PRÉ ENFARTO

O coração aperta

No peito.

Mas já não bate

De amor.

Dói nele

o peso da minha má sorte,

Seu cansaço,

minha quase morte...

 

 

 

 

IRONIAS DO AMOR

Tanto te amava

Que não percebia

Que não me amava

Suficientemente

Para lhe desejar outra,

Para te querer

Mais louca

Que a rouca vontade

Que me consumia

Ao me perder

Em teu corpo.

MACHISMO E SEXUALIDADE HOJE

As hierarquias de gênero e sexualidade, as representações socialmente estabelecidas acerca da “natureza” inata a condição masculina e feminina, que não passam de meros estereótipos de uma cultura machista, constitui uma limitação a construção de relacionamentos afetivos  autênticos.

A  cultura partriacal nos impõem papeis e ideais de sociabilidade e comportamento que minam qualquer traço de expontaneidade.

Somos o que a sociedade nos diz que é real, muito pouco somos nos mesmos, principalmente no que diz respeito as vivências afetivas.

A PERVERSIDADE DO AMOR

O amor é a mais radical personificação do egoísmo. Pois só ama a si mesmo, mesmo que através do outro.
O amor é perverso, mesquinho e compulsivo.
É veneno, sofrimento e febre que nos danifica o ego.

A FALÁCIA DAS PALAVRAS DE AMOR

Palavras de amor são feitas de papel
E amargor,
Não dizem emoções de céus e jardins
Mas as angustias de um dia nublado.
Palavras de amor dão conta
Do vazio, do desalento,
De se saber a sombra do outro
Em paradoxal egoísmo
Neste estranho estado de espirito
Que chamam por aí vulgarmente
De amor.

ALÉM DO ENCONTRO

Vi  em teus olhos

Qualquer emoção diferente

Daquela que dizia teu rosto

Ou tuas palavras e  gestos.

Julguei ser

Qualquer desconforto,

Qualquer desencontro incomunicável

Entre emoção e sentimento.

Mas era apenas você se evadindo

Daquele nosso instante,

Buscando-se em seu próprio mundo

Através de qualquer monólogo

Que se mostrara mais  forte

Do que nosso diálogo.

O PRINCÍPIO DA ILUSÃO

Relacionamentos tem comumente seu inicio em algum tipo de ilusão, seja a paixão erótica ou a idealização da pessoa amada. A fantasia é seu mais elementar ponto de partida. Talvez por isso a maior parte dos relacionamentos não sobreviva a cotidiana descoberta do outro, ao surpreender-se faca a face com alguém que na maioria das vezes não corresponde as nossas pueris expectativas.

O VAZIO DO EU E A COMPULSÃO DO OUTRO (AFORISMA)

A compulsiva necessidade do outro, traduzida pelo sentimento amoroso, é a clara constatação da falência de um eu autônomo, do fato de que nossas identidades se inventam  através do espelho dos olhos do outro.

O amor é no fundo uma modalidade paradoxal de egoísmo...

ENAMORAMENTO

A lasciva vontade
De sofrer,
De querer
O que dói e falta,
Dentro de si 
Através do outro,
É o que define
Um coração amante,
O estranho estado
Do enamoramento,
Este quase não viver.

A LEI DOS MONÓLOGOS

Há pessoas que são capazes de crer tão inteira e intensamente em suas próprias palavras, que são incapazes de ouvir qualquer opinião diferente.

 Acreditem, não são poucos que padecem desta peculiaridade humana. Por isso hoje em dia os autênticos diálogos tornaram-se acontecimentos tão raros.

A capacidade de ouvir encontra-se atualmente em franca decadência... Principalmente por que a maioria de nós já não tem muito a dizer um ao outro.

DISTÂNCIAS

Nossas desencontradas existências
Entrelaçadas no tempo
Transformam a vida
Em incerteza.

Nos separamos a cada palavra,
A cada gesto e abraço.
Nunca nos olhamos nos olhos,
Nunca tivemos a dizer
Qualquer coisa que seja
Um para o outro...
Juntos, fomos apenas
Um engano do acaso.

tom zé - duas opiniões

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PRECISO ESTAR COM VOCÊ

Enquanto a vida passa
Quero saber de você.
Enquanto tudo acontece
Quero apenas
Estar com você.
Talvez o tempo passe
Depressa demais.
Talvez nunca seja o bastante.
Mas preciso estar com você
Enquanto tudo acontece
E me transforma.

NOTA SOBRE AFETIVIDADE E ALTERIDADE

A afetividade é formatada pelas imaginações, pelo lúdico que como um relâmpago invade por um instante a realidade, escreve uma emoção, uma vontade, em qualquer canto da gente, que ao longo de toda a  vida, quase não se abre ao mundo.
A afetividade é um exercício lúdico onde em sincera relação de alteridade o outro revela-se como território novo de nós mesmos.

PARA ALÉM DO AMOR ROMÂNTICO

A inexatidão das subjetividades, a singularidade de cada consciência humana que, embora compartilhando a experiência de um mundo comum, são orientadas por  sua diversidade, cria tantas distancias entre as pessoas que relacionamentos são melhor definidos como a construção da intimidade de desencontros e compartilhamento de distancias, do que propriamente a construção de uma sociabilidade harmônica.
Os relacionamentos menos problemáticos são normalmente os mais inautênticos, o que não significa, obviamente, que os mais conflituosos sejam os mais verdadeiros.  Devemos pensar a dinâmica dos relacionamentos como um exercício dialógico, a constante construção de um vinculo entre duas pessoas que aceitam o desafio de trabalhar através uma da outra  seus lugares de certeza, abrindo mão da falsa segurança de seu intimo pela necessidade de estar em contato com o outro.
Por tudo isso, relacionamentos não fornecem paz e segurança a ninguém, são um desafio constante quando levados a sério. A constatação de sua inevitável  fluidez  perturba profundamente aqueles que vivem nos ingênuos lugares comuns das representações metafisicas  edificadas pelo amor romântico.

O AMOR NÃO É ETERNO

Nenhum amor é eterno,
Não passa
De uma ferida no tempo,
Que arde nos dias
Até o perder-se
Dos amantes.
Fica apenas a lembrança
Do beijo, do encontro
E suas boas ou más consequências.
Mas que nossos rostos
Se confundam para sempre
No sem tempo daquela fotografia.

AFORISMA SOBRE A FRAGILIDADE DOS INTERCÂMBIOS HUMANOS

Diante do mundo somos aquilo que os outros pensam da gente, mas também aquilo que eles não sabem sobre nós. Se os relacionamentos humanos são mediados por artifícios de diversas naturezas, como a gramatica, as dissimulações e convenções de etiqueta, é  razoável pensar que nossas sociabilidades, revelam-se tão frases quanto nossas identidades no jogo de espelhos entre o eu e o mundo.
 

CRITICA A ARTE DA CONQUISTA

Aquilo que chamam de “arte da conquista” não passa de um jogo de fingimentos e hipocrisias, uma dissimulação barata condicionada enquanto habito cultural, a falsificação das afetividades como teatro das emoções,
Trata-se apenas  de uma formatação de nossa vida danificada sob as ruinas dos valores tradicionais elegidos pela tradição partriacal e machista.

O AMOR QUE NÃO FOI

Não sei por quantas vias de tempo perdido nos desencontramos um do outro, nos desfazemos no silêncio do beijo que, talvez um dia, nos reinventasse a vida na constatação mutua de nossos limites, mazelas e sortes.
Escapamos a ilusão do amor, as incertezas do coração. Fomos poupados dos equívocos do enlace, preservamos  nossos medos e certezas de sempre. A que preço?

A AGONIA DE AMAR

Amo no desconcerto
Das emoções e afetos
Que em tempestade
Me tremem os humores.
Amo em febre e ausências,
Em desespero e gozo.
Amo como quem sofre
O intenso segredo
De uma ilusão verdadeira.

individualidade e enamoramento

A maior parte das pessoas fala do amor como um sentimento, como uma afinidade eletiva. Contrariando  este preconceito tão cantado em verso e prosa, o fato é que o fenômeno do enamoramento é um jogo psicológico, uma projeção que define o outro como  um algo perdido dentro de nós mesmos.

 O desejo não está naquela pessoa que compulsivamente nos prende todas as atenções e intenções, seu objeto é  o algo mais que aquela pessoa desperta dentro da gente como um imperativo.

Este “algo mais” que acessamos através de emoções e fantasias revela a insatisfação com aquilo que somos, o quanto a consciência de si e do mundo é insuficiente ao nosso bem estar psicológico enquanto indivíduos em um mundo em constante desconstruções.

O mais irônico nisso tudo é que qualquer  relacionamento possível responde as nossas inquietações mais intimas.