quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A VIDA CONTRA O PENSAMENTO

Me diga o quanto
vale sua vida,
mesmo que esteja doente,
no limite do possível,
e desenganado pela medicina.

Do que vale seu viver
provisório, incerto,
e descartável,
entre o ermos dos dias
e das noites?

É possível saber a vida
além das ilusões de uma consciência,
ou a vida, afinal,
só nos parece possível
na ausência de qualquer pensamento?

Pensar sobre isso me conduz a enfados e tédios.



segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O FUTURO DA MORTE

Não existe mais um futuro
esperando por nós.
A grande noite caiu do céu
e cobriu o dia.

Vestimos sua escuridão 
e desistimos da eternidade,
Assumimos o efêmero instante
que nos devora como um silêncio
sepultado na paisagem.


Afinal, o futuro nunca precisou de nós,
e o passado inventa esquecimentos
entre as ruínas de nossos inúteis discursos.

Morreremos além da Cidade Estado
enterrados entre os vivos e suas enfermidades.
Seremos afogados por nossos próprios passados .




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

SENSO COMUM

Eu, que já não sei o que sinto,
o que quero, penso,
ou espero,
ainda considero perfeito
 meu juízo precário
e o brilho quase divino das autoridades.
 

Ainda sei que o mundo existe,
apesar da nossa pouca realidade.

Pouco importa o caos social,
a angústia existêncial,
 a vida segue normal
e cabe numa bolha de informação.

Não há verdade fora da civilização.
Mesmo que um dia ela nos leve a extinção.
Tenha fé no hoje e siga com outros,
morra sozinho amanhã.



terça-feira, 8 de novembro de 2022

ESPECULAÇÕES EXISTÊNCIAIS

Faz alguns anos que não vou ao cinema.
Aposentei os sonhos e a imaginação.

Deixei de viver também.
Mas ninguém o notou.
Acho que todos morreram comigo.

Talvez, seja por isso
que nada faça sentido.


DESPERSONALIZAÇÃO

Qualquer dia desses
ainda irei  acordar outro.
Não me reconhecerão meus amores,
companheiros, parentes,
ou pets.

Surpreenderei no espelho
um visitante de outro tempo,
de outro mundo,
ou fugitivo de algum delírio onírico.

Identidades, afinal, pouco importam.
Nascemos indigentes e morremos desconhecidos.

Ninguém neste mundo
é de fato alguém.

Apenas o mundo, 
em sua inconstância,
realmente existe
através de nós e de ninguém.

Qualquer dia desses
ainda acordarei morto
e mundo continuará sendo o mundo,
como sempre foi, 
antes da minha existência.



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

DEPOIS DO FIM

Hoje é quase depois do fim
no anti - tempo do abandono.

Tudo em nós já é solidão e
silêncio.

A vida ficou no passado
e nosso hoje antecipa o fim inevitável
de todas as coisas futuras.

Não há mais entre nós um mundo.
Desista do conforto inútil de um abraço.

Em alguma parte ausente de nós
o fim já aconteceu.
Mas a terra ainda gira ao redor do sol,
Só não há ninguém para contar
o que, afinal, se sucedeu
depois que a gente morreu.
É, finalmente, fim do mundo.
Toda humanidade é inútil.
Tudo que fomos se perdeu.