sábado, 31 de dezembro de 2022

DIA SEGUINTE

Nada será como costumava ser.
Seja para o bem ou para o mal,
tudo foi desfeito.

É outro dia.
O sol ilumina ruínas
e aquece silêncios
entre as sombras 

Alguns se perderam na noite
 e não amanheceram.
Mas o sol nasceu novamente
para os sobreviventes.

A realidade matou nossos sonhos,
mas ainda existe vida.
Mesmo em tempos de morte,
incertezas e agonias.

É outro dia.
E o fim ainda não se anuncia.




segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

OS AFETOS E A POTÊNCIA DA DESRAZÃO

A ingovernabilidade dos afetos é o melhor remédio contra a razão e suas disciplinas. 
Ela é o meio natural de desfazer juízos e opiniões, reinventar sempre de novo a vida, quando a obediência nos castra a existência e as certezas e necessidades nos escravizam.
A ousadia da expontaneidade é uma potência, um inconformismo que nos move contra a rotina. O novo, o imprevisto, é filho de nossas melhores loucuras.

domingo, 11 de dezembro de 2022

SONHO E MEMÓRIA


Há algo de sonho no eterno
que anima a memória
escapando ao tempo.

Algo que nos transcende
 como corpo perdido na prisão do espaço.

Sou pleno apenas onde não existo,
onde me ultrapasso no outro,
na casa ou mesmo no esquecimento
de uma vida que se apaga
em seu próprio vestígio.

Lembrar é um modo de sonhar,
de querer futuro o que foi perdido
contra tudo que resta pra ser vivido.













A VIDA QUE PASSA

O mundo me ensinou distâncias,
Fugas e errâncias.
Não pertenço a  lugar algum.
Não tenho lar ou memória.
Estou sempre de partida,
 Incerto no movimento da estrada.
Pois a vida é uma perpétua despedida,
um longo exercício de adeus,
silêncios e ausências.
Amanhã, pode não haver outro dia
e hoje pode já ser tarde demais.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O INCLASSIFICÁVEL

Sou o coletivo de um só,
Um múltiplo  singular,
na arte de estar
dentro e fora do mundo.

Não sou daqui,
nem de lá.
Sou um estranho
em qualquer lugar.


Meu nome é nunca.
Não me queiram por perto.
Minha existência é um perpétuo ato de protesto.





O GRITO QUE VEM

Estou farto da verdade,
da lei e da ordem.
Não suporto mais
os consagrados enunciados
que sustentam nosso vil cotidiano,
nossa estúpida banalidade diária.

Abomino todos os discursos
que ainda circulam  entre os entendidos.

Exijo outra coisa,
qualquer absurdo,
que perturbe todas as gramáticas
com a força selvagem de um grito.

Há algo sem nome entalado na garganta
dos mendigos.