segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O PASSADO


O passado é lembrança,
as vezes saudade,
mas nunca é apenas
o que já passou.
Ele é o que persiste
além do presente,
como ausência,
potência e urgência.

O passado é o que trasborda,
é o que escapa ao tempo,
o que foge ao limite do aqui e agora.

Ele é identidade,
necessidade e vontade.
É uma luta contra o futuro,
contra a vida e a morte.

O passado é  um eterno presente,
uma ausência que nos preenche.
Ele é, simplesmente, a nudez do tempo,
uma angústia, um não ser,
um desejo insurgente.


 



TUDO QUE É DITO OU ESCRITO VIRA LIXO

Tudo que é dito
ou escrito
em algum momento
vira lixo
acaba esquecido,
superado
perdido.

O tempo é 
uma espécie de precipício 
onde tudo cai
contra os limites
e fragilidades 
de um céu de vidro.

Tudo que é dito
ou escrito
vira lixo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

MINHA SOLIDÃO

Minha solidão é feita de encontros,
 de vínculos, alianças, 
intercâmbios e despedidas.
Ela é a medida do meu egoísmo,
dos meus silêncios e distâncias.
Ela é o meu dentro e o meu  fora,
minha falta de esperança,
minha má vontade com o mundo,
minhas conquistas e  errâncias.

Minha solidão me ensina
a ser senhor de mim mesmo
sem vaidade ou arrogância.
Ela me torna  Único 
na contramão da humanidade
e através do nada de toda necessidade.




quarta-feira, 12 de novembro de 2025

ISSO

Não sei 
o que ainda grita
contra o cotidiano,
os fatos e a rotina.

Não sei 
o que sempre se rebela,
o que não pode ser domesticado
ou calado.

O que permanece lá fora,
sempre a espera
de uma fatal oportunidade.

Só sei 
 que persiste,
insiste,
e jamais se cala.

Só sei que existe,
resiste,
sem lugar de fala...


domingo, 9 de novembro de 2025

AMOR NOTURNO

Amo tudo que é noturno,
tenebroso, incerto e perigoso.

Amo o que é torto,
sem moral ou rumo.

Amo a escuridão,
o vazio e o nada.

Amo a fronteira,
a margem e a encruzilhada,
o que desafia a lei e a palavra.



sexta-feira, 7 de novembro de 2025

UM QUARTO DE HOTEL BARATO

A vida inteira de uma pessoa
cabe num quarto de hotel barato.

Roupas, memórias,
vitórias e derrotas,
amores e despedidas,
não ocupam muito espaço.

A vida que carregamos,
o corp que somos,
dura pouco.
Mas produz muito lixo,
muitos vestígios,
que, entretanto, desaparecem,
 facilmente,
as margens de um precipício.

A queda de um corpo
no vazio 
é um processo quase infinito.

A vida inteira termina 
num quarto de hotel barato.
Leva apenas a eternidade
de alguns segundos
da janela ao chão
através do espaço.