quarta-feira, 29 de junho de 2016

A IRRACIONALIDADE DO AMOR

Se os afetos convertem o outro em uma espécie de “necessidade”, de “vicio”, podemos dizer também que na medida em que nos sentimos conectados com alguém afetivamente, também nos tornamos vulneráveis as suas necessidades e vontades.

Orientado para o prazer, o sentimento amoroso é uma busca de satisfação. No caso, entretanto, a estratégia para alcançar tal objetivo é, contraditoriamente, a satisfação do objeto.  É nisso que reside a “reciprocidade” que funda a relação amorosa. Para receber prazer é preciso dar prazer.

Mas o prazer não é um ato continuo e pressupõe a alternância com seu oposto, o que torna o desprazer  a contra partida do amor. Esta ambivalência entre prazer e dor é incontornável. De modo mais amplo isso se aplica a existência em todas as suas dimensões.

Mas no caso do afeto amoroso, o desprazer, muitas vezes, é confundido por muitos com altruísmo e abnegação de um modo masoquista e abstrato. Ou seja “Deve-se sacrificar por quem se ama”. Tal imperativo  moral corrompe o sentimento amoroso, cuja natureza é fundamentalmente a busca do prazer. Só podemos admiti-lo como pathos na ausência do objeto amado, como síndrome de abstinência, e não como auto sacrifício deliberado do amante. A passividade é estranha ao afeto amoroso, pois ele  nos comove a ação, dado seu caráter impulsivo e compulsivo; sua natureza irracional.



A INCERTEZA DO AMOR

Os vínculos mais intensos são aqueles que vivem de uma certeza constante,
Que sempre estão em risco,
E precisam ser diariamente reconstruídos.
Quando nos acomodamos ao afeto
E perdemos a constante tensão entre o querer e o perder
O relacionamento naufraga em suas próprias rotinas
E se reduz a um exercício medíocre de poder.
Estar preso a liberdade do outro
É o que realmente mantem duas pessoas
Criativamente juntas.


terça-feira, 28 de junho de 2016

É INEVITÁVEL SOFRER

A crença cega no amor e na felicidade, a grande  valoração do bem estar afetivo, independente das tensões e conflitos cotidianamente vividos, tanto no âmbito privado quanto publico, expõe a fragilidade do individuo e a precariedade de suas estratégias simbólicas de codificação de mundo e de sobrevivência no contexto da contemporaneidade.

Somos, de modo geral, relutantes em admitir o quanto somos, em alguma medida,  frustrados e infelizes, pois fomos educados para o sucesso e para a felicidade, para buscar incondicionalmente o  prazer, mesmo sabendo que uma existência prazerosa  não passa de uma cândida utopia. Sempre estaremos administrando insatisfações, ansiedades e tensões. E não devemos nos sentir culpados e pessoalmente fracassados por isso.

Não existem vidas perfeitas e só podemos medir o prazer através da quantidade de desprazer que cotidianamente também somos obrigados a suportar.

Portanto, sejamos razoáveis. Não é aconselhável construir expectativas e realizar grandes investimentos afetivos na realização de qualquer projeto pessoal ou conjugal de felicidade. Não importa nossas escolhas, nosso talento para lidar com as situações, empenho e determinação; em algum momento nos daremos conta de que nada saiu como o esperado. A realidade é sempre mais complexa do que nossas estratégias e objetivos.


De um modo geral estamos fadados a uma boa cota de sofrimento e decepção ao longo da vida.

TORTO CASO AMOROSO

Nos aproximamos sob estranhas circunstancias
E, pragmaticamente, nos amamos
Sem dar qualquer importância ao amor.

Fomos ficando,
Nos acomodando um ao outro.
Provisoriamente,
Inventamos para nós um cotidiano
Que durou para sempre;

Mas “para sempre”
Era apenas tarde demais.
O resto são momentos tristes
Que os outros contam por ai.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

APENAS UM DESENCONTRO

Deixei cair seu nome no chão
Quando já era tarde demais
Para lembra-lo ou esquece-lo,
Quando seu rosto já não dizia nada
E mau me lembrava da noite passada.
Fomos breves um para o outro
Sem saber juntos qualquer caminho.
Apenas nos desencontramos em caricias
E agora se quer me recordo seu rosto.


domingo, 26 de junho de 2016

RELACIONAMENTO E LIBERDADE INDIVIDUAL

O ideal em qualquer relacionamento é que ninguém exerça qualquer autoridade sobre o outro. Mesmo que de modo sutil através de barganhas afetivas. Produzir a nós mesmos  como indivíduos autônomos e psicologicamente diferenciados, imersos em um um dado contexto sócio cultural comum,  exige uma certa liberdade de vontade.

Na prática, isso significa não ficar condicionado a opinião dos outros tanto quanto a não exigir sua cumplicidade constante. Viver é uma atividade solitária onde todo relacionamento fecundo gera antagonismos e ambivalências. 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

AMOR PRÓPRIO

Eventualmente podemos amar alguém,
Mas é o amor próprio que nos define.
Apenas o narcisismo nos faz sublimes
E  amar ao próximo é a virtude dos fracos,
O falso heroísmo dos que não suportam a vida.
Seja por inteiro,
Não viva pela metade.
Ame acima de tudo

Apenas a ti mesmo.

MAIS PRAZER, MENOS AMOR

O prazer inspira o amor.
Não deixem que lhe digam
Que amar é sacrifício e abnegação.
Amar é gozo concreto e abstrato,
Caso contrário, não é nada,
Não passa de ilusão voluntaria
E cárcere afetivo.
O amor é hedonista, livre

E sem medidas.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

A VOZ DOS LIVROS

E agora chega outro dia,
Depois de outro dia
Quando sinto que tudo já acabou
Em um dia muito anterior.
Vivo atualmente mais de livros
Do que de pessoas.
O mundo é uma paisagem muda
Onde me invento em um rosto
Que não diz nada entre os outros.
As pessoas estão em silêncio.

Apenas os livros falam hoje em dia.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

HISTÓRIA DE AMOR

Jamais irei entender o modo estranho como tudo aconteceu,
Como nos conhecemos e nos aproximamos
Ao ponto de inventarmos um mundo para abrigar
Todos os nossos vazios.
Nos tornamos cumprices do nosso destino,
Vitimas felizes de  um afeto sincero
Que aos poucos nos consumiu por inteiro.
Não tínhamos o mínimo bom senso.
O desejo era a medida de todas as coisas
E a vida transmutada em ilusão
Substitui  a tal ponto a realidade
Que tudo para nós parecia possível.
Assim foi por um longo período.
Até que  finalmente a realidade
Surpreendeu nosso sonho

E reduziu a pó o encanto do nosso amor.

terça-feira, 14 de junho de 2016

O AMOR É TER COM QUEM DIVIDIR O ALMOÇO DE DOMINGO

Só se entregam ao tédio as naturezas eróticas, decepcionadas de antemão pelo amor.”
Emil Cioran in Os Silogismos da Amargura

O tédio é a vocação daqueles que superaram a ilusões do amor romântico, que aprenderam a não esperar nada  ao lado de alguém, além do simples cotidiano, de um afeto morno e programado que aos poucos se desfaz em rotinas.
No fundo o amor não passa do fato de ter alguém com quem dividir o almoço do domingo.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

UTOPIA SENTIMENTAL

Preciso de outra vida
Para viver com você
Outros  dias.
Esta já esta rota,
Quase não respira.
Não permite novos começos,
Superar meus erros, perdas
ou limitações.

Preciso de outra vida
Para ser ao teu lado
Novamente aquele eu
Que se perdeu do rosto,
Que vaga no tempo
Até hoje
Unicamente a sua espera.


SENTIMENTO E EXISTÊNCIA

Tenho  afetos que me governam
E um eu que se equilibra
Entre realidade e fantasia.
Há horas de pensar
E instantes de sentir
Em um constante divagar
Da experiência de ser
Através dos outros.
Ninguém existe por inteiro...


sexta-feira, 10 de junho de 2016

O AMOR NÃO É UM VALOR UNIVERSAL

O amor pode ser definido como uma espécie de dependência da pessoa que nos é intima. Por isso envolve exclusividade e atenção afetiva, um estar junto com certa constância, onde ás vezes é difícil dizer se existe grande diferença entre a paixão e a loucura. A vida a dois é marcada por uma tensão permanente onde somos desafiados a atender expectativas, preencher vazios e corresponder, mesmo que parcialmente, a imagem que o outro tem da gente.  


O amor também pressupõe um relaxamento da capacidade critica, uma tendência á benevolência frente ás falhas, erros e defeitos do outro. Justamente por isso, as vezes o amor nos torna vulneráveis e prisioneiros de situações ou relacionamentos perversos. Algo que precisa ser dito é que não amar é um varias circunstâncias mais importante do que amar. O amor está longe de ser um valor universal.

terça-feira, 7 de junho de 2016

CAMINHANTE

Gosto de caminhar sozinho,
Viver  cada pequeno detalhe deste caminho
Cujo percurso  conheço cada vez menos
Com o passar dos anos.

É estranho como as coisas mudam
Ou o tempo transforma o olhar
Alterando  as expectativas de destino
Durante a caminhada.
Nunca chego de fato
A qualquer lugar.
Pois apenas em meu incerto
E inventado intimo
Reside de fato

Meu abstrato destino.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O DITO E O DESDITO

O dito pode ser desdito.
Basta que a palavra se perca
Do sentido, do razoável
E que o dialogo acabe
Por qualquer razão.
É tão fácil...
Vive  acontecendo por ai
A torta e a direita.
Quantas juras de amor
Não desapareceram no tempo?
Quantas afirmações convictas
Não caíram no equivoco?
Há sempre um dia depois do outro.
Um tempo de rasgar palavras
 E antigas mensagens guardadas

Na memoria do celular.

CASAL SURREAL

Teus olhos me dizem um mundo.
Mas você não enxerga além da tua janela.
Sempre te encontro onde você não está.
Talvez seja meu destino
Inventar qualquer versão de você
Enquanto nos desencontramos
Buscando  sinais de futuro
Onde o passado agoniza.
Somos apenas um casal virtual
Tentando reinventar o banal
Da mais simples realidade

Ainda  possível.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

DIÁLOGOS IMPOSSIVEIS

Só existe diálogo
Onde há desencontro,
Um tanto de estranhamento
E discórdia.

Existimos  provisoriamente
Entre nossos insuficientes egos
Perdidos em diálogos vazios
Onde nos enterramos em cotidiano.

Somos um silencio, uma falta
Que apenas cresce
Enquanto conversamos.