terça-feira, 31 de outubro de 2023

UM POUCO DE SOLIDÃO

Não importa o dia,
a época, ou o lugar.
Cada um de nós está sozinho.
Vai viver e morrer sozinho.
Não importa  quem lhe acompanhe
pelos lugares e  anos
que alimentam a memória.
Cada um tem seu próprio destino.
Sua íntima agonia.

Estamos condenados a solidão.
E isso é bom.
Afinal, 
as vezes,
mal suportamos
nossa própria companhia.

domingo, 29 de outubro de 2023

É SEMPRE VÉSPERA DE FIM DO MUNDO



Todo dia é véspera de fim do mundo
onde impera a ganância, 
a ambição e megalomania,
 de uma cretina minoria de rentistas.

Mas ninguém mais se importa,
nada mais importa.
Ninguém   é importante.
A razão está na matemática de uma planilha,
enquanto o tempo desaba sobre nós
na invenção dos fatos
que definem o espetáculo
de uma catástrofe iminente,
porém lucrativa.

Afinal, a vida já não importa.
O próprio mundo já não importa.
Só interessa os algoritmos
e os desígnios do deus dinheiro.
















CORPO E DEVIR

O corpo flui de si para si
através do mundo.
É extensão e devir,
Sensação e percepção
além de si.
Pois faz do fora
seu mais profundo íntimo
onde a consciência carece de substância.
O corpo é finitude,
espaço inconformado
a si mesmo
que se define por sua expressão,
por seu movimento,
em direção ao outro.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

SEM TEMPO PRO TEMPO

Quero olhar para o passado
sem ter medo do futuro,
sem  lamentar o dia de hoje
ou pensar no que poderia ter sido.

Não quero sentir o peso dos dias,
da época, 
como um escravo dos fatos.

Quero saber meu caminho 
ainda aberto,
incerto,
no futuro que me resta
na contramão do tempo.

Não levo na bagagem
memórias ou identidades.
Não dou tempo ao tempo.
Pois a morte é quem me espera
no sumir do caminho.


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

EU E OS OUTROS

Os outros serão sempre os outros.
Eu, entretanto, nunca serei
inteiramente  eu , 
Mas, desesperadamente vários,
se perdendo e desaparecendo no tempo
enquanto segue sozinho
entre os outros.



sexta-feira, 6 de outubro de 2023

ANUNCIADA ALUCINAÇÃO

Jamais nos conhecemos, 
Mas sempre estivemos mesclados
 No mesmo modo de saber lugares e mundos, 
Perdidos entre atmosferas de sonhos e desejos, 
Cores e esferas a arranhar o espaço vazio dos nossos corpos vivos.

 Definitivamente, 
eu não sei se existo ou se só imagino tudo isso 
que me define o mundo.

Talvez eu seja você 
ou você seja eu.
Talvez nós dois sejamos  ninguém,
já que o passado
estranhamente não existe
de tão real.
Ele é apenas uma  anunciada alucinação
dentro de uma velha canção no vinil...



segunda-feira, 2 de outubro de 2023

CAMUFLAGEM

Existimos nos misturando a lugares, pessoas e eventos.
Existimos nos perdendo nas coisas,
estabelecendo envolvimentos
além da ilusão do sujeito e do objeto.

A experiência de um acontecimento é a aventura do desaparecimento. Estamos sempre nos perdendo nas coisas, nos fazendo parte de alguma paisagem.