terça-feira, 31 de março de 2020

UM POUCO DE SEXO

Um pouco de sexo
Para enganar o vazio.
Depois sono e silêncio
Sem querer outro dia.

O prazer é efêmero, 
Banal e mecânico. 
Mas afasta o tédio, 
Relaxa o corpo
Sem poesia.

Um pouco de sexo.
Depois um cigarro.
Nenhum diálogo
E um suspiro de melancolia.



segunda-feira, 30 de março de 2020

ENTRE O EU E O OUTRO

Se é  através  do diálogo com os outros que nos tornamos quem somos, não  se deve precitadamente deduzir daí  uma proximidade. O outro é  sempre o fora de nós,  uma ausência e um mistério, disfarçada de semelhança e irmandade.
O que o outro nos ensina é  a insuficiência, a precariedade do eu, que torna possível qualquer relacionamento. Estamos condenados ao viver em rebanho, a dependência mútua e, entretanto, somos uns para os outros, apenas estranhos. 
Ninguém vive isolado, mas, ao mesmo tempo, estamos todos sozinhos. Entretanto, a fantasia e idealização do outro nos domina e faz dele nosso caminho.

QUE ESPELHO DE MUNDO É VOCÊ?

Qual o rosto da sua vida neste momento em que o silêncio nos despe a alma? 
Qual é a imagem de mundo que lhe transforma em espelho?
Qual é o outro que define você nas indeterminação do mundo através do múltiplo que nos acontece além  de toda identidade?

DESCOBRINDO A VIDA

Em virtual estado de quarentena , minha existência comunicou muda,  aos ouvidos das paredes surdas , todo existir possível no mundo. 
Descobri em total estado de isolamento que a vida era algo que não me pertencia, que não cabia em mim e se perdia por aí em uma multiplicidade absurda de manifestações e variações de si.

sábado, 28 de março de 2020

A ANGUSTIA DE AMAR

O amor existe onde a solidão  persiste.
Ele é  expressão de nosso isolamento ontológico,
De nosso condicionamento ao outro
Na experiência do ser.

Amar é  ter consciência do vazio
Que pulsa no ato de viver.

Apenas quem sabe sua angústia
É  digno da condição de amante.

domingo, 22 de março de 2020

TEMPOS DE CRISE

Hoje já não somos como ontem.
A vida mudou.
São outros os tempos,
Novas circunstâncias. 
O mundo desabou sobre nossas cabeças. 
Roubou de nós toda inocência,
Toda tolerância. 

Já não nos basta o futuro,
Queremos outra realidade
Onde não  caibam estes dias 
Perdidos de calendário
Onde qualquer beijo é impossível.

REINVENTANDO A SOLIDÃO

Aprendi a povoar solidões, 
Escutar meu corpo,
Saber a festa das paredes
E a vida secreta dos objetos.

Descobri mundos em meus pensamentos 
Contra os desertos de sociedades
E absurdos da humanidade.

Escutei a natureza com os ouvidos da imaginação, 
Até me ver desfeito no chão. 



quinta-feira, 19 de março de 2020

ESPERANÇA

Espero que tudo comece novamente,
Que nos surpreenda uma manhã  de sol
Contra esta falta de futuro,
Está angústia de agora,
Que rouba da gente a vontade de vida.

Quero que está noite termine
Antes que seja tarde demais,
Que possamos juntos seguir em frente.


quarta-feira, 18 de março de 2020

VÍNCULO

O vínculo do eu e do outro é co existência e silêncio. É  antes de tudo distância que converte em prisão a ilusão  de um eu isolado que não cabe em si mesmo. O vínculo é uma intuição do nada, da virtude do não  ser eu.

segunda-feira, 16 de março de 2020

MEDO E DESEJO


Há medo lá fora
e muita incerteza aqui dentro.
Nossa existência
nunca foi tão precária
E nunca viver foi tão urgente
no sem nome de um desejo selvagem.
Mas o futuro mostra-se indiferente
ao resto de nossas vidas.


O MEDO NÃO AFETA AOS AMANTES


O medo é o afeto dos fracos,
daqueles que não sabem lidar com a incerteza,
com os cotidianos abismos da condição humana.

O medo é privilegio daqueles
que não conhecem a febre do amor,
dos que fogem aos riscos e desafios
da simples paixão pela vida.

terça-feira, 10 de março de 2020

DEPOIS DO FIM

O tempo passou,
O amor definhou,
E seguimos em frente.

A vida mudou tanto 
Que não  lembra mais da gente.

Enterramos todas as nossas fotografias
Na lixeira do computador
E meu telefone esqueceu seu número.

As vezes lhe vejo na rua,
Mas já não reconheço seu rosto,
Nem lembro do dia
No qual se desfez nosso abraço. 

Só  sei que somos felizes
Um despido do outro
Nos erros de algum novo amor.





domingo, 8 de março de 2020

A VIRTUDE DOS SOLITÁRIOS

Os encontros são relativos,
Mas a solidão é absoluta
E nos  cativa na arte de viver.

Apenas os solitários 
Sabem o segredo
De uma boa companhia
E as malícias do bem viver.

quinta-feira, 5 de março de 2020

AUTO DESTRUIÇÃO


Esta fome que nos devora no banquete da vida,
é o amor em estado bruto,
em pleno e absurdo consumo
de sua própria existência.

Qualquer definição de amor
é uma confissão do caos
na experiência de qualquer agonia
Que nos apluma no desespero.

terça-feira, 3 de março de 2020

CONFIANÇA



Alguém  me disse que a luz das estrelas é fria,
que elas não brilham como parece
e que muitas estão mortas
na velocidade da luz.

Em outras palavras,
alguém me ensinou
a não confiar nas estrelas
como não confio em ninguém.

ESCOLHAS

O ideal existe entre aquilo que faço e o que deveria fazer. Ele é  sempre a consciência de um erro, do inevitável  fracasso inerente aos meus atos, revelando, assim, a fragilidade do meu querer.
A vida só  é  possível como tragédia, como consciência infeliz de si mesmo.

segunda-feira, 2 de março de 2020

O AVESSO DO DESEJO

Há uma estranha sabedoria na recusa,
No não  querer,
Que supera toda potência do desejo.

DIZER NÃO  nos deixa mais fortes,
Mais plenos de nós  mesmos 
E um pouco aliviados do peso do mundo.

Não  querer, portanto, não é  renúncia, 
É assumir a negação 
Como forma de relação profunda
Com a realidade e com os outros. 
É  saber distâncias na afirmação de si mesmo.

domingo, 1 de março de 2020

NOVOS CENARIOS DA SOLIDÃO

Ninguém vive mais a intensidade do espaço,  do tempo e do acaso.  A tela ocupou nossa imaginação virtualizando todos os nossos territórios existenciais. 

O outro já  não  existe mais, pois perdemos qualquer perspectiva de alteridade. Descobrimos um novo tipo de solidão, uma des-socialização radical no deserto da representação. Existimos em um profundo estado de perda da realidade e de mundo onde estar conectado é estar em hostilidade com o outro. Nosso mais íntimo vazio existencial nos serve agora de chão.