terça-feira, 30 de setembro de 2014

CONECTIVIDADES AFETIVAS

Atualmente os relacionamentos nascem da impulsividade, do trivial e do transitório da busca pela simples satisfação de necessidades afetivas elementares.

Mas qualquer tipo de relacionamento é ambíguo. Céu e inferno ao mesmo tempo. Na maior parte do tempo experimentamos conexões provisórias e diretas que se esgotam no prazer de um momento intenso, embora fugaz.

Mas mesmo a transitoriedade dos jogos afetivos pressupõe, em alguma medida, uma busca de segurança emocional que, mesmo não mais se desenhando como a consumação de uma predestinação ou destino, pressupõe um compartilhamento e solidariedade duradoura.

Assim, o conectar-se afetivamente a alguém reequaciona a ambiguidade dos relacionamentos definindo a incerteza como premissa de um constante jogo de desconstruções e reconstruções da afetividade e das experiências do e com o outro.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O EU E O OUTRO NO DUVIDAR DE SI MESMO

Duvidar de si mesmo é uma divisa mais apropriada ao individuo contemporâneo do que a velha fórmula do “conheça a ti mesmo”. Pois somos todos em alguma medida incertos de nossa própria individualidade, de nossos desejos e vontades.
Somente através do espelho do outro nos reconhecemos...
Lembrando Baudrillard:

“Minha vida, porque se passa no outro, torna-se secreta a si mesma. Minha vontade, porque se transfere para o outro, torna-se secreta a si mesma.
Sempre há uma dúvida quanto à realidade de nosso prazer, quanto a exigência de nossa vontade. Paradoxalmente, nunca estamos seguros a respeito disso, mas parece que o prazer do outro é menos aleatório. Como estamos mais próximos do nosso prazer, estamos bem situados para dele duvidar. A proposição que pretende que cada um dê  maior crédito a suas  próprias opiniões subestima a tendência  inversa que consiste em pôr sua opinião na dependência da de outras pessoas de opiniões bem fundamentadas ( como na erótica chinesa se suspende seu próprio prazer para garantir  o do outro e dai tirar uma energia e um conhecimento aprofundado). A hipótese do Outro talvez seja apenas a consequência dessa dúvida radical quanto ao nosso desejo.”

JEAN BAUDRILLARD in  A TRANSPARÊNCIA DO MAL: ENSAIO SOBRE FENÔMENOS EXTREMOS

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

NINGUÉM É O DESTINO DO OUTRO

Ninguém é o destino do outro. Relacionamentos nascem de nossa irracional necessidade de domesticar nosso próprio caos, de  construir nossa auto imagem através dos olhos de alguém que queira viver tudo aquilo que, por simples  questão de sobrevivência, nos esforçamos para ser.


A individuação é um ato dialógico....

A ESTRANHA DIALÉTICA DO AMOR

A afetividade é uma questão complexa.
Cada um tem um modo próprio de gostar e demandas afetivas específicas.

A ideia de uma universalidade do sentimento amoroso apenas cria a ilusão de que demandamos um modo de querer universal que só existe como abstração vazia.

Na melhor das hipóteses, pode-se  dizer que buscamos satisfazer o mesmo desejo de formas  condicionadas as configurações de nossas individuadas experiencias vividas de mundo.


Mas nosso desejo é sempre outro no mais profundo e intimo querer de quem nos deseja.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

CONTRA O AMOR

Não é o amor que une duas  pessoas,
Mas o sentimento que habitam uma mesma realidade,
Que ao enxergar uma a outra,
São capazes de dialogar
E compartilhar a própria vida.
O amor não é mais

Do uma idealização vazia.
Viver a dois
um ato de poesia.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

SEPARAÇÕES E MUDANÇAS

Já não eramos os mesmos de alguns anos atrás.
Enossas novas versões se mostravam incompatíveis
Desfazendo qualquer vestígio de passado
Conjuntamente vivido em um só cotidiano.

Nos tornamos dois estranhos
Presos as inércias do ficar juntos
Quando já não mais dialogávamos

E Não habitávamos o mesmo mundo.

domingo, 14 de setembro de 2014

A UTOPIA DO AMOR

O amor que se guarda
É mais importante que o amor empenhado.
Como o beijo sonhado
É mais intenso
Que o óbvio do beijo possível.
O amor é uma fantasia
Que plenamente se realiza
No seu mais perfeito fracasso.
A realidade do amor
É sua própria desconstrução

No pretérito mais que perfeito.

SACRIFÍCIO E RELACIONAMENTOS

Relacionamentos sobrevivem de pequenos e cotidianos sacrifícios.
São feitos de mudas angustias, dúvidas e resignações.
Quase sempre não valem a rotina que sustentam.

Relacionamentos exibem  nossas limitações,
Ensinam o outro  como portavoz das necessidades
Que  nos desfazem o ego
Na agonia de certas vontades.

Relacionamentos revelam
Apenas o quanto  somos imperfeitos
E escravos de nossas carências.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O INCOMUNICÁVEL DOS RELACIONAMENTOS

“Na eterna incerteza, ela de ser amada, ele de ser desejado, ela de ser reconhecida, ele de ser querido, afastaram-se um do outro com amargura.”
JEAN BAUDRILLARD in COLL MEMORIES III

A incomunicabilidade dos afétos define a economia dos relacionamentos.

Normalmente são os silêncios, o não dito de um irracional dominante, que estabelece distancias insuperáveis entre duas pessoas que desesperadamente  se buscam. 
 
As incertezas são o veneno dos relacionamentos.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

RAPARIGAS NO PASSEIO PÚBLICO

Quantas mulheres me prendem o olhar no passeio público!
Cada uma delas me diz uma beleza,uma história diferente, que fica ali perdida, no olhar faminto de simples imaginação.
Deixo que elas sigam seus caminhos sem interrompe-las com uma única interrogação. Pois sei que o cotidiano de viver não é simpático a surpresas.

Nenhuma delas ousaria a aventura de um passeio, abraçaria comigo o desconhecido para esquecer a mesmice e massada deste dia.


Que sigam em paz as raparigas. Prefiro aqui ficar sem companhia imaginando o dia em que qualquer uma delas simplesmente troque de lugar comigo.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

PEQUENA DEVANEIO LÍRICO: UMA RELEITURA DO AMOR CORTES AS MARGENS DA CONTEMPORÂNEIDADE

Tudo é tão transitório e instável no acontecer de uma existência humana, que me parece inútil a doce ilusão de um amor que perdure o suficiente para edificar uma vida inteira a dois.

É pouco provável que duas pessoas, entrelaçadas em subjetivo vínculo, sejam capazes de estabelecer, ainda nos dias de hoje, laços mais forte que as dispersões e dissonâncias que nos impõem o cotidiano e o mundo.

Não importa a pré disposição e boa vontade que tenham para suportar uma a outra por tempo maior do que a  vigência da chama que provisoriamente aquece os corações que batem num só compasso.

Sentimentos não perduram, pois o amor ama demasiadamente o próprio reflexo e não se demora em qualquer peito.
Entretanto, como resistir ao embriagante perfume de um sonho?

Como não nos lançar, como felizes suicidas, nos sorridentes abismos das ilusões do enamoramento?
 
O segredo é que a “lei do amor” não passa de uma codificação linguística, de um jogo de linguagem onde a gramática que define o sentimento empenhado desencontra-se dos atores que o realizam como superficial diálogo.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O BEIJO ALÉM DO DESEJO

Sei que a realidade da tua vida
Nunca caberá
No espaço finito
Da tua previsível verdade.

Sou louco,
Sou torto,
Transbordante
E anárquico.
Procuro apenas um beijo
Que me desfaça
No mais profundo dialogo
Do abraço de bocas famintas
De qualquer outra coisa

Dentro do ato de um beijo.

EM TEMPOS DE PÓS ORGIA


Baudrillard já dizia

Que vivemos tempos de “pós orgia”.

A liberdade sexual reinventou-se como uma prisão,

Como uma descontrução do outro

Através do deslocamento de nós mesmos.

O prazer pelo prazer

É uma fórmula tão ineficaz

Como a mentira de qualquer casamento.

Viver uma relação suportável

No insuportável da sociedade

Hoje é quase uma utopia.

sábado, 6 de setembro de 2014

NOTA SOBRE MATURIDADE EMOCIONAL


Vivemos em uma sociedade em que a maioria das pessoas encontra-se distante de qualquer maturidade emocional na administração cotidiana de sua subjetividade.
A passionalidade e o simples desarranjo emocional ainda é a resposta direta das pessoas as situações mais complexas e passionais que se colocam no mais elementar exercício diário de simples intersubjetividade.
Mas poucos  sabem o quanto é difícil todos os dias lidar com  indivíduos tão emocionalmente fraturados e decadentes ou, simplesmente, incapazes de lidar com sigo mesmo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A INTROSPECÇÃO DE UM BEIJO


Nunca espere nada do amor.

Pois  amar é vertigem

Que só vale apena

Quando a gente se perde de si mesmo

No desencontro

Que reinventa o outro

Na noite da poesia

De saber simplesmente a vida

No instante absurdo de um beijo

Que nos cala o peito

No abstrato sentir solitário

Do outro....

Não vivemos de soluções..

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

CONTRA ATRAÇÃO

O mais estranho do amor é o tamanho do egoísmo de amar,
O resto é o paradoxo de se apaixonar
E saber que a paixão dura menos
Que nossa vontade de beijar.
Mas nenhum beijo vale o dilema
De ceder ao querer
Que não é vontade autêntica

De subjetividade profunda.