sexta-feira, 30 de setembro de 2022

ANATOMIA DE UM DESESPERO

A  imanente metafísica do desespero
não é pessoal,
não tem por lastro uma história de vida,
frustrações e angústias.
Não tem nada de mal resolvido,
não engendra em nós subjetivações ou vontades declinantes.
O desespero é um devir,
um não lugar de si,
onde tudo transborda,
afoga, extrapola.
É a materialização do insuportável
como estética de vida em revolta.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

MEU ÚLTIMO ROSTO

Neste momento,
muitos de mim
estão mortos no tempo.
Mas outros ainda seguem moribundos,
amargando memórias,
vida adentro,
em busca da última
e mais solitária, niilista,
versão de mim mesmo.
Para ela, não importa o momento,
é e será sempre tarde demais.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

SOLIDÃO E SILÊNCIO

Viver é ser sozinho
estando sempre 
na boa companhia
de um silêncio.

É escutar seu próprio vazio,
apagar seu próprio segredo
e aprender-se invisível
através de um silêncio.



sábado, 17 de setembro de 2022

LÁ FORA

Lá fora mora o silêncio.
o vazio de todas as vozes,
a ausência do desejo,
a morte da vontade
E a mudez de um tempo deserto
onde não existe palavra ou memória.

Lá fora tudo é descartável
e o que importa é impossível...

Um dia, aqui dentro,
Será parte do que hoje é 
lá fora.

Melhor não pensar sobre isso.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

SEM CASA

A casa é um lugar que nos faz possível no mundo e, como tal, é uma extensão de nosso próprio corpo. 
Por está definição posso confessar que não tenho casa , do mesmo modo, que não tenho mundo. 
Não basta ter um teto para ser uma casa ou um chão para inventar um mundo.
Lugar algum hoje nutre afetivamente minha existência, minha consciência de lugar.

O DESERTO LINGUÍSTICO DE NOSSA REALIDADE DITA

Tudo hoje em dia foi reduzido
 a autonomia linguística.

A vida e a morte,
 o amor e o ódio,
a verdade e a mentira,
 o certo e o errado,
a liberdade e a escravidão,
tornaram-se expressões vazias
de uma realidade sem alma
circunscrita a partilha do dizivel
na agonia do sensível.

Os opostos nivelados no nada
não expressam mais o corpo,
não transbordam o universo.

Só há simulacros
onde antes existia o mundo,
o sentido e o mistério
do delírio do amor através dos conflitos.

Mas o mito abandonou o tempo
e agora tudo é finito,
visível e isolável
na confusão entre a palavra,
 o número, a multidão,
e o deserto.

Há tanta linguagem
que se tornou impossível o permissível 
de qualquer forma comunicação.












 

domingo, 11 de setembro de 2022

UM POUCO DE MORTE, NOSTALGIA E DELÍRIO

Sei o passado avizinhado do sonho
transmutando memória
em delírio
contra toda certeza do eu
e do outro.

O que é, afinal, um acontecimento,
Além de alucinação 
e imaginação,
visto que toda nostalgia é embriaguez?

Mas o passado é uma ferida aberta em  febre e saudade,
Um sentimento de morrer com o sol
Que se põe no horizonte
Quando a noite, enfim,  desaba sobre nossos corpos cansados.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

OUTONO

Seja para melhor
ou para pior,
as coisas mudam
 e nada perdura além do instante.

É sempre tarde demais
na festa das despedidas
e separações.

Estamos todos de partida.
Hoje é sempre
o último dia de nossas vidas
na eterna agonia do mundo.