados pela impessoalidade de uma vontade selvagem.