terça-feira, 30 de abril de 2019

AFINIDADE


Todo encontro é dialogo. Mas nem todo dialogo é um encontro. Muitas vezes o dialogo repele, expõem a ausência de afinidades.  O dialogo só realiza um encontro quando há uma eleição mutua, quando duas personalidades se enlaçam, estabelecem um vínculo.  
Mas a afinidade é  uma experiência que não se explica. 

segunda-feira, 29 de abril de 2019

LIKES E VISUALIZAÇÕES




Em tempos de likes e visualizações, a identidade importa mais do que a mensagem. Já não há olhos ou ouvidos para o que não nos é intimo e familiar, para o que não agrada nossas bolhas de significações e premissas sobre a realidade.

Nos tornamos famintos de certezas e referências. O mundo agora é moralmente correto ou decadente segundo as diretrizes de nossas convicções. De uma forma realmente perversa, o tom afetivo de nossos posicionamentos ideológicos passou a condicionar nossos relacionamentos.

Em tempos de precariedade de relações, os vínculos passaram a ser uma questão de conveniência, de falsa empatia. Simplesmente não suportamos quem não é como nós.

Em tempos de likes e visualizações, o amor tem o mesmo status de uma conexão virtual.


domingo, 28 de abril de 2019

MÃOS DADAS

Não importa as especificidades de cada época histórica, sempre será tempo de andar de mãos dadas. 

Mesmo quando entendimento entre as pessoas é limitado, quando predominam conflitos e guerras, a necessidade de estar com alguém sempre é determinante.

É próprio do indivíduo existir entre os outros e caminhar de mãos dadas.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

A INTIMIDADE DO MAL


A invenção da aversão, a construção do inimigo, é sempre sintoma de totalitarismo. Trata-se de um eros invertido, de uma vocação negativa a obsessão pelo outro, que exige a destruição da própria sociabilidade pelo poder. Tal experiência acontece no mais intimo do cotidiano, através de nossos afetos sociais mais secretos.


quinta-feira, 25 de abril de 2019

SOBRE ESTAR COM ALGUÉM

Estar com alguém pressupõe um esquecimento de si. Isso é fundamental a uma boa convivência, a autenticidade de um encontro. 

Somos plenos diante do outro apenas quando somos ausentes de nós, quando a vida é maior do que a consciência ou o ego.
 
É preciso fugir aos limites do ordinário para se estar com alguém.

terça-feira, 23 de abril de 2019

FILOSOFIA DA SOLIDÃO

Estou sozinho. Justamente por isso, sinto falta de mim mesmo. Sei que existo no impreciso e abstrato espaço definido pela distância entre o eu e o tu.

Mas quando existo, não vivo. Então me recolho a esta estranha ausência que é estar em mim mesmo, despido de companhias.
Estou sozinho....mas não sou eu aquele que em mim sabe a solidão.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

ALTERIDADE

A presença do outro como uma necessidade cotidiana é o que define um vínculo afetivo. Mas só compreendemos de fato tal experiência quando de algum modo nos surpreendemos ausentes de nós mesmos, quando nos perdemos no diálogo mudo que é o mero compartilhar da existência através do  aqui e agora..

segunda-feira, 15 de abril de 2019

O INTEIRAMENTE OUTRO DO AMOR

O inteiramente outro de nós mesmos é personificado pela pessoa amada. Nela acontece em nós o mais profundo do impessoal de nossa condição pessoal.

É através do amor que somos afetados intensamente por aquilo que nos é mais estranho.

Longe de uma proximidade, o amor realiza a mais intensa das distâncias e ela é justamente a mais profunda das comunicações.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

SOBRE AMOR E AMIZADE


O cotidiano do amor é a amizade. Pois o amor só é possível como uma ausência que une duas pessoas em franca intimidade. Não há amor sem liberdade, mesmo que onde impere a liberdade, pouco espaço exista para o amor. Mas um amor que não realize a liberdade através da amizade, também não é amor.


segunda-feira, 8 de abril de 2019

A CURVA


Vejo a curva como o sorriso da linha reta.
Ela é o desvio,
O perigo,
Aquilo que não foi previsto.
A curva exige domínio.
A  linha reta sempre luta.
Mas no final perde.
A curva triunfa
E se faz o riso.
Já não há dois pontos para definir a distância.
A curva é sexy.
Ela é um encontro.

SENTIR É ESTAR AUSENTE

Meus atos não são expressão do que sinto.
O que sinto é abstrato,
Não traduz o querer,
Nem expressa a vontade.
Não sei se busco o prazer
Ou se vivo o desejo.
Há sempre algo mais
Do que a realidade.
Não tente me compreender.
Sentir é para mim
Um modo de estar ausente.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

SENTIMENTOS

Não tenho sentimentos. 
São eles que me possuem.
Sentimentos não tem rosto e o sentir acontece fora do eu.
Eu que só existe como função do discurso.
Nada está sob controle. 
Quem sabe dos seus sentimentos, não sabe de si. 
Não tente entender sentimentos...

quarta-feira, 3 de abril de 2019

A ILHA

Acumulei derivas e naufrágios,
Quase me afoguei no oceano dos outros,
Antes de descobrir a ilha da minha solidão.
Foi provando distâncias que explorei minha própria geografia,
Que inventei em mim mesmo
Um chão
E aprendi a povoar meus silêncios
A margem de tudo e de todos
Sem medo da imensidão.
 

terça-feira, 2 de abril de 2019

NEGÓCIOS E INTERESSES

Não acredito no interesse desinteressado dos altruístas. Prefiro lidar com a sinceridade dos egoístas. 

Negociamos nossos desejos o tempo todo. Qualquer relacionamento é uma barganha, uma espécie de comércio. Bons amigos ou amantes sempre sabem negociar. É isso que torna a vida comum interessante contra toda a bobagem do "amor ao próximo".

segunda-feira, 1 de abril de 2019

O AMOR COMO NEGÓCIO

Todo mundo gosta de um pouco de carinho.
Mas a atenção recebida sempre tem um preço.
Qualquer cuidado dispensado é um pedido de afeto mais do que um gesto comovido.
Quem dá sempre espera receber de volta. 
O amor é uma troca. Todos sabem disso. Mas poucos tem algo a oferecer. É raro encontrar quem esteja disposto a pagar o preço...

APENAS UMA LEMBRANÇA


Salvou-se uma lembrança.
Apesar do silêncio,
Ainda há memória.

Só não há afeto,
Qualquer significado
para a lembrança aflorada.
Persiste apenas um recordar que não transforma o tempo,
que diz um passado sem cores e sem sentimento.