DA INCONSTÂNCIA DE TODA EXISTÊNCIA

Enquanto  a vida passa

e faz passar pessoas,

 lugares e coisas,

que fizeram de mim

um insignificante e mudo acontecimento,

enquanto meu  corpo,

quase ilegível e indecente,

 se gasta aos poucos sob um infernal céu de verão,

e o tempo apequena a memória e o rosto,

vou me esquecendo do que fui e  já foi,

reinventando o nada e o efêmero da banalidade da existência.

No  aprendizado constante

do mais sereno e necessário silêncio,

aos poucos vou me desfazendo em assignificâncias e despedidas,

vou me subtraindo 

de um mundo humano e  absurdo

 que sempre está de partida dos meus dias de eter.

No final, todos morremos sozinhos

e nada disso tem qualquer importância.

ALTERNATIVA

Tenho estado perdido de mim,

 a deriva no mundo,

e descrente de tudo,

buscando qualquer outra realidade

onde ainda seja possível sonhar,

questionar e lutar.

Tenho tentado estar em qualquer outro lugar,

me encontrar na contramão dos fatos e do tempo,

desconstruindo rotinas,

angústias e silêncios,

até que qualquer outra coisa

se faça possível dentro e através de mim

como se fosse um rio ignorando o mar.

A REALIDADE QUE DÓI

A realidade é algo que sempre dói.

Não importa como vivemos,

o que pensamos, acreditamos

ou desejamos.

É fato:

A realidade sempre vai doer

em nossa frágil  consciência de mundo

como uma desesperada urgência de nada.

Não nascemos para paz

ou para a  felicidade.

Existimos sempre em agonia,

consumidos por uma vontade cega

por qualquer outra coisa

que extrapola a existência. 

Seguiremos até fim

 inconformados 

com  a insignificância da vida,l

e precariedade dale toda realidade.

Pois contra nossas necessidades 

a realidade é sempre um eterno por vir,

um desfazer permanente

de todas as coisas possíveis.

Ela é pura entropia,

 algo que foge e nos devora

contra toda ilusão de eternidade.

O OUTRO ONIPRESENTE

A existência é algo que nos oculta na experiência do outro.

No fundo apenas o outro existe.

Pois, cada um de nós,

é um outro

não importa o eu

que aparentemente grita

através da solidão de um  rosto.

Ele também,

em seu íntimo,

é um outro do outro

que não para

de se replicar, abstratamente,

em todos os tempos

e lugares de Ser ( outro).

Cada um de nós é uma  cópia da cópia

de um original ausente.

O outro é onipresente.

ALTERIDADE

Alteridade,

é saber que,

para os outros,

serei sempre e somente

a ilusão de um rosto.

Ou, simplesmente, um corpo,

equivalente aos demais,

no devir da espécie,

que se faz através

de cada um de nós.

Ninguém existe o suficiente

para ter razão.

LEMBRANÇA

Pouco importa o que aconteceu.

Só me interessa a marca

deixada na memória da gente,

o que ninguém mais lembra,

o que é exclusivamente nosso,

enquanto virtual experiência.

Lembrar é nosso modo

de estar em casa

quando todos já estão mortos

e a casa desabou sobre nós.