quarta-feira, 29 de maio de 2024

O OUTRO COMO MIRAGEM

Jamais existiremos plenamente uns para os outros.
Em nossos intercâmbios, laços e contatos, não passamos de pálidas sombras que se avistam, comunicam e se distanciam.

O outro é sempre e apenas a medida do si mesmo.
Somos incomunicáveis nulidades no devir coletivo da espécie onde quase ninguém se reconhece.

O outro é sempre o espelho do eu.

VÍNCULOS

Viver é saber
de algumas poucas pessoas
que me frequentam,
que me viram crescer, envelhecer
e que, talvez, eu veja morrer.

Tais pessoas me importam tanto
que são partem de quem eu sou.
Mesmo que eu seja ninguém 
e minha existência menos que nada.

Não imagino um mundo onde estas pessoas não existam,
onde eu precise saber quem eu sou
além do número do documento de identidade
e da ilusão coletiva da sociabilidade.

A melhor parte de mim
sempre será aquela
que vive nos outros
que intimamente me frequentam e habitam em comunhão e conflito.



 







segunda-feira, 13 de maio de 2024

O JOGO DA EXISTÊNCIA

Não tive filhos e
netos.
Não impus a terceiros
o fardo de uma existência.

Tenho contra o tempo,
apenas a solidão e o passado
como trincheiras de resistência.

Mas a vida passa,
o tempo fica,
no jogo sem regras
da imanência
onde tudo termina
em esquecimento.