quinta-feira, 28 de julho de 2016

A VERDADE DO AMOR

Não tire de mim este meu modo torto
De saber de você.
O amor exige algumas ilusões
E enganos.
Caso contrário não sobrevive.
Melhor evitar a realidade.
Vamos ser felizes.
Não precisamos saber os fatos
Ou as consequências da realidade.
Me beije, me ame

E sonhe comigo a eternidade.

SILÊNCIOS...

Os silêncios  transformam a vida
No vazio de certezas.
Sou filho das minhas duvidas,
Dos meus delírios e incertezas.
Lá fora a chuva cai mansamente
E o mundo parece distante
Em minhas impressões intimas
Do simples momento.
Já não vivo de pensamentos.
Mas do sentir e do corpo.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

UM PERDIDO NO OUTRO

Apenas vivemos juntos,
Um perdido no outro
E a deriva no mundo.

Somos um exemplo de casal,
Destes relacionamentos que acontecem
Justamente porque nunca podem dar certo.

Não tivemos filhos,
Não compramos casa
E nem mesmo temos um carro.
Mas todo o nosso viver é precário,
Ralo e mecânico
Como o de todo mundo.

Apenas vamos vivendo na gaiola das rotinas.
Sempre um perdido no outro.


terça-feira, 26 de julho de 2016

DESEJO DESFOCADO

O objeto de todo desejo é o próprio desejo.
Por isso pouco importa se é você
Quem eu quero agora.
Daqui a pouco pode ser outra.
Pois o desejo nunca se demora.
Desde que cheguei
Já estou indo embora.

Há muita gente lá fora.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

O IMPERATIVO DE AMAR

Da amizade ao amor sincero
Basta um tropeço,
Um gole de intimidade contra
A sobriedade, a sociabilidade
E os vazios existênciais.


Sempre buscamos o mais profundo
Dos nossos encontros vividos
Contra a superficialidade das trocas cotidianas.

Estamos sempre dispostos a empenhar o coração e a razão
Na reinvenção dos laços e sentimentos
Que nos edificam através dos outros.
Amamos por uma questão de sobrevivência,
Por uma absurda necessidade de nós mesmos.


ENCONTROS E DESENCONTROS

Muitas pessoas  passaram pela minha vida.
Da maioria nunca mais tive notícias.
De boa parte se quer lembro o rosto.
Imagino que muitos também
Já não se recordam de mim.
Viver é movimento,
Quase um  constante adeus.
Somos estranhos uns aos outros
N maior parte do tempo.
Apenas nos esbarramos nas ruas,
Anônimos e descartáveis
Enquanto seguimos de encontro

Ao nosso solitário destino.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

EGOCENTRISMO E RELACIONAMENTOS

Nem sempre sua companhia será para mim suficiente.
Intimamente apenas eu existo dissipado no centro do mundo
Tentando reunir todas as peças perdidas do meu existir modesto.
Quanto mais o outro se faz presente,
Mas nos abandonamos a nós mesmos.
Esta é uma antiga virtude que caracteriza desde sempre os humanos.
Diálogos sempre estabelecem distâncias
Na mesma medida que criam pontes

Entre nossas distintas existências.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

URGÊNCIAS

Há em qualquer parte do mundo
Uma vida limpa e em branco
A minha espera.

Preciso gastar o resto da  existência
Em algum canto de tempo novo,
Resgatar infâncias e manhãs de sonho.

Preciso encontrar  meu rosto
Fora do espelho,
Longe dos seus olhos.

Há uma urgência desesperada
De horizonte
Acordando agora em meus vazios.


terça-feira, 19 de julho de 2016

A DOR

Não houve ainda quem escrevesse uma gramática das dores.
Talvez por que dor não tem nome
E, apesar de suas tantas facetas,
Ela não passa de um só desconforto ontológico
Cuja intensidade varia conforme o caso.
A dor é sempre uma consequência,
Uma forma de passividade.
Talvez por isso nunca tenha voz.
Mesmo o falar da dor é ilusório
Pois a dor impede o dizer.
É um sofrer estático
Que nos revela a precariedade
Da própria existência.
A dor é falta,
É amor....


O PROVINCIANISMO DO AMOR

Amamos apenas o que de alguma forma é parte de nossa imediata existência. E não há nada de errado em relação a isso. A ideia de comunhão da espécie, de pertencermos à humanidade, não passa de uma formulação abstrata que nada diz sobre nosso dia a dia. Nos ignoramos o tempo todo nas ruas e seria insensato imaginar qualquer outra forma de conduta.

O afeto define aquilo que para nós importa e existe no mundo. Somos incapazes de olhar além das fronteiras de nossa experiência concreta ou saber sobre aquilo que transcende nossas vivências.

Amar é um exercício de domesticação da realidade, de estabelecer referencias que nos permitam significar nossas experiências através dos outros.  E quão poucos são estes outros...


AMOR ABSURDO

Ama apenas aquele que exige,
Que impõe seu amor a pessoa amada
Como um destino, uma obrigação
E um fardo.

Ama apenas quem é carente de si
A ponto de viver do outro
As margens do próprio eu.

O amor é para aqueles
Que impõem vontades,
Que sufocam,
Que pedem e imploram
Por demasiada atenção.


segunda-feira, 18 de julho de 2016

HISTÓRIA DE UM DESENCONTRO

Desencontrado do mundo
Aceitei seus passos
E segui em seu caminho
Como se fosse o meu.
Abandonei a mim mesmo
Para viver de suas certezas
Até aprender a viver a sombra da sua voz.
Amar era mais importante
Do que ter uma identidade.
A felicidade era não ter mais o trabalho
De ser inteiramente eu.
Assim foi até aquele dia  em que descobri atônico
Que você continuava a ser apenas você
Contra o não lugar de todo sentimento
Que nos defini a  vida comum.
Nosso amor nem mesmo existia
E eu fui apenas em meu intimo desencontro

Com o mundo.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

SENTIMENTO E OBJETIVIDADE

Todo sentimento é uma questão de atribuir valor. Assim sendo, não é muito preciso o modo como sentimento e emoção, ou passionalidade, se relacionam.  Pois o sentimento é uma eleição racional de um objeto como significativo ou importante em um dado contexto subjetivo. Podemos valorizar algo a partir da projeção de determinados conteúdos que consideramos qualitativos, mesmo quando o próprio objeto extrapola a significação que unilateralmente lhe atribuímos.  Sentimento e significado são duas grandezas inseparáveis que transcendem qualquer “objetividade”.

terça-feira, 12 de julho de 2016

A FEBRE DO ENAMORAMENTO

A noite hoje parecia  desnecessária.
Ainda fedia o perfume do dia
Sobre minha pele
E as urgências eram maiores
Do que o sono.
Dentro de mim dançavam expectativas,
Brincavam ansiedades
E deliravam alguns sonhos.
Já não vivia da realidade
E tinha as vontades de uma criança.
Teimava em querer sempre a luz do dia
E aquela velha companhia.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

REJEIÇÃO

Não estou pronto para me enganar de novo
Buscando em você respostas
Para perguntas que não formulei.
Prefiro a paz do silêncio
E a calma das pedras.
Não tenho tempo para fingir
Aquilo que sinto
E sofrer o mal da sua companhia.

A vida é curta demais para isso.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

NOTA SOBRE SEXUALIDADE

No jogo erótico o gozo é sempre uma incerteza. Pois somos obrigados a oscilar entre o desejo do outro e o nosso; constrangidos a desconsiderar nossos impulsos mais irracionais.


O sexo, é bom não esquecer, é uma das mais dissimuladas dentre as relações de poder. Pois ele pressupõe o outro como objeto de nossa vontade e prazer. Ele pressupõem intimidade, mas não vinculo afetivo, por mais que nos consideremos enamorados. O sexo é um exercício comedido de egoísmo. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

SOBRE RELACIONAMENTOS

Nenhum relacionamento pode nos livrar do fardo de nós mesmos.
Na maioria das vezes, ao contrário, ele contribui para o seu crescimento.
O outro é sempre um peso adicional  no somatório de nossas fraquezas,
Ou , algumas vezes, um espelho, através do qual encaramos a face
De nossa própria sombra.
Todo bom relacionamento atenta contra nossa vaidade.


terça-feira, 5 de julho de 2016

CÉU AZUL

Sei que já é tarde para concertar o futuro,
Apenas o passado ainda pode ser revisto
A luz de nossos vazios, silêncios
E desencontros.
Não sei para onde vamos.
Estamos perdidos e atordoados.
Mas qualquer coisa é melhor
Do que a inercia de ser.
Vamos embora
Enquanto o céu ainda esta azul.
Ainda existe muito mundo lá fora.
Vamos...


segunda-feira, 4 de julho de 2016

ENCONTRO LOUCO

De todas as formas toscas
Em que já me surpreendi perdido
Em desarranjos de afetos e sensações,
Posso dizer  com absoluta convicção
Que nada superou aquele fatal instante
Em que nos quebramos na madrugada
Contra o chão de nossa indigesta
Natureza humana.
Nada justificava nosso modo tosco

De saber um do outro.

A PREMISSA DO OUTRO

A existência compartilhada,
Dia após dia, não diz o amor.
Nada diz o amor
Além do contrato entre duas vidas
Em artificial contato afetivo
Que entre o hoje e o amanhã inventam
Uma promessa precária.
Há algo de fictício em todo relacionamento
Que extrapola as sociabilidades,

O outro como premissa.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

LIBERTAÇÃO

Salve aquela ultima palavra que ficou engasgada entre nós
Sem ser dita,
Que foi esmagada  por alguns hiatos,
Perdendo-se naquele momento definitivo
Onde um adeus impôs  definitivos  silêncios
Aos nossos desejos quebrados.

Que ela seja escrita e queimada,
Depois para sempre esquecida,
Libertando-se de vez
De nossas eternas reticencias  e ambivalências.