sexta-feira, 30 de agosto de 2019

CONFISSÃO FILOSÓFICA


Confessar aquilo que não tem nome,
Admitir o inadmissível de mim mesmo,
É meu maior desafio.
Afinal, não sou apenas esta ficção humana e cotidiana.
Meu corpo habita todos os reinos da substância,
Os quatro elementos e o imaterial da imaginação.
Não há em mim sentimento mais intenso
Do que a perplexidade de existir,
De estar diante do outro
E nele me reconhecer como algo estranho.
Sou presença, aparência.
Mas também sou éter e matéria ,
Sou em tudo aquilo que me escapa.
Sou este diálogo,
O silêncio e o nada.
Não  me diga quem é  você.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

RELACIONAMENTO ANIMAL


Eu e minha pequena gata de estimação existimos em mundos distintos. Mesmo assim, compartilhamos o mesmo espaço e fazemos parte da rotina um do outro. Ela mia eu falo e assim nos entendemos sobre tudo.
Qualquer relacionamento possui zonas de incompreensão. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

TELEFONEMA


Sua voz ao telefone me fez ter saudades do seu corpo,
Da sua presença no fundo da minha existência,
Quando não  cabia qualquer palavra,
E tudo era explícito. 


Não  havia entre nós
Nenhum mal entendido
Nas pequenas alegrias de fundo do poço.


Agora, entretanto,
Sua voz ao telefone,
Não  lhe traduz.
Tenho saudades do seu corpo...

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A TRANSPARÊNCIA DA DOR

Onde a dor é maior que o silêncio,
Tudo pode ser comunicado
Sem a ilusão de palavras.
Pois há transparência de afetos
Na urgência de um sofrimento
Que  esclarece
Tudo aquilo que nos devora.
A dor é clara
Quando compartilhada
Entre aqueles que a sofrem.
Nada une mais as pessoas
Do que o sofrimento

A AGONIA DE UM BEIJO

Não existe beijo perfeito
Ou definitivo.
Qualquer beijo é uma busca,
E tem gosto de utopia.
O beijo escapa no ato de beijar
Através do fato de ser beijado
Na suspensão do diálogo.
O beijo é mudo,
Vontade e angústia.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

EQUILÍBRIO



Equilíbrio é sempre diálogo.
Exige dois ou mais.
É no exercício do outro
Que se inventa a sintonia do ajuste.

Mesmo que narciso diga o contrário,
Ninguém é em si equilibrado
Alguém escuta narciso.

Equilíbrio é sempre diálogo. 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

HORA MORTA

Talvez um dia
Eu finalmente acorde
E saiba por intuição minha sorte.

Então  será  hora de viver,
De saber minha morte.
Neste dia
Sei que não  estarei sozinho,
Mesmo que desacompanhado.

Haverá dentro de mim
A presença  de um outro.
Serei ultrapassado por mim mesmo.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

SOBRE SEXO


Entre o mais e o menos
Não  há limite fixo.
Não  há lei que previna o excesso.


O intenso é  o mais,
A indiferença o menos.
Qual a medida, afinal,
Do sentimento?
Não há sujeito ou objeto,
Apenas processo,
Indistinsão entre o dentro e o fora. 
Como ainda posso saber quem sou?

Tudo transborda,
Tudo é mudança.
Existo em você
E quase fora de mim.


Seu corpo diz o meu corpo
No sentir que nos transforma
E nos faz outros.

domingo, 11 de agosto de 2019

NOSSO INSTANTE

A eternidade do momento  no qual nos conhecemos reacontece  todos os dias. Esta é a magia do tempo. Um momento contém toda a eternidade de nossas vidas. E isso só  faz sentido porque somos finitos. Precisamos aproveitar o máximo possível a singularidade deste instante, levar as últimas consequências o profano milagre do nosso encontro.

sábado, 10 de agosto de 2019

ATRAÇÃO E INTUIÇÃO

Atração  é  expressão do corpo entre intuição  e desejo. A paixão exige o outro pelo simples fato de que o eu se inventa neste ato. Pensar é antes de tudo desejo, relação e gozo. Mas como é difícil realizar está tríade!

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

SEUS OUVIDOS E MINHA BOCA




Seus ouvidos tem fome de palavras gordas.
Gostam de discursos obesos de significados.
Nada mata mais o apetite dos ouvidos do que conclusãos,
Respostas univocas e pontos finais.

Já minha boca, não sabe ficar fechada.
Vomita replicas e trepicas,
sem profundidade.
Quer apenas estender ao infinito nossa  discussão.

Seu ouvido e minha boca se completam
Mas nunca se entendem...
Nunca encontram o ponto certo da comunicação. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O LUGAR DO OUTRO

Não  é fácil conquistar um lugar diante do outro que não  seja o de escravo de projeções. Para  tanto é  necessário abrir mão de si mesmo e arrancar do outro a ilusão  de qualquer identidade.

Apenas na deriva compartilhada o amor é possível com a intensidade de um naufrágio. Aquele que ama está perdido em si mesmo afogando-se no outro.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

QUANDO O AMOR CANSA


Há dias em que não se ama,
Que acordamos vazios
Ou com o mundo dentro do peito.

Cansar faz parte do amor,
Pois o amor  transborda,
E o esforço amoroso desgasta,
Fere sentimentos, vontades e egos.

Ninguém esta realmente
A altura do amor.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

CONVIVÊNCIA



Conviver é existir conjuntamente,
É ser um organismo composto,
Varias existências em um único corpo social.

Conviver é transcender a banalidade de  existir
É ser multiplamente único,
Acontecendo  em sintonia
Através da harmonia 
Da busca do bem comum.


INUTIL LEMBRANÇA

O  amor passa,
Mas sempre deixa uma marca.

Não  há nada mais natural
Do que lembrar um amor perdido,
Mesmo sem ter motivo.

Afinal, amores não  voltam
Porque são lembrados.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A SABEDORIA DA SOLIDÃO


Solidão não é desamparo.
É o encontro do eu com o mundo.
É descoberta de si através do múltiplo que estrutura o real.

Estar sozinho é um modo de saber a vida em sua complexidade
Sem, entretanto, identificar-se com qualquer um de seus aspectos.

Solidão é consciência de si e dos outros
Sem a mediação de uma persona.

A DIMENSÃO SOCIAL DOS RELACIONAMENTOS


O amor reduz o múltiplo a dualidade do eu e do tu. Mas este é apenas  seu próprio modo de inventar um “nós”  no limite do social e do individual. Se o afeto compõe um vinculo dual, ao qual todas as demais relações ficam subordinadas, nem por isso ele deixa de ser expressão de uma pratica social/ coletiva, pois a dualidade dos amantes não existe sem a multiplicidade do nós. A busca de reconhecimento das relações  homo afetivas no plano coletivo é um bom exemplo deste condicionamento.   

Não há relacionamento possível fora das condicionantes de um meio social que define a própria possibilidade e formas de expressão ou protocolos  de um relacionamento possível. Deste modo, os  amantes gozam de autonomia relativa  em seus protocolos amorosos. A interseção entre o publico e o privado definem as praticas amorosas. Mas, em contra partida, é através do amor, da busca por uma autonomia cada vez maior na escolha das possibilidades de relacionamentos possíveis, que o eu e o tu redefine o nós.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

A MALDIÇÃO DO OUTRO


Não há nada de pessoal no amor. Apenas instinto irrefletido. Amar não passa de um imperativo da natureza. Reproduzimos um padrão impessoal biológico guando estabelecemos laços afetivos. Cada um precisa inventar seus outros internos e externos para sobreviver.

Estamos desde sempre condenados uns aos outros.