SEGREDO

Nosso momento guarda um segredo:

O tempo é sempre de novo o mesmo, todas as vezes que te vejo.

Pois ha algo de eterno onde fala o desejo.

Algo que foge, que escapa, e que a gente quase não percebe presente em cada cerimônia de adeus.

Quando se ama não existe tempo. A vida inteira cabe no intenso momento de um encontro que escapa na medida que nos consome, que nos supera.

Tudo foge. O segredo é como um vento povoando um deserto.

GRATIDÃO

O sabor da sua presença enfeita sempre o meu dia. Mas sou incapaz de expressar o prazer que sinto em sua companhia. As coisas importantes escapam a palavra e se perdem na gramática efêmera dos pequenos atos.

Afeto é movimento na tradução do encanto de outra existência. Sua presença é um devir que acontece através de mim.

QUERER

Querer é  conviver,
Encontrar e desaparecer,
Saber o perto no distante,
crescer...

Há sempre um querer que encanta,
Que une e faz acontecer.

Ele  atravessa, circula.
Muda e transforma.

Ele é entre as pessoas
Qualquer forma de prazer,
De dizer,
De estar sempre de volta.

O querer é uma dança....

BOAS LEMBRANÇAS

Boas lembranças não cabem em fotografias,
Não carecem de realidade.
Elas tocam o infinito.
Arrombam as portas do tempo
E transbordam a  existência.
Levam as últimas consequências
A experiência quase onírica de um acontecimento.

Boas lembranças não são registros.
São a eternidade de uma experiência
potencializada por um afeto intenso.

DO EU AO TU ATRAVÉS DO NÓS ENTRE ELES

O eu e o tu só existem através do indeterminado do nós. É o que nos faz sempre eles. 

A identidade só existe no dizer de si e dos outros quando somos todos.

Amor é isso: o indeterminado das identidades múltiplas estabelecidas à partir da posição de um eu duvidoso entre o singular e o plural.

EXCESSO

O excesso é mais doloroso do que a falta. Suporta-se o vazio, mas não há veneno pior do que a embriaguez de um prazer intenso e desmedido.

Aquilo que tomamos como ideal de felicidade pode trazer mais dissabores e dores  do que qualquer tristeza.

A IMPORTÂNCIA DA DISSIMULAÇÃO

A sinceridade absoluta é um desastre em qualquer relacionamento. Lidar com o outro é um jogo de dissimulação. É assim que negociamos nossas diferenças, que equacionamos o inconciliável de nossas vontades e impulsos.

Intimidade não é sinônimo de espontaneidade e a sinceridade é a mais inconveniente de todas as fraquezas.  Ela quebra o encanto de qualquer relacionamento. Apenas as crianças e os egoístas mais radicias carregam o fardo da sinceridade. A dissimulação é a base da sociabilidade e do bom senso.

DESEJO E NECESSIDADE

Os prazeres elementares,

Que beiram a animalidade,

Revelam o corpo

Em sua nudez cultural,

Traduzem a vida além de seus adjetivos.

O impulso impessoal da atração

Desnuda a existência.

Somos carne, sangue e desejo.

Nada mais do que isso.

 A vida é uma grande fome,

O império da necessidade
contra a ilusão civilizatória.

CARÊNCIA E VAIDADE

Qual a medida de nossa carência, de nossa necessidade de aprovação? Somos famintos de atenção, precisamos da admiração do outro. Somos vaidosos até a medula. É só por isso que acreditamos e falarmos de amor. Amar é um vício, não uma virtude. Não passa de uma estratégia de auto afirmação. Mas o que ou quem é este eu que tanto afirmamos?

AMOR PERFEITO

Nosso amor era perfeito demais,

Desagraçadamente ideal.

Era limpo, honesto, harmônico...

Fazia juz a todos os bons adjetivos.

Por isso não deu certo.

Estagnou e apodreceu em seu puro estado de perfeição.

ENCONTROS

VIVA!

Um segundo...

Por favor um segundo.

Quero sua atenção,

Sua aprovação,

Ou, ainda quem sabe,

Um pouco do seu corpo,

Da sua ação.

Não quero lhe impor palavras de ordem,

Não festejo verdades.

Quero apenas gritar o afeto,

A nossa existência e este instante.

Digo apenas que faça melhor,

Que seja melhor,

Naquilo que você

Demasiadamente já é.

A única mensagem aqui

Se resume em uma só palavra:

VIVA!
Tudo é superfície!!!

DAS DIFICULDADES DO AMOR

O amor pode ser duro feito uma pedra.
Pode conter desencontros e diferenças.
Afinal, como todos sabem,  aproximar os opostos, é uma de suas peripécias.

O amor, as vezes,  tem gosto de guerra. Já sabiam os deuses  antigos,  depois do tumultuado caso entre  Marte e Afrodite. 

Para que o amor seja constante, é necessário muito mais do que amar. É preciso ser mais  forte do que as circunstâncias que nos limitam a existência, que nos impedem de sonhar e nos faz relutantes diante do próprio amor.

O AMOR COMO LIMITE DO EU

O amor tem mais realidade na ausência do que na presença do objeto desejado. Não porque é uma falta, mas porque se faz , acima de tudo, como um ato criador de imaginação.

O outro é sempre a melhor parte de nós mesmos, nossa positiva forma de alienação. Existimos muito precariamente como um eu independente.

MUDANÇA

Algo mudou.

Não sei dizer o que está diferente.
Mas algo mudou.

Não sou mais aquele.
Mesmo que tudo pareça o de sempre.

Hoje a vejo com outros olhos...
Não lhe reconheço mais.

DOIS LADOS

Todo mundo tem um lado de dentro e um lado de fora. O último é a soma dos outros que nos frequentam, o primeiro o vazio que nos habita. Mas nenhum dos dois nos define. Somos a ausência contida entre os dois lados, um espaço vago, onde tudo transita entre o familiar e o estranho.  

Dois lados, duas medidas? Não sei. Tudo que sinto é que frequentando os dois inventamos formas de não viver, qualquer estado estrangeiro de ser.

BOA COMPANHIA

A única felicidade possível é ter alguém para contar diante das adversidades cotidianas.

Não estar sozinho é a única coisa que nos consola. Mas não é fácil encontrar boa companhia. Nós mesmos, geralmente, não somos boa companhia.

FRATERNIDADE E OPINIÃO

Não existe fraternidade gratuita. Apenas interesses comuns criam afinidades. Pois tendemos aqueles que nos são semelhantes na prisão de nossas identidades. São as ideias que nos possuem, que moldam nossas afirmações. Pertencemos a nossas opiniões, mas elas não nos pertencem. A fraternidade não passa de uma espécie de campo de força com um peculiar poder de atração, ela não passa de uma forma de sedução.

AMOR DE MARIA

As incertezas do amor confundiam Maria.

Tinha medo de não ser correspondida,

De não amar o suficiente,

De não se fazer amável o bastante.

Maria sabia que não tinha qualidades.

Que não seria o ideal de ninguém,

Que não se conformaria a qualquer relacionamento.

Mesmo assim Maria amava.

E como amava!

Sonhava um encontro perfeito.

Imaginava filhos, a harmonia de um lar.

Mesmo sabendo que famílias perfeitas

Enfeitavam apenas filmes baratos,

Que todo relacionamento era um fiasco.

Maria, no fundo apenas amava

Seu próprio corpo.

O amor para ela

Era o prazer de viver em PRAZER.

DIÁLOGO

ELA ERA UM BEIJO

Ela tinha um jeito de beijo.
Seduzia e chamava
Para uma estranha caminhada.
Nosso encontro era uma aventura,
Uma busca,
Onde só importava
O prazer de estar perdido,
A alegria de ser sem rumo.