FILOSOFIA DA SOLIDÃO

Estava sempre vazio dos outros.

Pois afogava-se em si mesmo.

Sabia que todo diálogo

Era um monólogo mal feito.

Perseguia a si mesmo

Em cada gesto e pensamento

Que lhe empurrava para alienação

De ser no mundo. 

LEVO UMA VIDA QUENÃO VIVE MAIS!

Levo um vida sem família.

Sem os outros,

Quê me infernizam a memória.

Sou o resto de um mundo morto.

Um toco de árvore

Com profundas raízes.

AMOR PARA MULHERES

A vida me ensinou a ter muito medo de quem gosta de mim.

Há mais perversidade no amor

Do que no coração vazio dos solitários.

É preciso se armar para amar

Contra os lugares comuns do desejo banal.

DEFINIÇÃO NEGATIVA DO AMOR

O amor é a idiotice elevada a condição de burrice,

Um desvio,

Um suicídio através do outro

E além...

DECEPÇÕES

 

Aos olhos dos outros eu sempre serei culpado.

Principalmente pelos erros que não cometi.

Nunca será avaliado todos os sentimentos que engoli,

todas as mágoas, raivas, frustrações e decepções,

que em segredo vivi.

Não raramente, a maior das virtudes

é saber decepcionar alguém para preservar a si mesmo.

DESEQUILÍBRIOS E RELACIONAMENTOS

 

Todo relacionamento flui em um equilíbrio frágil entre simpatias e antipatias, desgastes e redescobertas.

Isso acontece porque ninguém realmente gosta de alguém, mas daquela parte de si mesmo que projeta no outro e com a qual busca conectar-se por seu intermédio com um sucesso sempre incerto. No fundo, estar em um relacionamento, é viver em constante estado de desequilíbrio e desafio a si mesmo. Os limites do outro são sempre os limites do relacionamento.

À QUALQUER EVENTUAL LEITOR

 

Nenhum verso ou frase que saia do meu punho há de mudar sua vida, de inspirar um gesto que seja. Todo enunciado que lhe tocar os olhos será qualquer coisa pré definida, já dita, e totalmente irrelevante.

Os livros não fazem as pessoas felizes.

Também não lhes ensinam nada. A gente só aprende aquilo que já sabia.

PEQUENOS PRAZERES

 

Como são ridículos estes pequenos prazeres que nos definem o cotidiano.

Quanta tolice há em saborear uma xícara de café quente,

em morder um pão com manteiga,

ou, simplesmente, assistir televisão

depois de perder horas na internet.

Nada disso acrescenta qualquer coisa a qualquer existência.

Mas é com tal tipo de coisa que gastamos boa parte do nosso tempo.

O essencial da vida, afinal, escapa ao nosso ordinário cotidiano.

ANTI SOCIAIS

Para mim, como para  todo mundo, a maioria das pessoas que existem por aí, não possuem realidade efetiva. 

Afetivamente,  apenas um pequeno número de seres humanos realmente existe em minha vida.

Somos todos anti sociais e nos ignoramos diariamente nas ruas. De outra forma não seria possível viver. 

COMUNICAÇÃO & EXPRESSÃO

Entre o dizer como auto expressão e comunicação existe um abismo que não deve ser ultrapassado. Onde sou mais claro e direto é onde me defronto angustiado com palavras nas quais não me reconheço.

Para mim a comunicação é um fardo que me prende ao outro é a expressão uma maldição através da qual me alieno positivamente de mim mesmo.

DISCORDÂNCIAS

 

No final, entre nós,

nada ficará compreendido

ou acordado.

Cada um terá suas próprias conclusões,

julgamentos e versões.

Nosso passado comum

não será o mesmo

para cada um.

VIVI SOZINHO

 

Não vivi grandes amores.

Nunca soube os prazeres

de uma vida dividida

entre o eu e os outros.

Fui desde sempre

minha melhor companhia,

minha única esperança,

e meu próprio destino.

Todos os meus bons momentos

vivi sozinho.

TODO AMOR É DEFEITO

 

Não existe caso de amor perfeito.

Todo amor é um defeito,

uma insuficiência de si mesmo,

um depender do outro,

um modo de ser desfeito,

incompleto, tolo

e escravizado ao próprio desejo.

Todo amor é defeito.

CONTRA O TEMPO

 

Amar é sentir nostalgia,

querer pessoas e momentos perdidos

nas urgências de algum futuro

que se insurge contra o próprio passado.

É mais do que ter saudade.

É não aceitar o tempo, a natureza

e a morte

na delirante afirmação

de qualquer ilusão de felicidade.

ENTRE O SER E O NÃO SER

 

Viver entre os outros e morrer sozinho…

Assim nos acontece a vida, a morte e o esquecimento.

 

Entre os outros ou dentro do eu

tudo é silêncio sem rosto.

 

Existimos como um ponto indeterminado na paisagem da espécie;

dentro da face do mundo entre o ser e o não ser.

MORTE COMUM

Entre o eu e o outro

Não há mais um nós.

Apenas o eles,

Os outros,

Como contra identidade de nós mesmos.

Há o vazio de ser gente

Contaminando a presença de todos

Dentro de um mundo que se desfaz.

SAUDADE

A saudade é a medida do afeto.

Só ama quem sabe a ausência.

A memória do outro

Como sentimento de vida

Maior que a realidade da própria existência.

O SOLITÁRIO

 

Admito meu desinteresse pelas pessoas,

minha falta de paciência com os outros,

e minha demasiada necessidade de solidão.

Gosto dos ermos e dos desertos,

do gigantismo das imensidões,

que nos fazem insignificantes e irrelevantes.

Quero estar sempre desacompanhado

na imaginação de mim mesmo.

DESCONFIANÇA

 

As pessoas não são confiáveis.

Desconfie sempre dos outros

até o limite da paranoia.

Pois todo mundo vive da embriaguez

de íntimas convicções delirantes,

tentando aprisionar os outros

na ilusão de suas mais intimas verdades.