sábado, 30 de julho de 2022

A SOMA DAS SOLIDÕES

Nossas solidões somadas,
Mesmo despersas em suas inercias,
São resistência.

Formam um imenso cordão
De afecções nomades
Cuja gratuita presença
É em si mesmo um ato de protesto
E singularidade.

Um dia seremos sozinhos juntos,
Livres através das multidões de anônimos 
Que nos habitam o rosto
Desde o início dos tempos futuros.

Na chegança destes tempos 
Não saberemos mais
O eu que em nós
Inventou os outros.
Seremos todos múltiplos e incertos,
em um amplo esforço de desistências
E renúncias.













segunda-feira, 18 de julho de 2022

VERDADE E TOTALITARISMO

Seja com todos
Em um  grande discurso,
Sofra a verdade,
Viva a identidade,
 negue a si mesmo
E assuma um rosto,
Sua unidade,
Em nome de toda humanidade.

Aceite o encanto,
O grande chamado que reunirá a todos
Em um mundo acima dos mundos.

O Sumo bem anima o corpo,
Alimenta e conforma  o pensamento.

Não resista a verdade,
Não desafie a razão dos fatos
Ou a grande ciência
Que arquiteta o futuro.

Não há contradições,
Falhas, limites,
Ou impotências
Em nossas trincheiras.

Não nos critique.
Saia do caminho,
Ou enfrente seu trágico destino.

Nós somos a Verdade,
A palavra de todos os nomes.








sexta-feira, 15 de julho de 2022

DOS SERES E DAS COISAS


Apenas as coisas existem.
Pois só elas persistem
enquanto desaparecemos
Em cada incerto momento
Através do sem fim
Das próprias coisas.
No fundo
Somos apenas  coisas,
Pois não há no tempo
Qualquer distinção
Entre os seres e as coisas.
Há apenas nosso lado de fora
Dentro das coisas através da memória.

As coisas transcendem o ser,
Superam a ilusão
Do sujeito, do objeto,
E das almas.


sábado, 9 de julho de 2022

AR

O ar que me falta
é o mesmo que me afoga,
Que nos oprime,
Quando há quem se diga
Dono do ar.
Deste mesmo ar
Que todos respiram.

terça-feira, 5 de julho de 2022

MORTE & MEMÓRIA

Morte e memória
Vivem um caso de amor inusitado
nos jardins da eternidade.

Estão sempre enlutadas,
Pois existem distantes
Como o sol e a lua
Cultivando saudades e silêncios.

Morte e memória
Nunca tiveram filhos.
Bem cedo abortaram,
Muito tarde se amaram.
Mas sabem como ninguém
A profundidade de um vínculo.