quarta-feira, 25 de novembro de 2020

CONVITE

 

Quando for mais tarde,

me convide para uma bebida.

Não tenho hora pra voltar pra casa.

Ninguém me espera no fim do dia.

Minha vida inteira é menor que a madrugada.

E minha sede é quase infinita.

Então, apenas beba comigo.

Vamos dançar a beira de abismos.

AMORES CONTEMPORÂNEOS

 


O amor possível tem gosto de desespero,

de desencontro de si no saber do outro

em coletivo vazio e intoxicação da emoção da vida.


O amor possível tem pouco de amor.

Guarda algo de grito,

de não sentido,

onde a busca escapa ao destino

que leva do eu ao outro.


terça-feira, 24 de novembro de 2020

RELACIONAMENTOS

 

Seja binário, não binário

ou plural,

todo relacionamento

é banal, descartável,

e predestinado a não durar para sempre.

Nunca duvide disso,

não finja sentir

aquilo que pensa que sente.


sábado, 14 de novembro de 2020

O CORPO E O VERSO

No fundo raso de mim,
Sei apenas o corpo
Dentro do mundo
E da palavra aberta em universo.
Sou onde não  penso
A natureza em arranjos e movimentos
De caos e afetos!

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DIVÓRCIO


Quando já  não  há mais diálogo
E tudo foi dito e esgotado,
Há sempre um traço  de passado
Impondo interdições ao futuro
De uma conversa infinita.
Cada um segue seu caminho
A sombra de um único destino.
Mas nunca mais haverá silêncio. 





quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A MORTE DO REAL

 


 

Há algo de fatal no mundo atual,

Uma experiência mortal,
Através da qual o virtual
Substituiu o real.

Trata-se de um crime perfeito.
Sem suspeitos ou cadáveres. 
Um crime sem solução. 

A vida agora é uma tecnologia de ser,
Uma sombra caída no mundo
Através do espelho da tela,
Do simulacro,
Onde materializamos a ilusão 
De nossa mais profunda verdade:
A morte constante e diária 
No insano  espetáculo de existir e querer.

O desejo acontece livre
Onde  nada mais significa,
Onde a vida se apresenta impossível,
Onde os corpos mutilados 
Pelo poder e pela tecnologias,
Dançam despidos das almas.






segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O PARADOXO DO EU E DOS OUTROS

Quem sou eu entre os outros,
Quando não me basta ser um alguém 
No desatino do querer fugir de todos?

O mundo possível não cabe mais em meu universo.

A vida escapa ao eu, não cabe nos pensamentos,
Segue sozinha  em busca
De qualquer coisa pequena
Muito maior que o céu. 

Lá fora há janelas abertas.
Mas dentro de mim,
Todas as portas estão  fechadas.

Desfeito de um si
Me perco em um suspiro
De embriaguez e provisório infinito,
Enquanto a morte me contempla
Como esfinge.

VAZIO COLETIVO

Cada um de nós é vazio de si 
E cheio dos outros
Nos  hábitos
De nosso ser social.
Até mesmo nossas diferenças 
São  tendências  comuns,
Cópia da cópia de sentimentos e verdades pré fabricadas,
Difundidas e assimiladas.
Somos asfixiados pelo Espírito coletivo
Até o fundo do poço  do mais caricato individualismo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

POR UMA POLITICA DO CUIDADO

O amor elitista,
Egoísta,
Narcisista
E dependente,
Que nos ensinam como virtude,
Não  resiste ao cuidado de si
Através do cuidado do outro,
Como ato político de alteridade
No exercício das afeições,
No encanto dos encontros,
Dos laços e mutuas transformações. 

REDE SOCIAL

Não ame.
Curta. 
Comunique -se,
Mas não  diga nada.
Apenas seja visível, 
Descartável e presente.
A vida não  tem mais importância.
Tenha um perfil fake.
Jure amor eterno ao vazio.
Você  não  passa de um conjunto de dados.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

TRANSBORDAMENTO

Sempre estarei sozinho.
Não importa os braços dados,
Os beijos e abraços,
Seguirei em mim  abandonado.

Há  no viver que segue algo incomunicável,
Indecifrável e ilegível.

Este algo é  o que somos
No transbordar de nós mesmos.
Juntos, seguimos isolados.