quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A IDEIA


Uma ideia selvagem perturbou meu juízo,
sacudiu as grades, as portas, e janelas
da velha prisão da normalidade.

Por ela inventei ventos,
semiei tempestades.
Cuspi na moral e nos bons costumes.

Estava alucinado por aquela ideia
que anunciava alterações
nas orbitas dos planetas.

Era uma ideia linda
de corpo esbelta
e sorriso de meio dia.  

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

SOBRE ATRITOS BANAIS

Há sempre emoções clandestinas
Perturbando o juízo,
Precipitando conclusões ,
Julgamentos e decisões. 

Há sempre algo que irrita,
Antipatias gratuitas
E mal entendidos.

O outro está sempre errado.
Mas quase nunca nos damos conta
Do quanto somos cúmplices
Dos erros do outro.

Raramente discórdias são motivadas 
Por  qualquer virtudes.
Geralmente elas nascem
De equívocos e precipitações, 
De uma infantil necessidade de auto afirmação. 

OBSESSÃO AMOROSA


Seu cheiro na minha pele.
atesta a impossibilidade
da sua ausência,
a fragilidade da minha existência,
e a potência dessa paranoia obsessiva
que muitos chamam de amor.
Não surpreende que tantas vezes
relacionamentos frequentam
o noticiário policial.


terça-feira, 29 de outubro de 2019

O VAZIO DO AMOR

É  na sua ausência 
Que descubro quem somos
Na composição da delicadeza
De nossos afetos.

Um relacionamento é sempre
Rascunho 
De algum futuro perdido
Dentro de algum resto de infância. 

Amar é buscar ausências
Para preencher vazios
E semear o impossível
No pragmatismo
Da banalidade cotidiana.

O amor é uma revolução menor. 




quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ATRITOS COTIDIANOS


Entre uma palavra e outra
deixo escapar um riso,
uma reclamação,
uma raiva,
um medo e uma angustia.
Revelo uma critica ou antipatia,
Mas na transparência do feito
deixo o dito pelo não dito
e faço de conta
que nada aconteceu.

DO EU E DOS OUTROS


Cada um de nós é efeito
e não substância
do animal humano
que coletivamente
nos define.

Cada um de nós
é uma vastidão fechada 
contida no infinito
que define o  universo
de tudo que existe.

Somos o dentro e o fora
de nós mesmos através dos outros
e das coisas que nos definem o mundo.


domingo, 20 de outubro de 2019

NOVO EROTISMO


O mundo não  é  tão  grande.
Ele é  menor que a soma dos nossos desejos.
Mas dentro dele  cabe
O sem nome de um existir profundo,
A potência dos atos,
As paredes de um ethos,
Inspirado na incompreensível natureza
De Eros.

QUASE DESPEDIDA

Há  dias de amor,
Noites de solidão,
E despedidas
Que sempre selam um encontro.
Há nesse exato instante
Um adeus crescendo entre nós.

AMOR E DESEJO

O amor é perecível
Pois se pretende único.
Só o desejo é eterno,
Posto que é  múltiplo,
Que sempre inventa um outro
De si mesmo,
E Nunca se esgota no gozo.

sábado, 19 de outubro de 2019

SEMPRE PRECISAMOS DE COMPANHIA

A intensidade da vida é  uma produção  social. Ela pressupõe  o eu e o outro, Qualquer diálogo ou comunicação  real. Viver é compartilhar, criar um mundo comum, através da banalidade do cotidiano . Uma boa companhia torna qualquer experiência significativa.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

VIDA PERDIDA


Das coisas que fiz
não ficou vestígio.
tudo foi perdido,
esquecido.
principalmente o amor
que parecia eterno,
definitivo.

sábado, 12 de outubro de 2019

AMOR E SOLIDÃO

Há  em toda forma de amar a intuição de uma solidão universal e insuperável. Ter alguém para amar é  poder compartilhar tal solidão e fugir ao insuportável de si mesmo. Mas isso só  é possível quando aceitamos o inevitável desta mesma solidão como condição elementar da existência.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

LINHAS PARALELAS

A desavença que nos subtrai
É sempre a mesma.
Está entre nós desde o início,
Tendo se estabelecido com o primeiro.

Ela grita em segredo
Nossas diferenças,
Anunciando distâncias e dissidências.

Somos como linhas paralelas
Entre as quais não  cabe
Qualquer convergência

e ninguém compreende
como aconteceu um beijo.

sábado, 5 de outubro de 2019

O AMOR COMO FALTA

O vazio da ausência define o amor como falta, como busca, que jamais será superada por qualquer encontro. 

O amor exige solidão. Sua matéria prima é  a fantasia que sustenta o desejo, jamais a realidade do que se deseja.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

SOLIDÃO E SILÊNCIO

A solidão  e o  silêncio formam um casal imperfeito.
Abrigam juntos nossas angústias, incertezas e devaneios,
Mas nunca se entendem um com o outro.

A solidão  sempre trai o silêncio.,
Procura diálogo, enfeitar o vazio com um dizer qualquer.
Já  o silêncio,  não se conforma a nenhuma companhia.


Mas como saber a solidão sem o silêncio?