domingo, 31 de maio de 2020

OUTRO MUNDO

Eu quero um mundo
Que me proteja dos outros,
Que salve a todos
Do pesadelo de nossa humanidade.

Eu quero ultrapassar a verdade, 
As confissões da alma
Que aprisiona o corpo.

Eu quero um tempo
Que nos permita o cuidado
De fazer da vida a arte
De praticar liberdade.

MELANCOLIA E ALIENAÇÃO

Eu me invento no tempo incerto dos meus  silêncios,
Hiatos, abismos e afetos.

Eu me rendo ao vazio,
Ao sentimento de nada,
De falta de mim mesmo,
Que me define diante do mundo
Em estado de desabrigo.

Eu me invento na ausência do rosto,
No descartável existir que me consome
E me reduz a impotência de ser como os outros.
Eu me rendo,
E neste ato escapo de tudo.

sábado, 23 de maio de 2020

APRENDIZADO DAS COISAS

Tenho aprendido o silêncio das coisas,
O vazio do pensamento e imperativos da vontade.

Tenho aprendido a nulidade das minhas palavras,
O desespero dos meus desejos,
Em um mundo que não  é  meu,
Que me usa e esquece,
Sob a Razão na História. 

Tenho aprendido minha precariedade,
Minha finitude e fome,
No desespero de ser coisa.

CORPO & MUNDO

O susto de ser cérebro, mão,  pernas e boca,
No ato de inventar o mundo,
Define o corpo,
Seus afetos e capacidade de criar,
De produzir sentido  no dizer mudo das coisas.

A natureza nos ensina o Ser
Através  da didática do assombro,
Da  pedagogia  do desejo,
Que nos faz linguagem, intercâmbio e movimento,
No espanto de viver
Na contramão da falácia do sujeito e do objeto.

O Homem é  uma ideia morta.
.

sábado, 16 de maio de 2020

NOITE ABSOLUTA

A noite foi intensa,
De um silêncio profundo,
Na quase morte do mundo. 

Foi uma noite definitiva,
Absoluta,
Onde, simplesmente,
Nada aconteceu,
Mas foi possível saber  as distâncias 
Que dizem as estrelas no céu. 

A SOLIDÃO DA PALAVRA

Qual o tamanho de nossas distâncias?
Dentro de cada encontro
Dorme uma ausência
Um limite que diz a vida
Através da palavra.
Toda comunicação é  um ato de solidão
Que nos aproxima.