quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O SILÊNCIO SOBRE NOSSOS AFETOS

Não temos muito controle sobre nossos afetos mais banais. Não escolhemos gostar disso ou daquilo. Nem mesmo podemos explicar por que isso e não aquilo nos atrai. Isso se estende, obviamente, ao plano das relações humanas. Geralmente atribuímos aos atributos pessoais de alguém as razões de nossa identificação. Mas estamos sempre lidando com uma imagem imprecisa e não muito verdadeira daquela determinada pessoa. Há muita projeção envolvida quando escrevemos alguém.


O problema da economia cotidiana dos nossos afetos é, portanto, um tema curioso sobre a nossa irracionalidade de todos os dias. Mesmo que lhe associemos questão como empatia, simpatia e outras, inerentes a mais elementar convivência humana, falando de modo muito simplista, somos demasiadamente inconscientes em relação aos nossos afetos.   

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

OBSESSÃO

A vida acorda na imaginação do seu rosto.
Pois meu mundo inteiro cabe em seu corpo.
Habito seu cheiro em minha imaginação delinquente.
Estou farto da realidade!
Minha existência é sua presença.
Não respondo por mim
Neste estranho fato de saber você. 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CORAÇÃO PARTIDO

Desperdicei com você meus melhores afetos.
Nada mais tenho a sentir ou dizer.
Sobrou apenas o vazio,
O silêncio e o eco dos nossos melhores dias.
Nada além de um passado indigesto,
Deteriorado,
Denunciado o vazio e a futilidade

Das eleições afetivas.

SOBRE SOLIDÃO

Não existe oposição entre amor e solidão. Pode-se viver um amor e saber-se sozinho. Solidão não é ausência de companhia, mas um sentimento de incompletude  que nos transborda independente de nossos laços afetivos. Exatamente neste instante há alguma semente de solidão germinando no intimo de cada um de nós.




domingo, 21 de janeiro de 2018

O SILÊNCIO DA SUA FALA

Seu dizer das coisas é direto,
Quase preciso
E, mesmo assim,
Incompreensível.
Talvez porque diz
O que não quero saber,
Ouvir ou entender.
É como um silêncio
Que me cala,
Que interdita o diálogo
E nos afasta definitivamente.

sábado, 20 de janeiro de 2018

PRESENTES E ARTIMANHAS

O bem querer demonstrado em gestos pode ser apenas uma estratégia para manter o outro cativo. Não é raro usar presentes para satisfazer o próprio narcisismo. Pode-se mesmo dizer que está é uma estratégia antiga no comércio afetivo.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

SOBRE SOLIDÃO

A solidão faz com que as pessoas sejam mais afetuosas do que realmente são. A maioria dos solitários aprende a usar a emoção como uma arma ou forma de dominação. Ignora as virtudes e vantagens de sua própria solidão porque nunca estiveram realmente  sozinhas na companhia de seus fantasmas.   

DESCONHECIDOS


Naquele dia em que nos conhecemos não imaginávamos o quanto éramos  tão diferentes de nós mesmos. Não sabíamos  que seriamos tão distintos do que pretendíamos ser. Mas o amor nos revelou como farsa, como simulacros de nós mesmos.

Naquele dia em que nos conhecemos começamos a nos desconhecer.  

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

MONÓLOGO INTIMO

É sempre sozinhos que nos entendemos com a vida.
Pois viver é antes de tudo monologo.
Não é dialogo.
É deitar sobre si mesmo
E provar o ancestral cansaço
De toda tonelada de existência humana,
Todos os pensamentos e sentimentos ancestrais
Reinventados e acumulada no pouco dos nossos anos.

Afinal, somos antigos em nossa intima modernidade.
E mesmo quando sozinhos
Quase não nos reconhecemos

Diante de tanto entulho de humanidade.

O DESTINO DE CADA UM

Ainda que a saudade diga a falta de alguém, isso não significa que devemos buscar sua companhia. Algumas ausências são necessárias e boas lembranças não servem ao futuro.


Afinal, a vida é cheia de encontros desencontrados. Sempre precisamos seguir em frente. Mesmo quando guardamos uma expectativa ingênua de dia seguinte. O fato é que cada uma possui seu próprio destino.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

TEMPO QUE PASSA

Reencontro suas coisas
E me lembro dos dias
Nos quais tudo era o mesmo que nada.

Éramos jovens e banais.
Sabíamos apenas um do outro
E confiávamos na eternidade.

Hoje suas coisas persistem.       
Mas as lembranças não dizem nada.



quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

ABANDONO

Sinto muita falta
Daquela alegria gratuita
De me sentir acolhido,
De viver domesticado,
Com direito a mimos e cuidados.

Tenho saudades da velha rotina.

Não entendo como tudo se perdeu
E o mundo cresceu de repente,
Até ficar irreconhecível;

Agora tudo é incerto,

Definitivo e fatal.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

SOBRE A ARTE DE CONVERSAR

A sintonia de uma boa conversa é um acontecimento único. Raramente duas pessoas se conectam através da troca espontânea de experiências diversas e banais. Quase nunca nos comunicamos com alguém ultrapassando os lugares comuns das interações vazias ou a polidez cotidiana e regradas do trato social.

O fluir espontâneo e descompromissado de uma boa prosa inspirada por afinidades eletivas carece de restrições e mecanismos de defesa. É tão livre quando a disposição a dialogar dos interlocutores envolvidos. Apenas quem já viveu a experiência de uma longa e agradável conversa sabe o que é isso. Mas são experiências como essas que revelam que a intersubjetividade guarda potencialidades que transcendem os relacionamentos formais e requalificam os laços afetivos.


O QUE É UM AFETO?

O afeto é aquele impulso que conduz do eu ao outro em um movimento de si para si. Não é uma eleição subjetiva, uma escolha, como o sentimento, mas um impulso, um acontecimento que nos toma em sua dinâmica. Algo que nos possui.

Não há qualquer explicação que dê conta do afeto. Ele é selvagem, cru e de difícil digestão mental. Apenas nos rendemos ao seu movimento através da atração. Mesmo que muitas vezes o outro não se conforme ao seu destino. O afeto é uma busca interminável pelo além de si mesmo.


terça-feira, 2 de janeiro de 2018


AMOR A COMIDA

Amantes da boa mesa
Não desfrutam da companhia
Um do outro.
Estão juntos pela comida,
Pelo rito das refeições compartilhadas.

São os casais que dão sempre certo.
Pois compartilham apenas a gula
E guardam para si seus sentimentos.
Trocam o amor pela fome
E assim inventam sua felicidade.


ENCONTROS DESENCONTRADOS

Não reconheço aquele passado
Onde caminhávamos de mãos dadas.
Mas agora nossas vidas seguem apartadas
Como sempre deveria ter sido.

Superar os outros
É um aprendizado de si mesmo
Através da superação da ilusão
Dos afetos efêmeros
E aproximações de ocasião.



PRIMEIRO DIA DO ANO

Não há novidades no primeiro dia do ano.
Apenas velhas rotinas
E passados pesando no corpo.
Alguns sentimentos pendentes
E débitos existenciais.

É um dia primeiro de ano novo
Como todos os outros.
Nada nos comunica futuros.
Talvez ele nunca chegue
E saiam vitoriosas nossas incertezas.

O tempo não passa de um grande engano.
Nenhum caminho define nossos destinos.
Apenas seguimos na vida
Entre o improviso e o ilegível

Inventando o possível.