TODOS OS RELACIONAMENTOS SÃO TRÁGICOS

A economia da emotividade, a passionalidade domada de um relacionamento, só pode acontecer sob o signo da decepção. Não passamos todos de figurantes no teatro do amor cuja trama veste-se de tragédia da vida privada.

Não existem amores perfeitos porque não existem vidas perfeitas. Nunca se deve esperar muito de um relacionamento. Deve-mos toma-lo como uma sofrível opção, uma estratégia de sobrevivência em uma sociedade em que nos sentimos, enquanto indivíduos, cada vez mais apartados da vida em nossas rotinas de mundo. Relacionamentos são apenas o caminho natural de nossas mais intimas infelicidades e frustrações.

O AVESSO DO AMOR

Não sofrerei tuas alegrias.
Não saberei dos teus dias,
vontades e sonhos.
Não perderei minha realidade
no teu mundo.
Serei livre
e não buscarei tua imagem 
no espelho.
Jamais serei ferido
pelo teu beijo.

SOBRE AS RAZÕES DA INTIMIDADE

Segundo Viviana A. Zelzer em sua A NEGOCIAÇÃO DA INTIMIDADE,

"No sentido mais amplo, as pessoas criam vidas conexas pela diferenciação de seus laços sociais múltiplos entre si, marcando os limites entre os laços diferentes por meio de práticas cotidianas, sustentando os laços por meio de atividades conjuntas ( inclusive atividades econômicas), mas negociando constantememte o conteúdo exato de laços sociais importantes." (Viviane A Zelzer. A negociação da Intimidade: RJ Petrópolis, 2011, p. 37)

Há na cultura contemporânea um certo pudor em admitir as dimensões mercantis que permeiam a construção dos laços afetivos, como se nossa vida social fosse isenta de racionalidades e pragmatismos. Mas a verdade é que sentimentos e emoções não são apenas impulsos naturais à condição humana, são construções sociais sujeitas a codificações racionais que extrapolam o campo da simples passionalidade.

NOTA SOBRE NARCISISMO E RELACIONAMENTOS

Não há desejo que exclua a vontade de ser  desejado.
Muitas vezes, aliais, ser desejado  torna-se mais importante do que a realização do próprio desejo. É quando o outro se faz  o espelho vivo de nossas carências e fragilidades. Situação em que o amor se torna uma compulsiva  necessidade de si mesmo através do outro, visto como um mero assessório de nossas auto representações.

O VAZIO DO AMOR

O desejo é um espaço vazio onde acumulamos nossas mágoas, decepções e carencias emocionais e afetivas. O que chamam de amor não passa da soma de nossas carências em movimento em direção.... ao simples espaço vazio do outro.

Não há virtudes no amor. Apenas egoista necessidade de transbordar a si mesmo em um inutil esforço de realização pessoal.

NOTA SOBRE PASSIONALIDADE E RELACIONAMENTOS

Ainda está para ser escrita a cronica definitiva da passionalidade humana.

Muito provavelmente, sua premissa elementar será o transbordamento da consciência como o principio ultimo de nossa economia emotiva, de nossos relacionamentos que, mesmo quando estáveis, pressupoem qualquer coisa de agonia, de inquietude, sustentada pela instabilidade de nosso intimo existir no mundo.

Há sempre algo de ilegível no outro que se revela através do convívio. Mas este ilegível começa em nos mesmos.

DECEPÇÃO

Eu te aguardei na noite passada
Como quem sonha a realidade
E se desfaz do mundo
Para acontecer
No mais profundo querer
Das coisas.

Não me reconhecia no espelho,
Não me sabia nos atos.
Era todo ansiedade,
Vontade e expectativa.

Não percebi que o tempo
Já tinha passado,
Que você não chegara,
E que tudo
Acabava ali
Em silêncio e perplexidade.

ENAMORAMENTO

Entre o bem querer e o desejo
a vontade escreve em meus atos
a necessidade
de te saber em um beijo,
em uma certeza de carne e sorte,
que nos transforme
ou simplesmente nos absorva
do crime da felicidade.