domingo, 28 de junho de 2020

PEDAGOGIA DA CRUELDADE

A dor conduz ao inumano.
Ela é a professora do caos,
A redentora.
É preciso morrer para viver,
É preciso doer.
Doer tão  profundamente
Que não haja corpo.
Apenas dor,
Superfície e incerteza.
Nenhuma profundidade.
Apenas a dor que não  é sofrer.

sábado, 27 de junho de 2020

DESEJO

Não  espero nada da vida,
Do mundo,
Dos outros ou de mim.
Meu desejo não é falta,
É transbordamento, 
Delírio, 
Agenciamento.
É linha de fuga,
Aberrante movimento.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

DESENRAIZAMENTO

É impossível estar em casa,
Ficar sozinho,
Abraçar  o nada
De uma vida privada.

É  difícil fugir do mundo,
Encontrar a si mesmo,
Quando somos vazios
De nós mesmos,
De qualquer fundamento ontológico.

Existir é   um grito surdo no deserto,
Um acontecer mudo, 
Uma estranha modalidade  de silêncio.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

VIDA E DOR

A vida é uma coisa que dói sempre .
Onde não há dor
Não há  desejo, 
Sonho, fome ou invenção. 

A dor é a essência do ser,
Da revolta.
É o que nos transforma,
O que inspira a alegria da luta,
É o que transborda.

MINHA DOR

Dentro de mim
mora uma dor
Uma dor banal e comum
Igual a de qualquer um
que  sofre o mundo
doente de vida
no desejo de algo
ainda sem nome.

Dentro de mim 
mora uma dor.



terça-feira, 16 de junho de 2020

A VIDA SEGUE

Sei que o tempo passa
E a vida segue,
Mesmo sem sentido,
Sem esperança  de um beijo.

A vida segue
Na irrelevância de abraços 
Até  o limite da solidão. 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O AMOR VERDADEIRO

O amor mais perfeito
Não passa de um sonho impossível,
Uma fantasia, uma loucura
E um protesto da imaginação. 

O amor perfeito é delírio, 
Subversão, 
Que não  cabe nas convenções 
Do amor possível.

terça-feira, 9 de junho de 2020

UM OUTRO

Um outro dentro mim
Vaga na contramão  do eu.
Ele sabe que a vida é silêncio,
Precariedade e falta.

Um outro dentro de mim
Tem o seu rosto
E me reduz a ausência, 
A qualquer limbo existencial
Onde não é  mais possível ser eu.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

ABANDONO

Estamos todos sozinhos,
Perdidos entre os outros,
Uns nos outros,
Compartilhando incertezas
E socializando angústias. 
Somos diferentes, diversos,
Mas estamos igualmente perplexos.
O futuro se foi com o passado
E o hoje é  sem tempo,
Sem esperança.
A vida virou outra coisa.
Já não somos mais quem somos.
Vivemos em completo abandono,
Sem saber quem seremos 
Depois de amanhã. 

TEMPOS PÓS HISTÓRICOS

Diante do mundo presente 
Não tenho muito a dizer.
Melhor fazer um minuto de silêncio. 
Por mim, por você, 
Por todos nós,
Que sobrevivemos
Feridos pelo tempo vazio,
Pela triste soma de todas as épocas,
Em dias de pós história e desertos.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

NOVOS TEMPOS

Os abraços e os beijos
Nunca mais serão os mesmos
Na aceptologia da nova vida cotidiana.

Nunca mais serão os mesmos os encontros,
As passeatas e atos de revolta,
As ruas, os bares e as noites .

Nada será como antes
No ocaso da civilização urbana
Pós industrial.